segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

DE OCUPAÇÕES E PAGANISMOS - POR PAULO CILAS


Natal! Encenações teatrais nas igrejas - participei de muitas quando criança - e uma mensagem ficou gravada em mim e que somente mais tarde iria entendê-la de outra maneira. Antes de mencioná-la devo dizer que ainda não identifiquei a origem do engano. Se alguém pregou equivocado ou entendi tudo errado mesmo. Mas, fato é que para mim toda vez que era citada a peregrinação de José e Maria em Belém buscando um lugar aonde então Jesus nasceria os donos das hospedarias os rejeitavam. Eu até imaginava as caras fechadas e o ar de desprezo. Contudo, descobri que na verdade não houve rejeição alguma. O que houve mesmo foi a falta de lugar. Talvez, para você isso já seja por demais sabido, mas, para mim foi uma novidade esclarecedora e facilmente aplicável aos dias de hoje. Sim, com algumas exceções, a maioria não rejeita Jesus. A maioria está ocupada demais para dar lugar a ELE. Dizer que o "mundo" rejeita O Senhor é fácil para nós. Agora, afirmar que nós “crentes” não temos dado lugar a ELE é difícil. Há ocupações demais, há concorrência generalizada entre igrejas, há novos métodos que exigem muita didática para serem implementados. Enfim, nos ocupamos em fazer coisas “na obra” que deixamos os princípios simples de Jesus de lado. E isto é perfeitamente visto para os querem ver. É perfeitamente ouvido para os que querem ouvir. Os ocupados demais, seja no mundo secular ou na “igreja”, continuarão sem ter lugar para “O GRANDE REI NASCIDO TÃO POBREMENTE”.
Mas, o natal deixou de ser comemorado ou simplesmente lembrado em muitas igrejas. É que de um tempo para ca descobriu-se que a festa é “paganismo puro.” E no lugar de “paganismo” foram instituídas as festas ultrapassadas judaicas. Aquilo que na Bíblia é chamado de sombras voltou a ter luz própria. Ou melhor, luz não tão própria assim, pois, na verdade tudo começa quando alguém tem uma particular interpretação da Bíblia- coisa que a própria Bíblia desaconselha- e dirige os holofotes artificiais para a dita interpretação. Como muitos estão ocupados demais para lerem e examinarem as escrituras, como faziam os bereianos At. 17:11, facilmente aceitam as “coisas prontas” com status de revelação espiritual. Aliás, já temos de volta os “levitas” e os sacerdotes que, claro, não se intitulam assim mas, na prática se colocam entre povo e Deus dizendo que têm tudo que o povo precisa e, que, o que o povo precisa em primeiro lugar é obedecê-los.
Eis um fato que exemplifica bem o que acabo de dizer:
Um membro da igreja da qual faço parte conheceu um membro de uma igreja que abolira o natal. E tal membro passou a mostrar o texto Bíblico onde seu pastor embasou esse ensino. Era Is. 44:14-17. O diálogo que veio a seguir seria de rir se não fosse de chorar:
“Leia para mim o texto que seu pastor usou.” A outra pessoa, detonando a árvore de natal, passou a ler em voz alta: ... Tais árvores servem ao homem para queimar, com parte assa o pão e com parte faz um ídolo... Ela mesma interrompe a leitura e diz: “Aqui não está dizendo nada do que o pastor ensinou. É tudo diferente, mas, quando ele falou parecia ter sentido!”
É de chorar o quanto as pessoas se entregam a ensinos sem fundamento. Rearranjos de frases, palavras isoladas e sentenças veterotestamentárias ganhando lugar de destaque em detrimento do evangelho libertador de Cristo.
Não tenho dúvida nenhuma: Não chamo de impuro o que Senhor purificou: Se o dia de natal faz brotar afetos entranháveis, amém! Sei que Jesus não nasceu em 25/12, mas, tenho certeza que O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Amém!
Também tem o seguinte: Se formos levar tudo a “ferro e fogo”- como é a escolha de muitos que desprezam com suas crenças ultrapassadas judaizantes a Graça de Jesus- não teremos mais bolos de aniversário, velinhas assopradas e apetrechos diversos usados pelas noivas. “Tudo é paganismo”.
Prefiro ficar com o apóstolo Paulo quando fala em Atenas: "Então,Paulo, levantando-se no meio do areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque passando e vendo os objetos de vosso culto, encontrei um altar no qual está escrito: Ao deus desconhecido. Pois este que adorais sem conhecer é precisamente que eu vos anuncio." Veja que Paulo não se deteve aos outros altares e seus deuses. Ele aproveitou a oportunidade para falar do Senhor. Conheço gente que arrumaria um escarcéu repreendendo demônios de tudo quanto é cor e raça. Paulo só falou dO Deus criador de todas as coisas e de Jesus. Tudo está em Atos 17: 16-34.
E, se Paulo se revoltava interiormente com a idolatria, não fazia disso sua base de pregação, antes, até citava os poetas atenienses que faziam referências AO DEUS DESCONHECIDO.
Tenha um bom ano!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

HISTORINHAS


Certo pregador foi a uma vila interiorana onde há muito não se realizava um “culto” e passou o dia convidando toda a população local para uma reunião que prontamente dizia que estaria lá na hora e lugar combinados.
Mas, lá pela seis da tarde, caiu um pé d’água daqueles. E a chuvarada entrou pela noite.
Sete e meia, o pregador ressabiado olha e ver apenas um homem, bem estilo de trabalhador do campo, sentado no último banco do salão. Espera... Oito da noite e só aquele mesmo homem. Sentado e impassível.
Percebendo que ninguém mais viria o frustrado pregador se aproxima e diz:
"Bem, meu irmão! A chuva atrapalhou os outros. Eu vou fazer uma oração pelo senhor e marco outro dia para pregar. O que o irmão acha?" De maneira peculiar o único ouvinte respondeu:
“Óia, seu pregadô. Dessas coisa de falação eu não inteno nada não sinhô. Meu negócio é os animar. Lá, no meu pedacim de chão, quando da a hora de alimentar a criação eu vô pro cocho. Quando vem a bichada toda eu dô de comer a todos. Quando vem um só, ponho ração pra um só e ele fica todo feliz! Mas, desse troço de pregação, de falação eu não inteno nada não sinhô!”

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Outra vez, um famoso ator teatral foi visitar sua terra natal. Lugarejo simples que, como muitos, parece ter parado tempo. A gente simples do local logo se reuniu na praça da matriz para receber e ouvir, tomada de orgulho, o seu importante conterrâneo.
Palco armado, a ilustre visita põe-se a falar de sua trajetória intercalando com declamações de autores famosos que, obviamente, a maioria absoluta nunca ouviu falar.
Contudo, tomada pela arte e técnica do ator a multidão irrompia em aplausos que pareciam não ter fim. Ele, tomado por orgulho, mais e mais interpretava e mais e mais se exaltava ante a aclamação popular.
Não satisfeito com tudo que acontecia resolveu fazer um desafio:
“Eu vou declamar um salmo muito conhecido e, depois chamarei um de vocês para também declamar o mesmo salmo. E começou com impostação de voz impecável:
O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará... Ao fim, a platéia não se agüentava em si entre gritos e palmas. Ele, então, perguntou quem gostaria de recitar o mesmo salmo 23. Um senhor de meia idade se prontificou e com voz insegura, dadas as circunstâncias, conseguiu ir até o fim, até as últimas palavras: ... “E habitarei na casa do Senhor por longos dias!” Silêncio, choros sentidos e muitas, muitas cabeças baixas.
Acostumado aos grandes públicos e suas reações o ator pergunta ao homem o porquê daquela reação. Ouviu a seguinte resposta:
"Eles o aplaudiram porque o senhor é muito bom em sua arte e conhece bem o salmo do bom pastor. Já eu (pausa longa e reflexiva)... Eu não tenho o seu talento, mas, tenho conhecido O BOM PASTOR DO SALMO!"

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A ORIGEM DAS ESPÉCIES SEGUNDO AGOSTINHO - POR ALISTER McGRATH


Para o bispo de Hipona, o relato bíblico da Criação expressa a potencialidade dinâmica da obra divina.
No ano que marca o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de seu célebre livro A origem das espécies, muitos debates acerca da obra do naturalista britânico têm ganhado corpo. Para inúmeros estudiosos, o darwinismo, baseado na concepção da aleatoriedade do surgimento da vida e em sua capacidade de evoluir, eleva-se da categoria de simples teoria científica para uma verdadeira visão de mundo, forma de ver a realidade que exclui Deus permanentemente. Já outros reagem fortemente contra os apologistas do secularismo. O ateísmo, eles argumentam, tem usado teorias científicas como armas em sua guerra contra a religião. Eles também temem que as interpretações bíblicas estejam se adaptando às teorias científicas modernas. Certamente, dizem, a Criação narrada em Gênesis deve ser interpretada literalmente, como um relato histórico do que realmente aconteceu. Por outro lado, muitos evangélicos de hoje temem que os modernistas abandonem a longa tradição de uma exegese bíblica fiel. Eles dizem que a Igreja sempre tratou o relato da Criação como uma história clara do surgimento das coisas. Entre os dois extremos, a autoridade das Escrituras parece estar em jogo.

O aniversário de Darwin é um convite a olhar o assunto em perspectiva. Afinal de contas, desde que ele formulou suas teses após a épica viagem a bordo do navio Beagle, muita coisa mudou – no entanto, o evolucionismo continua sendo a tese mais universalmente aceita para explicar o surgimento da vida no planeta. E o relato bíblico da Criação, que durante séculos a fio embasou qualquer estudo acerca do tema, tem sido constantemente posto em xeque não apenas pela modernidade, mas por muitos estudiosos cristãos, que enxergam ali muito mais um compêndio religioso do que uma narrativa confiável. Na história da Igreja, o assunto sempre suscitou controvérsia, e a mera aceitação da literalidade bíblica em relação às origens sempre foi questionada. O teólogo, professor e bispo Agostinho de Hipona (354-430), embora tenha interpretado a Escritura mil anos antes da Revolução Científica, não tinha problemas em relação às controvérsias sobre as origens. O mais marcante em sua trajetória é que ele não comprometeu a interpretação bíblica para acomodá-la às teorias vigentes em seu tempo. Para Agostinho, o mais importante era deixar a Bíblia falar por si mesma.

Há pelo menos quatro pontos nos seus escritos em que tenta desenvolver um relato sistemático de como aquela passagem deve ser entendida – e cada um é sutilmente diferente um do outro. Em O significado literal de Gênesis, comentário escrito durante quatorze anos no início do século 5, Agostinho deixa clara sua crença de que Deus trouxe todas as coisas à existência em um só momento, ainda que a ordem criada não seja estática. Ou seja, o Criador teria dotado as criaturas com capacidade de desenvolvimento, como uma semente, cuja vida está contida em si, mas só se desenvolve e cresce no momento certo. Usando uma linguagem mais técnica, Agostinho incita seus leitores a pensar sobre a ordem criada como algo que contém casualidades divinas ocultas que só emergirão futuramente. É que até aquele momento o bispo não tinha noção de acaso ou de mudanças arbitrárias na obra divina. O desenvolvimento da Criação está sempre sujeito à soberana providência de Deus, que não apenas cria a semente, como direciona o tempo e o lugar do seu crescimento.

Agostinho argumenta que o primeiro relato sobre a Criação não pode ser interpretado isoladamente, mas deve ser entendido ao longo da segunda parte, descrita em Gênesis 2.4-25, e também por qualquer outra narração sobre o tema nas Escrituras. Por exemplo, ele sugere que o Salmo 33.6-9 – cujo resumo é “Pois ele falou, e tudo se fez” – menciona a origem instantânea do mundo através da palavra criadora de Deus, enquanto o texto de João 5.17 (onde Jesus diz “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”) aponta que o Senhor ainda está agindo na Criação. Além disso, ele enfatiza que uma leitura detalhada dos primeiros textos bíblicos aponta que os seis dias da Criação não são períodos cronológicos delimitados, e sim, uma forma de categorizar o trabalho criador de Deus. Em síntese, Agostinho cria que o Senhor criou o mundo em um instante a partir de sua vontade, mas continua a moldá-lo, mesmo hoje em dia.

O bispo de Hipona estava preocupado de que os intérpretes estivessem fechados às novidades cientificas quando liam a Bíblia, fato que gerou conflitos mais de dez séculos depois, quando Copérnico desafiou a crença tradicional de que o Sol é que girava em torno da Terra, e não o contrário. O detalhe é que, em pleno século 16, a Igreja interpretou a teoria heliocêntrica como um desafio para a autoridade da Bíblia. Não era, com certeza, e constituiu-se em mais um desafio para que se interpretasse a Palavra de Deus de maneira mais ampla – uma interpretação com urgente e constante necessidade de revisão. Já no seu tempo, Agostinho preconizava que algumas passagens bíblicas estão abertas para diversas interpretações e não devem se casar com as predominantes teorias científicas. Por outro lado, a Bíblia se torna prisioneira do que um dia foi considerado uma verdade cientifica: em assuntos tão obscuros e distantes da nossa visão, nós encontramos nas Sagradas Escrituras passagens que podem ter várias interpretações sem que a fé que um dia recebemos seja prejudicada.

Essa aproximação de Agostinho fez com que teólogos não caíssem numa visão pré-científica do mundo, e o ajudou a não se comprometer em face das pressões culturais, que eram enormes. Por exemplo, muitos pensadores contemporâneos consideraram incoerente a visão cristã sobre a criação ex nihilo (do nada). Cláudio Galeno, médico do então imperador romano Marco Aurélio, por exemplo, rejeitou isso como uma lógica e metafísica absurda. Agostinho argumenta também que o tempo faz parte da ordem criada. Ou seja, no seu entender Deus criou espaço e tempo juntos, e este último só existe dentro do universo criado. Para alguns, porém, a ideia de que o tempo tenha sido criado parece ridícula.

Novamente aqui, Agostinho se opõe à ideia de que a narrativa bíblica não pode ter interpretações alternativas. Assim, o tempo deve ser visto como uma das criaturas e servos de Deus; por outro lado, a infinidade é uma característica essencial da eternidade. Mas a esta altura surge uma dúvida essencial: então, o que Deus estava fazendo antes da criação do universo? Para o teólogo, o Senhor não trouxe a criação à existência num momento especifico, pois o tempo não existia antes da Criação. Interessante, pois é exatamente esse o estado da existência, o chamado Caos, que muitos cientistas defendem ter havido antes do hipotético Big Bang, a gigantesca explosão que, há mais de 13 bilhões de anos, teria dado origem ao universo.

Agostinho poderia até estar errado ao afirmar quer a Escritura ensina claramente que a Criação foi instantânea. Os evangélicos creem, apesar de tudo, na infalibilidade da Escritura, não na infalibilidade das interpretações. Como alguns nos lembram, o próprio Agostinho não era constante nas suas convicções acerca das origens. Outras posições certamente existem – por exemplo, a ideia de que os seis dias de Criação, mencionados no Gênesis, foram seis períodos de 24 horas, ou a tese de que eles representam, na verdade, seis extensos períodos, cada um deles com seus milhões de anos. Todavia, a posição de Agostinho nos obriga a refletir sobre essas questões, mesmo que achemos que ele estava errado – e aí está um dos motivos da relevância de seu legado.

Afinal de contas, quais são as implicações dessa antiga interpretação bíblica sobre as afirmações de Darwin? Primeiro, Agostinho não limita os atos de criação à Criação inicial. Deus ainda está, ele insiste, trabalhando com o mundo, direcionando seu continuo desenvolvimento e expandindo seu potencial. Para ele, há dois “momentos” na Criação: aquele primordial e um contínuo processo de direcionamento. Logo, a Criação não é um instante circunscrito ao passado remoto. O Senhor continua trabalhando no presente, ele escreve, sustentando e direcionando o sucessivo desabrochar das gerações. Esse duplo foco sobre a Criação permite ler Gênesis de uma forma que afirma que Deus criou todas as coisas do nada. Porém, isso também nos permite afirmar que o universo foi criado com a capacidade de evoluir, sob a soberana direção de Deus – dessa forma, o primeiro estágio da Criação não corresponde ao que vemos agora.

Para Agostinho, o Senhor criou um universo deliberadamente designado para se desenvolver e evoluir. E o plano para essa evolução não é arbitrário, mas programado na estrutura de tudo quanto foi criado. Os primeiros escritores cristãos tomaram nota de como o primeiro relato do Gênesis falava sobre a terra e a água dando origem à vida. Eles diziam que isso mostra como Deus dotou a ordem natural com a capacidade de gerar criaturas. Agostinho foi ainda mais longe: ele sustentava que Deus criou o mundo com uma série de poderes adormecidos, que são consumados em um certo momento, de acordo com a divina providência. Uma das evidências disso seria o texto de Gênesis 1.12, que sugere que a terra recebeu o poder de produzir vida por si mesma. A imagem da semente, ali mencionada, sugere que a Criação original contém em si mesma o potencial de fazer emergir todos os subsequentes tipos de vida. Isso não significa que Deus criou o mundo incompleto e imperfeito, como pretendia Darwin ao enfatizar a necessidade da evolução; esse processo de desenvolvimento, Agostinho declara, é governado por leis fundamentais, que revelam a vontade do Criador: “Deus estabeleceu leis fixas que governam a produção das espécies de seres, e os tira do esconderijo para serem vistos completamente”, diz em seu comentário.

Por outro lado, enquanto alguns podem entender a Criação como Deus inserindo novos tipos de plantas e animais num mundo já existente, Agostinho considera isso uma incoerência com o resto das Escrituras. Antes, o Senhor deve ser visto como o criador, naquele primeiro momento, da potencialidade de todas as coisas vivas que iriam surgir depois, incluindo a humanidade. Isso significa que o primeiro relato das Sagradas Escrituras descreve o instantâneo surgimento da matéria primitiva, incluindo os recursos para o desenvolvimento futuro. O segundo relato explora como essas possibilidades casuais surgiram e se desenvolveram na terra. Na visão agostiniana, esses dois relatos sobre a Criação revelam que Deus criou o mundo instantaneamente, enquanto imaginava que as outras espécies de vida iriam aparecer gradualmente durante os tempos.

Em posição diametralmente oposta à de Charles Darwin, Agostinho rejeitaria qualquer idéia do desenvolvimento do Universo como um processo aleatório e desprovido de leis. Por isso, ele teria se oposto à visão darwinista de variação casual, insistindo que a providência de Deus está profundamente envolvida no desenvolvimento da vida. O processo pode ser imprevisível; casual, nunca. Previsivelmente, Agostinho aproxima o texto da pressuposição cultural prevalente da fixação das espécies, e não viu nisso algo que desafiasse seu pensamento sobre esse assunto – apesar de a maneira com a qual ele critica as autoridades contemporâneas e de sua própria experiência sugerir que, pelo menos nesse assunto, ele estaria aberto a correções mediante a luz de descobertas cientificas.

O significado literal de Gênesis realmente nos ajuda a lidar com as questões levantadas por Darwin? Vamos deixar claro que a obra de Agostinho não responde esses questionamentos; todavia, nos ajuda a ver que o real problema não é a autoridade bíblica, mas sua interpretação. Além disso, ele oferece uma maneira clássica de pensamento que ilumina muitos debates ainda hoje, quase 1,6 mil anos após sua morte. Nesse assunto, Agostinho nem é liberal nem acomodado; mas totalmente bíblico, tanto no sentido quanto na intenção. Nós precisamos de paciência, generosidade e graça para refletir sobre essas grandes questões. E Agostinho pode nos ajudar a começar.



O ex-ateu Alister McGrath é professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e pesquisador sênior do Harris Manchester College, no Reino Unido. Possui doutorados em biofísica molecular e em teologia pela Universidade de Oxford.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A QUEM INTERESSAR POSSA - EXTRAÍDO DE "GENIZAH"

UMA SOBREVIVENTE DA VISÃO CELULAR DE RENE TERRA NOVA CONTA TUDO

Roselaine Perez


Eu tive que digerir depressa demais o amontoado de quesitos que a Visão Celular possuía, parecia que tinha mudado de planeta e precisava aprender o novo dialeto local, e urgente, para conseguir me adaptar.


Ganhar / consolidar / discipular / enviar, almas / células/ famílias, Peniel, Iaweh Shamá, honra, conquista, ser modelo, unção apostólica, atos proféticos, mãe de multidões, pai de multidões, conquista da nação, mover celular, riquezas, nobreza, encontro, reencontro, encontros de níveis, resgatão, Israel, festas bíblicas, atos proféticos, congressos, redes, evento de colheita, prosperidade, recompensa, multidão, confronto, primeira geração dos 12, segunda geração dos 12, toque do shofar, cobertura espiritual, resultado, resultado, resultado, etc...


Era início do ano de 2002 quando fomos a Manaus, eu e meu marido, para recebermos legitimidade, enquanto segunda geração dos 12 do Apóstolo Renê Terra Nova no estado de São Paulo.As exigências eram muitas e muito caras:


•Compra do boton sacerdotal num valor absurdo.


•Hospedagem obrigatória no Tropical Manaus, luxuoso resort ecológico, às margens do Rio Negro, não um dos mais caros, mas “O” mais caro de Manaus (conheci Pastores que venderam as calças para pagar 2 diárias no tal resort e outros que deixaram a família sem alimentos para entrar na fila dos zumbis apostólicos, num Thriller nada profético).
• Trajes de gala Hollywoodianos.
• Participação obrigatória num jantar caro da preula após a cerimônia, tendo como ilustre batedor de bóia nada menos que o Apóstolo Renê e seus cupinchas.
•Tudo isso para ter a suprema dádiva de receber a imposição de mãos do homem, com direito a empurradinha na oração de legitimação e tudo ( uhuu!).


Nem mesmo em festa de socialite se vê exageros tão grandes em termos de exibição de jóias, carros, roupas de grife e todo tipo de ostentação escandalosa.


Hoje, sem a cachaça da massificação na cabeça, sinto vergonha e fico imaginando como Jesus seria tratado no meio daquela pastorada.


Ele chegaria com sandálias de couro, roupa comum, jeito simples, não lhe chamariam para ser honrado, nem tampouco perguntariam quem é o dono da cobertura dele , pois deduziriam que certamente dali ele não era.


Estive envolvida até a cabeça – porém não até a alma – na Visão Celular durante quase 5 anos, em todas as menores exigências fui a melhor e na inspiração do que disse Paulo "...segundo a justiça que há na lei dos Terra Nova, irrepreensível."




Entreguei submissão cega às sempre inquestionáveis colocações e desafios do líder, sob pena de ser rebelde e fui emburrecendo espiritualmente.


Me pergunto sempre por que entrei nisso tudo e depois que este artigo terminar talvez você me pergunte o mesmo, mas minha resposta tem sempre as mesmas certezas:


--> Todos nós precisamos amadurecer e, enquanto isso não acontece, muitas propostas vêm de encontro às fraquezas que possuímos e que ainda não foram resolvidas dentro de nós.


A partir da minha experiência pude enxergar as três principais molas propulsoras que fazem funcionar toda essa engrenagem:


1) A lavagem cerebral


A definição mais simples para lavagem cerebral é “conjunto de técnicas que levam ao controle da mente; doutrinação em massa”.


Em todas as etapas da Visão Celular se pode ver nitidamente vários mecanismos de indução, meios de trabalhar fortemente as emoções onde o resultado progressivo desta condição mental é prejudicar o julgamento e aumentar a sugestibilidade.


Os métodos coercivos de convencimento, os treinamentos intensos e cansativos que minam a autonomia do indivíduo, os discursos inflamados, as músicas repetitivas e a oratória cuidadosamente persuasiva são recursos que hoje reconheço como técnicas de lavagem cerebral, onde há mudanças comportamentais gradativas e por vezes irreversíveis.


2) Grandezas diretamente proporcionais


O Silvio Santos manauara é uma incógnita.Se em por um lado ele é duro e autoritário, noutro ele é engraçado, carismático e charmoso. Num dos Congressos em Manaus, me levantei da cadeira para tirar uma foto dele, que imediatamente parou a ministração e me chamou lá na frente. Atravessei o enorme salão com o rosto queimando, certa de que iria passar a maior vergonha de toda a minha vida, que o “ralo” seria na presença de milhares de pessoas e até televisionado.Quando me aproximei não sabia se o chamava de Pastor, Apóstolo, Doutor, Sua Santidade ou Alteza, mas para minha surpresa ele abriu um sorriso de orelha a orelha e fez pose, dizendo que a foto sairia bem melhor de perto. A reunião veio abaixo, claro, todos riam e aplaudiam aquele ser tão acessível e encantador.


Acontecimentos assim, somados à esperta e poderosa estratégia de marketing que Terra Nova usa para transmitir suas idéias, atraem para ele quatro tipos de pessoas:


•As carentes de uma figura forte (o povo simples que chora ao chamá-lo de pai).
• As que desejam aprender o modelo para utiliza-los em seus próprios ministérios falidos.
•Aquelas que desejam viver uma espécie de comensalismo espiritual, que vivem de abrir e fechar notebooks para ele pregar, ganhando transporte e restos alimentares em troca, as rêmoras da Visão.

•As sadomasoquistas espirituais. É tanta punição, tanto sacrifício, tanta submissão, que fica óbvio que muita gente se adapta a esse modelo porque gosta de sofrer. As interpretações enfermas do tipo “hoje eu levei um peniel do meu discipulador, então me agüentem que lá vou eu ensinar o que aprendi.”, eram a tônica das ministrações.
Pode acreditar que essas quatro classes de pessoas representam a grande maioria.


3) A concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida


O conceito da Visão Celular mexe demais com o ego, é sedutor, encantador, promissor, põe a imaginação lá no topo, puro glamour. A ganância que existe dentro do ser humano é o tapete vermelho por onde a desgraça caminha. Essa tem sido uma das causas pela queda de tantos e tantos pastores, por causa das promessas de sucesso rápido e infalível.


Renê não sabe com quem está lidando, mas é com gente!


Ele talvez ignore (não que ele seja ignorante) que cada ser humano é um universo e que as informações vão reproduzir respostas completamente inesperadas em cada um.


EU ASSISTI, na terra do Terra Nova, o “tristemunho” de uma discipuladora que, para confrontar e educar uma discípula, havia chegado à loucura de bater nela, para que a mesma parasse de falar em morrer. Esse é o argumento dos incapazes, dos que não conseguem levar cada triste, cada suicida ou deprimido às garras da graça de Cristo, mas que querem se fazer os solucionadores das misérias do povo.


Eu tenho até hoje péssimas colheitas dessa péssima semeadura, assumo meus erros e me arrependo profundamente de cada um deles:


• Quase perdi Jesus de vista
•Minha família ficou relegada ao que sobrava de mim.
•Minha filha mais velha, hoje com 23 anos, demorou um bom tempo para me perdoar por eu ter repartido a maternidade com tantas sanguessugas que me usavam para satisfazer sua sede de poder.
•Minha mãe teve dificuldade para se abrir comigo durante muito tempo porque, segundo ela, só conseguia me ver como a Pastora dura e ditadora. Tenho lutado diariamente para que ela me veja somente como filha.
•Fui responsável por manter minha Igreja em regime escravo (mesmo que isso estivesse numa embalagem maravilhosa), por ajudar a alimentar a ganância de muitos, por não guardá-los dessa loucura.
•Colaborei com a neurotização da fé de muitos, por causa da perseguição desenfreada pela perfeição e por uma santidade inalcançável.
•Fiquei neurótica eu mesma, precisando lançar mão de ajuda psicológica devido a crises interiores inenarráveis, ao passo que desenvolvia uma doença psíquica de esgotamento chamada Síndrome de Burnout*, hoje sob controle.
•Vendi a idéia da aliança incondicional do discípulo com o discipulador, afastando sutilmente as pessoas da dependência de Deus.
•Invadi a vida de muitos a título de discipulado, cuidando até de quantas relações sexuais as discípulas tinham por semana, sem que isso causasse ofensa ou espanto.
•Opinei sobre o que o discípulo deveria comprar ou não, tendo “direito” de vetar o que não achasse conveniente. A menor sombra de discordância por parte do discípulo era imediatamente reprimida, sem qualquer respeito. Quando isso acontecia os demais tomavam como exemplo e evitavam contrariar o líder.
•Aceitei que fosse tirada do povo a única diretriz eficaz contra as ciladas do diabo: a Bíblia. Não que ela não fosse utilizada, mas isso era feito de forma direcionada, para fortalecer os conceitos da Visão. Paramos de estudar assuntos que traziam crescimento para nos tornarmos robôs de uma linha de montagem, manipuláveis, dogmatizados.
•Fomentei a disputa de poder entre os irmãos ignorando os sentimentos dos que iam ficando para trás.
•Perdi amigos amados e sofri demais com estas perdas. Alguns criaram um abismo de medo, que é o de quem nunca sabe se vai ganhar um carinho ou um tapa, um elogio ou um peniel, mas sei que esse estigma está indo embora cada vez mais rápido. Outros me abandonaram porque não aceitaram uma Pastora normal, falível e frágil. Eles queriam a outra, a deusa, aquela que alimentava neles a fome por ídolos particulares.
Dentro da Visão, nossa Igreja esteve entre as que mais cresceram e deram certo na região, mas desistimos porque, acima de todo homem e todo método, somos escravos de Cristo.


Talvez o mais difícil tenha sido a transição do meu eu, a briga daquilo que eu era com o que sou hoje até que se estabelecesse Cristo em mim, esperança da glória.


Prossigo, perdoada pelo meu Senhor, tomando minhas doses diárias de Graçamicina, recriando meu jeito de me relacionar e compreender mais as falhas alheias e as minhas próprias.


Prossigo, reaprendendo a orar e adorar em silêncio, livre dos condicionamentos, admitindo meus cansaços, me permitindo não ser infalível, sendo apenas gente...Pastoragente!




* SÍNDROME DE BURNOUT:Distúrbio psíquico, de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso.Se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional). Resultado de um esforço extremo, um desgaste onde o paciente se consome física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e intolerante, com predileção para aqueles que mantêm uma relação constante e direta com atividades de ajuda. Ocorre geralmente em pessoas altamente motivadas, que sentem uma discrepância entre aquilo que investem e aquilo que recebem.




Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

AVE, MARIA E JOÃO! - POR PAULO CILAS



Em 1985, numa igreja em que eu atuava no Rio, me ocorreu que jamais tinha ouvido uma mensagem sobre Maria. E não era questão de machismo e discriminação com as mulheres, pois sobre Rute e Ester, Noemi, Lóide, Priscila, Lídia e outras, eu já tinha ouvido muitas vezes. Às vezes, até me perguntava de onde tiravam tantos argumentos para falar da avó e da mãe de Timóteo, já que foram pouco citadas. Mas, de Maria, nada.

Então, ousei naquele ano pregar uma mensagem sobre ela. Fiquei meio preocupado de como seria a aceitação daqueles que me ouviriam pois, se uns tiraram a humanidade de Maria colocando-a como ídolo – Rainha coroada no céu -, outros, por causa do ídolo, desqualificavam a pessoa, a mulher mãe de Jesus. Em Lucas 1: 48, 49 provavelmente Maria faz uso de um cântico conhecido e acrescenta sua pessoalidade: De como o Senhor atentou para a “pequenez de sua serva” e daquele momento em diante ela seria “chamada de bem aventurada”.

Na elaboração do sermão, fiquei pensando no que Maria viveu desde a anunciação até o nascimento de Jesus. Imediatamente ela perderia o futuro marido não fosse a intervenção divina. Num exercício de imaginação vislumbrei a turma da matemática (a turma que fica fazendo a conta do dia do casamento e o tempo do nascimento da criança) em possíveis piadinhas ou rejeição. Sem contar os enjôos naturais a qualquer gravidez. Pensei ainda, acima de tudo, na responsabilidade que toda mãe decente teria e que no caso de Maria se tornou maior ainda. Em algum momento chamaria até de fardo pois ela não poderia falhar na segurança daquele neném, que mesmo sendo Deus encarnado, dependia integralmente dos cuidados maternos.
Contudo, Maria além de não “abortar” Jesus de sua vida também não usou aquela circunstância para vantagens pessoais e honrarias impostas.
Maria ganhou em mim um admirador. Alguém que, verdadeiramente e sem reservas, a tem como bem aventurada.

Muitos anos depois fui chamado à atenção para João Batista. Como foi para ele viver afastado de tudo, talvez não tendo nem mesmo escolha de ser outra coisa na vida senão aquilo para o qual foi ungido desde o ventre abrindo mão da vontade própria? E, depois, tendo seguidores e sendo honrados por esses, simplesmente ao ver Jesus diz: “Agora vocês seguirão a Ele, porque eu não sou digno de desatar as suas sandálias. O que importa mesmo é que Ele cresça e eu diminua”.
.
Que exemplo desses dois! De entrega e renúncia. A postura de ambos é para mim como soco no estômago. Meu Deus, quantas vezes reivindiquei coisas, honras, respeito. E penso que se Maria e João fossem mais apercebidos, pregadores e líderes (?) se tornariam mais humildes, não ditariam tantas mensagens e tantas diretrizes no nome do Senhor, não profetizariam tantas conquistas. Todos se calariam mais. Jamais pediriam dinheiro, carro, e até mesmo avião “para fazer a obra do Senhor”. Tornaríamos-nos mais servos e jamais senhores de qualquer coisa. E, em recebendo coisas, seriamos tão somente gratos julgando-nos não merecedores.

Maria e João. Ave! (saudação de honra). Dele, preso e decapitado, Jesus diz: “Dos nascidos de mulher, ninguém foi maior”. Dela, aprendi a dizer eu mesmo: Enquanto muitos se exaltam, se portam como se tivessem o rei na barriga, ela se humilhou, adorou a Deus. E, verdadeiramente, teve o Rei na barriga.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ELE VEIO PARA "MATAR, ROUBAR E DESTRUIR"... MAS "ELE" QUEM? - POR PAULO CILAS


Claro que se eu fizer essa pergunta, na maioria dos lugares a resposta imediata é: O diabo. Alguns "juram de pé junto" que está escrito na Bíblia "o diabo veio para matar, roubar e destruir" no texto de João 10.10. Mas fato é que no verso não está escrito "o diabo", mas sim "o ladrão". E ainda que a pecha de ladrão, de assassino e de destruidor caiba bem no diabo vejo nesse verso, dentro do contexto geral do capítulo 10, que não é bem dele que Jesus está falando.

Lendo a ilustração no início de João 10 vemos no discurso de Jesus sobre o Bom Pastor, que é Ele mesmo, uma menção aos mercenários. No verso 8 Jesus descreve os que vieram antes dele como ladrões e salteadores. No 12 ele diz que o mercenário vê vir o lobo e abandona as ovelhas e foge. No 13 foge porque ele não é o pastor, porque ele não tem cuidado das ovelhas, porque ele só tem compromisso com seus próprios ganhos.

Sendo assim tal declaração de Jesus talvez nunca teve cumprimento tão definitivo quanto nos dias de hoje em que muitos não tendo compromisso nenhum com as ovelhas, cuidado nenhum com elas verdadeiramente estão matando a fé e a identidade individual - porque muitos estão se tornando massa manobrada em nome de uma fé cega de chavões e crendices. Muitos estão roubando tempo de vida, dias de trabalho. "Ovelhas" pensam trabalhar para o reino de Deus, mas na verdade estão gastando seu trabalho e esforço para edificação de reino de homens.
Ah! Mas roubam dinheiro também, e como!
Estão destruindo a convivência, a harmonia, a unidade, a humildade. Muitos estão levantando as bandeiras de seus líderes, de suas denominações deixando de viver a fraternidade, a comunhão e o amor ao próximo. Outras destruições seguem a essas: destruição da esperança, da fé, do bom testemunho. Pessoas acabam decepcionadas com a carreira cristã. Outras, alienadas, só conseguem andar conduzidas por amuletos e muletas e não conseguem uma vida pessoal diante de Deus.

Claro que não é tão simples escrever ou ainda aceitar o que estou escrevendo. Ouvi de um aluno há muito que com essa afirmação eu estava jogando fora anos do conhecimento bíblico dele. Ouvi de outro enquanto líamos o texto juntos que compreendia o que eu explicitava, no entanto que era difícil abrir mão da ideia de que era o diabo que veio matar, roubar e destruir. E o mais curioso é que muitos que matam, roubam e destroem mencionam sempre o nome do diabo.

Sei que pregadores, muitos dos quais eu admiro, pregam que o diabo é a personagem da matança, os ouço até no púlpito da igreja onde estou, mas mesmo assim insisto: Lendo Jesus falar sobre os enganadores em diversas ocasiões, o mesmo acontecendo com Paulo, Pedro e João que também fazem menção de oportunistas que têm como "deus" seu próprio ventre e que buscam sua própria glória e não a de Deus, não vejo outra interpretação senão a que está bem claro no texto. E, se no capítulo 10 de João há um papel para o diabo, é a figura do lobo.

Então bendito é o que ouve a palavra do Bom Pastor e que reconhece a sua voz. Esse é guardado dos ataques. Mas o que dizer dos que tem ouvido a voz dos mercenários? Ficarão à mercê do lobo.

Assim penso e assim estou seguro: Ainda, repito, que pela sua fama é fácil chamar o diabo de matador, roubador e destruidor, escrevo com convicção que Jesus está falando de homens maus que dizem querer cuidar de ovelhas. Que a inspiração desses é o maligno não tenho dúvida pois normalmente os tais são soberbos,ainda que muitas vezes em capa de humildade, gananciosos, mas se dizendo visionários, e sem freio entretanto, se dizendo conquistadores. Penso que é desses que Jesus está falando.

Ps. O bom livro "Esgotamento Espiritual" de Malcom Smith que li há  mais de quinze anos, traz algo sobre o assunto.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PARA NÃO DIZER QUE EU NÃO FALEI DAS FLORES - POR PAULO CILAS (reprise de outra primavera)



Essa música de Geraldo Vandré marcava uma era de revolta e insatisfação contra um regime político. As flores do título representavam a possibilidade de liberdade, uma liberdade ideológica que talvez só trocaria um regime ditatorial por outro. As flores na música poderiam ser tanto um desejo verdadeiro de justiça e liberdade como a anarquia de muitos que abraçavam uma luta sem nem mesmo saber do se tratava e tudo que a envolvia. Mencionar as flores serve para esse fim politico, como também, na pena de um poeta, exprimir sentimentos: “As rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume”...
Mas, quero falar de outras flores. Flores que estavam no Jardim do Éden, sejam as flores de um canteiro, sejam as flores que prenunciam os frutos. No Jardim da Perfeição, elas presenciaram tal perfeição ser contaminada, agredida, transformada e transtornada por uma atitude rebelde. Uma desobediência de quem não deveria obedecer por obrigação, mas por ser a melhor maneira de continuar caminhando entre as flores no jardim. Com a queda, as flores choraram. Não sei se foi aí que, junto com as rosas, apareceram também os espinhos. Fato é que está escrito que os cardos e abrolhos apareceriam também.
Salto a cena e vou para outro jardim, Getsemani. As flores desse jardim contemplam agora o Perfeito, o Cordeiro Imaculado experimentando a agonia, a angústia, a comoção que o faziam suar sangue. As flores, agora nascidas em terra impura, contaminadas pelo mal, também aguardam ansiosas que Ele vá até o fim, que Ele complete a sua missão e promova a redenção de toda a natureza que geme.
No primeiro jardim, o lugar era perfeito, o homem caído o contaminou. No segundo, “O Homem” era perfeito, e mesmo tendo tudo contra, Ele “fez seu rosto como um seixo”. Sinal de determinação de quem iria para a consumação de tudo. “Pelas suas pisaduras somos sarados” e "Ele olhará a nós e as flores, e com elas toda a criação e “verá o fruto do seu penoso trabalho”.
“Aparecem as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves e a voz da pomba ouve-se em nossa terra. A figueira começou a dar seus figos e as vides, em flor, exalam seu aroma” (Ct.2.12,13)
Feliz Primavera!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ESTÁTUA!! - POR PAULO CILAS



A brincadeira era até legal. A um comando com o grito "estátua" todo mundo tinha de ficar paralisado. Claro que havia a tentativa de ludibriar o comando em busca de uma posição mais confortável e as brigas intermináveis sobre quem se mexeu primeiro. Mas, afinal, tudo era brincadeira.

Mas a Bíblia nos traz uma história de alguém virando estátua. E não foi de brincadeira: "E a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal" Gn. 19:26.

Tentei entender essa passagem bíblica sem a contaminação das histórias narradas em livros mitológicos e transformadas em imagens nos filmes como “Fúria de Titãs”. Digo isso porque não poderia incorrer no erro de tentar imaginar a cena Bíblica como um conto tipo "As Mil e Uma Noites" ou da carochinha. Mas, como entender o que realmente se passou na fuga de Ló da cidade de Sodoma ,vizinha de Gomorra?

A luz é lançada através da advertência de Jesus: “Lembrai-vos da mulher de Ló”!! Lc. 17:32. É curioso O Senhor fazer menção de uma personagem que sequer tem seu nome citado. Ora, se a importância não está em seus feitos e nem em sua própria pessoa resta o capítulo final de sua vida. E o que foi essa cena final?

Imagine essa mulher apegada ao seu padrão de vida, às coisas adquiridas, ao estilo de vida dos moradores de Sodoma e de repente tendo de largar tudo aquilo? Ela olhou para trás porque com certeza lamentava sair dali, pois queria ficar. Em uma decisão mais grave, era como os hebreus desejando a volta ao Egito, querendo as iguarias egípcias. Com certeza houve ali um cataclisma envolvendo as entranhas da terra que passaram a cuspir para o ar fogo e enxofre e que, ante a ordem de Deus,agora caíam sobre aquelas cidades. No entanto, não só o enxofre caía, mas também um elemento fundamental daquele local: O sal. Que ainda hoje é visto no Mar Morto e em suas margens em alta densidade. Isso mesmo, das entranhas daquela terra foram cuspidas borras com este principal elemento.

E como aquela mulher não saiu correndo em disparada, em sua hesitação ela foi tomada por uma dessas borras, que a envolveu e ficou ali "estatelada".

Somos chamados a sair desse mundo, a corrermos desse mundo, não sermos amigos desse mundo. E aqui não falamos de bobagens criadas por religiosos - que vivem dizendo “o que pode e o que não pode”- mas do espírito maligno desse mundo. Estamos falando do império das trevas que tem governado aqui. Somos chamados a correr desse mundo, a olharmos a pátria além e se não entendermos isso, ficaremos obcecados pelas vaidades desse lugar e de seu espírito sombrio que tenta nos seduzir. Ficaremos com pena de deixar “as coisas boas”. Daremos valor aos sentimentos errados, como orgulhos e vaidades. As conquistas daqui nos encherão os olhos ... E passaremos a correr o risco de também ficarmos retidos pelos elementos principais que constituem esta Sodoma dominada pelo mal que ora tem como príncipe a satanas.

Ouçamos a voz de Deus ou ouviremos a voz desse mundo dizendo: Estátua!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A SALVAÇÃO: DA ARCA E A DE JESUS - POR PAULO CILAS



E lá estavam Noé e sua família sendo salvos da tragédia do dilúvio. Era uma boa salvação. Entretanto, por ser provisória, era uma salvação, diria, um tanto quanto desconfortável. Mesmo sendo a arca razoavelmente grande, ela estava lotada dos pares de animais – sete pares de puros e dois de impuros, todos cheirando mal. Já ficou perto de cachorro molhado? E de galinha? Para mim, naquele momento, todos estavam rebaixados à categoria de impuros, sujos.
E o que eles produziam ao longo da estadia de praticamente um ano na arca? É certo que a dieta era de acordo com a circunstância, entretanto, a produção de “adubo” da bicharada estava a todo vapor. E a arca não podia ser muito aberta e arejada por motivos óbvios. Ela era uma ilha cercada de água por todos os lados e, pelo menos durante quarenta dias, por cima também.
A situação não era fácil! Mas, ou aguentava o casal de bode suando ou caía fora morrendo afogado. A mesa das refeições devia ser uma festa. Os cheiros se confundiam. E como disse acima, a coisa demorou quase um ano, o que em lugar fechado, sem ter para onde ir e apenas fazendo as tarefas de manutenção, deve ter parecido uma década.
Um dia percebi que muitos, eu também, viviam a salvação como que dentro da arca. Uma salvação apertada, mal-humorada e que só valia à pena porque ou era ela ou a danação eterna. Havia ainda uma mórbida satisfação, algo como um prêmio, que era o fato do pessoal que vivia rindo, desfrutando do mundo, ir todo “pro inferno”! Sim, tal salvação parecia só fazer sentido se houvesse a certeza de que essa turma que não “tava” no mesmo aperto que eu fosse queimar no mármore do inferno.
Um dia abri os olhos! Li em Jo. 10:9 que Jesus é A PORTA! E ELE se apresenta como uma PORTA DE ENTRADA e, também, de SAÍDA. “Quem entra por esta PORTA, entra, sai e encontra pastagem, isto é, espaço, liberdade, VIDA ABUNDANTE!
Saindo da perdição, do império das trevas, eu entro para O REINO DO FILHO DO SEU AMOR e ali pela mesma porta eu saio para uma dimensão muito maior desse REINO. Eu descubro que estar em DEUS é muito mais do que escapar do mal. Que a vida é algo muito maior, superior, independente da morte. Sou livre, não troquei uma prisão por outra melhor. Não tenho uma salvação provisória e apertada. Muito menos preciso de arcas modernas maquiadas da embarcação de luxo - tudo tem sido feito para que as pessoas fiquem na “igreja”, trancadas nelas-. Eu entrei não para um lugar sem saída. “EU ENTREI PARA FORA”!!!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

CAÍDO - POR PAULO CILAS


Certa vez, levantei-me publicamente contra um ensinamento de "conquista do Brasil", que declarava ter sido um ato profético de D. João VI o envio de Pedro Álvares Cabral e a escolha do nome de Santa Cruz e Vera Cruz para a terra recém-descoberta. Não quero me deter nessa sandice, até porque o seu idealizador continua a inventar mil e uma outras. E até hoje, apesar de divisões e rachas e mais loucuras megalomaníacas, são muitos que por ingenuidade ou interesses escusos ainda lhe dão ouvidos.
O quero dizer mesmo é que, diante da minha posição contrária, alguém disse a um membro de onde me reúno que eu deveria tomar cuidado com as críticas porque poderia "cair"um dia! Era um pastor dizendo isto. Traduzindo, mesmo não concordando deveria eu ficar calado porque sou pecador iminente.
De fato, quando entramos em algum "turbilhão", devemos saber se temos escopo -não ter telhado de vidro - para não sermos flagrados em hipocrisias e incoerências. Dai em diante aprendi algumas coisas importantes:

NÃO QUERO SER INCOERENTE E NEM HIPÓCRITA COM A PALAVRA DE DEUS. Por decisão, não por mérito, decido não usar A BÍBLIA em benefício próprio. Decido não ficar aquém e também não ir além do que ela realmente diz. Decido não querer conhecer somente o que está escrito, mas , também, o espírito do que está escrito. Decido não dizer que tenho uma revelação, ministério, visão, nova unção ou qualquer coisa que se diga especial ou mais espiritual pois: "Havendo Deus falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais , pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo..." Pois bem, agora não existe mais nada a ser dito, sacrificado, revelado. Resta-nos dar ouvidos às PALAVRAS DO SENHOR que nos são “lembradas” pelo ESPÍRITO SANTO. Há AS BOAS NOVAS (EVANGELHO) a serem anunciadas.
As conquistas serão de vidas rendidas a CRISTO, e não à minha igreja ou visão. A conquista será O REINO DE DEUS dentro do homem como JESUS afirma e não a conquista dos bens terrenos que só engrandecem aos homens e que despertam o que de pior existe:
soberba, vaidades, orgulhos e tantos outros sinônimos possíveis e imagináveis.

DECIDO QUE SOU PECADOR CAÍDO! E só não digo que sou o principal porque o outro Paulo chegou na frente. Tenho um verme dentro de mim, pegando emprestado a afirmação de Larry Crabb no livro "Chega de Regras". E só eu e DEUS sabemos o tamanho desse verme.
E, assim, sabendo quem sou e do que sou capaz de fazer em minha maldade e fraquezas, não posso me dar ao luxo de distorcer a única mensagem que conseguiu e consegue me redimir.
Portanto, já não posso cair. Já sou caído desde o ventre de minha mãe como Davi. Acreditem! Até o bem que quero fazer não faço. E o mal,então? Este, só chorando ao PÉ DA CRUZ. Só pela CRUZ eu tive chance de ser perdoado e nela continuo a derramar minha alma até o dia em que o corruptível(eu) der lugar ao incorruptível.
Não!! Não sou advogado de JESUS e de seu EVANGELHO. Sou testemunha DELES e nenhuma mensagem enganosa, nenhum devaneio de homens vaidosos e ardilosos, nem mesmo a insensatez ainda que ingênua ou simplista de qualquer pregador imprudente e muito, muito menos meu estado de total dependência DA GRAÇA E MISERICÓRDIA DO SENHOR por ser quem eu sou me calarão.
"SEJA DEUS SEMPRE DEUS VERDADEIRO, E TODO O HOMEM MENTIROSO..." Como disse o apóstolo Paulo. Aquele vendido pelo pecado, o miserável homem. Aquele mesmo que se gloriava na sua fraqueza pois era assim que se via forte. E dizia não ter alcançado coisa alguma mas que prosseguia para o alvo. E, em recebendo algum louvor jamais se gloriava a não ser na CRUZ DE CRISTO e até repreendia espírito de adivinhação que dizia ser ele, Paulo, servo do DEUS altíssimo. Ou seja, O APÓSTOLO PAULO que jamais seria como os "apóstolos" atuais. Primeiro porque esses não o receberiam por estar fora da visão. Segundo, porque ele não comungaria com gente que tem como deus o próprio ventre!

VOTO BOM É VOTO LAICO - POR CARLOS CARRENHO

Quem determina se Deus é o Senhor é o povo, não seus governantes


Os melhores candidatos não são necessariamente aqueles que professam a mesma fé ou pertencem a determinada denominação

Lembro-me de que, quando eu era criança na igreja, algumas profissões eram consideradas quase do diabo. Entre elas, a de baterista, advogado e político.

Com o tempo, a bateria ganhou seu espaço nos altares das igrejas e os advogados viraram até presbíteros. Mas foi na área política que a coisa mudou radicalmente. Se, antes, a atuação política era desestimulada no rebanho e um crente ser vereador ou deputado era visto como um sacrilégio, agora já temos até bancada evangélica. A cada eleição, pastores candidatos pululam Brasil afora. Até aí, nada demais; cada um usa a plataforma que possui. Quem é radialista, por exemplo, apela aos votos dos ouvintes; sindicalistas recorrem ao pleito dos operários; produtores rurais buscam apoio de colegas agricultores. Portanto, quem vem da Igreja tem mais é que conseguir votos na Igreja e defender seus interesses.

Isso quer dizer então que cristão deve votar em cristão, crente em crente, evangélico em evangélico? Aí minha resposta é um esplendoroso não. Explico. Quando precisamos de um cardiologista, recorremos ao melhor especialista que podemos pagar ou vamos a um médico cristão? Quando o carro quebra, procuramos um bom mecânico ou simplesmente um profissional que se apresente como crente? E se formos comprar um bolo, nossa preferência será pelo mais saboroso ou optaremos por aquele feito por uma irmãzinha na fé, ainda que não agrade tanto ao paladar? E as obras? Confiamos nossos prédios a um engenheiro competente ou damos preferência ao evangélico, simplesmente porque é evangélico?

Ainda que muitos de nós favoreçamos membros de nossa comunidade eclesiástica, só o fazemos porque acreditamos e confiamos nos profissionais em questão. Em primeiro lugar deve vir a capacidade do indivíduo para realizar a tarefa a que se propõe, e depois sua opção religiosa. Por isso, ao votar, todo cristão (e cidadão) tem a obrigação perante a sociedade de tomar a mesma atitude e escolher quem acredita ser o melhor o candidato – o que não necessariamente inclui aqueles que professam a mesma fé ou pertencem a determinada denominação.

Há cristãos na política que dão um grande testemunho e atuam visando ao bem estar da sociedade. Da mesma forma, há pessoas de outros credos extremamente honestas e fazendo um ótimo trabalho parlamentar ou governamental. E há políticos pilantras de todas as crenças, ou de crença nenhuma, que agem só visando aos próprios interesses. Ou seja, religião nenhuma é garantia de caráter ou idoneidade.

Como cristãos, devemos amar nosso próximo como a nós mesmos – o que também significa votar pelo outro, votar pela sociedade. Devemos, portanto, escolher o melhor candidato não apenas para nós mesmos, mas para todo o grupo social ao qual pertencemos. Esta mentalidade de voto, que é absolutamente cristã, é muito mais importante que a religião do candidato. Mas e o versículo que diz “Feliz é nação cujo Deus é o Senhor”, em Salmos 33.12? Para começar, Deus ser Senhor é diferente de bispo ser presidente, pastor ser senador e evangélico ser deputado. A religião professada pelos políticos não garante a senhoria divina. Quem garante que Deus é Senhor é toda a nação, toda a sociedade. Um país com um presidente cristão e uma população descrente não terá Deus como Senhor. E um estado com uma população cristã poderá proclamar Deus como Senhor, ainda que seus governantes não professem tal fé. Quem determina se Deus é o Senhor é o povo, não seus governantes. Trata-se da mais pura democracia divina.

Quer dizer então que não voto em cristão? Nada poderia ser mais falso. Nesta próxima eleição presidencial, por exemplo, estou propenso a votar em uma candidata cristã – até porque os outros dois concorrentes me desagradam, um pelo partido e outro, pelo caráter. Mas vou votar nela porque é cristã? Jamais. É porque acredito que ela é a melhor candidata para o país, para mim e, mais importante, para meu próximo. E ainda votaria mesmo se ela declarasse que não acredita em Deus…


Carlo Carrenho - DO SITE CRISTIANISMO HOJE

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O COLAPSO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO - POR RICARDO GONDIM

Dois pastores paulistas se fantasiam de Fred e Barney. Isso mesmo, fantasiados de Flintstone, entre gracejos ridículos, acreditam que estão sendo "usados por Deus para salvar almas". Na rádio, um apóstolo ordena que tragam todos os defuntos daquele dia, pois ele sente que Deus o "ungiu para ressuscitar mortos".

Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína .

Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pelo segmento conhecido como neopentecostal. Como um trator de esteiras, o neopentecostalismo cresce passa por cima da história, descarta tradições e liturgias e se reinventa dentro das lógicas do mercado. É um novo fenômeno religioso.


É possível, sim, separá-lo como uma nova tendência. Sobram razões para afirmar-se que o neopentecostalismo deixou de ser protestante ou até mesmo evangélico.É uma nova religião. Uma religião simplória na resposta aos problemas nacionais, supersticiosa na prática espiritual, obscurantista na concepção de mundo, imediatista nas promessas irreais e guetoizada em seu diálogo cultural.


Mas a influência do neopentecostalismo já transbordou para o "mainstream" prostestante. O neopentecostalismo fermentou as igrejas consideradas históricas. Elas também se vêem obrigadas a explicar quase dominicalmente se aderiram ou não aos conceito mágicos das preces. Recentemente, uma igreja batista tradicional promoveu uma "Maratona de Oração pela Salvação de Filhos Desviados".

Pentecostais clássicos, como a Assembléia de Deus, estão tão saturados pela teologia neopentecostal que pastores, inadvertidamente, repetem jargões e prometem que a vida de um verdadeiro crente fica protegida dentro de engrenagens de causa-e-efeito. Os "ungidos" afirmam que sabem fazer "fluir as bênçãos de Deus". É comum ouvir de pregadores pentecostais que vão ensinar a "oração que move o braço de Deus”.

O Movimento Evangélico implode. Sua implosão é visceral. Distanciou-se de dois alicerces cristãos básicos, graça e fé. Ao afastar-se destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, permitiu que se abrisse essa fenda histórica com a tradição apostólica.

1. A teologia da Graça

Desde a Reforma, protestantes e católicos passaram a trabalhar a Graça como pedra de arranque de um novo cristianismo. O texto bíblico, “o justo viverá da fé”, acendeu o rastilho de pólvora que alterou a cosmovisão herdada da Idade Média. A Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “ garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.


Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido, à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.


Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. (É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos).


Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portras do céu”; “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.


2. A compreensão da Fé

“A Piedade Pervertida” (Grapho Editores) de Ricardo Quadros Gouvêa é um trabalho primoroso que explica a influência do fundamentalismo entre evangélicos.

“O louvorzão, assim como as vigílias e as reuniões de oração, e até mesmo o mais simples culto de domingo, muitas vezes não passam de um tipo de superstição que beira a feitiçaria, uma vez que ele é realizado com o intuito de ‘forçar’ uma ação benévola da parte de Deus, como se o culto e o louvor fossem um ‘sacrifício’, como os antigos sacrifícios pagãos. Neste caso, não temos mais liturgias, mas sim teurgias, nas quais procura-se manipular o poder de Deus” (p.28).

Ora, enquanto fé permanecer como uma “alavanca que move os céus”, as liturgias continuarão centradas na capacidade de tornar a oração mais eficaz. Antes dos neopentecostais, o Movimento Evangélico já se distanciara dos Místicos históricos que praticavam a oração com um exercício de contemplação e não como ferramenta de como tornar Deus mais útil.

Fé não é uma força que se projeta na direção do Eterno. Fé não desata os nós que impedem bênçãos. Fé é coragem de enfrentar a vida sem qualquer favor especial. Fé é confiança de que os valores de Cristo são suficientes no enfrentamento das contingências existenciais. Fé aposta no seguimento de Cristo; seguir a Cristo é um projeto de vida fascinante.

O neopentecostalismo ganhou visibilidade midiática, alastrou-se nas camadas populares e se tornou um movimento de massa. Por mais que os evangélicos conservadores não admitam, o neopentecostalismo passou a ser matriz de uma nova maneira de conceber as relações com o Divino.

A alternativa para o rolo compressor do neopentecostalismo só acontecerá quando houver coragem de romper com dogmatismos e com os anseios de resolver os problemas da vida pela magia.

O caminho parece longo, mas uma tênue luz já desponta no horizonte, e isso é animador.

Soli Deo Gloria

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

JESUS NÃO ERA CRISTÃO - POR AUGUSTUS NICODEMUS LOPES

Muita gente pensa que sim. Todavia, a religião de Jesus não era cristianismo. Explico. Jesus não tinha pecado, nunca confessou pecados, nunca pediu perdão a Deus (ou a ninguém), não foi justificado pela fé, não nasceu de novo, não precisava de um mediador para chegar ao Pai, não tinha consciência nem convicção de pecado e nunca se arrependeu. A religião de Jesus era aquela do Éden, antes do pecado entrar. Era a religião da humanidade perfeita, inocente, pura, imaculada, da perfeita obediência (cf. Lc 23:41; Jo 8:46; At 3:14; 13:28; 2Co 5:21; Hb 4:15; 7:26; 1Pe 2:22).

Já o cristão – bem, o cristão é um pecador que foi perdoado, justificado, que nasceu de novo, que ainda experimenta a presença e a influência de sua natureza pecaminosa. Ele só pode chegar a Deus através de um mediador. Ele tem consciência de pecado, lamenta e se quebranta por eles, arrepende-se e roga o perdão de Deus. Isto é cristianismo, a religião da graça, a única religião realmente apropriada e eficaz para os filhos de Adão e Eva.

Assim, se por um lado devemos obedecer aos mandamentos de Jesus e seguir seu exemplo, há um sentido em que nossa religião é diferente da dele.

Quando as pessoas não entendem isto, podem cometer vários enganos. Por exemplo, elas podem pensar que as pessoas são cristãs simplesmente porque elas são boas, abnegadas, honestas, sinceras e cumpridoras do dever, como Jesus foi. Sem dúvida, Jesus foi tudo isto e nos ensinou a ser assim, mas não é isso que nos torna cristãos. As pessoas podem ser tudo isto sem ter consciência de pecado, arrependimento e fé no sacrifício completo e suficiente de Cristo na cruz do Calvário e em sua ressurreição – que é a condição imposta no Novo Testamento para que sejamos de fato cristãos.

Este foi, num certo sentido, o erro dos liberais. Ao removerem o sobrenatural da Bíblia, reduziram o Jesus da história a um mestre judeu, ou um reformador do judaísmo, ou um profeta itinerante, ou ainda um exorcista ambulante ou um contador de parábolas e ditos obscuros que nunca realmente morreu pelos pecados de ninguém (os liberais ainda não chegaram a uma conclusão sobre quem de fato foi o Jesus da história, mas continuam pesquisando...). Para os liberais, todas estas doutrinas sobre o sacrifício de Cristo, sua morte e ressurreição, o novo nascimento, justificação pela fé, adoção, fé e arrependimento, foram uma invenção do Cristianismo gentílico. Eles culpam especialmente a Paulo por ter inventando coisas que Jesus jamais havia dito ou ensinado, especialmente a doutrina da justificação pela fé.

Como resultado, os liberais conceberam o Cristianismo como uma religião de regras morais, sendo a mais importante aquela do amor ao próximo. Ser cristão era imitar Cristo, era amar ao próximo e fazer o bem. E sendo assim, perceberam que não há diferença essencial entre o Cristianismo e as demais religiões, já que todas ensinam que devemos amar o próximo e fazer o bem. Falaram do Cristo oculto em todas as religiões e dos cristãos anônimos, aqueles que são cristãos por imitarem a Cristo sem nunca terem ouvido falar dele.

Se ser cristão é imitar a Cristo, vamos terminar logicamente no ecumenismo com todas as religiões. Vamos ter que aceitar que Gandhi era cristão por ter lutado toda sua vida em prol dos interesses de seu povo. A mesma coisa o Dalai Lama e o chefe do Resbolah.

Não existe dúvida que imitar Jesus faz parte da vida cristã. Há diversas passagens bíblicas que nos exortam a fazer isto. No Novo Testamento encontramos por várias vezes o Senhor como exemplo a ser imitado. Todavia, é bom prestar atenção naquilo em que o Senhor Jesus deve ser imitado: em procurarmos agradar aos outros e não a nós mesmos (1Co 10:33 – 11:1), na perseverança em meio ao sofrimento (1Ts 1:6), no acolher-nos uns aos outros (Rm 15:7), no andarmos em amor (Ef 5:23), no esvaziarmos a nós mesmos e nos submeter à vontade de Deus (Fp 2:5) e no sofrermos injustamente sem queixas e murmurações (1Pe 2:21). Outras passagens poderiam ser citadas. Todas elas, contudo, colocam o Senhor como modelo para o cristão no seu agir, no seu pensar, para quem já era cristão.

Não me entendam mal. O que eu estou tentando dizer é que para que alguém seja cristão é necessário que ele se arrependa genuinamente de seus pecados e receba Jesus Cristo pela fé, como seu único Senhor e Salvador. Como resultado, esta pessoa passará a imitar a Cristo no amor, na renúncia, na humildade, na perseverança, no sofrimento. A imitação vem depois, não antes. A porta de entrada do Reino não é ser como Cristo, mas converter-se a Ele.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

SOU JOSÉ! - POR PAULO CILAS




Excetuando a grande declaração “EU SOU” ou “EU SOU O QUE SOU” do próprio Deus, vejo nas palavras de José sobre si mesmo a mais profunda e contundente afirmação que pode nos inspirar a sermos nós mesmos e não o que as ocorrências da vida querem nos transformar.
Começamos pelo sonho aparentemente frustrado de José. Aliás, deveríamos nos preocupar mais quando falarmos para muitos – “não desistam de seus sonhos”, como se tais fossem sempre se realizar logo ali na esquina, ou sempre se realizar movidos por palavras quem determinem assim. Pois bem, o que se seguiu ao sonho de José foi um pesadelo sem fim. Despertada a ira de seus irmãos quanto ao seu conteúdo, o sonho de José foi a senha para fatos dignos da violência dos dias de hoje. Longe da vista de seu pai, a tramoia tinha como primeira opção a morte de José. Depois, José tinha que se dar como felizardo em “apenas” ser vendido como escravo para, a seguir, ser exposto como mercadoria em terra estranha.
Depois, o que poderia ser visto como melhoria de vida tornou-se mais enfadonho e desanimador – se é que existia algum ânimo em ser escravo- quando se recusou aos apelos sexuais da esposa de seu chefe e essa o acusou exatamente do contrário. Estar preso com motivos já é ruim, inocentemente com certeza é muito pior. E, se antes o jovem sonhador já tivera sua liberdade cerceada como escravo, agora, na prisão dos prisioneiros do rei, a coisa se agravava de vez.
Mas, as afirmações “O Senhor era com José” se repetem em sua triste jornada. Isto quer dizer que a traição de seus irmãos não mudou quem ele era para Deus e muito menos quem era e continuava sendo Deus para José. A acusação injusta e maliciosa da mulher de Potifar não encheu seu coração de ódio. Parecia que nada e nem ninguém mudaria quem ele era.
SUCESSO!!! Essa coisa que enche de orgulho e os mais diversos tipos de vaidades os corações humanos, deformando-os a cada dia, também não invadiu a alma de José. Agora, grande no Egito, ele recebe seus irmãos sem que esses sequer desconfiassem que estivessem diante do irmão que lhes causou inveja e revolta. Prostrados! Eis como muitas vezes queremos ver “nossos adversários”. “-Que meus inimigos tenham vida longa para aplaudirem minha vitória,” diz certo ditado. Entretanto, não foi o que fez José, pois, fazendo sair a todos, ele abraça e dar-se a conhecer aos seus irmãos. Chorava tão copiosamente que era ouvido lá na casa de faraó.
E aí vem a declaração maior: EU SOU JOSÉ!! As marcas profundas da vida não o mudaram. Ele não se rendeu aos apelos da mágoa, do ódio, da desilusão em transformar ou transtornar quem ele era de fato.
José era “gente” como a gente. Quando um companheiro de prisão, a quem também interpretou um sonho no qual o mesmo seria libertado, logo foi pedindo para que não se esquecesse dele e intercedesse, pois era inocente. Fez o que qualquer um de nós faria, demonstrando ansiedade em ser livre. Contudo, muitos não fazem o que ele fez. Sua identidade estava íntegra. Ele não criou uma nova personagem, não ficou recalcado, não se tornou hipócrita seja no sentido usual ou no sentido original: não interpretava um papel. ELE ERA JOSÉ!!!

A ARTE PERDIDA DO COMPROMISSO - POR CHARLES COLSON E CATHERINE LARSON

Sem compromisso, nossa vida individualista será árida e estéril. Sem compromisso, nossas vidas ficarão sem sentido ou propósito. Certas características são tão inerentes ao cristianismo que negligenciá-las significa tornar-se um crente disforme. Uma delas é o compromisso. Um cristão sem compromisso é como um paradoxo. O descompromisso tem sido uma tendência na sociedade moderna. As pessoas estão cada vez menos comprometidas com suas responsabilidades, com seus empregadores e até com sua família. Carreira, casamento, amizade e até mesmo a fé – ou seja, valores enraizados na cultura ocidental – têm sido abalados ela falta de compromisso, sobretudo entre as pessoas mais jovens. E a percepção não é apenas pela mera observação dos fatos e do comportamento das pessoas. Uma pesquisa feita em 2008 mostrou que mais da metade das pessoas com idades entre 20 e 24 anos estavam com seu empregador atual havia menos de um ano. O matrimônio, em especial, tem sofrido muito com esse quadro. De acordo com dados do último censo norte-americano, os adultos jovens estão se casando mais tarde do que nunca. Um documentário produzido pela PBS em 2006, intitulado A próxima geração, deu algumas dicas sobre o porquê dessa situação atual: desejo de aventura, interesse em progredir na carreira e permanência mais prolongada na adolescência.A falta de compromisso também está atingindo duramente a religião. Estudos sugerem que a geração iPod chega ao cúmulo de escolher quais aspectos da fé deseja adotar para criar as suas próprias listas espirituais. A religião passa a ser o mesmo, então, que uma lista de meros interesses pessoais. Entre os jovens adultos de hoje, a falta de vontade de se comprometer é alarmante. Eles são filhos de uma geração que viveu o apogeu da contracultura, entre as décadas de 1960 e 70, e expressam tal sentimento em seu apogeu. Em 1979, o sociólogo Robert Bellah realizou extensas entrevistas e pesquisas para compreender os chamados “hábitos dos corações” dos americanos médios. Muitos deles não tinham nenhum senso de comunidade ou obrigação social e viam o mundo como um lugar fragmentado de escolha e de liberdade, sempre no objetivo de obter o máximo em realização e conforto pessoal. Instados a expressar alguma forma de compromisso com algo ou alguém além de si mesmos, a maioria quedou-se silente. Bellah chamou este comportamento de “individualismo ontológico”, uma crença não codificada segundo a qual o indivíduo é a única fonte de significado. O estudioso previu então como essa atitude iria, com o passar do tempo, afetar a sociedade em geral e até a Igreja. Como se vê, acertou em cheio. Desde então, temos visto uma quase ininterrupta marcha em direção ao autofoco, afetando todas as nossas instituições, mas sobretudo o trabalho, o casamento e a família.Os blocos básicos da construção de uma sociedade pode se corroer se não existir compromisso daqueles que a compõem. No caso da Igreja, é cada vez mais urgente ensinar isso. Afinal, como é possível pensar em ser cristão sem um compromisso voluntário e total com a pessoa de Jesus? Por outro lado, além das ramificações para a sociedade como um todo, quando tal compromisso é recusado o mesmo negligenciado, perde-se uma das grandes alegrias da vida. Quando focamos tudo sobre nós mesmos, perdemos o grande sentido da existência, que outro não é senão conhecer e servir a Deus e amar e servir a nosso próximo. Isso ficou claro quando 33 cientistas pesquisadores investigaram a relação entre o desenvolvimento humano e da comunidade em um importante relatório chamado Hardwired to connect. A pesquisa revelou que o ser humano é biologicamente preparado para encontrar sentido através de relacionamentos. Depois de quase oito décadas de vida, posso testemunhar sobre isso. Minha alegria maior é dar-me aos outros e vê-los crescer como conseqüência disso. É impossível descobrir isso sem que tenha compromisso com alguém. A primeira vez que aprendi isso foi presenciando meus pais cuidarem de meus avós, de maneira amorosa e espontânea, até o fim de suas vidas.Vi isso também quando estava no Corpo de Fuzileiros Navais. Lá, ensinava-se aos recrutas como eu que compromisso com o companheiro de farda é tudo. Aprendi que, uma vez em combate, eu certamente morreria se o homem mais próximo a mim não me cobrisse, e vice-versa.Esse tipo de compromisso total, feito de amor um pelo outro, é o que precisa acontecer nas igrejas. Ao abandonar o compromisso, a nossa cultura narcisista perdeu a única coisa que procura desesperadamente: a felicidade. Semcompromisso, nossa vida individualista será árida e estéril. Sem compromisso, nossas vidas ficarão sem sentido ou propósito. Afinal, se não se vale a pena morrer por nada, também não vale a pena viver. Mas, com o compromisso, vem o florescimento da sociedade – de vocação, do casamento, da Igreja – e dos nossos corações. Esse é o paradoxo de Jesus, tantas vezes compartilhado quando o Senhor nos oferece para vir e morrer, a fim de que possamos verdadeiramente viver.

terça-feira, 13 de julho de 2010

SÍNDROME DAS CAMPINAS ( OU DO OLHO GRANDE) - POR PAULO CILAS


A jornada ficou complicada. Agora, os pastores de Ló disputavam com os pastores de Abraão espaço para seus rebanhos. Abraão- que tinha destino diretamente recebido de Deus- diz a Ló para ele escolher qual direção seguir. Ló, ao contrário de Rute que prefere seguir com sua ex- sogra para um futuro “incerto” e declara que O DEUS de Noemi é agora seu DEUS, ver no distanciamento com Abraão uma boa oportunidade para seus interesses imediatos e maiores. Seu olhar mirou as campinas mais verdes. E lá se foi Ló para as paragens “alegres” de Sodoma junto a Gomorra.
Certo dia perguntei por um amigo de adolescência –éramos membros da mesma igreja - ao seu pai. A resposta veio acompanhada de um sorriso de satisfação, pois, ele, o pai, passou a discorrer sobre o sucesso profissional do filho e dos bens amealhados. No final de tão triunfante narrativa veio um pequeno comentário sem nenhum pesar e ainda com um risinho cínico: “o sem vergonha só não quer saber de igreja”, que traduzido, expressa a mesma história do filho pródigo.
Mas, para aquele pai, as conquistas de seu rebento superavam quaisquer outras preocupações.
Porém, a advertência de Jesus - “De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma”- ficava inerte, sem valor real.
Ganhar o mundo olhando para as campinas de Sodoma e Gomorra tem sido muito comum. Aliás, a conquista desta terra, de poder ou posição de destaque e prosperidade material tem ganhado roupagem de coisa espiritual e bíblica e tomado cada vez mais espaço. Mamon está em voga.
Sou pai e quero o melhor para meus filhos, mas, “esmurro meu corpo” para não cair na tentação de apontar para eles a grama verde das campinas. Quero mostrar que é melhor olhar as “coisas de cima”. A vizinhança das campinas verdes deste mundo é nociva. E será destruída!!

terça-feira, 29 de junho de 2010

SÍNDROME DA OFICINA - POR PAULO CILAS


Pensei muito se deveria escrever sobre esta síndrome. Em parte pela minha dificuldade em colocar em palavras aquilo que falando me é mais fácil, até mesmo para explicar meandros e minúcias. Depois, porque tal "síndrome" tem um apelo forte de coisa totalmente certa e eficaz. Mas, vamos a ela.

Chamo de síndrome da oficina o fato da "igreja ter se tornado um lugar de ferramentas. É um tal de ferramenta para ler a Bíblia - outro dia "num" stand de livros e bíblias fiz uma brincadeira com o consultor( antigamente era vendedor e hoje, consultor. Ferramenta nova!) Pois bem, ele me falava dos preços das mais diversas bíblias e havia uma diferença entre A BÍBLIA DA MULHER E A BÍBLIA DA MULHER QUE ORA. Era a mais legítima piada pronta. "A mulher que ora" era mais cara. Em matéria de bíblias temos ainda a surreal "da batalha espiritual e vitória financeira", coisa que seu idealizador tem tido bastante. Me refiro à segunda parte.
Mas, deixando bíblia de lado - e isto tem acontecido muito quando as ferramentas entram em campo- temos ainda as ferramentas para cura interior, finanças, namoro, casamento ou a falta dele, etc. Surgiu agora, fresquinha, uma tal de "ativação profética". Vai entender!!!
Bom, alguém a essa altura poderia me perguntar se eu sou contra tudo isto. Não, não sou contra a instrução para as mais diversas áreas de nossa vida. O problema é que no antropocentrismo cada vez mais dominante na "igreja"a necessidade maior e cada vez mais veloz e feroz é dar respostas prontas, mecanismos eficientes para que o homem se sinta bem, vença fácil. Só que na realidade, a vida não é assim. Nada é hermeticamente fechado. Tudo muda de repente e não adianta ficar criando ferramentas para resolver tudo.
Em seu livro "Famintos por mais de Jesus" David Wilkerson narra um diálogo dele com uma senhora que não via mais saída para a fazenda da família que jazia à falência e ele, homem de muitas experiências com Deus, simplesmente responde: "irmã, sente-se e coma do que O Senhor põe a mesa!
Em outro livro, "Quando Deus não faz sentido", James Dobson argumenta contra a mania que temos de tentar explicar tudo. Ora, basta ver as palavras de Deus para Jó e seus amigos que não adianta ao homem tentar formatar as ações de Deus usando ferramentas como em uma linha de produção. Ele, Dobson, faz menção de um casal que acabara de perder sua filhinha e ouve de alguém que Deus colheu "a florzinha" para plantar em seu jardim por era formosa demais. Em outro momento, cita a dura realidade de um Pregador de cura e libertação que, ao ver sua filha acometida de um câncer na perna que tem de ser amputada antes que o joelho seja atingido dificultando uma prótese mais tarde, pergunta a Deus: Como eu vou pregar agora que O Senhor tem poder?
Em dramas terríveis mostrados na Bíblia as respostas são: "O Senhor deu, O Senhor tirou. Bendito seja O Senhor"! Ou ainda: "Quer vivamos, quer morramos. Somos do Senhor"! Ou ainda: "As breves e momentâneas tribulações não podem ser comparadas com a GLÓRIA".
Enquanto corremos atrás de ferramentas para tudo vamos nos esquecendo de crescer como gente , como crentes e viramos dementes.
Ouvir de um moço que está cansado de ver filminhos e outras apresentações nos cultos de sua igreja: "Os mesmos só tratam de um método importado que a tem transformado em uma empresa de sucesso". Alienação completa com as ferramentas de marketing prometendo vida sem sustos. Crentes autômatos que fogem de suas próprias almas para não serem taxados de fracassadas ou rebeldes.
Uma vez fui visitar um senhor internado em uma casa de repouso psiquiátrico. Depois de alguns minutos com ele veio uma diretora da casa. Identificando-se como crente, me chamou à parte e depois de falar brevemente sobre o paciente em questão passou a falar de sua vida. Destilou aos meus ouvidos não comprometidos com a convivência diária com ela, tudo que não podia falar aos seus líderes e irmãos de caminhada. E isto, pelo simples fato de ser sua igreja mais uma dessas que alardeiam ter resposta para tudo, onde são feitas declarações triunfalistas e se é sonegado o direito de chorar e de ser amparado. De confessar e ser acolhido com misericórdia e graça.
Fico com Eugene Peterson - autor do ótimo " Transpondo Muralhas" entre outros igualmente ótimos- quando diz: " Tratar a alma é trabalhoso, demanda tempo". Já Ricardo Gondim diz: "Somos feitos de luzes e sombras. Conseguimos ser excelentes e ordinários"!
Vejo "a igreja" usando suas ferramentas em dois segmentos, principalmente:
SEGMENTO EMPRESARIAL- Estratégias de agradar a clientela determinando até o perfil do público alvo. Boas apresentações nos cultos, mensagens motivacionais e de auto-ajuda. Dinheiro e sucesso.
SEGMENTO MÍSTICO - O mundo espiritual virou uma realidade paralela com crendices e termos estranhos, mas, dotados de uma pompa tal que ai de quem disser que não entende.
Eu, por exemplo nunca entendi o que quer dizer "adoração profética,unção do leão, jogar óleo de avião para ungir a cidade. E enquanto o pessoal fica declarando: O Brasil ,ou qualquer cidade, é do Senhor Jesus e por isso temos de dominá-lo(as), O SENHOR DECLARA: O MUNDO JAZ NO MALÍGNO E O PRÍNCIPE DELE É SATANÁS !
E tome ferramenta para dominar o mundo. E, enquanto o crente fica aprendendo a usar a mais nova lançada no mercado - do marketing ou espiritual- deixa de ser luz neste mundo de trevas.
Deixa de pregar a graça salvadora e a vida eterna dada em Cristo na Cruz:
DERRADEIRA FERRAMENTA!!!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

SÍNDROME DA VACA LEITERA - POR PAULO CILAS


Aproveitando o espírito da copa menciono a frase de um comentarista esportivo sobre um goleiro que, depois de diversas defesas dificílimas, engole um frangaço: " Ele deu uma de vaca holandesa. Deu 30 litros e depois chutou o balde!"

Mas, vamos sair "do campo" e entrar no ônibus: Dois membros de uma mesma igreja no passado
agora se encontram num "coletivo". O mais jovem pergunta ao mais experiente - é assim que se chama o mais velho de velho, viu?- : " E ai, você continua membro da igreja ..."? A resposta veio amargurada: "Não, cansei de levar a igreja nas costas"! ATENÇÃO!! Nunca converse sobre igreja dentro de coletivos. É constrangedor.
Pois bem, aquele homem da resposta amargurada tinha trabalhado, vivido sua juventude no seio da igreja em questão e depois de anos o que ele tem é... nada. Só uma sensação de que perdeu tempo. Canseira e enfado. Era como se toda sua produção tivesse sido derramada por terra.
A pergunta obrigatória é: Para quem fazemos, afinal? Se é sabido que está aumentando exponencialmente o número de desgastados, frustrados, sugados e outros "ados" dentro - e agora fora - da igreja, temos de questionar onde está firmada a nossa fé!
Paulo afirma que nosso trabalho "não é vão no Senhor". Ou seja, ele sempre é producente. O próprio Paulo, mesmo tendo sido perseguidor dos crentes segundo suas convicções, não desprezou o que aprendeu com Gamaliel e enxerga com clareza que a lei que seguia foi condutora para o perfeito entendimento da Graça de Cristo. Não chutou o balde!
Nós não ignoramos os dominadores de mentes e almas existentes- principalmente nos dias atuais- que fazem com que mais e mais pessoas lhes sirvam sob o "signo da obra de Deus". Entretanto, penso que a maioria desses seguidores não são inocentes. " Muitos constituem líderes sobre si por causa dos seus próprios desejos".
Mas, já está passando da hora de sabermos que não trabalhamos para igrejas de homens. Que não devemos buscar recompensas terrenas e se "alguma glória há, que seja na Cruz de Cristo." Alias, já é passada a hora de entendermos que não realizamos a Obra do Senhor, e, sim, é O Senhor que realiza sua Obra. E nós fazemos parte dela. Ou melhor, nós somos A Obra de Deus!
Acordemos pois. Sabemos que ao longo da caminhada temos desacertos, birra tipo Paulo e Barnabé por causa de Marcos. Sabemos que há Himeneu, Fileto, Diotrefes entre outros que causam dores. Contudo, nenhum deles jamais será capaz de apagar o cântico triunfal, a melodia quebrantadora, a palavra pregada ao pecador. Nenhum homem , seja ele pastor ou qualquer outro líder, pode me roubar a alegria de ter ido à igreja, de continuar indo. Até porque, não levo a igreja nas costas. Quem a sustenta é O Seu Senhor, se de fato ela, a igreja, lhe pertencer. E eu?
Eu amarei a mensagem da Cruz até por uma coroa trocar.
Saibamos disso hoje. Porque depois, não adiantará chorar pelo leite derramado.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

SÍNDROME DO MORRO - POR PAULO CILAS

Nasci e cresci no morro . E as dificuldades de estar "por cima" eram compensadas pela paisagem. Ao entardecer era possível ver o braço de mar com as águas avermelhadas pelos fulgidios raios de sol. Bela visão! Então, até compreendo quando moradores de um certo morro de uma grande cidade rejeitaram a oferta de morarem em lugar de melhor acesso e estrutura. Não queriam perder a bela vista lá do alto.
Séculos atrás, em um país distante, Pedro também relutava em descer do morro. Ele estava vendo algo deslumbrante. Nada mais, nada menos que Elias e Moisés ladeando Jesus. "Não saio deste morro de jeito nenhum! Eu? Voltar para ficar perto do Iscariotes, a multidão que aperta, os ameaçadores soldados romanos. Sem contar os fariseus hipócritas. Vamos armar a barraca!!!
Além do mais, ficando aqui não corro risco de negar meu mestre, de fazer acepção entre gentios e judeus,etc,etc,etc. Isso, sem falar que no futuro não passarei um "carão"pagando o maior mico ao ser repreendido pelo chato do Paulo. Aliás, quem ele pensa que é? Eu é que "to"vendo isso aqui! E aqui, sem chance de Elias se enfurnar na caverna e Moisés se irritar com a pedra"!
Assim é a síndrome do morro. Quem dela é acometido basta ver algo místico que logo quer transformar sua vida num" misticismo sem fim. Cada culto tem que ter algo extraordinário. E o que não falta é gente para produzir isso. É lei do Cada enxadada, uma minhoca segundo um jargão interiorano. O culto racional passa a ser frio demais. Já não basta uma adoração em ESPÍRITO E EM VERDADE sem dependência do morro, seja ele em Samaria ou Jerusalém. Pregar a palavra em todo tempo, então? Tendo paciência para ensiná-la , suportar os fracos, lidar com com os ingratos, errar e ser corrigido, "sofrer os maus"... Enfim, descer. E, descer?? É "ruuuim", heim!
Definindo em uma frase o pessoal que tem essa síndrome: morro, mas não deixo o morro!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

MAIS SÍNDROMES: BICHOS TROCADOS - POR PAULO CILAS

Continuando com o que eu resolvi nomear de "síndromes" no meio eclesiástico cito mais uma:

Síndrome dos bichos trocados - No ótimo filme A ERA DO GELO 2 temos uma elefanta - nos tempos de guri eu ouvia o sumido "aliá"- que pensava ser um gambá e agia com tal. No mundo da fantasia, onde tudo é possível, isso soa engraçado e sem riscos. Todavia, no mundo real confundir os bichos pode ser um erro perigoso.
Jesus diz que deveríamos ser simples como a pomba e prudentes como a serpente. Pois bem, imagine agora o contrário: seja prudente como a pomba e simples como a serpente. Dá a maior "zebra"! E tem gente que não consegue imaginar tal possibilidade. Vai direto para a troca! E como seria na prática essa troca? Basta pensar por exemplo alguém querendo acariciar uma serpente, tratá-la com afeto. O resultado é óbvio! Um bote e uma picada. E torça para que não haja veneno e, se houver, que não seja tão letal.
Vejo muita gente assim. Talvez, em algum momento, eu mesmo tenha sido assim. Espero que não mais! Mas, fato é que seja por feridas passadas - Traições, decepções e outros "ões", muitos não permitem que outros se aproximem tanto. Estão sempre armados para o ataque. E se a aproximação for para corrigir em alguma coisa então? Aí é que a coisa fica feia mesmo. E torça para que não sejam venenosas, e, se forem, que não sejam letais.
Entretanto, há outros que são simples como a serpente como que por vocação. Mesmo dentro das igrejas a impressão que passam é que sempre estão "armando". Cheios de ardis, usam,em um momento, uma casca de arautos da verdade e justiça e, em outro momento, uma roupagem de piedade. Mas, o objetivo é o mesmo: envenenar! Se possível, paralisar ou matar os "adversários". Da para ver a peçonha escorrendo pelos cantos da boca.
Por outro lado, temos os prudentes como a pomba. A cena de alguém jogando milhos ou migalhas de pão aos pombos é por demais comum. Daí é fácil perceber como que os vitimados
por tal escolha são ou se tornam presas fáceis. Basta que sejam jogadas algumas migalhas de qualquer coisa - e qualquer coisa fora do rico contexto da PALAVRA DE DEUS é e sempre será migalha enganosa - e pronto! Os prudentes como a pomba são usurpados, enrolados, tornam-se massa de manobra, um exército débil a mercê de espertalhões que vivem dando bordoadas em suas cabeças. E, quando afagam, é somente para usurpação das mesmas.
Tais "pombas" não são símbolo da paz e simplicidade. Elas simbolizam a falta de conhecimento e sabedoria, a torpeza do engano e a nescidade.
Bichos feios!

domingo, 9 de maio de 2010

ME ENGANA QUE EU GOSTO - POR ED RENÉ KIVITZ

As culturas devem ser lidas nas linhas e entrelinhas. As linhas falam da coisa em si. As entrelinhas falam do espírito da coisa. As entrelinhas podem distorcer e até mesmo destruir o que está dito nas linhas.Com a cultura cristã não é diferente. Veja o exemplo da assinatura da Igreja Universal do Reino de Deus, a saber, Jesus Cristo é o Senhor. De acordo com o Novo Testamento, isso significa que devemos viver como escravos dos propósitos de Jesus Cristo: ele manda e a gente obedece, ele propõe e a gente executa, ele dirige e a gente segue, pois afinal de contas, Ele é o Senhor. Mas na cultura da IURD, as entrelinhas dessa afirmação fazem com que ela signifique que Jesus pode realizar todos os seus desejos, afinal de contas Ele é o Senhor. A relação fica invertida: você clama e ele responde, você reivindica e ele atende, você pede com fé e ele lhe dá o que foi pedido, você participa da corrente de oração e se submete aos 318 pastores e Jesus faz a sua vida próspera e confortável, pois Jesus Cristo é o Senhor e você é “filho do rei”, de modo que não há qualquer motivo para que você continue nessa vida miserável, daí a segunda convocação da IURD: “para de sofrer”. Percebe como as linhas dizem uma coisa e as entrelinhas dizem outra?O movimento evangélico é mestre em fazer confusão e promover distorção do Evangelho em virtude desse jogo de linhas e entrelinhas. Um exemplo disso é a mensagem VAI DAR TUDO CERTO, que recebi essa semana : _SALMO 22.VAI DAR TUDO CERTO ."DEUS me pediu que te dissesse que tudo irá bem contigo a partir de agora. Você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos.Nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória. Esta manhã bati na porta do céu e DEUS me perguntou... 'Filho, que posso fazer por você ?' Respondi: 'Pai, por favor, protege e bendiz a pessoa que está lendo esta mensagem'.DEUS sorriu e confirmou: 'Petição concedida'. Leia em voz baixa... 'Senhor Jesus : Perdoa meus pecados. Amo-te muito, te necessito sempre, estás no mais profundo de meu coração, cobre com tua luz preciosa a minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos'. Passe esta oração a 5 pessoas, no mínimo. Receberás um milagre amanhã. Não o ignore.Deus tem visto suas Lutas.Deus diz que elas estão chegando ao fim.Uma benção está vindo em sua direção.Se você crê em Deus, por favor envie esta mensagem para 20 amigos.Se acredita em Deus envia esta mensagem a 20 pessoas,se rejeitar lembre Jesus disse:“se me negas entre os homens, te negarei diante do pai” Dentro de 4 minutos te dirão uma notícia boa." Deixo de lado a crítica gramatical e o péssimo uso da lingua portuguesa. Dedico minha atenção ao conteúdo da mensagem que, travestida de cristã, é absolutamente anti-cristã: mentirosa, fantasiosa, desprovida de qualquer sentido bíblico, desalinhada com o todo do ensino e experiência de Jesus, seus apóstolos, e seus primeiros seguidores, totalmente alinhada com os dircursos baratos da auto-ajuda e da enganação religiosa, enfim, uma versão barata e piedosinha da superstição sincrética do espiritualismo popular.A afirmação “vai dar tudo certo”, lida de acordo com as linhas do Novo Testamento, significaria, por exemplo, que os propósitos de Deus prevalecerão, a marcha da igreja de Jesus Cristo contra os poderes do mal será vitoriosa, a vontade de Deus será um dia feita na terra como o céu. Mas também significaria que os seguidores de Jesus seriam sempre ovelhas em meio aos lobos [Mateus 10.16], odiados pelo sistema sócio-político-econômico anti reino de Deus, ameaçados de morte, rejeitados, caluniados, e perseguidos por causa do nome de Jesus [Mateus 5.10-12], e passariam por muito sofrimento e tribulação antes de receberam a vitória plena no reino eterno de Deus [Atos 14.22]. Isto é, antes de dar tudo certo, daria tudo errado.A convicação de que “em Cristo somos mais que vencedores” [Romanos 8.37], e que “em Cristo Deus sempre nos conduz em triunfo” [2Coríntios 2.14], é também acompanhada de uma profunda compreensão a respeito dos custos de se colocar ao lado de Deus e do reino de Deus, em oposição à injustiça e aos agentes promotores e mantenedores da morte no mundo.Porque me parece que Deus nos colocou a nós, os apóstolos, em último lugar, como condenados à morte. Viemos a ser um espetáculo para o mundo, tanto diante de anjos como de homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, mas vocês são sensatos em Cristo! Nós somos fracos, mas vocês são fortes! Vocês são respeitados, mas nós somos desprezados! Até agora estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa e trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos. Quando somos amaldiçoados, abençoamos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, respondemos amavelmente. Até agora nos tornamos a escória da terra, o lixo do mundo.[1Coríntios 4.9-13]Fica, portanto, muito evidente que quando os cristãos do Novo Testamento diziam que “vai dar tudo certo” estavam afirmando coisas completamente diferentes dessas afirmadas na mensagem que recebi pela internet, que diz:Tudo irá bem contigo a partir de agora. Você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos.Nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória. Cobre com tua luz preciosa a minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos'. Receberás um milagre amanhã. Uma benção está vindo em sua direção.Dentro de 4 minutos te dirão uma notícia boa.Meu amigo, minha amiga, não é verdade que “tudo irá bem contigo a partir de agora”, e também não é verdade que “você tem sido destinado para ser uma pessoa vitoriosa e conseguirá todos teus objetivos”. Não se iluda, pois não é verdade que “nos dias que restam deste ano se dissiparão todas as tuas agonias e chegará à vitória”. Preste atenção: o compromisso cristão não suplica que Deus cubra com sua luz “minha família, minha casa, meu lugar, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e a meus amigos”. Na verdade, o compromisso cristão exige que você deixe de viver para seus sonhos, seus planos e seus projetos e passe a viver para Deus, pois, como ensina a Bíblia, “o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou“ [2Coríntios 5.14,15], e justamente por isso é que quem deseja seguir a Jesus deve lmebrar o que Jesus disse:"Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará. Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?” [Mateus 16.24-26]Também não é verdade que “receberás um milagre amanhã” e que “dentro de quatro minutos te dirão uma notícia boa”.Pelo amor de Deus, jogue fora esse evangelho açucarado, que promete o que Deus jamais prometeu, e gera falsas esperanças nas pessoas. Respeite o sofrimento e a dor das milhares de pessoas que, apesar de sua fé, e talvez justamente por causa de sua fé, passam fome, não têm mínimas condições de sobrevivência, sofrem as consequências de tragédias pessoais e fatalidades naturais, são vítimas de um sistema mundano cruel, que as condena à escravidão e a uma vida sem futuro. Lembre dos cristãos que vivem na África, na Índia, na América Latina, e nos rincões miseráveis do Brasil. Seja solidário com as minorias: os negros escravizados, as mulheres violentadas, as crianças abusadas, as populações indígenas dizimadas, os refugiados de guerra, os perseguidos políticos, os desaparecidos. Respeite a grandeza dos cristãos perseguidos e mortos sob a tirania do fundamentalismo islâmico e dos regimes políticos ateístas. Pense um pouco se essa mensagem “vai dar tudo certo, todos os seus sonhos se realizarão, você vai receber um milagre amanhã” faz algum sentido na ala infantil do Hospital do Câncer, no campo de refugiados (mutilados) de Angola, ou nos casebres secos do sertão brasileiro.Construa sua fé sobre um alicerce mais sólido. Por exemplo, o Salmo 22, aviltado com essa mensagenzinha “vai dar tudo certo”. Aliás, é bom lembrar que Bíblia não é um livro que pode ser manuseado por qualquer pessoa, de qualquer jeito. Da mesma maneira que não é qualquer pessoa que pode dar palpite a respeito do direito, de medicina, da engenharia, ou do marketing, também a teologia exige um mínimo de preparo, senão, muito preparo mesmo. Digo isso porque talvez o autor dessa mensagenzinha não saiba que o Salmo 22 é um dos Salmos messiânicos, que profetiza o sofrimento e o fracasso do Messias, que foi (1) abandonado por Deus e pelos homens [Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-me, tão longe dos meus gritos de angústia? Meu Deus! Eu clamo de dia, mas não respondes; de noite, e não recebo alívio! Não fiques distante de mim, pois a angústia está perto e não há ninguém que me socorra], (2) rejeitado [Mas eu sou verme, e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do povo], (3) insultado [Caçoam de mim todos os que me vêem; balançando a cabeça, lançam insultos contra mim], (4) dilacerado pela dor que lhe foi brutalmente imposta [Como água me derramei, e todos os meus ossos estão desconjuntados. Meu coração se tornou como cera; derreteu-se no meu íntimo. Meu vigor secou-se como um caco de barro, e a minha língua gruda no céu da boca; deixaste-me no pó, à beira da morte. Cães me rodearam! Um bando de homens maus me cercou! Perfuraram minhas mãos e meus pés], e por fim (5) cuspido na cara e crucificado como impostor.Para esse Messias não deu nada certo. Ele não recebeu uma boa notícia quatro minutos após sua agonia no Getsêmani, e também não recebeu um milagre no dia seguinte. No dia seguinte foi crucificado.Mas esse Messias, apresentado pelo profeta como “homem de dores, que sabe o que é padecer” [Isaías 53], “Deus exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” [Filipenses 2.9-11]. Isso sim é dar tudo certo.
Provavelmente alguém vai dizer que é isso o que a mensagenzinha da internet quis dizer. Mas não foi. Nas linhas, pode ter sido. Mas no contexto da religiosidade popular e da subcultura evangélica, a mensagenzinha sugeriu que “os seus sonhos e os seus projetos” darão certo, e que você pode esperar para amanhã aquela resposta milagrosa de Deus para resolver seus problemas e dificuldades particulares, e que em quatro minutos você vai receber uma notícia boa, muito provavelmente trazendo a você uma benção na forma de conforto e prosperidade.Em síntese, a mensagenzinha pode ser interessante, pode trazer uma esperança e um conforto para quem está lutando contra um sofrimento ou uma dificuldade medonha, e pode até mesmo trazer um alívio do tipo “eu sei que não é bem assim, mas é bom pensar que é, ou acreditar que pode ser”. Mas definitivamente essa mensagenzinha não tem nada a ver com o Evangelho de Jesus Cristo.

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

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