quarta-feira, 8 de maio de 2013

ÉTICA E ESPERANÇA NA IGREJA NO BRASIL - ARIOVALDO RAMOS






" Vós não sabeis de que espírito sois. " disse Jesus em Lc 9.55, aos 

irmãos Tiago e João, que, quando perceberam que uma aldeia de Samaria se recusava a permitir a passagem de Jesus, perguntaram-lhe se gostaria que pedissem ao Pai que mandasse fogo do céu para destruir aquela vila. Jesus explicou que o filho do homem não veio para destruir o alma dos homens, mas para salvá-los. 


Jesus estava ensinando ética para os seus discípulos. O que eles sugeriram não combinava com caráter da obra, da pessoa e da natureza de Cristo. Ética é isso, a coerência entre meio e o fim. Sei que há muitas outras definições possíveis, mas, ficarei com esta, que aponta para a finalidade e a natureza como norte. O meio pode ser um pensamento, uma motivação, uma atitude, um ato, etc.. 


Tiago e João faltaram com a ética porque não entenderam quem eram, portanto, não sabiam como se portar. Porque quem não sabe quem é e para o que existe, não sabe o que pensar, que motivação deve ter ou aceitar, que atitude deve acalentar, que ação deve tomar. Jesus, ao contrário desses discípulos, sabia quem era, se chamou de o filho do homem, sabia que era o grande representante da humanidade, o modelo de gente e o único caminho para a nossa salvação. Jesus sabia, assim, exatamente, como deveria se portar em todos os sentidos.


Para falar sobre a relação entre a igreja e a ética, temos de entender o que é a igreja. A igreja é a comunhão dos seres humanos que receberam a mesma revelação que Pedro e que, portanto, adora a Jesus. A revelação que Pedro recebeu foi de que Cristo é o filho do Deus vivo, portanto, é Deus, e Deus a gente adora. Adorar a Cristo é proclamá-lo, ele, a encarnação da virtude de Deus e imitar Jesus de Nazaré. Porque o João disse que quem diz estar nele deve andar como ele andou, e Paulo disse, de si mesmo, que ele era um imitador de Cristo, e que nós deveríamos seguir seu exemplo, disse, também, que vivia para anunciá-lo. 


Assim, a igreja é a comunhão de pessoas que, individual e comunitariamente, no poder do Espírito, imitam e anunciam a Jesus de Nazaré, o Cristo, no seu dia-a-dia, em tudo o que fazem. O Cristo que a gente imita é o Cristo que habitou entre nós. Porque Paulo disse que a gente devia contemplar a glória do senhor e não o senhor da glória; e a glória do senhor é Jesus de  Nazaré, o Cristo, fazendo da vontade e comunhão com Deus a sua comida e bebida, e andando por todos os lugares fazendo o bem para todas as pessoas. 


Também, temos de nos lembrar de que, quando João estava nas regiões celestes chorando porque não havia quem pudesse tomar o livro da mão daquele que estava sentado no trono, um ancião apontou para ele o leão da tribo de Judá, porém, tudo o que ele conseguiu ver foi o Cordeiro que foi morto. O céu pode falar do leão, porém, a gente só vê o Cordeiro, se temos de imitar alguém, só podemos fazer isso em relação a alguém que a gente pode observar, e a gente vê o Cordeiro, portanto, só dá para imitar o Cordeiro. 


A espiritualidade cristã não é a do leão mas, a do Cordeiro. Isso deveria influenciar a nossa liturgia, de modo que tanto as nossas músicas como os demais movimentos litúrgicos deveriam nos mostrar o Cordeiro, que foi morto e que ressuscitou ao terceiro dia, em sua devoção ao Pai e serviço aos homens. 


A igreja também é um homem coletivo, Paulo disse que Jesus Cristo criou, nele mesmo, um Novo Homem, esse novo homem é fruto da reconciliação entre judeus e gentios. Recordemos que, para a mentalidade judaica, o mundo estava dividido em dois grupos: judeus e gentios. O que os separava era a compreensão e o relacionamento com Deus, os judeus sabiam de tudo sobre Deus e com ele tinham comunhão, os gentios, por sua vez, não tinham nada, estavam sem Deus no mundo e, portanto, sem senso de finalidade e sem esperança. Jesus Cristo ao apresentar-se a ambos como a única possibilidade de realmente se ter acesso às promessas de Deus, colocou-os numa mesma base, acabou a briga, tanto um quanto o outro precisam de Cristo para ter Deus. 


A medida que judeus e gentios vão admitindo isso, e se rendendo a Jesus, passam a formar a nova humanidade, porém, com uma diferença significativa em relação a anterior, são habitação do mesmo Espírito e passam a se amar tanto que essa unidade, o homem coletivo, fruto desse Espírito, aparece. E a imagem e semelhança da Trindade é plenamente manifestada. 


Então, viver a Igreja é fomentar o surgimento dessa comunidade que manifesta essa unidade. Isso, também, deveria dar o tom de nossa liturgia; vocês já se deram conta de quantas músicas nós cantamos enfatizando a primeira pessoa do singular, eu, eu, eu... onde está o nós?, quando vamos aprender a nos ver a partir da comunidade? 


E tem mais, a igreja também está identificada com o Reino de Deus. Em Daniel o Reino é um domínio exercido por um povo que nunca o perderá; em Apocalipse é um povo de sacerdotes que reinará sobre a terra; em João Batista o Reino exige que as pessoas se arrependam, o que vai desembocar na prática da solidariedade; na fala de Jesus, que confirma João, o Reino é um sistema onde o poder é o serviço; é um lugar que só pode ser visto do lado de dentro, pois, tanto para ver como para entrar a pessoa tem de nascer de novo, logo, só vê se entrar, então, quem viu, viu do lado de dentro; e só pode participar dele quem rompeu com tudo para viver apenas por ele; é um lugar onde só a vontade de Deus é feita; é uma realidade a ser vivida e a ser aguardada, assim como, uma mensagem a ser anunciada prioritariamente aos pobres. 


Na fala de Paulo, o Reino é um estado de alegria, paz e justiça, onde o trabalhador é o primeiro a desfrutar de seu trabalho; onde quem colheu de mais não tem sobrando e quem colheu de menos não passa necessidade, e todos trabalham para acudir ao necessitado. 


A Igreja é o povo do Reino, que o vive e o sinaliza. Ser ético, então, para a Igreja, é ser coerente na história, em meio a sociedade, com a complexidade de sua natureza e finalidade. Em que músicas, leituras e orações, mesmo, nosso compromisso como povo do reino aparece? A ética começa na liturgia, na forma como nós apresentamos o nosso culto a Deus. 


A gente é ético no contexto onde a gente vive. O nosso contexto é o Brasil, país de contrastes perversos: uma das maiores economias e um dos piores índices de distribuição dessa riqueza; uma tecnologia desenvolvida ao lado dos piores índices de alfabetização e de aquisição de cultura; uma das arquiteturas mais reconhecidas e respeitadas ao lado de um dos maiores de índices de déficit habitacional e de submoradias; um dos maiores territórios do planeta, com terras das mais férteis ao lado dos piores índices de distribuição de terra; uma das mais eficazes agriculturas ao lado da fome e da subnutrição; uma medicina das mais desenvolvidas ao lado de índices estarrecedores de mortalidade infantil. 


Temos uma das legislações mais avançadas na área dos direitos humanos ao lado de graves índices de violência contra a mulher, abuso de crianças e adolescentes e prática de tortura; um dos códigos penais de maior senso humanitário ao lado de um dos sistemas carcerários mais aviltantes e degradados; uma das democracias raciais mais celebradas ao lado de um racismo pérfido, pois, sutil, não confessado e disfarçado de problema sócio-econômico, onde o negro, cantado em prosa e verso, não consegue ser cidadão e está condenado à pobreza e a ignorância.  


Temos uma das constituições mais avançadas ao lado dos piores e mais corruptos políticos encontrados numa nação classificada entre as modernas; um dos sistemas de votação mais avançados ao lado de um processo eleitoral marcado pela preponderância do poder econômico e por vícios que perpetuam no poder uma casta de caudilhos, sistema onde se tem a obrigação do voto mas não se tem o direito de veto, onde o eleito pelo povo transforma o mandato em patrimônio pessoal e fonte de riqueza; uma cultura marcada pela criatividade ao lado de um mercado cultural colonizado e emprobecedor; um dos povos que mais confessam a existência de Deus ao lado de uma vergonhosa manipulação religiosa e de arraigadas práticas de superstição, que o tornam prisioneiro de forças malignas.


O que significa agir de forma coerente à nossa natureza e finalidade num contexto desse? 


A face mais visível e, aparentemente, a que mais cresce da igreja brasileira ao invés de denunciar a injustiça social e propor e viver uma economia solidária, passou a pregar uma teologia que sustenta a desigualdade ao afirmar que a riqueza deveria ser o alvo do crente, e que o caminho é a fé atestada pelo nível de contribuição e pela capacidade de arbitrar, por decreto, sobre o que Deus deve fazer. 


Ao invés de denunciar a miséria e a dívida do estado para com os excluídos passou a denunciar a provável pequena fé dos desgraçados; ao invés de socorrer aos enfermos, enquanto denunciava o descaso, começou a apregoar uma cura instantânea para aqueles que, com um certo tipo de fé, freqüentarem o ministério certo. 


Ao invés de combater o racismo passou a estigmatizar como maligna tudo o que se relaciona com a cultura negra, como se o demônio fosse negro e, portanto, tudo o que é negro fosse demônio.


Ao invés de denunciar a corrupção passou a fazer negociatas com sórdidos representantes da camarilha que mantém o país no subdesenvolvimento, assim como, a participar, sem restrições, do jogo político, cassando o direito político de suas ovelhas, pelo constrangimento, para que votem nos candidatos escolhidos pelos líderes; líderes que ao invés de praticarem o serviço para que se forme uma comunidade, tornaram-se caudilhos que se locupletam às custas da boa fé, de gente que apenas queria Deus. 


Líderes e que se escondem em títulos pomposos enquanto transformam a igreja numa cultura de massas fácil de manobrar; ao invés de pregar a graça que foi de modo abundante derramada através de Cristo Jesus, passaram a demandar sacrifícios acompanhados de doações cada vez mais constrangidas, para que o fiel se tornasse apto para receber a bênção desejada. 


Líderes que ao invés de promoverem a mansa espiritualidade do cordeiro, promoveram a esquizofrênica espiritualidade do leão, que tenta transformar em “já” o “ainda não” do reino, enquanto transforma o “já” do reino em “nunca”; ao invés de viverem, sinalizarem e anunciarem o reino, passaram a caçar os principados e potestades nas regiões celestiais, ora localizando e derrubando os seus postes ídolos, ora ungindo de alguma forma criativa a cidade, inaugurando o que James Houston chamou de evangelização cósmica. 


Líderes que ao invés de fomentarem o surgimento da comunidade do Reino, importaram modelos de agrupamento que aumentam a produtividade da igreja na promoção do crescimento numérico, que passou a ser aval de benção divina; ao invés de pregarem e praticarem a vitória de Cristo na cruz e na ressurreição sobre todos os agentes do mal, passaram, de um lado, a pregar uma teologia que mais infundia medo do que fé, e, de outro lado, a, segundo, o articulista  Ricardo Machado, umbandizarem as igrejas.

 

É claro que tivemos problemas éticos em outros segmentos de igreja, sim, porque Igreja Brasileira é uma categoria ideológica evocada nas generalizações; o que existe, de fato, é uma gama de Igrejas no Brasil, não estou falando das divisões denominacionais, que, aliás estão desfiguradas, mas, dos vários jeitos de ser igreja, que acabam, por se constituir em segmentos estanques entre si. 


Houve segmento que, diante dessa realidade cruel  recrudesceu o fundamentalismo legalista e alienado, outro houve que assumiu a igreja como uma empresa, sonhando também com impérios,  e passou a importar modelos de gerenciamento que a organizasse, desenvolvesse excelência ministerial, e produzisse crescimento, usando, muitas vezes, o princípio do “apartheid”; e as ovelhas foram feitas mão de obra e os pastores foram feitos gerentes de programa. 

Graças a Deus, porém, não precisamos entrar em desespero, pois, a crise na fé cristã não é o pecar é o não se arrepender. E há sinais de arrependimento. Pois há o outro lado: Jesus Cristo não diz apenas: “vós não sabeis de que espírito sois”,  diz, também: “vinde benditos de meu pai”. 


Nos vários segmentos da igreja, a resposta apareceu: pipocaram programas de ação social, creches, distribuição de cestas básicas, distribuição de alimentos para moradores de rua, entre outros. Os programas começaram assistencialistas, mas, pouco a pouco, foram se tornando mais voltados para soluções estruturais. 


Milhares de ONGs foram criadas com as mais diferentes finalidades de cunho social: escolas, casas-lar, programas de desenvolvimento comunitário, programas de alfabetização, e muito mais. Um leve mas decisivo movimento do Espírito tem se feito sentir cada vez mais, o interesse de grupos dos vários segmentos em se ajuntarem numa frente evangélica pela inclusão social. 


É crescente interesse dos jovens, pastores e leigos, no significado dessa resposta, na retomada da questão da espiritualidade, iniciada por parte do segmento da missão integral, nos fazendo revisitar a patrística, nos encorajando a repensar o fazer pelo fazer. São sinais que evidenciam esse movimento discreto mas firme do Espírito de toda a consolação, que nos está reconduzindo a coerência.  


É daqui que temos de continuar. Temos uma teologia para desenvolver, precisamos, sob essa nova ótica, repensar a teologia sistemática e a identidade protestante; temos uma espiritualidade para retomar, a espiritualidade do Cordeiro; temos uma igreja para edificar, de modo que, pelo menos nela, todas as raças e classes desapareçam dando lugar à única raça que Deus criou, a raça humana; e, com o fim das classes, todos sejam gente como gente tem de ser, à imagem de Jesus de Nazaré. 


Temos um país para influenciar, temos profecia a proferir. Precisamos refletir, a partir dessa compreensão teológica, sobre o labor político e partidário; sobre economia; sobre genética; sobre bioengenharia; sobre a globalização, sobre a chamada pós-modernidade, sobre a nova sexualidade, sobre a fermentação religiosa, sobre o desafio do Islã, sobre formas de fazer entendida a mensagem da cruz, num mundo em mutação; sobre a questão agrária e o meio ambiente; sobre a urbanização na América Latina; sobre a relação da igreja com o estado. 


Temos de retomar o movimento de missão transcultural,dentro e fora de nossas fronteiras.


Temos de nos encontrar mais, trabalhar mais juntos, abrir o círculo para que novos não só sejam atraídos, como já o estão sendo, mas, para que se sintam bem vindos e em casa. Temos um reino para viver e para manifestar. E não estamos sós: o Senhor Jesus está  onde sempre esteve, reinando sobre sua Igreja e sobre todo o universo; e o Espírito Santo está aqui, pairando sobre o caos, soprando vida, levando a Igreja que está no Brasil a um avivamento que ainda não conheceu, o avivamento que chama à história o clamor de Jesus, retratado por Lucas: “Bem aventurados os pobres porque deles é o Reino de Deus."

terça-feira, 7 de maio de 2013

O SUCESSO, SEGUNDO A BÍBLIA



Juiz federal, conferencista e escritor, William Douglas fala de seu mais recente livro, sucesso nas livrarias.

O sucesso, segundo a Bíblia
O juiz federal e conferencista William Douglas, evangélico de 45 anos, já é conhecido pelos leitores. Sua obra Como passar em provas e concursos já está na 27ª edição e tornou-se um best-seller entre os chamados concurseiros. Com sua experiência pessoal e cristã, Douglas tem lançado vários livros, muitos deles associando princípios da Bíblia e da vida cristã ao cotidiano. Coautor de As 25 leis bíblicas do sucesso (Sextante), junto com o professor Rubens Teixeira, ele está de novo na lista dos mais vendidos. Prefaciado pelo bilionário Eike Batista, o livro foi um dos 20 mais vendidos de 2012, apesar de ter sido lançado só em setembro. Membro da Igreja Batista Central de Niterói (RJ), casado e pai de três filhos, Douglas fala nesta entrevista de sua obra e do barulho gerado pela mídia.
CRISTIANISMO HOJE – Como nasceu o livro?

WILLIAM DOUGLAS – Um dos temas de minhas palestras é o sucesso profissional à luz da Bíblia. Aos poucos, fui alinhavando o roteiro do que seria um livro sobre o assunto. Quando conheci a história de vida e o currículo do Rubens Teixeira, entendi que era a pessoa ideal para fazer o livro sair do mundo das ideias e ir para o papel.
Você apresentou o projeto a editoras evangélicas?

Não. O livro tem dois objetivos distintos e bem claros: primeiro, edificar os cristãos, fazendo com que apliquem a Bíblia no seu cotidiano profissional; segundo, mostrar aos incrédulos e não religiosos o quanto a Palavra de Deus é atual e eficaz, e, com isso, mudar seus paradigmas em relação às Escrituras Sagradas. Para este segundo objetivo, era essencial que o livro não fosse publicado por uma editora evangélica, pois os leitores não religiosos ainda têm grande resistência a obras classificadas como evangélicas.
O que Eike Batista achou da obra?

Eu e Rubens queríamos para o prefácio alguém que não fosse classificado pelas pessoas como "religioso". Queríamos um profissional ou empresário de muito sucesso e claramente fora do mundo da religião. Com essas características, ninguém melhor do que Eike Batista. Ele gostou da obra e a elogiou. Creio que deve ter ficado admirado com o fato de sua visão 360 já estar toda delineada na Bíblia, dois milênios atrás...
Costuma-se dizer que o brasileiro trabalha pouco, e daí as dificuldades da maioria das pessoas. Você concorda?

Não diria que o brasileiro trabalha pouco ou muito, pois temos muitos exemplos das duas condutas. O que nos parece é que o brasileiro trabalha errado. Quem trabalha pouco fica contando com a sorte, e está cometendo um grande erro; e quem trabalha demais despreza leis bíblicas importantes, como a do descanso, e está muito equivocado também. Ambos irão pagar um preço no futuro.
As leis bíblicas do sucesso podem ser aplicadas a todos?

As leis espirituais são tão inexoráveis quanto as leis físicas da natureza, mas – por incrível que pareça – não são objeto de atenção. Isso precisa ser mais abordado nas escolas e nas igrejas. Estamos sempre colhendo o que foi plantado por nossos pais, por nós mesmos e pela sociedade. O aquecimento global é resultado de semeaduras erradas, assim como a fome, miséria e guerras. Uma explicação para tudo isso é o pecado e o distanciamento de Deus. Somos livres para escolher o que semear, mas prisioneiros das escolhas que fizermos, ao menos até começarmos a plantar diferente. E, mesmo que isso aconteça, levará algum tempo para os novos frutos, melhores, aparecerem.

domingo, 5 de maio de 2013

VIVER NÃO É PARA AMADORES - RICARDO GONDIM



Todos vivem em constante tensão. A vida é complexa, paradoxal e plena de riscos – jamais passeio despretensioso. Sem parar, todos marcham responsáveis e, ao mesmo tempo, vítimas das circunstâncias. As estradas escolhidas bifurcam. Uma simples decisão gera desdobramentos mil. Poetas, místicos e filósofos já perceberam: o siso necessário para enfrentar a aventura de viver se ramifica infinitamente. Todo instante, inédito, exige a precisão de um relojoeiro.
Viver não é para amadores. Tudo o que se faz produz ondas.  Semelhantes à pedra jogada no meio da lagoa, escolhas também se propagam em círculos concêntricos. Espalham-se. No caso da pedra, as marolas morrem na margem do lago. Com os humanos, as consequências se alastram para sempre. Ninguém tem o controle dos efeitos de suas escolhas, que se repercutirão eternamente.
Viver não é para amadores. Os pais influenciam os filhos. Tanto bondade como maldade se reproduz nas gerações. Crianças sofrem sequelas de famílias disfuncionais. Muitas, oprimidas e castradas emocionalmente, não conseguem quebrar o ciclo da disfuncionalidade.
Viver não é para amadores. Sem saber organizar desejos, a vida pode se perder em projetos irrelevantes. Sem dar sentido ao cotidiano, a existência pode patinar no tédio. Porém, quais princípios, verdades e valores servem para direcionar o cotidiano? As pressões do dia a dia têm a capacidade de destruir quem não escolhe; contudo, escolher sem cessar, cansa.
Viver não é para amadores. Os indivíduos precisam uns dos outros enquanto se magoam. O próximo pode se tornar fonte de alegria ou de frustração. Os que se isolam, empobrecem. Chega a hora de dizer basta para as decepções. Mas, não é possível resguardar-se do amigo sem perder o viço. Só vive quem não considera o outro a razão do seu inferno. O céu não é fácil, já que se torna necessário relevar as inadequações alheias. Só o longânimo tem chance de ser feliz em um mundo lotado de intolerância.
Viver não é para amadores. A existência se mostra imprevisível. Não há como controlar a história ou situar eventos futuros dentro de qualquer lógica. Por mais que religiosos prometam, filósofos pretendam e sociólogos estudem, a história não se restringe aos trilhos do destino. De repente, sempre de repente, o improvável desaloja os mais criteriosos; nessa hora, teimosia. Não vou desistir!  A viagem rumo ao porvir requer brios até dos tímidos.
Viver não é para amadores. Nunca é fácil equilibrar o lazer com o dever, o ócio com o trabalho. Muito lazer, sinônimo de tédio e muito dever, de estresse. A preguiça acompanha o ócio, e a fadiga, o trabalho. O Eclesiastes avisa sobre o tempo de todas as coisas: “tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou, tempo de cozer e tempo de rasgar, tempo de juntar e tempo de espalhar o que se juntou” – que peso viver entre acontecimentos tão contraditórios.
Viver não é para amadores. Depressão e riso, alegria e tristeza formam a história de cada um. Quem foge da tristeza acaba neurótico, em negação, à procura de um mundo ilusório. Por outro lado, quem não sabe rir termina inclemente, à caça de gente para povoar o seu purgatório.
Viver não é para amadores. O sofrimento do mundo dói muito. Crianças vasculhando monturo de lixo, bombas mutilando, epidemias arrastando milhares para um fim triste. Como achar alegria para celebrar aniversários, casamentos e formaturas? Os que se blindam para não sentir a dor universal sucumbem, cínicos. Já os inconformados com o sofrimento universal são tentados a destilar rancor quando falam e escrevem.
Viver não é para amadores. O tempo passa velozmente carregando tudo e todos. A pior angústia? Ver a areia da ampulheta e o pêndulo do relógio avisando  que o calendário escasseia. Vaidade e megalomania, ladras, espreitam em cada esquina. Alguns não se dão conta que jogam a vida fora. Valorizar o instante parece o segredo onde mora a felicidade, mas ele foge.
Viver, definitivamente, não é para amadores.
Soli Deo Gloria
fonte: site do Ricardo Gondim

CARTA A UM JOVEM DECEPCIONADO - MARCELO LEMOS NO GENIZAH


Querido Agostinho - carta a um jovem decepcionado







Querido irmão Agostinho (vou chamá-lo assim em homenagem a St. Agostinho, inspiração da fé reformada, e quem sei que o irmão tem lido...), um dos meus motivos de contentamento no Senhor é ter a oportunidade de falar a pessoas que, como eu, já sofreram sob as garras de um religião legalista, seja onde for, no Pentecostalismo ou em outro lugar. Talvez você já tenha lido uma série de cartas que escrevi a uma outra amiga, “Cartas a Lene”, na qual eu busco, com minhas limitações, explicar alguns fundamentos da fé cristã, sob a ótica da Reforma. Mas, caso não tenha lido, talvez seja interessante dar uma olhada.

Provavelmente eu não conseguiria falar de tudo que li em sua carta, até porque algumas questões são bem existenciais, e somente o Espírito Santo pode lidar com isso. Seja como for, sua carta me tocou bastante, e eu me vi nela em praticamente todas as linhas, inclusive em sua busca de conforto no ateísmo, deserto no qual eu também pisei. Felizmente, Deus mesmo revela a nós a única fonte de Esperança, que é Seu Filho. Por isso Jesus mesmo definiu a sua mensagem como “evangelho”, ou seja “boas notícias”. Mas, não era “um” evangelho qualquer, mas “O Evangelho”. Talvez saiba que esse termo já era bem conhecido no mundo antigo, e as pessoas estavam acostumadas a ele. Elas, por exemplo, poderiam utilizá-lo ao falar do fim de uma guerra, ou o retorno de um filho. Ou seja, havia vários evangelhos, várias boas noticias, como hoje também. A esperança anunciada por Cristo é algo tão maior, e tão mais sublime, que não se pode listar junto as qualquer outra noticia, seu convite aos homens é “O Evangelho”.

Bem, já naquele tempo algumas pessoas achavam que era coisa de lunático, até mesmo seus parentes duvidaram. E ainda hoje precisamos responder a essa pergunta: Cristo foi um lunático, ou era realmente o Filho de Deus? Pela fé, a mensagem de Cristo é simplesmente a coisa mais importante que um homem pode ouvir. Na verdade, é a única coisa importante, e faz compensar todo o resto. Vamos dar um olhada?

Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei. Pois desci dos céus, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia...” (João 6:37-39).

Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai” (João 10:28-29).

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valorHerança guardada nos céus para vocês que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo” (1 Pedro 1:3-5).

“Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38-39).

Quando me vi num beco sem saída, quase me largando por mera indecisão nos braços do agnosticismo, foram essas palavras que me salvaram. O Espírito Santo simplesmente disse: “Haja luz!”, e eu me lançei nos braços de Cristo. Hoje chega a ser divertido lembrar da sensação de pensar: “Meu Deus! Como eu não vi isso antes! Quanto tempo eu perdi?”. Foi uma experiência realmente marcante. Para um jovem que cresceu cultivando um medo monstruoso de Deus, e para quem a salvação era conquistada como que por meio de barganhas infindáveis com o Inatingível, quando entendi que “Aquele que nem mesmo seu próprio Filho poupou, ao invés disso, o entregou em nosso favor, como não nos dará também com ele todas as coisas? Se é Deus quem os declara justificados, quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?” (Romanos 8.32.33). Você assistiu ao filme um “Um Grito de Liberdade”? O filme é baseado numa história real, acontecida na Africa do Sul, e conta a corrida desesperada de um homem para fugir do regime que iria matá-lo. É simplesmente desesperador. Contudo, no fim, o herói, já quase desiludido, sem forças, praticamente resignado a aceitar o fim inevitável, levanta os olhos e o que vê? Seus olhos encaram um lindo horizonte, e sua alma se embrigada com o cheiro da Liberdade... Aquele fugitivo condenado era eu, e também você.

Algo muito parecido relata o grande reformador Lutero. Assim como muitos evangélicos de nosso tempo, o monge agostiniano vivia atemorizado, cercado por uma religiosidade popular que sufocava a graça do Evangelho, e fazia com que ele constantemente duvidasse de sua própria salvação. Sempre me impressiono ao pensar nisso, e lembrar que existe uma semelhança incrível entre a ignorância daqueles dias com a de hoje. O pior é que os evangélicos de hoje deveriam defender o que herdaram de Lutero, não é mesmo? Voltemos ao relado de Lutero; sua conversão também foi um sonoro Grito de Liberdade:

Minha situação era que, apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam satisfazê-lo... Noite e dia eu ponderava, até que via conexão entre a justiça de Deus e a afirmação de que ‘o justo viverá pela sua fé’. Então, entendi que a justiça de Deus é a retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão desta descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo tornou-se  para mim, o portão para o Céu”.

Assim como hoje, nos dias de Lutero as pessoas lutavam com uma visão equivocada do Evangelho, e uma noção incompleta da Graça, e da justificação, enfim. Gosto de um caso ocorrido com o reformador, que já contei aqui no blog num artigo que escreve para outra pessoa, no qual um senhora escreve a Lutero, desesperada querendo saber se poderia ter certeza da sua salvação. A resposta de Lutero para Barbara Lisskirchen é maravilhosa, mas infelizmente não a vemos na maioria dos púlpitos de hoje!

A mais sublime de todas as ordens de Deus é esta, que mantenhamos diante de nossos olhos a imagem de seu Filho querido, nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os dias ele deve ser nosso excelente espelho, no qual contemplamos o quanto Deus nos ama e quão bem, em sua infinita bondade, ele cuidou de nós ao dar seu Filho amado por nós. Desse modo, eu digo, e de nenhum outro, um homem aprende a lidar adequadamente com a questão da predestinação. Será evidente que você crê em Cristo. Se você crê, então será chamada. E, se é chamada, então muito certamente está predestinada. Não deixe que esse espelho e trono de graça seja quebrado diante de seus olhos [...] Contemple o Cristo dado por nós. Então, se Deus desejar, você se sentirá melhor”.

Não faz sentido que aquele que crê em Cristo se perca em especulações infindáveis. A Bíblia ordena que creia, e ele crê. Você crê em Cristo? Pergunta Lutero. Se a resposta é positiva, então estás salvo! Parece bom de mais para ser verdade, eu pensava! Mas é simplesmente a linguagem da própria Escritura!
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; (Efésios 2:8-9)

Quem nEle crê não é condenado; ... (João 3:18)

... os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. (Rom 8:28-30)
Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.” (2Tm 2:13)

Infelizmente, e mais uma vez voltamos à mesma tecla, o evangelho de muitos hoje passa longe disso. Estamos sendo constantemente avaliados quanto aos bens que possuímos, os jejuns que fazemos, o estilo musical que preferimos, quantos dons temos, se falamos ou não “em línguas”, se fomos batizados num rio ou numa banheira, e assim por diante. Mas tudo que o Evangelho diz é: “Creia no Senhor Jesus, e serás salvo!”Ainda que o nova vida implique, por natureza, em muitas mudanças e transformações, ela não precisa de nada além da fé para começar. Ela só precisa que alguém, por mais pecador possa ser, creia que Jesus é o Salvador. Qualquer um que tenha fé em Cristo, será salvo.

Existe um certa tentação ao escrever estas linhas a você, Agostinho. Eu poderia apontar os abusos da Igreja dita “evangélica” em nosso País, ou desmandos pastorais, a hipocrisia de muitos fiéis, o legalismo de quase todas as pregações. Mas que fruto isso lhe traria? Mais decepção? Mais uma dose em sua taça de desengano, talvez? Como isso seria aquém do Evangelho! Porque ainda que você um dia venha a perder toda sua esperança, em todas as coisas ao seu redor, a uma única boia você precisa estar agarrado: “Quem nEle crê não é condenado; ...” (João 3:18).

Meu conselho é que você leia cada uma dessas passagens, duas ou três vezes, ou quantas vezes achar necessário para digerir o quanto são incrivelmente cheias de segurança e certeza. Ao ler, dobre seus joelhos e pergunte a Deus se essas palavras são verdadeiras. “Senhor, mostre-me se essas palavras são verdadeiras!” Eu vou orar por você, e com você. Nessa primeira semana de Maio inteira, sempre as 00:00. Pode escolher outro horário se quiser. Leia e faça essa oração quantas vezes precisar. Se quiser, pode terminar sua oração com o Kyrie Eleison, uma das orações mais antigas da Igreja: Senhor, tem misericórdia de mim! Cristo, tem misericórdia de mim! Senhor, tem misericórdia de mim”.

Não sei quando vai acontecer, talvez agora mesmo, mas você fará essa oração a Deus:

“Cristo, conheço meus pecados, o Senhor também; conheço minhas duvidas, o Senhor também; mas sua palavra disse que qualquer um que crer em Ti será salvo. Senhor, creio em Ti. Senhor, tem misericórdia de mim! Cristo, tem misericórdia de mim! Senhor, tem misericórdia de mim. Senhor, creio em Ti!.

Essa fé é a única esperança para a minha alma, e para a sua também. Amém.




Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

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