Gostamos de afirmações categóricas, declarações definitivas e certezas. Não gostamos de perguntas, considerações provisórias, dúvidas, debates e discussões. Gostamos de respostas prontas e critérios claramente definidos. Não gostamos de probabilidades, possibilidades e indicadores relativos. Gostamos de "isso ou aquilo". Não gostamos de "isso e aquilo". Gostamos de "certo e errado". Não gostamos de "nem certo, nem errado", apenas diferente. Deus é amor. Deus é justiça. Quando, então, devemos agir com amor, e quando devemos optar pela justiça? Exigimos: uma coisa ou outra, categoricamente, sem necessidade de interpretações. Dizer que somente a ação amorosa é justa e somente a ação justa é amorosa deixa margens para mal entendidos e, consequentemente, confusão. Melhor é escolher entre uma coisa e outra; as duas, não dá. Ou amor. Ou justiça. Talvez por isso sejam poucos os que se aventuram pelas trilhas do discipulado de Jesus. Seguir a Jesus implica abandonar o jugo da lei para buscar a justiça do reino de Deus. A justiça sempre extrapola a lei. O ser humano é complexo demais para que suas ações sejam resumidas a um conjunto de "isso pode e isso não pode". A vida é complexa demais para que tenha suas circunstâncias definidas em termos absolutos por mandamentos, regras e normas de procedimento. A vida não cabe num manual. Responda rápido: meu filho adolescente não está bem na escola. Devo ser duro na disciplina ou compreensivo nesta fase de conflitos e mudanças? Estou absolutamente convencido de algo, mas minha esposa não quer assumir riscos. Devo seguir em frente e fazer a coisa sozinho ou devo esperar um pouco mais para tentar chegar a um consenso? Meu marido não agüenta mais a pressão no trabalho. Devo encorajar que ele peça demissão e cuide de sua saúde psíquica e emocional ou devo ajudá-lo a superar essa fase difícil, lembrando a dificuldade que é arrumar um outro emprego? Meus pais se intrometem demais na educação que dou aos meus filhos. Devo ter uma conversa franca com a mamãe e arrumar uma tremenda confusão ou devo continuar pedindo ao meu marido que compreenda minha situação e administrar nosso conflito conjugal? Meu amigo me confessou um pecado. Devo contar a quem de direito e forçar a solução da situação ou devo dar a ele o tempo de que precisa para tomar providências – quanto tempo devo dar a ele? Descobri uma falcatrua na empresa. Devo colocar a boca no mundo e denunciar os colegas ou devo ficar quieto, deixando que os responsáveis cuidem do problema? Tenho um ótimo funcionário que compromete o ambiente da equipe. Devo manter o funcionário e sacrificar a equipe ou preservar a equipe e sacrificar o funcionário? Meu pai está em tratamento médico. Devo vigiar rigorosamente seus hábitos alimentares ou devo deixar que ele faça uma extravagância de vez em quando? Pois é, a vida é assim. As coisas que realmente importam não têm respostas fáceis, nem exatas, nem podem ser padronizadas em conselhos do tipo “faça sempre assim” ou “nunca faça isso”. Tomar decisões é uma arte que carece de boa consciência. E a boa consciência não é aquela que sabe, é aquela que ama. Como bem disse Santo Agostinho, “ama, e faze o que quiseres”, o que significa que quando a gente ama não existe certo e errado, certo?
ED RENE KIVTZ
ED RENE KIVTZ