sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

CRESCIMENTO DA IGREJA E O GENUÍNO DESPERTAMENTO ESPIRITUAL 1/5- POR RUBENS RAMIRO MUZIO

Nos dias 19 e 20 de março de 2007, o Datafolha [2] realizou uma pesquisa religiosa comprovando aquilo que todos nós já sabíamos: os evangélicos continuam crescendo em quase todo o Brasil: eles são 22% da população brasileira! Interessante notar que nesta pesquisa, eles foram subdivididos apenas em dois grupos: evangélicos pentecostais (17%) e evangélicos não-pentecostais (5%), o que comprova mais uma vez que a grande maioria (quase três quartos) da igreja evangélica é fruto do movimento carismático e pentecostal. A pergunta que vale um milhão de dólares (ou euros, com a desvalorização): Estamos realmente passando por um avivamento no Brasil? Será que as características e qualidades deste crescimento tipificam um genuíno avivamento? Será que este crescimento não demonstraria apenas um despertamento geral da população brasileira para as questões espirituais, decepcionada com a modernidade e suas promessas de realização e felicidade? Para responder esses questionamentos, precisaremos saber que tipo de igreja está crescendo e avaliar algumas características da espiritualidade brasileira. Inicialmente devemos reconhecer que o Espírito de Deus tem agido em muitas regiões do Brasil, aumentando a sensibilidade das pessoas, trazendo-as ao reconhecimento de suas necessidades espirituais, restaurando pessoas e transformando famílias. É inegável que multidões foram trazidas a uma nova convicção da verdade do evangelho, persuadidas a Cristo, o Filho de Deus, como o único Senhor e Salvador da humanidade. É notório que vários aspectos do avivamento estejam presentes no Brasil. Talvez este seja um tempo de colheita! Colheita, porque as terras brasileiras foram fertilizadas pelas sementes, sangue, suor e lágrimas de muitos pregadores por mais de um século, desde que os primeiros missionários chegaram ao Brasil nos idos de 1850 e elas frutificaram a cem, a sessenta e a trinta por um (Mt 13:23). Entretanto, há sinais claros de fumaça no horizonte, sinais de que nem tudo vai bem no arraial evangélico. Este artigo procura destacar algumas impressões sobre o crescimento da igreja evangélica no Brasil nas últimas décadas. São elas:1. Uma espiritualidade carnal ou uma carnalidade espiritual. A conversão ao cristianismo leva necessariamente à mudança de atitudes: velhos vícios são abandonados e uma nova linguagem é aprendida (seria o evangeliquês?). O novo convertido experimenta fortes emoções, sente o amor de Deus e entrega sua vida a Ele. Entretanto, por mais válidas e abençoadoras que sejam essas experiências espirituais, elas não demonstram conhecimento profundo da graça salvadora e da pessoa de Deus. Reverência a Deus, dedicação à igreja e fortes emoções religiosas não florescem nos campos daquela espiritualidade que é regada pela água da vida, pela alegria do Espírito e pelo amor genuíno descoberta na cruz de Jesus. Ou seja, pessoas com aparência espiritual podem estar vazias da graça de Deus.Isso faz com que muitos dos crentes, participantes das igrejas brasileiras, manifestem alguns tipos de pecados religiosos dissimulados, estilos de carnalidade com fachada de espiritualidade. É comum para aqueles que invejavam o carro importado ou a casa do colega de trabalho desejarem agora as mesmas coisas através de uma oração de posse, decretando prosperidade do Filho de Deus. Aqueles que anteriormente ambicionavam o cargo ou comissão do chefe do departamento, agora aspiram, humilde e avidamente, ao título de diácono ou a posição de liderança (pastor, bispo, apóstolo, etc.) com toda a voracidade do mercado de trabalho. Embora não exagerem mais na quantidade de bebida alcoólica (comida em excesso parece ser liberado nas igrejas, em geral) a glutonaria ambiciosa dos dons espirituais e cargos ministeriais mantém os desejos carnais bem vivos e ativos. É claro que tudo isso se disfarça com tanta sutileza passando despercebido para a maioria dos evangélicos, freqüentadores dos cultos sendo, imperceptível até mesmo para os pastores e líderes. Esses são apenas alguns exemplos do que poderia ser chamado de espiritualidade carnal ou carnalidade espiritual. Tais atitudes, embora sutis e inconscientes, corroem a comunidade cristã como câncer, devorando sua vitalidade de dentro para fora.Há uma grande quantidade de atividade religiosa no mundo energizada pela natureza humana e pelo próprio diabo. A natureza humana pode ser facilmente mascarada e encoberta pela espiritualidade das pessoas. Padrões e atitudes que aparentemente têm cara e jeito de cristianismo podem encobrir uma carnalidade nos níveis mais íntimos das intenções e desejos do coração. O próprio Jesus disse que o joio é muito parecido com o trigo (Mt 13:24-27) . Quase todos os períodos de crescimento e avivamento na história da igreja comprovam que o trigo do evangelho fora cercado pelo joio das atividades carnais e elementos enraizados nos pecados do orgulho, vaidade, impureza, divisões, soberba, lascívia, etc.Não é fácil separar o certo do errado, o bem do mal na igreja da atualidade. Por um lado, Deus está agindo imensamente em todo o Brasil, revitalizando velhas igrejas e especialmente plantando e fazendo crescer novas comunidades. Mas Satanás habilmente planta o joio no meio do trigo do avivamento, misturando o santo com o profano, bombardeando a luz do evangelho com os projéteis e mísseis das trevas, mesclando o bom leite espiritual com o café amanhecido da religiosidade (numa linguagem bem brasileira). A tarefa de arrancar o joio do meio do trigo – e separar a igreja verdadeira da artificial - é impossível aos homens, segundo Jesus.Da mesma maneira, o joio está misturado no coração de todas as pessoas. O pecado se mistura em diversas doses e combinações dentro do coração, diluindo os elementos da fé, amor e santidade, implantados após a conversão pelo Espírito Santo. Ninguém é capaz de identificar e separar completamente o que vem de Deus daquilo que vem dos próprios desejos do coração humano. Há tantas combinações entre o bem e o mal, entre virtude e vício, entre aspirações por santidade e desejos da carnalidade. Nenhum cristão pode ter certeza absoluta que suas experiências sejam puramente experiências espirituais, sem que estejam poluídas pelo pecado ou misturadas à natureza humana. Nas terras do coração, as sementes da maldade fertilizam lado a lado com as sementes da Palavra. O importante é saber regar e adubar as melhores plantas.O melhor é reconhecer humildemente as grandes semelhanças entre a espiritualidade dos religiosos e dos genuínos cristãos! Quantas vezes determinadas denominações e comunidades isolam-se dos outros grupos por considerarem-se mais espirituais, separam-se para viver em comunidades orgulhosas e egoístas! Quão difícil é separar o joio do trigo! O Deus onisciente, o conhecedor dos corações, é o único que tem prerrogativa para separar as ovelhas dos cabritos, estes para o castigo eterno, aqueles para a vida eterna (Mt 25:31-46).
[1] Doutor em Ministério pelo Westminster Theological Seminary com validação pela PUC-Rio eprofessor da Faculdade Teológica Sul Americana, lecionando as disciplinas na área de Teologia Prática. Email: rubens@sepal.org.br
[2] Foram realizadas 5700 entrevistas em 236 municípios brasileiros. A margem de erro máxima decorrente desse processo de amostragem é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.

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