quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
RESOLUÇÕES PARA 2009 - POR ED RENE KIVITZ
DEUS É FIEL- POR PAVARINI
Início de dezembro de 2007. Após uma campanha repleta de vexames, o Corinthians foi rebaixado para a série B. Torcedores de outros times, humoristas e chargistas fizeram a festa, tripudiando, rindo e faturando com a derrocada corintiana.Se a igreja evangélica fosse um time não sei qual série estaríamos disputando no campeonato. Um rápido retrospecto mostra que a seqüência de resultados ruins parece não ter fim. Da mesma forma que o rebanho cresceu, aumentaram numa escala ainda maior o número de episódios tristes envolvendo o povo de Deus. Levamos goleada na política, apanhamos no meio artístico e tomamos “chocolate” nos púlpitos, para gáudio dos torcedores intolerantes de outros times.Basta espiar a prateleira das livrarias para encontrar impressos diversos indicadores da crise que vivenciamos. Muitos títulos falam da dificuldade de se manter a fé e outros apresentam as experiências de quem optou por interromper definitivamente o relacionamento com Deus. Em revistas, jornais e sites, articulistas desfi(l)am um misto de indignação e decepção. Justíssimas, aliás.A reação dos torcedores do Corinthians diante da crise foi um tanto inusitada. Não conheço ninguém que tenha trocado de time por causa do rebaixamento. Ao contrário, a torcida passou a comparecer às partidas com mais freqüência, gerando neste ano uma receita 45% maior que em 2007. Mesmo com o time na série B, os patrocínios aumentaram 16%. Enquanto nas igrejas alguns fiéis encolhem suas contribuições e diminuem a freqüência como forma pueril de protesto, a média de público nos jogos do Timão aumentou 20% em 2008.Autor de um livro sobre o time alvinegro, o apresentador Serginho Groisman explica o que aconteceu: “Em tempos ruins, a equipe inspira pelo envolvimento da torcida”. Embalado pelo carinho e comprometimento da torcida, dos jogadores e dos dirigentes, o Corinthians voltou à série A em meio a lágrimas e momentos de emoção cuja intensidade suplantou largamente o que tem sido observado em muitos cultos. A alegria contagiou até mesmo torcedores de outras agremiações esportivas.As livrarias cristãs fazem parte tanto das agruras como das conquistas do escrete do Senhor. Em momentos de crise, literalmente graças a Deus existem medicamentos disponíveis para erradicar diversos tipos de males que têm acometido o Corpo. Profilaxia santa por meio da inspiração que o Pai tem concedido ao redor do mundo.Em contrapartida, também há nas gôndolas outros dois tipos de remédios bem comuns: os placebos – cuja ingestão não provoca nenhum tipo de benefício – e os venenos, compostos que trazem heresias disfarçadas de medicação. Infelizmente, ambos os tipos vendem bastante e acabam por complicar ainda mais a já debilitada saúde do rebanho.No âmbito da saúde, apenas os médicos podem prescrever medicamentos e as farmácias devem ter na equipe um profissional capacitado na área. Nas livrarias cristãs não é necessário o mesmo grau de aprimoramento. Contudo, é mister que todos os funcionários sempre sejam lembrados de que trabalham na esfera da eternidade. No mínimo, devem ter intimidade com a “composição química” de cada obra para indicá-las corretamente.A despeito da sucessão de confusões no meio evangélico, é certo que o Médico-mor é o grande interessado na saúde integral do rebanho. E isso por certo nada tem a ver com matizes teológicos e formas de expressão nos cultos. Somos diferentes, porém temos o mesmo adversário. Como apregoa um provérbio africano, “a união do rebanho obriga o leão a dormir com fome”.Independentemente de seu “time” doutrinário, é tempo de alçar a voz e fazer do grito da torcida alvinegra o seu mote, ainda que em meio às crises da igreja: “eu nunca vou te abandonar”.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
CRESCIMENTO DA IGREJA EVANGÉLICA E O GENUÍNO DESPERTAMENTO ESPIRITUAL 5/5- POR RUBENS RAMIRO MUZIO
CRESCIMENTO DA IGREJA E O GENUÍNO DESPERTAMENTO 4/5- POR RUBENS RAMIRO MUZIO
Atualmente, menos de 3% dos habitantes de Toronto freqüentam ativamente uma igreja evangélica e a maioria absoluta das denominações e igrejas locais continuam declinando. A história é semelhante em vários países da Europa. Não é a toa que muitos estudiosos afirmam que o eixo do cristianismo mudou-se para o hemisfério sul. A maioria dos cristãos evangélicos encontram-se na Ásia, África e América Latina.Enquanto a igreja brasileira exibe certas qualidades do avivamento como a criatividade, entusiasmo evangelístico, visível alegria, vigor espiritual, muitos cristãos não produzem frutos em palavras e atos. Sempre me impressionou a severidade com que Jesus tratou a figueira estéril. Ele amaldiçoou-a dizendo: "Nunca mais produza fruto em ti". Em João 14, o evangelista descreve a cena na qual Deus olha para a vida dos crentes com os olhos do fazendeiro que verifica a plantação em busca de frutos. As árvores frutíferas são melhoradas e aperfeiçoadas para que frutifiquem mais ainda. As árvores infrutuosas são cortadas e queimadas. Ary Velloso, meu amigo e companheiro na Sepal, costuma suspeitar quando algum não-crente lhe afirma ter um amigo ou colega evangélico. Para não incorrer no erro de assumir que a pessoa tem dado testemunho de Cristo, ele então pergunta: "seu amigo é crente mesmo ou picareta"? Este mesmo questionamento, evidenciado tantas vezes nos meios de comunicação, é resultado de igrejas que vivem um cristianismo aparentemente estéril, crentes que não produzem frutos dignos de arrependimento. Paulo chama de fruto do Espírito as virtudes do caráter descritas em Gálatas 5.22 e 23. No Salmo 1, da mesma forma que em João 14, o ser humano é comparado a uma árvore: com muitos galhos, provindos da mesma raiz. Se a seiva da raiz distribuída por entre os galhos é boa (amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, domínio próprio, fé, etc.), então o fruto será de boa qualidade. Mas se a seiva da árvore é ruim (prostituição, impurezas, lascívia, iras, discórdias, ódio, ansiedade, medos, ressentimentos, etc.), seus frutos serão mortais. Embora o fruto pareça ser igual em toda árvore e as árvores pareçam ser todas iguais - semelhantes em forma, cor, tamanho e cheiro - a diferença é percebida quando o fruto é experimentado. Isso acontece freqüentemente entre cristãos genuínos e meros religiosos. São parecidos, mas muito diferentes na essência.Esta esterilidade e falta de seiva espiritual pode estar ausente tanto das igrejas históricas como pentecostais, neo-pentecostais ou carismáticas, liberais ou conservadoras. Os pacotes e rótulos, cores e tamanhos, ministérios e programas variam de denominação para denominação. Mas a essência é a mesma: muitas folhas e poucos frutos, muitas nuvens e quase nenhuma chuva, muito evangeliquês e nenhuma santidade, muito falar e pouco fazer. Apesar do crescimento de folhas e desabrochar de flores, a esterilidade e infrutuosidade permanecem.Em o Novo Testamento fica claro que os cristãos seriam conhecidos pelos frutos das boas obras, pela vivência de um evangelho integral, pela diaconia e ação social, pelas obras de solidariedade, etc. A árvore é conhecida pelo fruto que produz (2 Pd 2.17; Lc 6:44). Jesus nunca afirmou que homens e mulheres seriam conhecidos pelas suas folhas e flores: conhecimento teórico das histórias e doutrinas bíblicas, experiências e visões espirituais, retórica e excesso de palavras, elogios, abraços, extroversão e sorrisos, ou lágrimas, entusiasmo e emoções fortes. "Pelos frutos os conhecereis", disse Jesus em Mateus 7.20-23. Nem todos aqueles que invocarem a Deus dizendo: "Senhor, Senhor", serão salvos. Nem todos aqueles que participaram das igrejas, expulsaram demônios, pregaram o evangelho, ensinaram a Bíblia, fizeram milagres, serão salvos. "Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade".Jesus sabe muito bem distinguir as árvores frutíferas daquelas que estão apenas repletas de folhas e improdutivas, mesmo que exuberantes e verdejantes. Várias vezes, as Escrituras criticam aqueles religiosos que fazem um show off de sua religiosidade. Eles são como uma nuvem que parece estar encharcada de água, mas logo se dissipa com o vento forte sem produzir a chuva necessária para a terra árida (Pv 25. 24 e Jd 4 e 12).
CRESCIMENTO DA IGREJA EO GENUÍNO DESPERTAMENTO 3/5 - RUBENS RAMIRO MUZIO
O ENFOQUE NO EMOCIONALISMO E NA EXPERIÊNCIA MÍSTICA .Tendo morado em Toronto por alguns anos, tive a oportunidade de visitar a Airport Church, uma igreja da denominação Vineyard, tão aclamada pela divulgação das conferências, unções diversas e experiências chamadas Toronto’s blessing. Muitos brasileiros foram visitá-la em busca de uma bênção especial. Será que o entusiasmo brasileiro é sinal do verdadeiro cristianismo? Será que a fé evangélica deve estar fundamentada em fenômenos, sinais e milagres? A igreja deveria centralizar suas expressões de fé nas experiências espirituais, fortes emoções, entusiasmo e sensações de calor e arrepio pelo corpo? Tudo que reluz é ouro? Fenômenos e experiências espirituais são comuns e muito variados nos períodos de avivamento e despertamento espiritual. Eles podem ser fenômenos físicos - cair prostrado, desmaiar sob a convicção do pecado, pessoas que parecem estar em transe ou inconsciente; ou fenômenos emocionais e mentais – grande alegria ou tristeza, palavras de conhecimento e profecias, capacidade de oratória, etc. Martyn Lloyd Jones (1993, 138-149), no seu livro Avivamento, destaca quatro princípios acerca dos fenômenos: 1) Deus usa os fenômenos para chamar a atenção para si mesmo e para sua obra, levando pessoas à conversão; 2) O Espírito Santo afeta e influencia a pessoa integral, podendo produzir ou não grandes emoções. Eles (os fenômenos) são um sinal que um estímulo muito poderoso está em operação. O emocionalismo, diferente das emoções espirituais, é produzido, forçado ou manipulado; 3) Eles não são essenciais ou vitais ao avivamento. Embora geralmente estejam presentes em períodos de avivamento, podemos ter um avivamento sem eles; 4) Não devemos buscar fenômenos e experiências estranhas. J. H. Moore, o homem que iniciou o avivamento na Irlanda do Norte no século XIX não gostava deles. Jonathan Edwards defendeu-os na sua maioria como vindos da parte de Deus. John Wesley e George Whitefield não gostavam muito deles e ficavam incertos sobre sua origem. O que devemos buscar é a manifestação da glória de Deus, do seu poder, da sua força. Sentimentos, freqüentemente fortes e incontroláveis, acontecem quando um homem ou uma mulher se torna um cristão verdadeiro: grande derramamento da graça e compreensão do maravilhoso amor de Deus, sentimento de ódio e pranto diante do pecado e imperfeições, o recebimento do perdão de Deus que leva à alegria e paz indizíveis, etc. Não queremos negar a importância das emoções e sentimentos, descartando-os como imaturidade, chamando-as de emocionalismo barato. Entusiasmo não é sinônimo de santidade da mesma forma que emoções fortes não garantem a presença de um cristianismo autêntico. Muitos crentes esperam pelas experiências secretas, buscando a influência das visões em seus pensamentos e idéias; eles são atraídos àquilo que Deus deseja fazer emocionalmente em suas vidas. Como a alegria que está na emoção por si só é passageira, eles precisam constantemente impulsionar o high com novas experiências (drogas?), descobertas e técnicas espirituais para voltar a sentirem-se felizes.O cristianismo não somente afeta as emoções, mas a mente das pessoas. Jonathan Edwards, pastor e filósofo, incentivador do Primeiro Despertamento Espiritual nos estados do nordeste americano, falava sobre o princípio do calor e luz. Muitos cristãos estão cheios de luz - idéias, conhecimento intelectual, doutrinas, conceitos teológicos, mas têm pouco calor. Se a fé não move as disposições para os desejos da vida e não afeta emoções é prova de que o cristianismo não é verdadeiro. A ênfase emocional produz o efeito oposto: muito calor – entusiasmo, sentimentos - e pouca luz. O fato de alguém estar emocionado com as questões da igreja não prova que ele viva um cristianismo verdadeiro. Esta ênfase no aspecto emocional da fé produz mais calor do que luz. Calor e luz precisam caminhar como parceiros no coração do cristão.As fortes emoções facilmente produzem palavras bonitas, um evangeliquês dito com facilidade. Os evangélicos aprenderam mais rapidamente a falar como crentes, do que a viver como santos. Em todo o país, igrejas demonstram um exagerado entusiasmo e vibrante emocionalismo, uma espiritualidade que demonstra extraordinário calor, inspiração e extravagantes demonstrações de paixão. Richard Lovelace (1979, p. 42) questiona a respeito dos sentimentos que consideramos espirituais por não estarem enraizados no amor próprio? Muitos celebram um falso sentimento de comunhão com Deus baseados principalmente nas emoções, arrepios e experiências humanas; frutos de uma imaginação fértil, apenas acham que Deus as ama. Por essa e outras, muitos daqueles que demonstraram calor inicial foram batizados na igreja, mas, vazios da luz de Deus, voltaram à velha vida ou simplesmente vivem uma vida vazia e fria! Neste sentido, as emoções podem mover pessoas para longe ao invés de trazê-los para perto de Deus.
CRESCIMENTO DA IGREJA EVANGÉLICA E O GENUÍNO DESPERTAMENTO ESPIRITUAL 2/5 - POR RUBENS RAMIRO MUZIO
CRESCIMENTO DA IGREJA E O GENUÍNO DESPERTAMENTO ESPIRITUAL 1/5- POR RUBENS RAMIRO MUZIO
[1] Doutor em Ministério pelo Westminster Theological Seminary com validação pela PUC-Rio eprofessor da Faculdade Teológica Sul Americana, lecionando as disciplinas na área de Teologia Prática. Email: rubens@sepal.org.br
[2] Foram realizadas 5700 entrevistas em 236 municípios brasileiros. A margem de erro máxima decorrente desse processo de amostragem é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
SERVIR: PRIVILÉGIO DE POUCOS- POR ED RENE KIVITZ
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
A BÍBLIA É UMA BABEL- POR ELIENAI CABRAL JÚNIOR
A hermenêutica evangélica da Bíblia hierarquiza o texto sagrado dividindo-o em patamares de estilo e valor: o texto normativo e o narrativo. Por ser uma escrita escorregadia, marcada pelas singularidades e obscuridades das experiências humanas, o texto narrativo precisa ser iluminado pelo texto normativo, aquele que discorre sobre Deus e doutrina a vida do crente. Sendo assim, grande parte dos evangelhos e do Livro dos Atos dos Apóstolos careceria ser interpretada com o auxílio preciso das Cartas Apostólicas. Também se sujeitariam a estes os poéticos e apocalípticos. Afinal de contas, o que fazer com o sorteio que define a vontade de Deus para a substituição no colégio apostólico, ou com a quantidade exorbitante de vinho providenciada pelo festeiro Nazareno transformando água em vinho? Os narrativos escandalizam, os normativos devolvem a ordem.
Esta compreensão hierarquizada da Bíblia já é uma “ginástica” conceitual para administrar a violência imposta à vida humana ao submetê-la a uma autoridade carente de dinamismo, à força fria do que está escrito. Os textos narrativos, maioria sugestiva da Bíblia, são repletos de ambigüidades, contradições, tensões, becos sem saída e imprecisões, porque são o retrato da vida de homens e mulheres que experimentaram Deus em épocas e culturas próprias. Da mesma forma que o discurso religioso quer sujeitar a vida ao texto bíblico, sua hermenêutica obriga-se a calar a polifonia irresistível dos textos narrativos com a mordaça dos chamados textos normativos.
Como se já não bastasse a hercúlea tarefa de arranjar a “Bíblia” de forma a maquiar suas imprecisões textuais e sua distância cultural em relação ao leitor, impõe-se ao crente arranjar sua vida de forma a encaixá-la na moldura das Escrituras, ou pelo menos dar esta impressão. Entenda o enquadramento da vida pelas Escrituras pelo que delas se compreende e se institui como fiel interpretação. Assunto com que já nos ocupamos em textos anteriores a este.
Acredito que precisamos ampliar o alcance da doutrina cristã da encarnação. O Deus que se fez gente deveria ser a mais importante chave de compreensão da Bíblia. Sendo assim, podemos entender o gesto de se esvaziar da condição acima da vida para assumir a condição humana de viver como a rendição de Deus à única realidade em que o que diz à humanidade pode fazer sentido, na vivência.
A Palavra de Deus se enche de sentido no Verbo Encarnado. O Verbo Vivo não mata a vida para se impor como doutrina. “O ladrão vem para roubar, matar e destruir”. Doutrina que não se vivencia assalta a vida. Mas a Palavra encarnada é a que vivencia radicalmente a existência humana e nela promove a vida intensamente. (Jo 10.10) O movimento divino de encarnação é um ato libertador. É negação de qualquer fala que se desconectou da vida para a sua afirmação redentora. Antes de dizer, desdizer.
Talvez por isso Jesus tenha usado com freqüência as locuções “Ouvistes o que foi dito aos antigos (…) eu, porém, vos digo que (…)” (Mt 5.22-44) Um Deus encarnado precisa dizer de novo. Reinterpretar o que sempre disse, pois fala de dentro da dinâmica existencial dos viventes. Fala com cheiro, com timbre, com cara, com batimentos cardíacos, com cultura e história, é a Raiz de Jessé, o Filho de Davi. Judeu nazareno oprimido pelos romanos. É provavelmente carpinteiro, certamente pobre. É filho de Maria, primo de João Batista. É “comilão e beberrão”. É rabi. É o filho do homem. É gente. Tem que desdizer e dizer de novo.
Acredito que foi por isso que Jesus suspendeu a prática do jejum em determinado momento, rito previsto e normatizado na Lei, negando qualquer sentido ao jejum na “presença do noivo” Como também colocou o Sábado a serviço da vida humana e a libertou de seu senhorio desastroso: o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. A vida é sagrada e não o mandamento do sábado. A Bíblia foi feita a partir da vida humana e não a vida humana a partir da Bíblia. A Bíblia sagra-se na vida.
Jesus re-significou a lei diante da mulher flagrada em adultério. A célebre pergunta “quem não tiver pecado atire a primeira pedra” seguida do perdão nada mais foi que a vida legislando sobre a Lei. Silenciou a opressão da palavra que acusa e condena e deu voz ao perdão e à esperança. Jesus é a vida se impondo sobre a letra. Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou? Tão pouco eu te condeno. Vá e abandone a vida de pecado.”
A grande pressão sofrida por Jesus, sua maior tentação, foi a de inverter a relação. Violentar a vida impondo sobre ela as regras vindas do alto. Ao que respondeu com uma metáfora. “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”. (Jo 12.24) Mesmo diante da morte previsível, Jesus se nega a jogar com outras regras que não as da vida. As únicas que poderiam produzir muito fruto. Regras acima da vida fariam a palavra de Jesus uma palavra solitária, sem sentido. A palavra encarnada na vida, inclusive na possibilidade previsível da morte, é solidária, é comunhão, são muitos frutos, tem muito sentido. O mundo é reconciliado com Deus apenas na palavra que frutifica no solo da existência humana.
É por isso que o pregador que vocifera promessas de milagre precisa deixar o púlpito e freqüentar os quartos de hospitais onde esperam pelo último suspiro centenas de enfermos. Gente que nunca experimentará a tal “fé” que produz milagres. Pela mesma razão lamento a dor, mas celebro a oportunidade de ter a companhia de pastores que experimentaram o fim do casamento. Eles sim têm o que dizer sobre a interpretação de textos bíblicos a respeito do divórcio e novo casamento. Festejo a globalização e o acesso em tempo real aos fatos do mundo, pois enquanto reclamamos de Deus um jeitinho para os nossos mínimos problemas somos também constrangidos pelos campos de refugiados em Darfur.
Não tenho dúvida de que essa necessidade de alçar o texto bíblico acima do mundo vivido é uma manobra de perpetuação de poder, ou seja, da religião instituída. Apenas a instituição teme a leveza da vida humana, sua imprevisibilidade a ameaça, seu descontrole a esvazia, sua circunstancialidade a relativiza. Por isso o texto precisa emoldurar a vida humana e confirmar a relevância da religião organizada. Não consigo parar de repetir que a Bíblia que se posiciona acima da vida é sempre a imposição de uma interpretação dela e nunca ela mesma.
A Bíblia em si mesma é a sabotagem divina à sistematização dos amantes do poder. A Bíblia é Babel. A confusão de línguas e histórias impedindo a divinização dos edifícios. Babel é a vida liberta por Deus das amarras hegemônicas dos poderosos. A Bíblia é Deus confundindo os esforços cartesianos de aprisionamento da verdade. A Bíblia é Deus libertando a vida das razões absolutizantes. A Bíblia é Deus babelizando os poderosos e espalhando a verdade por tantos viventes quantos haja. A Bíblia é tão narrativa quanto à vida. E tão desorganizada, imprevisível, imprecisa, surpreendente e contraditória quanto a vida de qualquer um de nós.
E é justamente porque a Bíblia se parece muito com a vida humana que tem muito e sempre o que dizer à humanidade. Sendo um livro essencialmente narrativo é Deus falando enquanto vivemos.
Gadamer fala da compreensão como um jogo. Um jogo dialógico e dinâmico. Como em um jogo, só se compreende bem algo, suas regras e funcionamento, a medida que é vivenciado. Aprendemos um jogo não quando lemos suas regras, mas quando o jogamos. Aí sua dinâmica é apreendida. Ninguém aprende a jogar a partir de uma manual de regras, mas a partir do jogo mesmo. Porque um jogo é muito mais que as regras de seu funcionamento. É intuição. Discernimento. Interpretação. Improviso. Imaginação. Só então as regras do jogo fazem algum sentido.
A Palavra de Deus também. Enquanto vivemos, a Bíblia pode ser compreendida na dinâmica do que experimentamos. O que diz só faz sentido a partir do que vivenciamos. O que acreditamos dizer a Bíblia como Palavra de Deus é apenas o que faz sentido na vida que experimentamos aqui e agora. O que cai no solo da existência humana e frutifica. O que promove e afirma a vida humana. “A letra mata, mas o Espírito vivifica”.
Para a vida humana, com tantas vozes e imprevisível, uma Bíblia tão falante e tão surpreendente.
sábado, 18 de outubro de 2008
O SENHOR DO LADO DE FORA - POR PAULO CILAS
Fora da cidade, fora do templo clamava, pois não havia "lugar para Sua Presença" com os Caifás e Anás religiosos e corruptos dominando os cultos, alimentando hipocrisias.
Mais tarde, encontramos uma cena triste e, muitas vezes, disfarçada, dada à nossa interpretação errada da passagem bíblica (pelo menos, minha interpretação errada, que via ali um convite ao pecador não crente para que o mesmo aceitasse a Jesus). Refiro-me à cena descrita por João, apóstolo, na carta de Jesus endereçada aos de Laodicéia: "eis que estou à porta e bato. Aquele que ouvir minha voz e abrir a porta Eu entrarei..."! Ora, a situação não é outra se não Jesus, O Senhor da Igreja, pedindo para entrar na igreja. E é fácil perceber porque Ele está do lado de fora. Leia e veja em Ap. 3: 14-20 que a igreja estava morna, causando ânsia de vômito e, agarrada às suas riquezas e capacidades, não percebia o quão miserável era.
O Senhor fora do templo, O Senhor fora da igreja! Será que temos a certeza de que o Reino está dentro de nós?
Nota. Ouvindo Ariovaldo Ramos tive melhor compreensão sobre o tema.
PENSAMENTOS - Extraído
“Deus fala o tempo todo. Nós é que não ouvimos, pois, somos barulhentos demais”
A qualidade da nossa vida espiritual esta diretamente ligada a capacidade que temos de ouvir a nós mesmos, aos outros e a Deus.
A semente precisa de tempo, escuridão, profundidade e silencio pra germinar”
“Não existem relacionamentos sem tensão”
“Desconfie de relacionamentos perfeitos, até porque, eles não existem”
“Quando você estiver diante do inexplicável, você esta diante do sagrado”
A gratidão é um sinal da graça de Deus em nós”
“Gratidão é reconhecer a bondade de Deus em toda existência e não apenas em ocasiões especiais”
A nossa humanidade é o grande projeto de Deus e ele não desistiu”
“Deus não criou nada melhor e mais belo que o ser humano”
“A humanidade é um lugar sagrado, pois, é o grande projeto de Deus”
“Todo trabalho de Deus é de convite e não de acusação”
“Nossa tendência é reverenciar os anjos e não as pessoas”
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
PECADOS SEM MALDIÇÃO- POR RICARDO GONDIM
Sincero e zeloso, sempre procurei cumprir as exigências de todas as instituições que participei. Se a igreja não permitia as mulheres cortarem o cabelo, briguei com a minha por aparar as franjas; se era pecado ir ao cinema, eu, que não aceitava essa proibição absurda, para evitar mau testemunho, viajava para longe se queria ver algum filme.
Relevei disparates, incoerências e hipocrisias eclesiásticas, porque considerava a causa de Cristo mais importante que as pessoas. Para não “escandalizar”, fazia vista grossa para comportamentos incompatíveis com a mensagem cristã.
Abraçado às instituições, acabei conivente de mercenários, alguns intencionalmente cobiçosos. Justifiquei tolices argumentando que as pessoas eram minimamente sinceras. Nem sei como me iludi a ponto de dizer: “fulano faz bobagem, muita bobagem, mas é sincero”.
Cheguei a um tempo de vida, que algumas reivindicações da religião perderam o apelo. Com tantas decepções, deixei de acreditar na pretensa santidade dos religiosos. Considero piegas as pregações de que Deus exige uma santidade perfeita. Lembro imediatamente dos malabarismos que testemunhei que tentavam falsear tantas inadequações, dos jogos de esconde-esconde para não expor demagogias.
Jesus não conviveu com gente muito certinha. Ao contrário, ele os evitava e criticava. Chamou os austeros sacerdotes de sepulcros caiados, de cegos que guiam outros cegos, de hipócritas e, o mais grave, de condenarem os prosélitos a um duplo inferno. Cristo gostava da companhia dos pecadores, que lhe pareciam mais humanos.
Jesus alistou pessoas bem difíceis para serem apóstolos; Pedro era tempestivo; Tomé, hesitante; João, vingativo; Filipe, lento em compreender; Judas, ladrão. Acostumado com os freqüentadores de sinagoga e com os doutores da Lei, por que ele não buscou seguidores nesses círculos? Talvez, não entendesse santidade e perfeição como muitos.
Jesus aceitou que uma mulher de reputação duvidosa lhe derramasse perfume; elogiou a fé de um centurião romano, adorador de ídolos; não permitiu que apedrejassem uma adúltera para perdoá-la; mostrou-se surpreso com a determinação de uma Cananéia; prometeu o paraíso para um ladrão nos estertores da morte. Sabedor das exigências da lei, por que Jesus não mediu esforços ou palavras para enaltecer gente assim? Talvez, não entendesse santidade e perfeição como muitos.
Para Jesus, santidade não significava uma simples obediência de normas. Para ele, os atos não valem o mesmo que as intenções. Adultério não se restringe a sexo, mas tem a ver com valores que podem ou não gerar uma traição.
O ódio que explode com ânsias de matar é mais grave do que o próprio homicídio. Para ele, portanto, pecado e santidade fazem parte das dimensões mais profundas do ser humano. Lá, naquele nascedouro, de onde brotam os primeiros filetes do que se transformará em um rio, forma-se o caráter. E santidade depende da estrutura do ser, com índole que gera as decisões.
Para Jesus, santidade se confunde com integridade; que deve ser compreendida como inteireza. As sombras, as faltas, as inadequações, os defeitos, bem como as luzes, as bondades, as grandezas, as virtudes, de cada um precisam ser encaradas sem medos, sem panacéias, sem eufemismos.
Deus não requer vidas perfeitinhas, pois ele sabe que a estrutura humana é pó; não exige correção absoluta, pois para isso, teria que nos converter em anjos.
As prostitutas, que souberem lidar com faltas e defeitos com inteireza, precederão os sacerdotes bem compostos, mas que vivem de varrer as faltas para debaixo dos tapetes eclesiásticos. O samaritano, que traduziu humanidade em um gesto de solidariedade, é herói de uma parábola que descreve como herdar o céu. O tempestivo Pedro, que transpirava sinceridade, recebeu as chaves do Reino de Deus. A mulher, que fora possessa de sete demônios, anuncia a alvissareira notícia da ressurreição.
Os mandamentos e a lei só serviram para mostrar que para produzir humanidade não servem os legalismos. Integridade e santidade nascem do exercício constante de confrontar suas luzes e sombras trazendo-as diante de Deus e mesmo assim saber-se amado por Ele.
Soli Deo Gloria.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
NÃO BASTA - POR PAULO CILAS
Não basta ser igreja! A palavra igreja no seu original grego referia-se a todo ajuntamento, reunião do povo para determinado fim. Umas cinco vezes, pelo menos, o termo foi usado no Novo Testamento sem ter a mínima relação com a Igreja de Jesus.
Mas também não basta ser uma igreja de um Jesus qualquer. O nome Jesus, uma forma grega de Yeshua no hebraico, era muito comum . Muitos “Jesus” existiam! É necessário então, ser Igreja de Jesus, o Cristo!
Todavia, não basta seguir a qualquer cristo. Somos alertados quanto aos falsos cristos (messias a partir do hebraico - que quer dizer ungido) que vieram e virão a surgir. A eles são atribuídos poderes e milagres, sinais e maravilhas. Ora, como saber a que “cristo” seguir? Jesus nos alerta para que quando disserem : “Eis o cristo ali ou acolá” não podemos dar ouvidos.
Por fim, não basta ser uma igreja qualquer, muito menos de um qualquer “Jesus”. E nem seguirmos os muitos “cristos”. O que basta é sabermos que Ele é muito mais! Ele é o Deus Conosco, o Príncipe da Paz, o Pai da Eternidade. Percebemos isto em nós? O Seu caráter está infundido em nós? Sentimo-nos necessitados Dele? Entendemos Seu amor? Se a resposta é sim, isto nos basta!!!
PS. Não basta está arrolado no rol de membros de uma igreja local. Basta está inscrito no LIVRO DA VIDA DO CORDEIRO!
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
VERDADE VERSUS ALUCINAÇÃO- POR RICARDO GONDIM
O culto pegava fogo. O frenesi do povo crescia, estimulado por um pastor quase grisalho, engravatado e com bastante brilhantina nos cabelos. Mesmo acostumado a ambientes pentecostais, estranhei o exagero dos gestos e das palavras. Concentrei-me para entender o que o pastor dizia em meio a tantos gritos. Percebi que ele literalmente dava ordens a Deus. Exigia que honrasse a sua Palavra e que não deixasse "nenhuma pessoa ali sem a bênção".
Enquanto os decibéis subiam, estranhei o tamanho da sua arrogância. A ousadia do líder contagiou os participantes. Todos pareciam valentes, cheios de coragem. Assombrei-me quando ouvi uma ordem vinda do púlpito: "chegou a hora de colocarmos Deus no canto da parede; vamos receber nosso milagre e exigir os nossos direitos". Foi a gota d'água. Levantei-me e fui embora.
Os ambientes religiosos neopentecostais se tornaram alucinatórios porque geram fascínio por poder e pela capacidade de criar um mundo protegido e previsível. Por se sentirem onipotentes, buscam produzir uma realidade fictícia. Para terem esse mundo hipotético, os sujeitos religiosos chegam ao cúmulo de se acharem gabaritados para comandar Deus. É próprio de a religião oferecer segurança, mas os neopentecostais buscam produzir garantia existencial com avidez.
Em seus cultos, procuram eliminar as contingências, com a imprevisibilidade dos acidentes e os contratempos do mal. Acreditam-se capazes de domesticar a vida para acabar com possibilidade dos seus filhos adoecerem, das empresas que dirigem falirem e de se safarem, caso estejam no ônibus que despenca no barranco. Almejam uma religião preventiva, que se antecipa aos solavancos da vida. Imaginam-se aptos para transformar a aventura de viver em um mar de almirante ou em um céu de brigadeiro.
Acontece que essa idéia de um mundo sem percalços não passa de alucinação. Por mais que se ore, por mais que se bata o pé dando ordens a Deus, o Eclesiastes adverte: "o que acontece com o homem bom, acontece com o pecador; o que acontece com quem faz juramentos acontece com quem teme fazê-lo" (9.2).
Mas a pergunta insiste: por que os cultos neopentecostais lotam auditórios e ganham força na mídia? Repito, pelo simples fato de prometerem aos fiéis o poder de controlar o amanhã; de eliminar os infortúnios e canalizar as bênçãos de Deus para o presente. Quando oram, pretendem gerar ambientes pretensiosamente capazes de antever quaisquer problemas para convertê-los em fortuna e felicidade.
Esta premissa deve ser contestada. Pois, pedir a Deus para nunca se contrariar, ou para ser poupado de acidentes, significa exigir que Ele coloque os seus filhos em uma bolha de aço. A vida é contingente. Tudo pode ocorrer de bom e de ruim. Uma existência sem imprevisibilidade seria maçante. O perigo da tempestade, a ameaça da doença, a eminência da morte fazem, inclusive, o dia a dia interessante.
A verdade não produz necessariamente felicidade. Verdade conduz à lucidez. O delírio, porém, tranqüiliza e gera um contentamento falso. Muitos recorrem à religião porque desejam fugir da verdade existencial e se arrasam porque a paz que a alucinação produz não se sustenta diante dos fatos.
Cedo ou tarde, a tempestade chega, o "dia mau" se impõe e o arrazoamento do religioso cai por terra. Interessante observar que Jesus nunca fez promessas mirabolantes. Como não se alinhou aos processos alienantes da religião, Jesus não garantiu um mundo seguro para os seus seguidores. Pelo contrário, avisou que os enviaria como ovelhas para o meio dos lobos e advertiu que muitos seriam entregues à morte por seus familiares. Sem qualquer rodeio, afirmou: "no mundo vocês terão aflições".
Quando o Espírito conduziu Jesus para o deserto, o Diabo lhe ofereceu uma vida segura, sem imprevistos. As três tentações foram ofertas de provisão, prevenção e poder. Ciristo, porem, as rechaçou porque eram mentiras. O mundo que o Diabo prometieu não existe.
Acontece que as pessoas preferem acreditar nas suas ilusões. Fugir da crueza da vida é uma enorme tentação. Em um primeiro momento, parece cômodo refugiar-se da realidade, negando-a. É bom acreditar que a riqueza, a saúde, a felicidade estão pertinho dos que conseguirem manipular Deus.
O mundo neopentecostal se desconectou da realidade. Seus seguidores vivem em negação. Não aceitam partilhar a sorte de todos os mortais. Confundem esperança com deslumbre, virtude com onipotência mágica, culto com manipulação de forças esotéricas e espiritualidade com narcisismo religioso.
Os sociólogos têm razão, o crescimento numérico dos evangélicos não arrefecerá nos próximos anos. O problema, entretanto, é qualitativo. Assim, o rastro de feridos e decepcionados que embarcaram nessas promessas irreais já é maior do que se imagina.
A demanda por cuidado pastoral vai aumentar. Os egressos do "avivamento evangélico" baterão na porta dos pastores perguntando: "por que Deus não me ouviu?" ou "o que fiz de errado?". Será preciso responder carinhosamente: "não houve nada de errado; Deus não lhe tratou com indiferença; você apenas alucinou sobre o mundo e misturou fé com fantasia".vv
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
ENTRE O ÉDEN E A NOVA JERUSALÉM - POR PAULO CILAS
Também não chegamos ainda à Nova Jerusalém. Isso quer dizer que aqui ainda somos, além de culpados, corruptíveis. Sim, corruptos e frágeis. E quaisquer tentativas de mudar esta realidade, de não querer enxergá-la, nos levará a frustrações dolorosas e em muitos casos na perda de nossa identidade, pois, sempre que tentamos ser o que não somos a identidade é assassinada.
Como viver então? Já que não somos mais inocentes e não temos mais lugar no Jardim, e, somos tão corruptos ao ponto de “fazermos o mal que não queremos e deixamos muitas vezes de fazer o bem que queremos”. Vamos nos acomodar? Sermos iguais aos vivem desregradamente, sem temor, sem compromisso com Deus e Sua verdade? De maneira nenhuma!
A saída para nós, penso eu, ainda que com parco entendimento, é vivermos no lamento da queda na qual perdemos a pureza, mas, sem sermos derrotados pela derrota pois, alimentamos a esperança da “corruptibilidade sendo revestida de incorruptibilidade”. Aguardamos não mais o retorno da inocência e, sim, a maturidade de escolher o bem. Bem escancaradamente revelado em Jesus. O bem que vencerá todo mal e nos devolverá a perfeição original com a qual fomos criados.
Caminho assim entre o Éden e a Nova Jerusalém. Não sendo inocente, mas desejando a virtude. Sendo corruptível, porém ansiando pelos caminhos retos, as ruas de ouro e o mar de cristal da Nova Jerusalém. A qual não teria acesso se não fosse O SANGUE INOCENTE DE JESUS!
domingo, 24 de agosto de 2008
SOBRE DEUS - RUBEM ALVES
Disseram que ele tem prazer em ver o sofrimento dos homens, tanto assim que os homens, com medo, fazem as mais absurdas promessas de sofrimento e autoflagelação para obter o seu favor. Disseram que ele se compraz em ouvir repetições sem fim de rezas, como se ele tivesse memória fraca e a reza precisasse ser repetida constantemente para que ele não se esqueça. Em nome de Deus os que se julgavam possuidores das idéias certas fizeram morrer nas fogueiras milhares de pessoas.
Mas a fonte de água cristalina ignora as indignidades que os homens lhe fizeram. Continua a jorrar água cristalina, indiferente àquilo que os homens pensam dela. Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhos, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, que não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer.
Pois é assim com Deus. Pelo menos é assim que Jesus o descreve. Deus faz o sol nascer sobre maus e bons, e a sua chuva descer sobre justos e injustos. Assim não fiquem aflitos com minhas idéias. Se eu canto não é para fazer nascer o sol. É porque sei que o sol vai nascer independentemente do meu canto. E nem se preocupem com suas idéias . Nossas idéias sobre Deus não fazem a mínima diferença para Ele. Fazem, sim, diferença para nós. Pessoas que tem idéias terríveis sobre Deus não conseguem dormir direito, são mais suscetíveis de ter infartos e são intolerantes. Pessoas que têm idéias mansas sobre Deus dormem melhor, o coração bate tranqüilo e são tolerantes.
Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação humana, Nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram sem parar, a espuma, o horizonte sem fim. Que grande mistério é o mar! Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver dificuldades leia a Cecília Meirales, Mar Absoluto. Faz tempo que, para pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas. Pense em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o mar, cheio de vida, é incontrolável. Algumas pessoas têm a ilusão que é possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério do mar… Algumas pessoas não gostam do que penso sobre Deus porque elas deixam de acreditar que suas garrafas religiosas contenham Deus…
terça-feira, 19 de agosto de 2008
SOBRE DEUS - POR RICARDO GONDIM
Sei tão somente que Ele se tornou a minha meta, o meu norte, a minha nostalgia, o meu horizonte, o meu atracadouro. Apostei o futuro em seguir os seus passos invisíveis. No dia em que o chamei de Senhor, a extensão do meu meridiano se alongou, os retalhos do meu mapa se encaixaram, caíram os tapumes da minha avenida e o ponteiro da minha bússola se imantou.
Sei tão somente que Ele se fez residente no campus dos meus pensamentos. Presente nos vôos da minha imaginação, virou um doce ponto de interrogação. Causa de toda inquietação, tornou-se a fonte de minha clarividência.
Sei tão somente que Ele se desfraldou como bandeira sobre os meus ombros. E o cilício, as purgações, os sacrifícios, tudo foi substituído por desassombro. No porão da tortura, nos suplícios achei um ambulatório. Os livros contábeis, onde se registravam meus erros, foram rasgados. As punições, suspensas. Já não fujo dele como de um Átila. Eu agora o chamo de Clemente.
Sei tão somente que Ele ardeu o delicado filamento que acende a luz dos meus olhos. Ele foi o mourão que marcou o outeiro de minha alma como um jardim. Ele é o badalo que dobra o sino do meu coração; o alforje onde guardo as memórias.
Sei tão somente que Ele me fascina quando refrata a sua luz. O encarnado dele injeta o rubor do sol em mim. Seu amarelo traz o açafrão do mundo do mistério. O roxo, a púrpura da realeza. O branco, o pratear da lua. O preto, o nanquim celestial. O azul, a safira do mistério oceânico.
O que posso dizer de Deus? Nada! Espero, tão somente, que o meu espanto expresse reverência.
Soli Deo Gloria.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Vasos de Barro - Por Paulo Cilas
Praticamente vivi minha vida no ambiente de igreja. Posso dizer com tranquilidade (minha tranquilidade) que o maior problema que observei foi e é a insana tentativa da igreja em se tornar vaso de ouro: valioso e forte. Vi muitos se definhando na tentativa de serem melhores. Vi outros tantos frustados pelo caminho por terem falhado em algum momento. Pior, talvez: vejo uma grande massa vagando como aves migratórias buscando agora aquela "igreja" que enfim vai fazê-la imbatível, definitivamente invulnerável. E eu disse pior anteriormente? Acho que me enganei. Provavelmente o pior é ter visto inúmeras vezes "gente perfeita" apedrejando os fracassados impuros, indignos de estarem juntos de uma estirpe sacrossanta.
E, enquanto a compreensão do que é ser vaso de barro não vem, vamos deixando de cumprir princípios maravilhosos da excelência de Jesus em nossa existência. Chorar com os que choram fica inviável porque temos que ensinar aos que choram palavras, declarações e meandros da doutrina para que tais não se mostrem tão frágeis, afinal, "nosso Deus é forte e o diabo já está vencido". E seguir o conselho de Paulo aos Gálatas, então? No cap.6:1 ele diz que os espirituais devem restaurar em mansidão o pecador surpreendido . Deixamos ainda de compreender a Nova Aliança, que é perfeita, já que ela está disposta sobre pelo menos duas verdades centrais: a nossa total incapacidade em cumprir as regras da Antiga Aliança e a Graça indescritível revelada em Jesus que nos aceita como somos, barro. E ainda por cima vamos criando novos rituais pelos quais consigamos nos tornar "vasos de ouro".
Mas percebo que é difícil admitir nossa fragilidade. Dói muito reconhecer limitações, mesquinharias, vontades oportunistas e interesseiras travestidas, muitas vezes, ora até mesmo de piedade em nome de Jesus, ora de autoridade espiritual. Dói assumir que mesmo "maduros",vacilamos. Para muitos isto é por demais decepcionante.
Já para outros a dificuldade reside em abrir mão da aparência sempre vitoriosa uma vez que o mercado tanto secular como religioso assim exige. Não há lugar para fracos!
Agora, não importando as razões ou a falta delas que nos impedem de enxergarmo-nos como vaso de barro, o triste é desperdiçar a riqueza do tesouro do qual Deus nos fez receptáculo. Não é de admirar o porquê que muitos rejeitam Jesus, o porquê de querermos tanto ganhar esta vida aqui. Parece que esperamos em Deus somente para esta vida. Enfim, tudo contrário ao que está escrito na Bíblia. Somos nós querendo ser vasos valiosos desprezando com isto a excelência do Senhor e o tesouro nos dado graciosamente.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Outros conselhos (in)viáveis - por Ricardo Gondim
Evite sentar na roda de quem exige rigor semântico até na hora da conversa fiada. É intolerável estar perto de quem vive a corrigir os outros. Quando alguém diz que vai à igreja, ele dispara: “a igreja somos nós, não um prédio”; quando alguém confessa que anda desanimado, tem de escutar: “mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças”. Que horror!
Apure rigorosamente todo relato de milagre. Prefira ser cético que simplório. A verdade não deve temer análises, questionamentos, suspeitas. Mas dê um passo adiante. Pergunte-se também pelas motivações. Queira saber os porquês por detrás dos relatórios de eventos fantásticos. Os exageros, os prodígios forçosos, os números “evangelásticos”, em sua esmagadora maioria, só se prestam a alimentar os músculos financeiros de algum narcisista, instituição ou agência missionária; todos ávidos para alcançar os primeiros lugares no reino de Deus.
Saiba que por trás de todo rigor moralista existe uma mente sórdida. Anote: os mais inflexíveis contra a homossexualidade lutam contra as suas próprias tendências homo-eróticas. Quem se exaspera contra os “pecados da carne” é escravo da lascívia - Jesus os chamou de sepulcros caiados. A rigidez puritana não abrandou o fogo da libido, só a adoeceu. As taras mais grotescas, como sadismo, masoquismo, pedofilia e zoofilia se proliferaram em ambientes austeros e probos. Não tenha medo dos que advogam uma sexualidade lúdica e menos insalubre.
Fuja, acovarde-se, dê o fora, encontre um escape, faça qualquer coisa, mas evite os "tapetes azuis" do poder. Se for nomeado síndico, presidente de honra da quermesse ou venerando líder da igreja, saiba que os perigos são avassaladores contra a sua alma. Abra mão de títulos. Placas de bronze ou de acrílico, diplomas e medalhas não passam de confetes, semelhantes aos do carnaval, que perdem qualquer significado na quarta-feira de cinza. Quando lhe chamarem de senhor ou senhora repita o chavão: “Senhor, só o lá de cima”; “Senhora, só a mãe de Jesus”. Depois caia na gargalhada como se tivesse contado uma grande piada.
Soli Deo Gloria.
Conselhos (in)viáveis por Ricardo Gondim
Cuidado com o comportamento. Não priorize desafios estratosféricos, tenha tempo para as pessoas. Não lute para cumprir roteiros alheios, prefira a alegria de arrepiar a pele com o afeto gratuito de gente simples. Não se satisfaça em imitar os bem sucedidos, escolha ser um caderno cheio de rabiscos mal corrigidos a uma Suma acadêmica. Não permita que as suas convicções se tornem exigentes, não se deixe suicidar por sua lucidez. Cante mesmo desafinando e dê de ombros se lhe acharem biruta. Fale sozinho. Não tenha vergonha de brigar diante do espelho, aponte o dedo e diga: “como você é ridículo”.
Cuidado com as companhias. Exile-se de seu castelo e vá ao encontro da mulher que aprendeu a voar com a elegância das aves que fogem do inverno. Seja parceiro de quem não esconde a lágrima na hora da emoção. Enlace o amigo que saiu em busca de si – ele pode ajudar a encontrar o homem que um dia você foi. Contudo, não se blinde contra o medíocre, acolha graciosamente quem lhe feriu e seja longânimo com o vil. Desça ao fosso onde jazem e peça um traço de luz para colorir suas patéticas existências.
Cuidado com os sentimentos. Abra-se para o imponderável e se atreva a viver sem apoios. Não tema a insegurança do porvir duvidoso. Arrisque-se, exponha-se. O cauteloso acaba pachorrento. Vidas bem pautadas são exemplos de pusilanimidade. Coma fruta da árvore, sem lavar; dance bolero; tente aprender judô; seja voluntário da Cruz Vermelha; compre pastel de feira-livre.
Cuidado com o tempo. Fixe o átimo ligeiro em sua retina. Torne-se um colecionador de momentos. O tempo passa como uma enxurrada, leva tudo e todos, mas não destrói o que a “alma provou e aprovou”. A mente só guarda o que lhe trouxe alegria, portanto, aprenda a transformar os espaços em catedrais, os dias em sábados, os encontros em alianças e as preces em poesia.
Aconselho tanta precaução porque a vida é frágil e fácil o caminho para a infelicidade. Antes que o coração fatigado se recuse a bater, antes que os olhos se fechem com a tristeza da morte, insisto, tome cuidado.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
BABEL E O SALMO 8 - POR PAULO CILAS
Mas o que me chamou mesmo a atenção no relato de Gn.11:1-8 é que tanto Deus como o homem têm a mesma percepção sobre a real capacidade humana. Isto fica claro em duas declarações. Homem: "façamos nosso nome famoso construindo uma torre que toque os céus"! Muitas divagações ouvi sobre como seria essa torre, seu tamanho , etc. Fato é que tal empreendimento levou a outra declaração, agora de Deus: "de agora em diante nenhum intento será impossível ao homem"!
Ora, então percebo que verdadeiramente o homem não é tão incapaz e, se Deus não intervier, ele faz coisas tremendas. Aprendo também que muitas obras profanas e "sacras"são portentosas simplesmente porque Deus as abandonou juntamente com seus idealizadores e executores. Paulo, em Rm.1:21-25,28, afirma que Deus entrega o homem àquilo que quer viver e fazer. Então é até benção quando Deus "atrapalha nossa torre". É sinal que Ele ainda se importa.
Contudo, o homem pode usar sua capacidade sem se desviar para a soberba, egoísmo e, por fim, se afastar totalmente de Deus. É aí que entra determinantemente o Salmo 8. A capacidade do homem também está clara ali. A grande diferença é o ângulo por onde o homem se vê. O salmista sabe que Deus o coroou de honra e glória e o colocou como dominador sobre tudo. A propósito, uso muito esse argumento em formaturas. Afinal, em princípio, quando nos especializamos, ficamos aptos para "dominar". Bom seria que tudo fosse em prol de todos!
Mas voltemos ao salmista. Ele também faz uma comparação: "que é o homem para que se lembre dele"! É isso! Enquanto em Babel, coroado de poder realizador, o homem quer fazer-se célebre, no salmo ele reconhece que não é nada diante da "construção" de Deus. "Ah, quando vejo os céus, obra dos teus dedos..."
Em Is. 57:15 está escrito que Deus habita em dois lugares: no lugar alto e sublime - isso, entendo, quer dizer que tudo que eu fizer: templos grandiosos, corais instrumentais e vocais, parafernália tecnológica ,ou seja , TORRES, nada, absolutamente nada chegará aos pés daquilo que O ALTO E SUBLIME SENHOR já possui. Mas, também está escrito que Ele habita com o contrito de coração. Então, podemos construir tudo isso e tudo isso ser bom, ser bênção. Se Deus habitar em nosso coração.
Por certo Deus não habitará em Babel, mas com certeza no Salmo 8.
Paulo Cilas
terça-feira, 8 de julho de 2008
FAST FOOD ESPIRITUAL - POR PAULO CILAS
Mas, vieram as consequências de uma alimentação desequilibrada . Obesidade, colesterol alto e outros efeitos igualmente perniciosos.
Lamentavelmente, a mesma sanha por soluções rápidas ou por coisas que agradem nosso olfato, visão e paladar "espirituais" nos levou para longe de hábitos realmente salutares para nossa vida espiritual. Verdadeiramente os demônios expulsos nos alegram mais que o nosso nome escrito no livro da vida. As "campanhas" tornaram-se mais fundamentais do que o aprendizado contínuo da Palavra de Deus. Os pregadores de uma nova receita (visão ou unção) ficaram imprescindíveis nas cozinhas eclesiásticas. O resultado? "Crentes" pesados demais, às vezes com muita energia, mas pouco nutriente. Muita comida, mas pouco alimento. Totalmente em desequilíbrio!
Sei que pizza ,"burguers" têm seus encantos, são até legais em algum momento. Entretanto, essencial mesmo é o cardápio do Senhor. Sempre balanceado e que jamais cede à nossa gula e preferências.
Paulo Cilas
terça-feira, 1 de julho de 2008
HÁ CONTROVÉRSIAS
ED RENE KIVTZ
EVIDÊNCIAS DE VÍCIO MENTAL
CAIO FABIO
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Frases
Uns comem o pão que o diabo amassou, outros o pão que amassou o diabo!
Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime
As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...
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Ao amanhecer o primeiro dia da semana, estando ainda meio escuro, Maria Madalena foi ao sepulcro e viu que a pedra que fechava a entrada h...
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“Venha”, respondeu ele. Então Pedro saiu do barco, andou sobre as águas e foi na direção de Jesus. Mas, quando reparou no vento, ficou ...