segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VIOLÊNCIA PERTO DE NÓS - OSMAR LUDOVICO


Jesus Cristo escolheu morrer a nossa morte, identificando-se conosco na dor.
A nóticia do jornal foi lacônica: jovem de dezoito anos assassinado a tiros. Não foi o único homicídio na cidade naquele dia. Houve quatro ocorrências do mesmo tipo. A diferença é que eu conhecia aquele jovem. Compartilhei com ele o Evangelho, recebi-o em minha casa e o encaminhei a uma igreja. Bom menino, doce e meigo – mas, infelizmente, tinha se envolvido com drogas.

No Brasil, morrem cerca de 40 mil pessoas assassinadas por ano. A maioria são jovens moradores de grandes centros urbanos, vítimas de uma violência perversa e inconsequente. Morrem em brigas, acertos de contas, através de balas perdidas ou em confrontos com a polícia. A gente sabe disso, mas fica assustada quando acontece perto da gente. E se pergunta o que está acontecendo.
Deus, em certas abordagens atuais, parece já não ser tão relevante. E, quando aparece no discurso, a conversa é acomodada para não ferir a sensibilidade dos adeptos. Não se fala de pecado, de arrependimento, de juízo. Mandamentos, valores e crenças, outrora absolutos, são flexibilizados. Tudo é diluído para manter o projeto religioso, muitas vezes comandado por líderes que contam cabeças, mas não olham nos olhos.
Na sociedade civil, vemos a deterioração da família. O casamento já não é mais para toda vida, e as paixões iniciais não resistem ao teste da vida real no quotidiano. Filhos crescem sem os pais; a escola não forma cidadãos. Tudo tem seu preço, tudo está à venda, e o valor pessoal está nos símbolos de consumo e de status. A competição é feroz, pois construímos um mundo onde não cabem todos e muitos serão excluídos. O poder público dá mau exemplo: na corrupção e na impunidade.
O cenário internacional também não ajuda. Vivemos uma crise econômica que afeta muitos, resultante da ganância perniciosa de poucos. A perspectiva é de recessão e desemprego. Nesse cenário, nossos jovens se perdem, sem valores, sem esperança, sem ideais.
Cheguei arrasado ao cemitério. Fui um dos primeiros, e o menino estava só na capela, arrumado e florido do jeito que foi possível, pois recebera muitos tiros, inclusive no rosto. Um sentimento de derrota tomou conta do meu coração. Sentei-me ao seu lado. Eu sabia que teria que falar algo na hora do sepultamento e fiquei ali, orando e vendo as pessoas chegarem. A mãe, que esteve sempre ao seu lado; o pai, que veio de longe. Alguns amigos – gente jovem, estudantes em sua maioria; alguns adultos amigos dos pais do morto, que olhavam assustados para outros jovens, de bermudão, camisa colorida, gorro enterrado na cabeça.
Chegou a hora de falar. E eu ali, pensando: "Que vou dizer?" Respirei fundo e orei. Comecei a falar do meu coração e a partir da minha própria perplexidade. Dirigi-me especialmente aos pais. Sim, vamos invocar a Deus, pois sem ele não dá para enfrentar um momento desses. Mas, afinal, onde está Deus numa hora dessas? Lembrei-me de que Deus chora diante da morte. Cristo chorou quando seu amigo Lázaro morreu. E chorou também no Getsêmani, angustiado frente à sua própria morte. Lembrei-me de Deus, o Pai, e seu coração dilacerado, sem intervir na hora do assassinato de seu filho de trinta anos. Sim, Deus sofre com nossas mortes: ele se importa e chora. Há lágrimas de lamento e luto no céu.
Diante da sacralidade daquele momento, percebi que Jesus Cristo estava entre nós. E estava! Ele escolheu morrer a nossa morte, identificando-se conosco na dor, na tortura. Escolheu morrer uma morte cruel nas mãos de uma liderança religiosa corrupta e forças militares de ocupação perversas.
Ao morrer, ele retorna à vida e ressuscita no terceiro dia. Naquela hora do domingo, Deus dá sua resposta definitiva: o mal, a morte, o pecado e o demônio não têm a última palavra. A última palavra é dele; a vida triunfa sobre a morte!
Lembrei-me que aquele menino tinha ouvido o Evangelho e dava sinais de mudança em sua vida. E que, certamente, o Senhor teria misericórdia dele e o ressuscitará no último dia para vida eterna com ele. Fechamos então o caixão e fomos em procissão, seguindo um carro funerário até o local do sepultamento. Ao longo daqueles passos, fui renovando minha esperança.
Sepultamos o menino. E eu voltei para casa sentindo dores no corpo, como se tivesse levado uma surra. E, no fundo do meu coração, fiz um voto de continuar lutando pelo respeito à vida, envolvendo-me em ações que minimizem o mal e promovam os valores do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

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