sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ESQUECER SIGNIFICADOS E LEMBRAR POSSIBILIDADES - POR ELIENAI JR.




De longe já dava para vê-lo sentado ao poço. Preferia que não estivesse lá, como nos outros dias. Venho aprendendo a escolher lugares e horas que me ajudem a ficar só. Aquele poço e sua distância de tudo e todos, aquela hora e seu sol a pino traziam menos desgaste que esbarrar naqueles, quaisquer que fossem, cujos olhares espelhassem o pior de mim.

A aproximação acrescentou um dissabor, não bastasse alguém atrapalhar minha solidão, agora ficava evidente que o homem perto do poço era um judeu. Os babados da sua roupa de bom judeu anunciavam um daqueles que se crêem puros a despeito de nossa impureza. Nada é mais opressor que se enxergar tão estranha e detestável nos olhos de quem quer que seja.

Ao poço, o inusitado mostrou a face. Antes que pudesse deixar nítida minha pressa e indiferença, pediu-me água. Eu sei que a cortesia mínima não rejeita água sequer ao inimigo, mas não soube disfarçar minha amargura. Neguei-lhe e lembrei-lhe o óbvio, era homem e eu, mulher; era judeu e eu, samaritana. Fronteiras fortes o suficiente para que nem a mais sofrida angústia licenciasse o encontro. Nenhum preconceito é tão cruel que não possa servir a uma doentia e útil comodidade.

Ainda assim não me livrei do peregrino. Insistiu, apesar da cara de fadiga e dos lábios ressecados, e advertiu-me de estar desperdiçando uma grande chance. Falou-me da água de um jeito estranho. Não tive certeza se tentava me propor um enigma, como fazem os mestres e profetas, ou se de fato conhecia alguma água com poderes mágicos. Mas ofereceu uma água viva que resolveria a sede de uma vez por todas. Fiquei confusa. Não estou acostumada a esses devaneios, coisas de poetas e profetas, ou insanos. Sempre ali, icei baldes de água que, além de mal saciar minha sede, traziam o enfado de um serviço que nunca finda. Aos meus olhos, balde é balde, água é água, e gente nunca faz muito mais que trazer transtornos.

E mesmo depois de interromper o palavrório mostrando o absurdo de oferecer qualquer que fosse a água sem ter ao menos um balde, continuou a falar de tudo como se nada pudesse ser apenas o que sempre foi. Parecia falar de nada que já antes ouvi, como se tudo pudesse ter outra versão.

E falava como se fosse maior que aquele que cavara o poço, Jacó, nosso pai.

Falava como se palavras cavassem poços e baldeassem saciedade.

Talvez um poeta deslumbrado.

Sendo assim, aceitei a proposta da água viva e entrei na brincadeira. Dei ainda um certo tom de seriedade: ‘apenas para não ter mais o trabalho de ir ao poço’. Um silêncio e de novo aquele olhar insano de quem vê através das coisas e engendra o surpreendente. Eu, que queria não voltar ao poço de água, fui convidada por ele a voltar à origem da minha sede. Mandou-me buscar o marido, esse tipo de gente que primeiro abandona a imaginação, para depois abandonar a esperança e o amor.

A brincadeira perdeu a graça. A guinada da água para o coração causou-me vertigens. Lacônica, disse-lhe não ter marido. E não é que sequer esboçou surpresa? Nem um tom escrupuloso. Sabia de todos os maridos que tive e daquele que me toca, mas não me abraça. Senti meu rosto como um livro que se desenrola diante de um leitor. Seria eu tão evidente? Ou ele, um leitor habilidoso de gestos e olhares? Quem?

Poeta, sim. Louco? Com certeza e daqueles que a gente, atordoada, chama de profeta.

Alguém com versões tão diferentes do que a vida toda ouvi. Que fala estranhamente de tudo, mas com tanta graça. Que transfigura o óbvio e enxerga o avesso do que sempre me enfadou. E, sem pá, explora profundidades e, sem balde, baldeia com as palavras novos sentidos e embebe a vida de significados vários. Alguém assim pode me falar de Deus também com surpresa. Salvou-me da culpa de não ser amada, quem sabe salvará o divino do meu tédio?

Fala de Deus, poeta. Baldeia também o divino de outro poço, profeta. Porque tal como esta água, o que de Deus eu sei me angustia mais que sacia. Os samaritanos falam de um que é mais Deus em nosso templo que naquele de Jerusalém. Deus é só isso? Dos judeus ou dos samaritanos? De Jerusalém ou de Gerisim? Do templo que não me quer, ou que não me cabe? Dos homens e suas vaidades másculas e truculentas? Reiventa, poeta. Redescreve, profeta.

Bem naquela hora, uma brisa boa refrescou nossos rostos e a conversa, já tão tensa e grave. Ele, por um instante, pareceu esperar pelo sopro como um cantor aguarda o acorde da harpa. Como um poeta espera a metáfora que libertará a imaginação. Chamou o divino de vento. Desse que sopra selvagem e solto no deserto; desejado, mas indômito. Para além de qualquer estrutura, imprevisível, tão livre que apenas os que também anseiam pela liberdade podem encontrá-lo. Disse que Deus é vento e procura por quem, ao adorá-lo, também vai além dos edifícios e suas rígidas estruturas, tal qual o indomável e inventivo vento, e só assim o encontra de verdade.

Porque a verdade nunca é o que já se disse, mas o que está por dizer.

A verdade nunca é o que a brisa já deixou desenhado na areia, mas o vento que sempre está por soprar e redesenhar o chão de nossa existência.

Então? Vocês não querem vir e ouvi-lo? Ele (re)contou tudo o que tenho feito. Acho que é o Messias. Certamente não o que esperávamos. Mas o Messias. E eu, nossa! Esqueci meu cântaro lá, de tão lembrada que estou de tudo o que ainda posso ser.

fonte: Blog do Elienai Jr.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

TRÊS LIÇÕES DE NATAL - POR PAULO CILAS


Me lembro das muitas representações feitas na igreja sobre o nascimento de Jesus e como elas nos inspiravam. Tinham uma certa magia, principalmente em mim, quando criança. Tenho certeza que tais peças teatrais serviram para sedimentar a fé e criaram bons sentimentos “entranháveis”. Sempre soubemos que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro, contudo, as boas lembranças que a data sugere já são boas por si só. Independente de sua origem.

Mas, de uns tempos para cá, muitas igrejas em nome de uma espiritualidade, no mínimo esquisita, começaram a odiar tal data e a desprezá-la por completo, e ao desprezá-la por completo também o fizeram com todos os bons sentimentos.

A primeira lição é que para Deus, creio eu, as datas pouco importam. Calendários romanos, gregos, judaicos pouco, ou nada, fazem diferença. Agora, religiosidade excessiva, sentimentos arrancados, brigas por quem é mais espiritual, quem está mais certo, são tão vazias quanto uma mesa para ceia de natal tão somente adornadas de luxo, de talheres sobrepostos em perfeição, presentes e roupas extravagantes, mas desprovida da verdadeira fraternidade. Tudo é exatamente igual, um e outro, frio, distante e sem graça.

A segunda lição, aprendo com Maria. Já há muito tempo descobri isto: Enquanto no meio evangélico a figura de Maria é depreciada (por causa do mito criado por outro grupo), o aprendizado que vem dela acaba sendo jogado fora também. Quando da anunciação de sua gravidez, ela se quebranta, se humilha, “meu espírito se alegra em Deus, MEU SALVADOR” atentou-se para a “pequenez de sua serva”. Hoje, ou melhor, sempre, mas hoje mais do nunca, o que vemos é um exército dito de Cristo, apregoando vitória, conquistas, domínios, reconhecimento, mas não tendo nada da humildade de Maria. O que já disse em outro tempo, e escrevi: muitos se portando com vaidade e talvez a pior delas: a vaidade espiritual, parecem ter o rei na barriga. Maria se humilha, tendo o Rei na barriga.

Terceira lição: Por muito tempo ouvia falar que Maria, José e Jesus também, eram rejeitados nas hospedarias, depois percebi que não. Eles não eram rejeitados, simplesmente não havia lugar. As muitas tarefas, as muitas vontades, os muitos egoísmos, os muitos interesses, os muitos sonhos e desejos pessoais, estão ocupando lugar que deveria ser para Jesus. A maioria de nós não ousa dizer que rejeita, mas talvez coloquemos em prática a pior das rejeições: não há lugar. Temos que tirar muitas coisas para dar lugar a Jesus, mas não queremos perder nenhuma dessas coisas, e, se possível, queremos ainda usar Jesus, para dar respaldo as coisas que não queremos largar. Dada a sua missão - vir ao mundo para nos reconciliar com Deus, e a forma como fez isso - esvaziou-se a si mesmo tornando-se homem - faz o fato de não haver lugar a mais sórdida das rejeições, pois não temos lugar para quem deu tudo.

Espero eu mesmo aprender com essas três lições. Feliz Natal! Seja dezembro, abril, e em qualquer calendário.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

TRECHO DE O CAMINHO DE JESUS E OS ATALHOS DA IGREJA - EUGENE PETERSON

"Nas três grandes recusas (na tentação no deserto), o que Jesus está declinando é fazer coisas boas da maneira errada. Cada tentação vem embrulhada com algo bom: alimentar muitas pessoas, evangelizar por meio do milagre, governar o mundo com justiça. A estratégia de tentação do Diabo é impessoalizar os caminhos de Jesus, deixando o próprio caminho, no entanto, intacto. É a mesma estratégia que usa conosco. Mas o caminho impessoalizado, executado sem amor, intimidade ou participação, não importa quão bem o executemos, não importa quanto bem seja realizado, não é caminho de Jesus. Não podemos fazer a obra do Senhor seguindo os caminhos propostos pelo Diabo. O Diabo tem grandes idéias – idéias brilhantes! O Diabo é um visionário por excelência, mas é incapaz de se encarnar. Ele usa as pessoas para corporificar seus projetos em relacionamentos funcionais e não pessoais. O Diabo é o campeão da desencarnação. Toda vez que abraçamos caminhos que não os de Jesus, tentando manipular as pessoas ou os acontecimentos de maneiras que impedem o progresso dos relacionamentos e das intimidades, estamos fazendo a obra do Diabo. É necessário vigiar. Foi sempre necessário. É ainda necessário no Ocidente como um todo e em nosso país especificamente, onde viceja a epidemia do fazer boas obras utilizando caminhos impessoais."

sábado, 3 de dezembro de 2011

PROCURA-SE VELHOS SOLDADOS - POR CHARLES H. SPURGEON




A igreja necessita grandemente de cristãos maduros, e especialmente quando há muitos novos convertidos sendo acrescentados a ela. Novos convertidos fornecem ímpeto à igreja, mas a sua espinha dorsal e a sua substância devem, sob Deus, repousar sobre os membros mais maduros.

Nós queremos os cristãos maduros no exército de Cristo fazendo o papel de veteranos, inspirando os demais com frieza, coragem e firmeza; porque se o exército inteiro for composto de recrutas inexperientes a tendência será que eles hesitem quando o assalto for mais feroz que o habitual.

A velha guarda, os homens que respiraram fumaça e comeram fogo anteriormente, não tremem quando a batalha se enfurece como uma tempestade. Eles podem até morrer, mas jamais se rendem. Quando eles ouvem o grito de "Avante," eles podem não avançar tão agilmente à frente como os soldados mais jovens, mas eles arrastam a artilharia pesada, e o seu avanço uma vez conquistado, é seguro. Eles não vacilam quando os tiros voam intensamente, porque eles se lembram de antigas batalhas em que Jeová cobriu suas cabeças. A igreja precisa, nestes dias de fragilidade e falta de compromisso, de crentes mais decididos, profundos, bem-instruídos e confirmados.

Nós somos assaltados por todo tipo de doutrinas novas. A velha fé é atacada por assim-chamados “reformadores” que adorariam reformá-la completamente. Eu espero ouvir notícias de alguma doutrina nova uma vez por semana. Tão freqüentemente como a lua muda, um ou outro profeta é movido a propor alguma nova teoria, e acreditem, ele lutará mais bravamente por sua novidade do que jamais fez pelo Evangelho. O descobridor se acha um Lutero moderno, e da sua doutrina ele pensa como Davi pensou da espada de Golias: "Não há outra semelhante."

Como Martinho Lutero disse de alguns nos seus dias, estes inventores de novas doutrinas encaram suas descobertas como uma vaca diante de um portão novo, como se não houvesse nada mais no mundo para se encarar. Eles esperam que todos nós fiquemos loucos por seus modismos e marchemos de acordo com o seu apito. Ao que nós damos ouvidos? Não, nem por uma hora.

Eles podem reunir uma tropa de recrutas inexperientes e conduzirem-nos para onde quiserem, mas para crentes confirmados eles soam suas cornetas em vão. Crianças correm atrás de qualquer brinquedo novo; em qualquer pequena apresentação de rua os garotos ficam todos excitados, boquiabertos; mas os seus pais têm trabalho por fazer, e suas mães têm outros assuntos em casa; aquele tambor e aquele apito não vão atraí-los.

Pela solidez da igreja, pela firmeza da fé, por sua defesa contra os recursivos ataques de hereges e infiéis, e pelo avanço permanente dela e a conquista de novas províncias para Cristo, nós não queremos apenas seu sangue jovem, quente, o qual esperamos que Deus sempre nos envie pois é de imensa utilidade e não poderíamos ficar sem. Mas nós também precisamos dos corações frios, firmes, bem-disciplinados e profundamente experimentados de homens que conhecem por experiência a verdade de Deus, e atém-se firmemente ao que aprenderam na escola de Cristo.

Que o Senhor nosso Deus nos envie muitos desses. Eles são extremamente necessários.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O OUTRO LADO DA GRAÇA - LLOYD JOHN OGILVIE



“Mostrou-me também isto: Eis que o Senhor estava sobre um muro levantado a prumo; e tinha um prumo na mão. O Senhor me disse: Que vês tu, Amós? Respondi: Um prumo. Então me disse o Senhor: Eis que eu porei o prumo no meio do meu povo Israel; e jamais passarei por ele” (Amós 7:7-8)

Amós foi um profeta de justiça e retidão. No meio de apostasia e negligência do sofrimento humano, seu tema foi: “Corra a justiça como águas, e a retidão como um rio.” O Senhor lhe disse que a retidão e a justiça eram sua linha de prumo que media e expunha as estruturas tortuosas da religião institucionalizada. A questão era que a crença em Deus devia ser expressa em retidão pessoal e justiça social. A mensagem cortante de Amós despedaça todo o tipo de religião que não resulta na descoberta e realização da vontade de Deus em nossos relacionamentos e responsabilidades.

O prumo do Senhor mede a cada um de nós e as nossas igrejas, expondo tudo o que contradiz o seu amor. O juízo faz parte da graça. O Senhor não nos dá pancadinhas nos ombros, dizendo: “Ora, ora – o que você fizer está bem feito.” Ele se interessa profundamente pela totalidade de nossa vida. Não existe uma divisão entre sagrado e profano, entre a vida interior e a sua expressão externa.

Mas Deus também não é um juiz mal-humorado e negativo, que está contra nós. Ele nos ama tanto que não deseja que percamos a vida abundante, e quer que sejamos participantes da aventura de levar a paz e o poder para os nossos lares, trabalhos, igrejas e sociedades. O prumo revela o que está fora de alinhamento. Então pedimos a Deus que nos ajude a endireitar as partes tortuosas. O juízo é uma expressão da graça. O que o prumo lhe revela, o Senhor está pronto a ajudar-lhe a endireitar. Faça uma relação dessas pessoas e situações.

O juízo leva à graça, e a graça nos capacita a fazer algo acerca do que estiver errado.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

FALSOS PROFETAS - POR JOHN STOTT




Ao dizer às pessoas que tivessem "cuidado com os falsos profetas" (Mt 7.15), Jesus obviamente assumiu que eles existiam. Não faz sentido você pôr um alerta no portão do seu jardim: "Cuidado com o cão!", se tudo que tiver em casa for um casal de gatos ou um periquito australiano. Não. Jesus alertou seus seguidores sobre os falsos profetas porque eles já existiam.

Nós os encontramos, em numerosas ocasiões, no AT, e Jesus parece ter considerado os fariseus e saduceus da mesma forma — "líderes cegos conduzindo outros cegos" —; foi dessa forma que ele os chamou. Jesus também deixou implícito que eles cresceriam e que o período que precederia o fim seria caracterizado não apenas pela expansão do evangelho, mas também pelo surgimento de falsos mestres que levariam muitos a se desviar.

Ouvimos falar a respeito deles em quase todas as cartas do NT. São chamados de "falsos profetas" ("profetas", presumivelmente porque afirmam ter inspiração divina), de "falsos apóstolos" (porque afirmam ter autoridade apostólica), de "falsos mestres", ou, até mesmo, de "falsos cristos" (porque tem pretensões messiânicas). Mas cada um deles é "falso" — pseudoprofeta, pseudo-apóstolo, pseudomestre ou pseudocristo —; pseudos é a palavra grega para mentira.

A história da Igreja tem um longo e som¬brio histórico de controvérsias com os falsos mestres. O valor dessas controvérsias, na prevalente providência de Deus, é que elas apresentaram à Igreja um desafio para pensar e definir a verdade, mas causaram muito prejuízo. Infelizmente, ainda hoje há muitas delas nas igrejas.

Ao nos recomendar que tivéssemos cuidado com os falsos profetas, Jesus fez outra conjectura: há um padrão objetivo de verdade que deve ser distinguido do falso profeta. A noção de "falso" profeta seria irrelevante, se isso não fosse verdade.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A GRAÇA QUE NOS EMPAREDA - POR PAULO CILAS



REPOSTAGEM



Conta Philip Yancey que chegando a uma reunião de escritores cristãos um assunto já estava em debate: Qual a maior contribuição prática do Cristianismo ao mundo? Bem informalmente, os debatedores constatavam que benfeitorias sociais, educacionais, médicas e outras emocionais e espirituais também eram realizadas por muitas outras religiões no mundo. Ao responder, Yancey foi direto: A Graça!
De fato, todas as religiões apresentam algum tipo de salvação sempre baseada no auto-sacrifício, reencarnação, mérito e purgatório, etc...
Mas, triste mesmo é a constatação de que a Graça não é compreendida e por isso mesmo não vivida; e o pior, ela não é aceita no meio dos que dizem seguir seu Autor. Em alguns casos ela soa como uma ameaça à boa fé. Mas, por que? Porque a Graça não consegue ser entendida em sua plenitude?
Penso que, no confronto com a Lei, ela é muito mais contundente. Na Graça, não basta não matar, pois ela me revela o quanto sou mau em odiar. Ela me coloca em pé de igualdade com um assassino. E isto? Ah! Isto é injusto, ora. Então, ainda que meio sem querer, eu a renego.
E o mérito? Vivemos a era da concorrência, da mídia. Propagandas de escolas afirmam que nelas só estudam as melhores cabeças ou os que querem ter um futuro brilhante. E, no mercado, os melhores são logo escolhidos e usados. Na igreja humana quanto maior e luxuoso o prédio, quanto mais "visões e unções" e o maior número de seguidores, tem-se estabelecida a melhor, a mais, mais dentre todas.
Entretanto, a Graça joga tudo isto por terra. Nela estávamos todos encerrados debaixo da desobediência. Todos éramos, sem ela, miseráveis, pobres , cegos e nus. E sem ela permanecemos assim. Méritos, justiça própria, aparências, obras... Nada disso subsiste. Nada pode ser apresentado diante de Deus como coisa de valor. Pois tudo estava condenado.
Alguns, para não dizer muitos, alegam que quando se prega muito sobre Graça há uma corrida desenfreada para o pecado. O entendimento é que a pessoa se torna mais pecadora a partir da Graça. Muitas vezes, isto não é dito de forma clara, mas está camuflado no "modus operandis" eclesiástico. Mas vejam só! Pela Graça é a única maneira possível do homem ser salvo.
"O homem não é pecador porque peca. Ele peca por ser pecador".
Estou então emparedado pela Graça. Sendo o único instrumento de salvação, sua eficácia só se dá em meio a uma confissão genuína. Não aceita aparência, mas me expõe como verdadeiramente sou, quebrando minha altivez . Devo fazer o melhor sem esperar recompensa, pois se o fizer nem "servo inútil" serei. Torno-me só inútil.
Então, viver pelas várias leis criando novas fórmulas e regras disfarçadas de coisas de Deus é mais cômodo. A Graça constrange muito!

domingo, 6 de novembro de 2011

NÃO SOU MELHOR DO QUE NINGUÉM - POR MANUEL dC


sexta-feira, 4 de novembro de 2011




Reflexões de um peregrino na véspera de seu aniversário.

Não sou melhor do que ninguém. Sou um simples passageiro do tempo, nada mais. Um sobrevivente que luta sofregamente pela vida, “carregando no costado” 53 anos, um pouco mais de meio século de existência. Sinto-me um peregrino a caminho do céu, que se vê muitas vezes, anacrônico, inadequado e perdido no mundo, como no meio de densa tempestade de areia no deserto da vida, me vendo às vezes sem direção, sem norte e sem companhia, mesmo rodeado de gente querida que me estime muito.

Não sou melhor do quer ninguém. Vejo-me como um cristão comum em meio a milhões de outros inconformados, um profeta fora de lugar, um provocador de inquietações, com certa dosagem de subversão para conspirar contra o status quo da religião legalista e contra a injustiça na sociedade enfermiça.

Não sou melhor do que ninguém, por isso minha teologia é inclusiva e graciosa, não contendo o teor triunfalista dos que levantam a bandeira da versão gospel do “corpo fechado”, baseada na hermenêutica capenga que interpreta o “caiam mil ao meu lado, não serei atingido” do salmo 91 como o cristão sendo uma espécie de super-homem inatingível e “os outros” que tropecem e caem no inferno.

Como não sou melhor do que ninguém, minha teologia passa pela Graça Comum que admite que Deus faz nascer o sol sobre justos e injustos, bem como também, por inferência, faz cair a chuva e as nuvens sombrias sobre todos, indistintamente, incluindo a enfermidade, a morte física e toda dor que isso implica.

Não sou melhor do que ninguém. Assim, sou um cristão que em nada se sente especial em relação aos outros romeiros que vagueiam pelo vale árido que é esse planeta chamado Terra. E caminhando passo a passo ao lado desses milhões de valorosos companheiros de mochila, mesmo dotado de equipamento de segurança e bússola de orientação, ainda sim, posso ser alvejado por meteoritos de dificuldades que me infligem dor, dúvidas, choro e angústia junto com meus outros companheiros de crepúsculo.

Não sou melhor do que ninguém, por isso, confessando minha vulnerabilidade, e se não fosse a ação libertadora e soberana do Senhor Jesus na minha vida, posso ser contagiado por qualquer um dos milhões de vírus e bactérias invisíveis que permeiam o ar como qualquer outro mortal, e ser acometido por enfermidades as mais variadas, mesmo aquelas que fazem estremecer o corpo e arrepiar a espinha cervical de qualquer um.

Não sou melhor do que ninguém, e posso ser surpreendido por acidentes nas ruas ou estradas como qualquer um, ser assaltado nas calçadas, passar por qualquer tipo de coerção física ou moral, igualzinho a qualquer pessoa que vive nesse tempo de violência generalizada e receber todas as consequências que resultam de uma cidade socialmente necrosada e o que isso possa acarretar, como cidadão que mora aqui.

Não sou melhor do que ninguém, portanto admito minha limitação cultural, intelectual, espiritual e econômica, que não tenho todas as respostas na ponta da língua, que ainda não tenho casa própria, e que não viajei pelos principais países do mundo e nunca pus os pés na Terra Santa. Não estou vinculado a nenhuma denominação histórica, e não tenho aval de nenhum figurão denominacional que me dê qualquer segurança futura ou garantia de suporte que me venha a ser confortável no presente.

Sinto-me e quero continuar me sentindo como um cidadão comum que dependa exclusivamente da graça de Deus. E quero continuar assim.

Não sou melhor do que ninguém. Por isso, quero dar passos decididos adiante, tendo uma postura de quem espera a morte inevitável com serena certeza do porvir com Jesus, mantendo a reverência, a esperança e a alegria, antevendo a eclosão do raiar de um novo dia, e a abertura do portal que me transportará para a eternidade para sentar à mesa, na presença de Jesus.

Não sou melhor do que ninguém, e por causa disso, tenho e preciso de pessoas ao meu redor que me amam, me apoiam e me acolhem. Li essa semana um livro de Jo Nesbø que dizia em um diálogo que o problema não é eu me sentir só no mundo, mas não ter ninguém no mundo, que se importe comigo. E amigos verdadeiros que se importam comigo de fato são raros, mas eu os tenho...

E como não sou mesmo melhor do que ninguém, por fim compartilho com meus amigos os meus parcos pertences, o pouco que carrego em minha mochila de peregrino: sementes de grão de mostarda para quem quer conspirar pelo Reino junto comigo, mantas de acolhimento R15, um abrigo no coração, e mantimentos de esperança, força de vontade e fé que nos darão alento renovado e novas forças para continuar a jornada, e avançar mais um pouquinho o Reino, e contando com a ajuda imprescindível do Espírito Santo, junto com meus companheiros de caminhada, prosseguir assim, enquanto Deus nos conservar com vida

Ps. Como aniversariante do dia 4 faço minhas as palavras acima

terça-feira, 25 de outubro de 2011

VAZIO PERIGOSO - POR RICARDO GONDIM



Sucessivos terremotos sacodem o mundo econômico e político. Malucos se estouram e explodem os demais por todos os lados. Há uma carência desesperada de segurança. As portas dos asilos parecem ter se escancarado. O mundo endoidou de vez.

Faltam heróis. O cenário parece pronto para o surgimento de algum messias. Um déjà vu maligno espreita a humanidade no perigo de guindar um doido varrido para algum posto de comando, como aconteceu na véspera da Segunda Guerra. Se chegar um fanfarrão que saiba oferecer sensação de controle, ganhará reconhecimento imediato.

Abriu-se a brecha para revolucionários de última hora encantarem multidões. Quem ousar, mesmo um populista sem vergonha, arrebata as massas. Um tirano que pareça desafiar o status quo será reverenciado sem grandes dificuldades. Enormes marchas aclamarão quem parecer com as rédeas nas mãos. O ego inflado de algum demagogo será massageado sem muito critério se ele apresentar soluções. Ficou fácil canonizar opiniões formatadas e surradas de qualquer caudilho corajoso de quinta categoria. Se parecer altivo, vícios, erros e estupidez, ficarão varridos sob os carpetes da eficiência. No prado da mediocridade, o especialista sempre se sobressai.

O perigo religioso também se tornou agudo. Na aridez do consumismo materialista, o porta-voz da divindade se agiganta. Basta um pouco de manipulação para que saiba fazer acreditar que resistir ao sacerdote significa resistir a Deus e que, obedecer os comandos do ungido, é obedecer aos comandos celestiais.

O campo anda fértil para farsantes competentes. O falso caridoso é bem sucedido em esconder seu egoísmo com choros. O santarrão comove com seu discurso meloso. O pseudo-casto, o prosaico beato de coração caiado, camufla sua torpeza com interjeições escandalosas contra a imoralidade. O avarento, o ganancioso, sabe discursar sobre a graça de contribuir e repartir.

Sim, os tempos estão sombrios. Resta acreditar no poder residual do bem. Se uma fagulha incendeia a floresta, esperemos que um tracinho de bondade resista a tudo isso. Esperemos que mansidão, antítese do abuso de poder, germine um novo amanhã, e que gentileza, irmã da graça, substitua a arrogância como marca da espiritualidade. Simplicidade pode, sim, estancar o avanço da prepotência, que transforma homens e mulheres em demônios.

O futuro depende de carisma não prevalecer acima de caráter, e de clichês não dissimularem empáfia. A humanidade aguarda a verdadeira espiritualidade se sobrepondo à competência; e que a próxima geração não se acomode na ingenuidade típica dos rebanhos. Mas que também não insista em repetir os erros que deixaram o mundo do jeito que está.

Soli Deo Gloria

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ENTRE REPETIR E SURPREENDER - POR RICARDO AGRESTE


No anseio por ser lido, ouvido, comentado e seguido, muitos podem ser tentados a gerar fatos, escrever o surpreendente ou afirmar o não convencional.
Há pouco tempo, eu estava numa conferência fora do país quando um dos preletores fez uma afirmação que me despertou do sono. Ele disse: “Vivemos um momento histórico em que pastores e líderes, com o propósito de serem ouvidos, lidos e, principalmente, comentados, estão se tornando reféns da necessidade de surpreender, escrevendo e posicionando-se de maneira pouco convencional.”

Existe hoje no contexto norte-americano uma verdadeira disputa entre celebridades do meio evangélico por atenção e influência sobre as pessoas. Essa disputa se evidencia nas afirmações bombásticas que circulam em vídeos no youtube, nas ideias pouco convencionais veiculadas nos blogs da vida ou, ainda, pelas respostas agressivas e contundentes àqueles que são os agentes das duas primeiras ações.

Como se pode perceber, o fenômeno está diretamente ligado à grande revolução midiática ocorrida nos últimos anos em nossa sociedade. Há 30 ou 40 anos, para um pastor ou líder ser ouvido e comentado, era necessário investir pesado na produção e veiculação de programas de rádio ou TV. No entanto, a internet democratizou a possibilidade de ser ouvido, comentado e acompanhado até em cada passo ou palavra.

Assim, para muitos pastores e líderes da atualidade, a internet se tornou um espaço onde suas palavras ganham uma amplitude nunca antes sonhada. Ali, seus textos são lidos e replicados de forma ilimitada, e suas ideias, seguidas e comentadas quase que instantaneamente por pessoas em todas as partes do mundo. Assim, o horizonte de sua influência passou a transcender em muito o pequeno grupo que, assentado nos bancos da igreja, escuta atentamente seu sermão de domingo.

De certa forma, este cenário representa uma grande oportunidade para evangelização de inúmeras pessoas, para a edificação de discípulos de Jesus espalhados por todo o mundo e para o fortalecimento da igreja numa caminhada saudável e dinâmica. É um grande privilégio para os cristãos de nosso tempo ter à sua disposição um sem-número de sermões, estudos, artigos, discussões e opiniões sobre os mais variados temas, dos mais diferentes autores.

Por outro lado, o mesmo cenário gera uma cultura de ansiedade por ser lido, ouvido, comentado e seguido. Neste anseio, aqueles que fazem uso das novas mídias podem ser constantemente tentados a gerar fatos, escrever o surpreendente ou afirmar o não convencional. Assim, surgem afirmações de que o inferno não existe, de que Deus não é soberano ou que a volta de Jesus é não um evento histórico – e, para não perder a oportunidade de ser lido e comentado, rapidamente surgem as críticas àqueles que fazem tais afirmações, sem qualquer cuidado com o contexto ou o respeito devido a quem pensa de modo diferente.

Em meio a tudo isso, existe o perigo de que pastores e líderes, responsáveis por prover o conteúdo para o ensino e capacitação de discípulos de Cristo, se esqueçam que boa parte de sua tarefa como mestres consiste em repetir. Pastores e mestres do passado gastaram boa parte de suas vidas e ministérios simplesmente repetindo coisas, sem se sentir na responsabilidade de falar algo novo, surpreendente ou espetacular. Eles simplesmente repetiam o que já fora dito na lei e nos profetas, bem como procuravam manter vivos os fundamentos lançados pelos apóstolos.

Mas também existe o perigo de que cristãos usuários das novas mídias não percebam que a própria cultura que envolve tais ferramentas não incentiva a repetição, pois demanda o novo. Assim, os crentes podem se tornar dependentes dessa cultura, esquecendo-se de que parte de nossa consistência e saúde na caminhada cristã envolve a prática de acolher as verdades que já eram verdades para nossos avós e de ouvir novamente o que já foi dito, tantas outras vezes ao longo dos séculos, a outras gerações.

Como pastores e líderes, precisamos estar atentos e nos avaliar sempre acerca do uso que temos feito das novas mídias e da motivação que nos move. Precisamos reconhecer que a linha entre o desejo de simplesmente servir à Igreja de Jesus e a vontade de ser lido, ouvido e comentado é tênue no contexto atual. Todavia, como usuários das novas mídias, precisamos também nos perguntar se aqueles a quem ouvimos, lemos e seguimos estão se tornando reféns do novo ou do espetacular. Estão eles deixando de lado a missão de simplesmente repetir o que já foi dito na lei, nos profetas, pelos apóstolos e pais da igreja? E, se eles passarem a repetir, estaremos dispostos a ler blogs e seguir twitters que só repetem o que já foi dito, sem qualquer surpresa?

Extraido De "Cristianismo Hoje"

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CAMINHO, VERDADE E VIDA - POR PAULO CILAS


O CAMINHO

"Mostra-nos o Caminho". Diríamos ser essa uma declaração de alguém realmente interessado, mas, vindo de um discípulo que há mais de dois anos andava e ouvia a Jesus, mostra a falta de um entendimento completo de quem Cristo era. Contudo, a palavra do tal discipulo acaba nos servindo de alerta, mostrando que é possível, ainda hoje, caminhar com Jesus, ouvir de Jesus, e não entender ser Ele o caminho e não leis, sistema sacerdotal antigo, campanhas, "mandigas" gospel. Isso é tão importante, tão fundamental, que o desconhecimento gera inseguranças, incertezas, neuroses, como a seguinte: Estávamos num restaurante e um moço que eu acabara de conhecer, depois de se servir, vasculhava o feijão para ver se ali havia pedaços de bacon (carne de porco) e não satisfeito ainda chamou o garçom para perguntar se tinha e diante da resposta "sim" ficou totalmente transtornado, pois obviamente a sua religião tinha o comer ou o não carne carne de porco como... o caminho. Ou seja, cumprir regras se torna todo ou parte do caminho que se pretende seguir.

Quando Jesus responde ao discipulo "Você está há tanto comigo e ainda não me conhece?" é o que chama atenção. Meu Deus! Será que ouvindo o evangelho não conseguimos nos desvencilhar dos pesos, fardos, embaraços, entendendo o propósito amplo de Jesus?

A VERDADE

Jesus não diz ser a Verdade porque fala verdades e sim porque toda a verdade humana e toda a verdade de Deus se cumpre Nele. Religiões cristãs, ou não, professam alguma coisa verdadeira, pode ser até aquela que consideramos a pior religião, ou a mais estranha, mas até ela, em algum momento, fala alguma verdade. Mas seguir a Jesus não é seguir àqueles que falam algumas verdades. Seguir a Jesus é entender que a verdade de Deus:"todos pecaram e destituídos foram da sua glória e por Jesus fomos reconciliados com Ele" e que todo homem é pecador e não há religião alguma, por mais bem intencionada que seja, que possa dizer ter a verdade.

A Verdade é plenamente convergida em Jesus, quando Ele não só revela o pecado do homem, mas também, o perdão e a misericórdia para o mesmo. Quando Ele morre na cruz cumprindo a justiça de Deus: "ao Senhor agradou moê-lo".

A VIDA

Não pode o ramo viver longe da árvore. Daí Jesus dizer que Ele é a Videira verdadeira, fora dEle só se existe por um pouco de tempo, pois a morte já está decretada. Jesus não é então uma opção de vida, Ele é a opção à morte. Costumamos confundir e ter Jesus como um meio de alcançarmos aquilo que desejamos, e normalmente o que desejamos é aqui debaixo. E vamos nos esquecendo "que o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Jesus". Vida que não morre, mas que vence a morte. Vida que não é sinônimo de existência. É a Vida que só faz sentido porque permanece de eternidade a eternidade.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O SEMPRE E O DE VEZ EM QUANDO - POR ED RENÉ KIVTZ

Outro dia alguém pinçou uma de minhas afirmações para dizer que eu não acredito em milagres. A afirmação que fiz foi que Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. De fato, representa muito do meu pensamento: a principal obra de Deus no humano é a conformação do humano à imagem de seu Filho Jesus, que Paulo, apóstolo, chama de “primogênito entre muitos irmãos”. Mais do que fazer coisas boas para o ser humano, Deus está comprometido em transformar o ser humano, ainda que isso custe deixar ou permitir que coisas ruins aconteçam a este ser humano em processo de transformação. Deus não atua no ramo de “conforto para os fiéis”. Deus atua no ramo de transformação do humano à imagem de Jesus Cristo.

Daí a extrapolar que eu não acredito em milagres é um pulinho. Confundir a ênfase da minha teologia – “Deus faz em nós, e não necessariamente por nós”, com “Deus nunca faz nada por nós”, é até compreensível.

Na verdade, o que pretendo dizer é melhor compreendido quando se dá atenção ao “não necessariamente”: Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. Sublinhe o “não necessariamente”. Isso significa que Deus pode fazer e pode não fazer, e que o fazer ou deixar de fazer é imponderável, afetado por muitas variáveis que extrapolam o nosso controle e nosso entendimento. O que acredito, portanto, é que Deus sempre deseja fazer algo em nós, mesmo quando não faz algo por nós. Deus está sempre agindo para nossa transformação, mesmo quando não atua em nossas circunstâncias.

Por esta razão, minha conclusão é óbvia e simples: não devemos pautar nosso relacionamento com Deus na expectativa de que Ele faça algo por nós, mas na certeza de que Ele deseja fazer algo em nós. Quando Ele faz algo por nós, amém, quando não faz, amém também. O que não podemos permitir é que a expectativa de que Ele faça algo por nós nos deixe cegos ou imobilizados para o que Ele quer fazer em nós.

A maioria dos cristãos baseia seu relacionamento com Deus na dimensão “por nós”: o Deus de milagres, o Deus de poder. Alguns poucos baseiam seu relacionamento com Deus no “em nós”: o Deus de amor que nos constrange a viver para Ele e não para nós mesmos, onde viver para Ele implica sempre morrer para si mesmo, tomar a cruz e meter o pé na estrada. O milagre é problema (ou solução) de Deus. A fidelidade é problema meu. Atuar em minhas circunstâncias é o imponderável do mistério de Deus. Atuar em mim é o essencial do propósito de Deus. Você escolhe a base de sua relação com Deus: aquilo que pode acontecer ou não – o milagre, ou aquilo que certamente acontece – a transformação.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A LÓGICA DO FORMIGUEIRO - POR PAULO CILAS




O filme é até legalzinho: Formiguinha Z conta a história de uma simples formiga dentro de um formigueiro passando por brigas, sofrendo enchentes, sendo atacado por inimigos vorazes. A parte final é uma epopéia, onde o “herói” acaba sendo fundamental para a salvação de todo formigueiro. Todos comemoram numa algazarra só. Mas aí a câmera vai se afastando e aquele universo se perde dentro de um único quintal. Tudo o que aconteceu ali era insignificante diante do mundo lá fora.

É assim que vejo o que nossas igrejas têm se tornado. Através dos programas de televisão assistimos que as nossas reuniões são verdadeiras catarses; em um programa o líder diz ter revelações do livro que João comeu na visão de Apocalipse; do que Paulo viu no terceiro céu... Pessoas caem; ali é declarada vitória sobre tudo - como se ficássemos isentos às tribulações da vida -. Reunimos-nos em congressos que determinam conquista de território, aquisição de poder e autoridade sobre tudo. Subimos morros com segurança policial e decretamos que a paz está instalada ali (mas não subimos para declarar vitória quando há tiroteio). Reunimos em alguns lugares sobre o manto da promessa da prosperidade. Também declaramos que estamos vencendo inimigos poderosos e levantamos a um só grito as nossas espadas espirituais, marchamos, gritamos, adesivamos nossos carros com palavras de ordem, mas quando a câmera se afasta, somos apenas um formigueiro em ebulição sem causar nenhuma diferença prática no mundo lá fora.

Um pastor atuante em uma grande capital brasileira, capital essa que reúne “grandes” igrejas, entre lágrimas afirmou que sua cidade está uma droga. Nada muda. Muito barulho por nada, diria Shakespeare. Quando somos notados, é tão somente para sermos expostos às contradições, guerras de ego e amor ao dinheiro, ou seja, somos notados nas práticas iguais as do mundo lá fora.

O curioso é que se fôssemos simples, vivendo na singeleza de coração descrita em Atos, na comunhão, aí sim afetaríamos o “quintal” a nossa volta, sendo realmente o sal dessa terra.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

JESUS ERA RUÍM DE MARKETING! POR CAIO FABIO


Alguém me escreveu dizendo que não entende por que Jesus agiu como agiu, ao invés de fazer como César ou Alexandre, o Grande.
A ele e a tantos quantos pensam a mesma coisa, digo o seguinte:
Jesus veio para salvar o mundo, e, contudo, não fez nada igual aos que se oferecem como salvadores dos homens.
Já se disse demais [embora valha a pena repetir] que Ele não escreveu sequer um livro, não erigiu um pilar, por mais fajuto que fosse; não mudou para Roma e nem para Atenas ou mesmo para Jerusalém; não aceitou a oferta dos gregos de ir viver entre eles; não buscou impressionar os filósofos gregos ou os senadores romanos; e nem tampouco sistematizou um ensino para ser decorado ou aprendido; e, para completar a serie de “insensatezes”, ainda escolheu andar com gente que não formava opinião, não era conhecida, não tinha berço, e não agia no meio político ou religioso. Ele fez como o Pai: Do que estava sem forma e vazio Ele iniciou o reino!
Além disso, Ele não gerou filhos e nem deixou herdeiros carnais de nada. Não criou amuletos com pedaços de suas roupas ou utensílios de uso pessoal [toda essa história de Graal e relíquias santas é paganismo comercial brabo feito em nome de Jesus], não “marcou lugares santos” e nem estabeleceu “peregrinações sagradas”, como ir à Jerusalém, à Cafarnaum, e muito menos a qualquer outro lugar santo ou “Meca”.
Também não inventou “uma parte profunda” de Seu ensino apenas reservado aos Entendidos e Autoridades. Não venerou nada. Não se vinculou à coisa alguma, nem mesmo ao Templo de Jerusalém, ao qual derrubou com palavras proféticas.
Chocante também é o fato Dele não se poupar em nada. Cansado, então cansado. Com sede, então com sede. Ameaçado, então cauteloso. Descrido, então muda de lugar. Amado, mostra amor, mas não fica seqüestrado pelo amor de ninguém. Desperdiça oportunidades de ouro. Joga fora o que ninguém jogava. Insurge-se contra aquilo que ninguém se levantava em oposição. Provoca a morte com vida até ressuscitar.
Ressuscitar. Sim! Mas para quê? Se as testemunhas não eram criveis. Até óvnis têm testemunhos mais criveis do ponto de vista do que se julga um testemunho respeitável. E além de tudo Ele só aparece para quem crê, e não faz nenhuma aparição ante seus inimigos, no Sinédrio de Jerusalém, por exemplo. Até para ressuscitar Ele trabalha contra Ele mesmo, do ponto de vista de “estratégia de ressurreição”.
Sim! Jesus não fez nada concreto. Tudo Nele era abstrato, até quando era concreto. Tudo tinha que ser apreendido com o coração, e não apenas aprendido com a mente. Um dia depois do milagre da multiplicação de pães e peixes, todo o resultado do milagre já havia sido digerido e evacuado. Ninguém foi por Ele instruído a guardar amostra dos pães e peixes, nem tampouco pediu Ele que se guardasse um tonel de vinho de Cana.
Jesus era do tipo que jamais chegaria à Betânia e diria: “Foi aqui que ressuscitei Lázaro!”
Sim! Ele não tem histórias de Si mesmo para contar. O presente é a História para Jesus. Suas histórias não são passadas, são todas presentes. Suas histórias são as Suas palavras de vida e poder enquanto...
Ora, eu poderia ficar escrevendo aqui para sempre sobre o assunto [aliás, tenho três livros que lidam com essas questões de modo amplo e extenso]; no entanto, o que me interessa é apenas afirmar que assim como Jesus tratou a vida e a História, do mesmo modo Ele espera que nós o façamos, até quando estivermos exaltando o Seu nome ou pregando a Sua Palavra; e, sobretudo, no vivendo da vida.
Ou quem nos fez pensar que Jesus era assim apenas porque Ele tinha que ser assim? — Mas que nós, que não somos Ele [e que temos a tarefa de propagandeá-LO na terra], temos permissão para tratarmos Jesus em relação ao mundo de um modo diferente do que Ele tratou a Si mesmo? Sim! Quem nos convenceu de tal loucura?
O modo de vivermos e pregarmos o nome de Jesus no mundo é exatamente o mesmo com o qual Ele tratou a Si mesmo na experiência humana de Seu existir entre nós.

“Meu reino não é deste mundo!”
Afinal, quem é César? Quem é Alexandre?
Você deve a vida a qualquer um dos dois? Em que César ou Alexandre ajudam a sua vida hoje?
Assim, pergunto:
Você aceita desistir do que erro no qual foi criado na religião e passar a viver com os modos e motivações de Jesus?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

FALSIFICANDO A PALAVRA DE DEUS - GEOFFREY THOMAS

A grande reivindicação do apóstolo Paulo foi nunca haver falsificado a Palavra de Deus. Infelizmente, porém, muitos o fazem hoje. Como?

Primeiramente, por meio de manipulação psicológica ou de “lavagem cerebral”. Você pode mudar as atitudes das pessoas para com o cristianismo, mediante o retirá-las de seu ambiente familiar, levá-las a menosprezar os seus laços familiares, por meio da utilização de horas contínuas de cânticos e de música ritmada, mediante o construir uma dependência dos líderes, ou por roubar-lhes o sono, ou estimular suas emoções, ou ameaçá-las com terríveis juízos, se elas abandonarem o seu grupo, ou por forçá-los a seguirem um regime de estudos, ou, ainda, por meio de devoções e de testemunho pessoal do evangelho nas ruas, semanalmente.

Este excessivo programa degrada e insulta as pessoas. Nenhum crente genuíno, que acredita na verdade bíblica e no ensino de que o homem e a mulher foram criados à imagem de Deus, desejaria seguir por muito tempo um tipo de programa desses.

Não Está à Venda
Em segundo lugar, por meio da utilização de técnicas de marketing. Vivemos em uma sociedade em que os anúncios dizem às pessoas que coisas admiradas e desejadas por elas estão sendo oferecidas aqui e agora mesmo. A igreja pode tomar para si essa idéia e começar a se tornar proeminente em oferecer às pessoas ajuda a respeito de como lidar com seus relacionamentos ou com a solidão, aconselhando-as sobre como se tornarem pessoas bem-sucedidas ou como se recuperarem de vícios ou depressões, etc.

Esta, porém, não é a mensagem cristã e jamais pode tornar-se a mensagem cristã. Deus, que é nosso Criador e Juiz, nos tem dado sua própria mensagem. A Bíblia não está à venda; portanto, ela não precisa de vendedores eficazes. A Bíblia não está à procura de patrocinadores. Não pode haver descontos, nem ofertas especiais por meio dos quais os pecadores podem obter alguma coisa ao preço que eles desejam.

O evangelho é sempre gratuito, mas nos foi trazido a um custo terrível pelo Senhor Jesus. O evangelho não precisa de qualquer intermediário. A Bíblia não está em competição com outras comodidades que são oferecidas aos consumidores no mercado de pechinchas da vida. O evangelho não está aqui para ser vendido a qualquer preço para o mais experimentado licitante.

O mundo tem dificuldade em elevar os homens para alcançarem o seu preço; nós temos dificuldade em fazer os homens rebaixarem-se para atingir o preço de Deus — “Nada em minha mão eu trago, tão-somente à cruz me apego”.

Transformado

Em terceiro lugar, por meio da incredulidade modernista. A Dra. Eta Linnemann era uma acadêmica em uma universidade da Alemanha. Ela estudou sob a instrução de Rudolf Bultmann e Ernst Fuchs; ela pertencia à mesma escola anti-sobrenatural de filosofia deles.

Ela ingressou numa carreira de autora e professora de teologia, na Alemanha Ocidental. Sua abordagem básica, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, dizia o seguinte: “Qualquer que seja o significado do texto bíblico, ele não pode ser verdadeiro. Por isso, constantemente encontramos dificuldades no texto das Escrituras e, em seguida, nós as solucionamos com ingenuidade”.

Falsificação é a essência do modernismo e quase destruiu a Dra. Eta Linnemann. Mas ela encontrou-se com alguns crentes vibrantes que conheciam pessoalmente a Jesus como seu Senhor e Salvador.

Ela escreveu: “Deus agarrou minha vida em seus laços salvadores e começou a transformá-la de maneira radical. Minhas inclinações destrutivas foram substituídas por uma fome pela Palavra dEle e pela comunhão com os verdadeiros cristãos...

“Repentinamente, ficou claro para mim que meu ensino era um caso de um cego guiando outro cego. Eu me arrependi da maneira errada como havia instruído os meus alunos. Um mês depois disso, sozinha em meu quarto, distante de qualquer influência de outros ao meu redor, deparei-me com uma decisão momentosa.

“Eu continuaria a controlar a Bíblia, utilizando meu intelecto, ou permitiria que meu raciocínio fosse transformado pelo Espírito Santo? João 3.16 trouxe luz a esta decisão, pois eu havia experimentado a verdade desse versículo. Minha vida agora considerava o que Deus havia feito por mim” (Historical Criticism of the Bible, pp. 18-19).

Surdos Para a Voz de Deus
A Dra. Eta Linnemann chamou de “veneno” o seu ensino anterior; ela destruiu seus escritos publicados e tornou-se uma missionária na Indonésia. Isso está exatamente de acordo com o que o apóstolo afirmou em 2 Coríntios 4.2: “Pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus”.

Os liberais pararam de buscar a sabedoria de Deus por meio das Escrituras e se tornaram surdos para a voz reformadora de Deus na igreja. Arruinados pelo racionalismo, eles se tornaram incapazes de receber a Bíblia como a Palavra de Deus para o homem, aceitando-a apenas como a palavra do homem a respeito de Deus.

Eles crêem que os seres humanos são fundamentalmente bons, que não existe ninguém perdido e que crer em Jesus não é necessário para a salvação, embora auxilie algumas pessoas.

As igrejas liberais não poderiam abandonar a terminologia bíblica e, ainda, pretenderem ser cristãs. Por isso, os termos bíblicos receberam significados diferentes.

Qual é a agenda?O “pecado” tornou-se ignorância ou, ainda, a negligência de certas estruturas sociais. E “Jesus” tornou-se um modelo para um viver criativo — um exemplo ou um revolucionário. A “salvação” tornou-se libertação da opressão.

A “fé” se torna a conscientização da opressão e a vontade de fazer algo a respeito dessa opressão. O “evangelismo” significa trabalhar para vencer a injustiça entrincheirada.

O tema do Concílio Mundial de Igrejas, em 1964, foi: “O Mundo Tem de Estabelecer a Agenda”. Os liberais crêem que os interesses da Igreja devem ser os mesmos do mundo, embora isso envolva a exclusão do evangelho.

Fome, racismo, ecologia, envelhecimento, ou qualquer outro assunto que era crucial para o mundo, deveria ser a primeira preocupação para o povo cristão. Mas Deus não somente nos deu a sua Palavra para pregarmos; Ele nos deu também os métodos para realizarmos a sua obra: participação, persuasão e oração.

No entanto, renomadas igrejas têm lançado fora esses métodos, em troca de poder, política e dinheiro.

A Bíblia é Adequada?
Os evangélicos modernos não são conscientemente heréticos. A Bíblia é a Palavra de Deus? É claro que sim. Ela é a autoridade absoluta? Sim, com certeza. É inerrante? A maioria dos evangélicos afirmam a inerrância das Escrituras.

Muito deles, porém, não crêem que a Bíblia é adequada para satisfazer os desafios contemporâneos da Igreja ou que ela é suficiente para ganhar as pessoas para Cristo. Eles têm se voltado para sermões que visam às “necessidades sentidas” das pessoas, para o entretenimento ou para os “sinais e maravilhas”.

A Bíblia (eles dizem) é insuficiente para empreender o crescimento cristão; por isso, eles se voltam para grupos de terapia ou para o aconselhamento cristão. A Bíblia é insuficiente para tornar conhecida a vontade de Deus; por isso, eles buscam sinais externos e revelações.

A Bíblia é inadequada para mudar nossa sociedade; portanto, eles procuram estabelecer o grupo de lobby dos evangélicos no Congresso Nacional e trabalham para eleger deputados, senadores, presidentes e outros oficiais evangélicos. Eles procuram mudanças por meio do poder político e do dinheiro.

Que mensagem?

Assim como os liberais, alguns que se declaram evangélicos estão atribuindo um novo significado às palavras da Bíblia, lançando termos seculares e terapêuticos sobre a terminologia espiritual.

O pecado se torna um comportamento disfuncional; a salvação se transforma em auto-estima ou em integralidade; e Jesus, apenas um exemplo para um viver correto. Esta é a mensagem que se proclama domingo após domingo.

Deste modo, a Palavra de Deus está sendo falsificada novamente. Mas o cristianismo prospera não por oferecer às pessoas aquilo que elas já têm, e sim por oferecer o que elas estão necessitando desesperadamente — a Palavra de Deus e a salvação por intermédio do Senhor Jesus Cristo.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

PASTOR E AMIGO - POR MARK GALLI


Em entrevista exclusiva, Eugene Peterson destaca a importância dos relacionamentos no ministério.

Eugene Peterson, como qualquer pastor, já teve lá suas crises existenciais e ministeriais. A primeira foi no início de sua trajetória – achava o pastorado complicado e não sabia bem como atender às expectativas das pessoas. Depois, foi confrontado pela própria vocação. Preferia seguir pela vida acadêmica, mas em determinado momento, viu-se diante do púlpito. Também teve de aprender a lidar com as ovelhas, ou seja, como se relacionar com aqueles a quem liderava. Isso, sem falar nos problemas e angústias que os colegas de ministério vinham lhe confessar. Tudo isso fez de Peterson um “pastor de pastores”.

Mas ele é muito mais do que isso. Hoje, às portas dos 80 anos, é um pensador cristão respeitado, consultado e querido. Predicados intelectuais ele tem de sobra – escritor com mais de 30 títulos publicados, poeta e conferencista, é professor emérito de uma das referências do pensamento cristão mundial, o Regent College, no Canadá. Mas quem o ouve falar – como Mark Galli, diretor de redação da Christianity Today, seu amigo de longa data, que o entrevistou para CRISTIANISMO HOJE – percebe que está diante de um crente que deseja ser servo, não apenas de Deus, como dos irmãos.



CRISTIANISMO HOJE – O senhor dizia, no início de seu ministério, que o pastorado era complicado – ou, que talvez, o senhor mesmo o complicasse. E agora, depois de tantos anos, ainda pensa assim?

EUGENE PETERSON – Bem, se ouvirmos as expectativas de consumo das pessoas, o ministério fica complicado, pois elas tendem a impor o que querem. As pessoas estão acostumadas a poder escolher. Mas, uma vez que entendemos o que estamos fazendo, e para o quê o fazemos, tornamo-nos pastores mais locais, presentes – e aí, eu não diria que o ministério fica simples, e sim, não tão complicado. Aprendemos a estar presentes diante de tudo o que acontece na vida das pessoas e a não impor coisas a outras pessoas, muito menos deixar que as imponham sobre nós.

Em um de seus livros, o senhor usa outro adjetivo para designar o ministério do pastor: “Subversivo”. O que quis dizer com isso?

Eu quis dizer que as pessoas têm suas defesas. Se trouxermos a elas algo pesado demais, elas tendem a criar um bem desenvolvido sistema defensivo contra isso. Mas, trazendo as coisas obliquamente, sob o que às vezes chamo de “forma indireta”, temos maneiras de contornar essas defesas. Jesus fez isso o tempo todo com suas parábolas, que eram metáforas surpreendentes. Ele raramente usava palavras abstratas. O Senhor sempre teve muita identidade com a coisa local, com o estar presente no dia a dia, com o familiar. E então, dessa forma oblíqua e subversiva, podemos atrair a imaginação das pessoas para proporcionar-lhes algo que antes não tinham visto, notado ou pensado.

O senhor critica colegas que pregam o eu chama de “Cristo genérico”. Como então deve ser o anúncio do verdadeiro Cristo apresentado na Palavra de Deus?

O Cristo revelado é único. Sua encarnação está ligada ao que é visível – e, muitas vezes, ao inesperado. Jesus surpreendia as pessoas, na maioria das vezes, por não agir como Deus; ele não atendia à expectativa estereotipada dos outros acerca do que ele era, ou do que deveria fazer. A verdade é que as pessoas não olham para os evangelhos como deveriam. São quatro os escritores dos evangelhos. Todos contaram as coisas de modo um pouco diferente um do outro. Eles não seguiram um estereótipo, um sistema dogmático, no qual quisessem encaixar as coisas de forma forçada. Eles ouviram, viram e compreenderam Jesus no contexto em que viviam. Da mesma forma, devemos fazê-lo no contexto em que vivemos. Tudo tem a ver, essencialmente, com a tomada da revelação a sério, com a encarnação do Verbo.



Como o pastor pode manter limites apropriados entre o exercício de sua vocação e sua vida pessoal?

Essa palavra “limites” tem vindo à tona através das disciplinas psicológicas. Parece-me que é uma maneira de evitar a dificuldade, de contornar a ambiguidade. Você sempre sabe onde está, sempre conhece o limite, e deixa as pessoas virem até onde querem, mas não vai deixá-las ultrapassar essas fronteiras. Lembro que uma vez entrei no escritório da igreja e encontrei lá algumas mulheres que estavam fazendo um boletim informativo. Tínhamos, na ocasião, uma filha que estava nos dando alguns problemas extras, naquela fase de confrontar os pais. Então, eu fiz um desabafo, dizendo estar uma fera com isso e até que eu nem queria ser pai. Quando saí, uma daquelas irmãs me repreendeu, dizendo que todas ali já tinham problemas de sobra para manter as próprias vidas e famílias juntas. “Agora, teremos de ajudar você a manter sua vida em família? Isso é demais”, disse. E ela estava certa. Há algumas coisas totalmente inadequadas a um pastor, como se irritar ou se descontrolar. As pessoas simplesmente não entendem tal comportamento num ministro do Evangelho. A vida pastoral tem de ser uma vida relacional – quando você vive assim, não tem limites como tal. Você tem habilidades, intimidade. Aliás, não gosto dessa separação da vida pastoral e pessoal, atuação congregacional e formação profissional.



Quando fala em vida relacional, o senhor quer dizer que o pastor deve buscar construir amizades entre sua congregação?

Sim. Eu amo a passagem de João 13.17, em que Jesus está no Cenáculo, em sua última noite com os discípulos. Ali, ele os chama de amigos, e não de apóstolos ou discípulos, que são palavras que definem algo meramente funcional. Apenas amigos – e ele repete isso por três vezes. Os pastores deveriam meditar sobre isso. Em vez de se concentrarem em suas funções, suas técnicas, estratégias e visões, que relaxem. Basta apenas estar lá com as ovelhas, aprendendo a serem amigos. No momento em que o pastor sobe no pedestal, vai começar a ocultar a natureza do Evangelho.

A partir de que momento um pastor está subindo no pedestal?

Há muitos pastores que cultivam esse negócio de estar em um pedestal, porque, assim, eles não têm que lidar com pessoas. Preferem lidar com as ovelhas apenas no papel de pregador, conselheiro, guia espiritual ou qualquer outra coisa. Há muitas maneiras de se conviver com a forma estereotipada dessa relação. Mas, quando você se torna um amigo, a coisa é outra. Quando saí da Christ our King Chruch [Igreja Presbiteriana Cristo Nosso Rei, fundada por Peterson em 1962, em Maryland], onde estive por 30 anos, eu realmente não me preocupava com o estilo de vida daquelas pessoas – e, para dizer a verdade, eu não tinha amigos que eu chamaria realmente de “amigos”. Mas, quando eu saí, não posso lhe dizer quantas pessoas de lá me disseram que eu era o melhor amigo que já tiveram. Agora, eu era amigo em outro sentido, já que, de alguma forma, houve alguma qualidade na relação que transmitia que eu me preocupava com eles, conhecia os seus nomes, sabia os nomes de seus filhos – ou seja, não era apenas aquela coisa social. Muitas vezes, convidávamos pessoas para um jantar porque estavam com problemas, mas eu não tinha um relacionamento de amizade com muitas dessas pessoas; simplesmente era amigo porque era disponível para elas. É assim que eu acho que um pastor deve ser.

Ultimamente, com a disseminação dos chamados ministérios de tempo integral, tem havido profissionalização de diversas funções eclesiásticas, inclusive as de pastor e obreiro. Qual sua opinião sobre isso?

Eu acho que o profissionalismo na vocação pastoral é mortal, porque isso afeta a todos. Nós compartilhamos algo bem básico com nossas congregações. Estamos compartilhando a vida de Cristo, maneiras como seguir a Cristo. Os pastores devemos tratar os leigos com dignidade e honrar o seu trabalho, tanto como eles honram o nosso, e aceitá-los como iguais em termos de serviço no Reino de Deus e na vivência da vida cristã. Contudo, o profissionalismo que permeia nossas igrejas não confia nos leigos. Hoje, contratamos profissionais para fazer tudo. Em vez de confiar nos irmãos para fazer o trabalho do povo de Deus, contratamos alguém para fazê-lo, e é assim que profissionaliza tudo na estrutura eclesial. Desenvolvemos hierarquias e sistemas hierárquicos na igreja, e isso sutilmente elimina o senso maior de comunidade. Eu diria que a melhor maneira de superar o profissionalismo é confiar. O pastor deve aprender a confiar aos leigos a responsabilidade de serem iguais a ele em termos de status no reino de Deus.

Mas muitos líderes se queixam de escassez de voluntários para desempenhar funções na igreja...

Sim, isso tem acontecido. Se algo tem de ser feito por profissionais na igreja, tudo bem. Mas é uma realidade que pode ser mudada. Eu fiz isso por anos e anos; não reproduzi quase nada que os outros pastores fazem hoje pensando que é trabalho pastoral. Nunca tive uma equipe de profissionais atuando na igreja, nem mesmo uma secretária; a maioria dos trabalhos administrativos da congregação foram tocados por leigos. E as pessoas adoraram colaborar. Naturalmente, não podemos fazer as coisas sempre do mesmo jeito, mas eu acho que os pastores têm de cultivar um laicato em que confiem. Uma igreja forte não é aquela que, necessariamente, tem um pastor forte, mas sim, um laicato forte. Pena que haja muito pouco disso na igreja americana nestes dias.

Como as igrejas devem lidar com o próprio crescimento?

Nós não podemos definir um limite arbitrário para o tamanho da igreja. Tudo é determinado pela maneira como você planeja sua igreja. Quinhentos membros, por exemplo, me parece ser a quantidade certa. Nós construímos nossa igreja para acomodar cerca de trezentas pessoas, e em dois cultos, o que daria conta de todos. E isso funcionou. Meu filho é pastor de uma igreja nova, e, quando a comunidade chegou perto dos 300 membros, eles compraram uma propriedade enorme num local onde havia poucas igrejas. Agora, eles estão se preparando para construir um novo templo. Se construímos um galpão, teremos um depósito cheio de pessoas. Mas, se erguemos um santuário, teremos um lugar de culto e adoração que não pode ser em um galpão.

Poucos pastores usam as línguas originais e a exegese, além de uma boa hermenêutica, na preparação de seus sermões. No Brasil, em particular, boa parte dos pregadores têm insistido na necessidade de mobilizar o público com uma “mensagem arrebatadora”. Aquele tipo de pregação mais consistente está em declínio?

O modelo da pregação preparada teologicamente, com atenção às línguas bíblicas originais, está, sim, em declínio. E fico um pouco desanimado com isso. Talvez, no Brasil, a coisa seja ainda pior do que aqui. O estilo de pregador “animador de auditório”, de fato, é muito ruim. Ora, falar com voz impostada ou dar um show no púlpito não são elementos de exegese. Quando você entra em um consultório médico e algo está errado com sua saúde, você não espera que o médico grite ou leia o diagnóstico em voz alta para que o aceite logo. Então, para quê decibéis a mais na pregação?

O senhor é professor por formação e vocação e docente emérito do Regent College. Como vê o cenário da educação teológica e o que acha que há de melhor e de pior no ensino cristão hoje?

O melhor que está acontecendo – e falo aqui da América – é, provavelmente, o povo. As pessoas que estão entrando no seminárioestão mais maduras, e muitos novos obreiros chegam ao pastorado na meia-idade. Ou seja, viveram boa parte da vida em outras atividades, e percebem que ainda há algo a fazer nos anos que lhes restam – algo que faça diferença para elas e para as outras pessoas. Eu tenho um amigo que é executivo de publicidade em um escritório de Nova Iorque. Ele decidiu, por volta dos 45 anos de idade, que queria ser um pastor. Então, estudou teologia no seminário e, depois de alguns anos, foi ordenado. Ele diz que deixou de ganhar quatrocentos mil dólares por ano, contando mentiras algumas vezes, para receber cinquenta mil dizendo a verdade. Da mesma forma, muitos estão fazendo isso. É gente que está preparada para assumir grandes cortes de rendimento para fazer algo realmente significativo.

E o que há de pior?

A perda de identidade do ensino teológico. Os seminários estão tendo que adaptar seus currículos para cumprirem as exigências das associações de escolas teológicas e terem seus cursos reconhecidos. Ora, qualquer coisa imposta de fora é muito inadequada. Assim, os estudantes estão tendo que ler muito mais do que podem absorver. Então, as escolas teológicas não podem desenvolver o que sua denominação precisa ou mesmo uma estratégica e currículo próprios para lidar com os alunos que espera atrair. Vi isso acontecer na Regent e era totalmente irritante ter de pedir aos alunos que lessem coisas que não exigíamos a princípio. Enquanto isso, outras matérias importantes, como teologia, espiritualidade e história, acabam ficando em segundo plano por falta absoluta de tempo e capacidade dos alunos para absorver tanta coisa. Eu acho as imposições feitas em nome da validação dos diplomas uma coisa muito difícil de lidar.



Por que a teologia espiritual, que foca menos na especulação intelectual e mais na integração do conhecimento na vida cristã do dia a dia, está perdendo espaço?

É um enigma para mim saber por que isso acontece. Teologia espiritual não é apenas uma especialização, ou parte sem importância da teologia. É teologia vivida! Como o seminário cria um currículo teológico e consegue dar-lhe importância e sentido, sem que o aluno possa saber a verdade e passar o resto da vida sem vivê-la? O conhecimento do Evangelho e das Escrituras deve ser enfatizado e é importante, mas isso não pode ser divorciado na nossa maneira de viver ou não viver. Algumas situações vão a extremos e acabam por evitar o real encontro do aluno com Deus – a vida religiosa é uma das melhores maneiras de fazer isso. E o estudo da teologia pode dar essa falsa sensação de que podemos nos enganar pensando que temos, de fato, um encontro com Deus, quando, na verdade, estamos mesmo é precisando daquilo que pregamos. Tivemos um professor de grego e hebraico com cerca de 40 anos idade que também ensinava isso de maneira sutil. E havia mais do que eu chamaria de teologia espiritual acontecendo em seus cursos do que na maioria dos outros, simplesmente porque tudo isso era vivido por ele. Ele fez os idiomas bíblicos ganharem vida, mas também fez as Escrituras ganharem significado e sentido não apenas com a sua forma peculiar de ensinar, mas pela maneira como ele as vivia diante de todos, trabalhando com as pessoas.



No Brasil, praticamente todos os recursos teológicos, inclusive os livros disponíveis, são de origem estrangeira, principalmente dos EUA. Em sua opinião, quão importante é uma teologia com produção nacional em um país que está crescendo em importância, não só no contexto geopolítico, mas como uma potência evangélica mundial? Que tipo de influência os conhecimentos teológicos enraizados na realidade local podem ter?

É importante que os brasileiros e outros povos possam investir e desenvolver estudiosos locais, gente que viva e conheça a própria cultura. Mas em alguns aspectos, o Evangelho não é étnico. No entanto, todos podemos contribuir teologicamente uns com os outros. E todos nós somos parte da Igreja e num mundo muito cosmopolita. Então, ainda que não haja produção teológica suficiente no Brasil, minha sugestão é que se tente manter o desenvolvimento de uma teologia local. A tradução de The message [de sua autoria] está saindo agora em português. Mas eu não fiquei entusiasmado com ela, a princípio. Parecia-me que The message funcionava bem aqui nos EUA porque foi feito por alguém que é um americano, conhece o idioma americano e a cultura do país. Mas, cada linguagem tem sua forma coloquial, e nós procuramos encontrar brasileiros que conheciam bem o grego e o hebraico, além do português falado no Brasil, para obter um equivalente adequado em A mensagem.

O senhor é considerado pastor de pastores. No momento em que os pastores são muito questionados, inclusive por protagonizarem escândalos que repercutem na mídia e estereotipam a Igreja, cada vez mais crentes evitam ser chamados de evangélicos. O que fazer para contornar essa situação?

Acho que primeiro devemos estar conscientes e lidar com o fato de que ser pastor é uma modesta e humilde vocação, e não tem nada a ver com ganhar os aplausos do mundo. E, se não estamos dispostos a aceitar como colegas pessoas que são pecadores – por vezes, flagrante pecadores –, não temos muito o que fazer neste ramo de trabalho. Os escândalos são indesejáveis, muito tristes. Mas isso é parte do que significa viver em uma igreja, e eu não penso que nós possamos lavar nossas mãos desse tipo de coisa e tentar encontrar um lugar melhor que a igreja. Temos é que purificá-la, a fim de que seja um exemplo para o mundo. A Igreja é uma luz que brilha.

A pós-modernidade e os apelos da secularização têm levado muitos cristãos a deixar a igreja. Como atraí-las de volta?

Eu não fico encantado com certas estratégias para reconquistar as pessoas que um dia deixaram a igreja. E acho que muitas das pessoas que a deixam fazem-nos por boas razões, mas não estão indo para algum lugar melhor... Minha esperança é de que vão descobrir que, se há algo melhor, é o que eles deixaram para trás. Mas leva tempo para isso acontecer. Eu tenho alguns amigos pastores que estão vivendo um Evangelho vibrante em nações secularizadas como Alemanha, França ou Escócia. Nós estamos vivendo em um tempo muito difícil, e em alguns aspectos sem precedentes. Contudo, tentar reformular ou refazer o Evangelho para fazê-lo mais atraente é um equívoco. É claro que as coisas não estão indo bem. Nós estamos vivendo um momento muito difícil, e, em alguns aspectos, sem precedentes – mas Barth, que viveu em tempo semelhante, disse que somente onde há sepultura, pode haver ressurreição. Porém, precisamos fazer o melhor, nos mantendo fiéis, ainda que sejamos desprezados por sermos sal e fermento para o mundo – sabendo que apenas fazemos nosso trabalho como seguidores de Jesus. E isso não é um trabalho fascinante.

"Como pastores devemos tratar os leigos com dignidade e honrar o seu trabalho, tanto como eles honram o nosso."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

DEVEMOS NOS CONGREGAR! - POR PAULO CILAS



As estatísticas sobre pessoas “desigrejadas” estão largamente sendo produzidas e divulgadas.
São pessoas feridas e (ou) decepcionadas por mensagens e mensageiros totalmente fora do contexto Bíblicos. São pessoas que adquiriram um “produto” que não correspondeu às expectativas. Há, ainda, os evangélicos ditos fieis que só não querem compromisso denominacional ou, ainda, institucional.
Porém, excetuando os feridos inocentes penso que todos são acometidos de outro mal: O egoísmo! E esse mal tem se alastrado de várias maneiras e justificativas que Hb. 10:23-25 passa a ser totalmente ignorado, pois, deixando de congregar o indivíduo desenvolve “a sua vida Cristã” em torno de si mesmo ainda que alegue comunhão com Deus. Os exemplos registrados são deixados de lado seja de uma vez ou gradualmente.
Moises argumentando com O Senhor para que povo que lhe dava tanto trabalho permanecesse vivo - Ex.32:11 - não inspira mais. O exemplo primeiro da “Igreja que se reunia com singeleza de coração e comunhão- At. 2:46 - não é mais um alvo a ser perseguido.
É mais do que claro que devemos nos congregar, mas, devemos fazê-lo pelos motivos certos, pois, congregação exige renúncia, mas não anulação (perda de identidade tão tristemente patente em nossos dias). Exige ainda doação de tempo, capacidade, dom e até mesmo dinheiro, mas sempre dentro do contexto generoso, solidário e com liberalidade. Muitos dos “frustrados” pela igreja somente o são porque se envolveram pelos motivos errados.
Na congregação não há dominadores conforme Jesus deixou claro Lc. 22:25. Não há argumento de “apostolado, de autoridade espiritual, de unção ou visão” que possa distorcer o ensino do Mestre.
A programação na congregação é para gerar relacionamento e crescimento. Jamais para atrair “clientes” para, a seguir, fidelizá-los.
Quando nos congregamos não nos alienamos do mundo. Sabemos conversar os multitemas do mundo e da vida. A igreja não se torna um gueto vivendo de frases fabricadas. Afinal, O Senhor declara a Davi: “Não seja como o cavalo ou mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” Sl. 32:9.
Não deixemos de nos congregar então! Nos princípios do Senhor não há decepção, frustração, desânimo com vida longa. Isso porquê, “no corpo” ajudamos, consolamos, exortamos, perdoamos, amadurecemos e muitas outras coisas mais. E só vale a pena estar junto se for nesses princípios

terça-feira, 2 de agosto de 2011

ALIMENTO - POR PAULO CILAS


Depois de anos frequentando a igreja, certo homem procurou o pastor e disse: "-Olha , há anos venho a igreja pelo menos uma vez por semana - apresentou um cálculo enorme que mostrava quantos sermões já tinha ouvido - e, pastor - continuou - se eu me lembro de uns cinco, é muito! Por isso percebi que não adiantou muita coisa todo esse tempo de frequência." Diante de tal exposição o pastor faz uma pergunta meio que "nada a ver" ao tão seguro homem: "- O que você comeu no dia 07 do mês e ano em que começou a frequentar a igreja?" Sem entender onde o pastor queria chegar respondeu meio sem paciência: "- Ora, como vou saber? Como vou conseguir lembrar um negócio desse?" "-Pois bem, - continuou o pastor - você não se lembra do que comeu, mas com certeza tem consciência de que, seja lá o que tenha sido, o sustentou naquele dia".

Muitos desistem de ouvir a palavra de Deus; Alguns afirmam que já conhecem tudo, então, tudo é repetitivo. Outros partem para ouvir novidades que, por serem "inéditas", estão totalmente fora da sã doutrina. Não se pode reinventar o que já está escrito e determinado.

Verdadeiramente A Boa Palavra de Deus é imutável! Mas, incrivelmente atual e aplicável a cada momento de nossas vidas. Ela nos susteve ontem, nos sustém hoje e por certo nos susterá amanhã. O Senhor sempre fala pela Sua Palavra.

terça-feira, 12 de julho de 2011

TRECHO DE " O CAMINHO DE JESUS E OS ATALHOS DA IGREJA - POR EUGENE PETERSON


“Reino de Deus, a metáfora usada por Jesus, define o mundo em que vivemos. Vivemos num mundo onde Cristo é Rei. Se Cristo é Rei, tudo, literalmente tudo e todos, precisa ser reconcebido, reconfigurado, reorientado em direção a uma forma de vida que consista em seguir a Jesus de modo obediente. Não se trata de algo fácil. Não é possível mediante participação em uma ou duas reuniões de oração, nem inscrevendo-se para um curso de discipulado de sete lições num instituto ou na igreja, nem participando uma vez por ano de uma oração regada a café da manhã. É necessária uma total renovação de nossa imaginação, de nossa forma de enxergar as coisas: aquilo que Jesus ordenou em seu imperativo sem rodeios “Arrependam-se!”.
Os métodos e os meios fomentados e praticados no mundo são uma tentativa de substituir o reinado de Deus pela soberania humana. O mundo como tal não tem nenhum interesse em seguir o Rei crucificado. Não que não sobejem devoções da boca para fora, oferecidas em alguma altura de um espectro que varia de presidentes a pastores. Mas, quando se examina como a vida é de fato vivida, a maior parte da linguagem não passa de mera formalidade – sem nenhuma relação com o caminho no qual de fato conduzimos nossos assuntos.
Os que dentre nós se entendem como seguidores de Jesus parecem estar correndo o grande risco de abandonar os caminhos de Jesus e adotar os caminhos do mundo quando lhes dão um trabalho para realizar ou uma missão para cumprir, quando devem executar algum projeto “em nome de Jesus”. Uma vez que começamos a prestar atenção aos caminhos de Jesus, não demoramos muito para perceber que seguir a Jesus é radicalmente diferente de seguir a qualquer outro.
Se há algo de positivo que se possa afirmar sobre os métodos e os meios aprovados e recompensados neste mundo, é que eles funcionam, às vezes de forma magnífica, na obtenção de fins esplendidamente concebidos. As guerras são travadas e vencidas, acumulam-se riquezas, vencem-se eleições, vitórias são anunciadas. Mas os meios pelos quais aqueles fins foram alcançados deixam muito a desejar. No transcurso, muitas pessoas são mortas, muitos são empobrecidos, muitos casamentos são destruídos, muitas crianças são abandonadas, muitas congregações são defraudadas.
O que me preocupa é a responsabilidade dos cristãos, de cada cristão, de desenvolver uma consciência e uma naturalidade nos caminhos de Jesus à medida que nos envolvemos em nosso viver diário, seguindo a Jesus em casa e no local de trabalho, na vizinhança e na congregação, de modo que tomemos exatamente a direção que ele aponta. Quero desenvolver discernimentos que dão um “não” sem reservas nem ressalvas aos caminhos que transgridem o evangelho de Jesus Cristo.
O que espero ressaltar é a maneira indiscriminada pela qual tantos de nós abraçam e adotam os mesmos métodos e meios que Jesus rejeitou, associando-nos com o mundo nos caminhos sugeridos pelas promessas do Diabo: garantias de poder e influência, domínio e sucesso. Cada uma dessas práticas desvia a energia da comunidade de Jesus, turva o caráter inconfundível do caminho de Jesus, e (intencionalmente ou não; geralmente não) instila um elemento de desafiadora resistência às orações de milhões de cristãos que todo dia oram “Venha o teu reino”.”

terça-feira, 5 de julho de 2011

EU NÃO QUERO UPGRADE! POR MAURICIO ZÁGARI





Hoje eu entrei no Twitter e deparei-me com uma ameaça imposta numa tarja laranja, bem berrante, que dizia: “you will automatically be upgraded to New Twitter very, very soon” (ou, numa tradução livre: “seu Twitter automaticamente sofrerá um upgrade para o Novo Twitter muito, muito em breve”). Por alguns segundos fiquei ali, parado, meio estarrecido com a imposição de algo que não quero, meio decepcionado por perder uma interface que caminha comigo há dois anos e que me atende perfeitamente bem. Quando lançaram o novo twitter eu tentei usar, confesso – mas odiei. O visual é confuso, não encontrava as funcionalidades que mais usava… o caos. Estressado e meio perdido, cliquei no botão salvador que me levou de volta à segurança do meu bom e velho twitter. Ah, sim, agora eu estava em casa! Que upgrade que nada, deixem-me em paz com aquilo que funciona bem e que tem funcionado tão bem há tanto tempo!


Isso é fruto de uma mania: nossa sociedade vive a ditadura do upgrade. Meus aplicativos do iPhone vivem recebendo upgrades, toda semana tem algum. Até mesmo meu notebook tem as famigeradas “atualizações automáticas” (ou seja: upgrades que independem de eu clicar em qualquer botão) que, por diversas vezes, já causaram problemas no meu computador. Tem momentos em que tenho vontade de gritar: “Deixem-me em paz! Não preciso de mais upgrades! Deixem-me com o que funciona!”. Aí a Apple lança a versão 2.1.0.2.3.5 do Ipad e aquele meu amigo, com a gana típica da sociedade de consumo, corre à meia-noite para a fila da loja para adquirir o último modelo, antes que… Bem, antes que nada, porque se ele permanecesse com seu antigo Ipad continuaria tão feliz como antes, resolvendo sua vida tão bem como antes e jogando paciência da mesma forma que antes.


Mas fato é que vivemos numa sociedade de consumo. Se você para de consumir, as empresas param de ganhar dinheiro. Então não tem a menor importância para elas nem é vantajoso para elas que aquilo que você tem atenda perfeitamente suas necessidades: por meio da propaganda e do marketing as companhias vão te convencer de que você precisa de um upgrade, do mais recente, da novidade, caso contrário você será o mais desgraçado e anacrônico homem das cavernas. IPhone 3GS? Fala sério, seu velho! Carro modelo 2009? Ah, faca-me rir. Windows XP? Meu Deus, em que mundo você vive? (Só a título de registro, uso até hoje o Win XP e só troco sob decreto presidencial, pois essa antiga versão é bem melhor do que as que lançaram depois – os malditos upgrades).




O Upgrade Burro da Igreja


A verdade é que vivemos na era do upgrade. Que é uma era ditatorial. Se não fazemos upgrade de tudo é sinal que somos ultrapassados, múmias caquéticas de um tradicionalismo vazio, escravos de antigos pensamentos, retrógrados descontextualizados, pessoas que não querem se adaptar e falar a linguagem dos nossos dias, ortodoxos que não entendem a cultura do século 21. E esse pensamento tem invadido tsunamicamente a Igreja. E, em especial, os redutos jovens da Igreja.


O cristianismo tem 2 mil anos de vida. Nesses dois milênios tanta coisa aconteceu! Mártires deram suas vidas por Cristo, homens sinceros e tementes a Deus discutiram com firmeza e honestidade de fé as doutrinas verdadeiras da Bíblia, hereges e seus pensamentos foram deletados pelo crivo de homens conhecedores das Escrituras, pensamentos apócrifos foram derrotados pela prova do tempo, milhões de cristãos anônimos chegaram ao conhecimento da salvação pela igreja institucional e hoje nos aguardam no descanso celestial. A Igreja também errou muito, como absolutamente qualquer agrupamento ou comunidade formada por seres humanos erra: errou na Inquisição, errou nas cruzadas, errou na omissão diante do nazismo, errou com as indulgências Sim, errou, como eu erro e como você, leitor, erra. Mas vislumbrou os erros, pediu perdão publicamente por muitos deles e, com esse reconhecimento, hoje podemos não cometer os mesmos erros – cometemos novos, não os mesmos.


A comunidade de fé cristã passou por reformas, tem sobrevivido heroicamente ao câncer do liberalismo teológico, trouxe a neo-ortodoxia, conheceu o Movimento Pentecostal moderno, viveu grandes despertamentos e épocas de trevas e frieza espiritual. Hoje a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma senhora vivida, experiente, que carrega consigo a sabedoria dos séculos. E que chegou até nós oferecendo ao cristão do século 21 tesouros do conhecimento bíblico, preciosidades da vivência daqueles que testaram de tudo antes que nós sonhássemos em nascer.


A Igreja de que você faz parte hoje carrega em si o sangue dos mártires, o heroísmo dos reformadores, o conhecimento de centenas de estudiosos e pensadores, a devoção de pessoas maravilhosas, como Francisco de Assis, Teresa D’Ávila, Thomas-à-Kempis, John Wesley e outros seres humanos magníficos… Ou seja, eu e você recebemos de herança na nossa era o legado de uma Igreja que foi provada e aprovada pelos milênios, que aprendeu, feriu e foi ferida, errou, acertou e chegou cheia de cicatrizes mas também cheia de vida até nós. Uma vida insuflada pelo Espírito Santo, que fortalece, aperfeiçoa e vivifica a Noiva do Cordeiro.


Aí um dia eu acordo de manhã e descubro que estão querendo fazer um upgrade na Igreja.


Assustado, vejo grupos que querem acabar com a igreja institucional. Outros que querem legitimar uniões que a Bíblia não legitima. Olho para os lados e vejo denominações fazendo um upgrade na missão da Igreja, transformando-a de piedade em prosperidade material. “Que vida humilde que nada, a nova versão da Igreja oferece carro do ano, emprego, fortuna e fama”, promete o rótulo da caixa.


Outros ainda que acham que a versão 2.0.1.1 da Igreja está descontextualizada da nossa cultura e que por isso devemos abandonar tudo o que vivemos em 2 mil anos, vestir calças jeans rasgadas e pregar Cristo como se Ele fosse um rock star. Que devemos falar palavrões, ouvir músicas com letras questionáveis, frequentar antros onde pulula o pecado, chamando isso de “contextualização”. Mas esse upgrade que querem fazer não é contextualizar, é simplesmente transformar filé mignon espiritual em papinha de neném, porque, afinal, o mundo engole papinha com mais facilidade. Queremos dar papinha para o mundo engolir algo que nunca precisou dessas estratégias “contextualizadas” para ser engolido. Há ainda muitas outras formas de upgrade do cristianismo puro e simples, que tenta dar caras novas e funcionalidades novas para algo que funciona muito bem, obrigado, há 2 mil anos – conduzindo pessoas ao conhecimento de Cristo e à salvação de suas almas.


O upgrade do Evangelho não é a resposta. Podcasts moderninhos não vão revolucionar a pregação da Palavra. Falar e se vestir como qualquer pessoa do mundo underground não vai fazer a antiga tradição de homens de fé como Agostinho, Wesley, Whitefield, Atanásio, Bunyan e outros perder sua validade. Com todo respeito, esse é um upgrade burro. Pois simplesmente não traz nada de novo que sirva para melhorar algo antigo que estava ruim. É só uma nova embalagem, coloridinha, bonitinha, mas de um papelão bem sem qualidade. Que não soma nada vezes nada à mensagem da Cruz.


“Ah, Zágari, mas se não contextualizarmos o Evangelho as novas gerações não aceitarão Cristo”. Chego a rir quando ouço isso. Os que propõem esse upgrade se esquecem dos jovens que durante dois mil anos viveram uma vida com Cristo sem precisar de nenhuma novidade, nenhuma contextualização que fuja dos padrões ortodoxos. Os jovens metodistas de Oxford viveram a fé porque conheceram o amor de Cristo e não porque um deles pintou o cabelo de vermelho. Os morávios não glorificavam em paz o Senhor ante o risco iminente da morte porque alguém falou gírias e palavrões a eles. Os jovens cristãos que foram dilacerdados por feras no Coliseu não estavam nem aí para o que a sociedade em que viviam dizia. Os jovens pietistas, os puritanos, os monges pré-reformados, tantos e tantos, jovens e mais jovens e mais jovens viveram o cristianismo versão 1.0 por séculos sem precisar de upgrade algum. Basta ter um mínimo de conhecimento histórico para saber dissso.


Tudo o que eles tinham era a Palavra. E a pregação da Verdade. E isso ainda é tudo de que nossos jovens precisam hoje. E nada mais.


Quem não vier a Cristo pela simples proclamação do plano de salvação, meu amigo, pode ter certeza de que não virá porque no upgrade da fé ligaram pedal de distorção na guitarra, puseram pedal duplo no bumbo e falaram gírias no meio da pregação. Isso é pura criação de nicho, embalada pela lógica da sociedade de consumo. Isso mesmo. O que um ou outro líder quer fazer para encher suas igrejas e ganhar notoriedade é lançar uma versão do cristianismo com upgrade. Upgrade de prática, de discurso, de aparência, de métodos e estratégias, de liturgias, de jargões e de locais de reunião.


Upgrades que só mudam o hardware do Evangelho e não melhoram em nada o software. Pois esse não precisa de nenhuma mudança, nunca precisou e nunca vai precisar. É o que é. Sempre foi e sempre será. E sofro por ver legiões de jovens que não enxergam isso, agarrados ao desejo consumista de ter a nova versão, de conseguir o produto com upgrade, de mostrar para os amigos que não fazem parte da fé “velha” e “tradicionalista”, mas que estão na crista da onda da modernidade cristã. Que são cool. Uhu!


Uhu? Fala sério…


No dia em que meu Twitter sofrer o upgrade automático eu ficarei triste. E peço a Deus que o Evangelho nunca tenha que enfrentar nenhum upgrade. Pois Ele é o mesmo ontem, hoje e será para sempre. Se encontrar um jovem pecador, seja onde for, em que época for e em que ambiente social for, eu lhe direi: “Você é um pecador, mas Jesus Cristo morreu e ressuscitou pelos seus pecados e se você entregar sua vida a Ele hoje e passar a viver como um discípulo do Mestre ele te justificará, regenerará, adotará e te fará caminhar com Ele por toda a eternidade, numa vida de amor, justiça, paz e devoção de um ao outro”. Depois, e só depois, eu me preocuparei com esse papo de contextualização. Mas, sinceramente? Aí eu acho que isso já nem será necessário, pois, uma vez que a Palavra da Salvação é proclamada, o Espírito Santo é suficientemente capaz de salvar quem Ele quiser dentro do contexto que Ele quiser. O resto é pura invencionice humana.




Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...