segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

DE OCUPAÇÕES E PAGANISMOS - POR PAULO CILAS


Natal! Encenações teatrais nas igrejas - participei de muitas quando criança - e uma mensagem ficou gravada em mim e que somente mais tarde iria entendê-la de outra maneira. Antes de mencioná-la devo dizer que ainda não identifiquei a origem do engano. Se alguém pregou equivocado ou entendi tudo errado mesmo. Mas, fato é que para mim toda vez que era citada a peregrinação de José e Maria em Belém buscando um lugar aonde então Jesus nasceria os donos das hospedarias os rejeitavam. Eu até imaginava as caras fechadas e o ar de desprezo. Contudo, descobri que na verdade não houve rejeição alguma. O que houve mesmo foi a falta de lugar. Talvez, para você isso já seja por demais sabido, mas, para mim foi uma novidade esclarecedora e facilmente aplicável aos dias de hoje. Sim, com algumas exceções, a maioria não rejeita Jesus. A maioria está ocupada demais para dar lugar a ELE. Dizer que o "mundo" rejeita O Senhor é fácil para nós. Agora, afirmar que nós “crentes” não temos dado lugar a ELE é difícil. Há ocupações demais, há concorrência generalizada entre igrejas, há novos métodos que exigem muita didática para serem implementados. Enfim, nos ocupamos em fazer coisas “na obra” que deixamos os princípios simples de Jesus de lado. E isto é perfeitamente visto para os querem ver. É perfeitamente ouvido para os que querem ouvir. Os ocupados demais, seja no mundo secular ou na “igreja”, continuarão sem ter lugar para “O GRANDE REI NASCIDO TÃO POBREMENTE”.
Mas, o natal deixou de ser comemorado ou simplesmente lembrado em muitas igrejas. É que de um tempo para ca descobriu-se que a festa é “paganismo puro.” E no lugar de “paganismo” foram instituídas as festas ultrapassadas judaicas. Aquilo que na Bíblia é chamado de sombras voltou a ter luz própria. Ou melhor, luz não tão própria assim, pois, na verdade tudo começa quando alguém tem uma particular interpretação da Bíblia- coisa que a própria Bíblia desaconselha- e dirige os holofotes artificiais para a dita interpretação. Como muitos estão ocupados demais para lerem e examinarem as escrituras, como faziam os bereianos At. 17:11, facilmente aceitam as “coisas prontas” com status de revelação espiritual. Aliás, já temos de volta os “levitas” e os sacerdotes que, claro, não se intitulam assim mas, na prática se colocam entre povo e Deus dizendo que têm tudo que o povo precisa e, que, o que o povo precisa em primeiro lugar é obedecê-los.
Eis um fato que exemplifica bem o que acabo de dizer:
Um membro da igreja da qual faço parte conheceu um membro de uma igreja que abolira o natal. E tal membro passou a mostrar o texto Bíblico onde seu pastor embasou esse ensino. Era Is. 44:14-17. O diálogo que veio a seguir seria de rir se não fosse de chorar:
“Leia para mim o texto que seu pastor usou.” A outra pessoa, detonando a árvore de natal, passou a ler em voz alta: ... Tais árvores servem ao homem para queimar, com parte assa o pão e com parte faz um ídolo... Ela mesma interrompe a leitura e diz: “Aqui não está dizendo nada do que o pastor ensinou. É tudo diferente, mas, quando ele falou parecia ter sentido!”
É de chorar o quanto as pessoas se entregam a ensinos sem fundamento. Rearranjos de frases, palavras isoladas e sentenças veterotestamentárias ganhando lugar de destaque em detrimento do evangelho libertador de Cristo.
Não tenho dúvida nenhuma: Não chamo de impuro o que Senhor purificou: Se o dia de natal faz brotar afetos entranháveis, amém! Sei que Jesus não nasceu em 25/12, mas, tenho certeza que O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Amém!
Também tem o seguinte: Se formos levar tudo a “ferro e fogo”- como é a escolha de muitos que desprezam com suas crenças ultrapassadas judaizantes a Graça de Jesus- não teremos mais bolos de aniversário, velinhas assopradas e apetrechos diversos usados pelas noivas. “Tudo é paganismo”.
Prefiro ficar com o apóstolo Paulo quando fala em Atenas: "Então,Paulo, levantando-se no meio do areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque passando e vendo os objetos de vosso culto, encontrei um altar no qual está escrito: Ao deus desconhecido. Pois este que adorais sem conhecer é precisamente que eu vos anuncio." Veja que Paulo não se deteve aos outros altares e seus deuses. Ele aproveitou a oportunidade para falar do Senhor. Conheço gente que arrumaria um escarcéu repreendendo demônios de tudo quanto é cor e raça. Paulo só falou dO Deus criador de todas as coisas e de Jesus. Tudo está em Atos 17: 16-34.
E, se Paulo se revoltava interiormente com a idolatria, não fazia disso sua base de pregação, antes, até citava os poetas atenienses que faziam referências AO DEUS DESCONHECIDO.
Tenha um bom ano!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

HISTORINHAS


Certo pregador foi a uma vila interiorana onde há muito não se realizava um “culto” e passou o dia convidando toda a população local para uma reunião que prontamente dizia que estaria lá na hora e lugar combinados.
Mas, lá pela seis da tarde, caiu um pé d’água daqueles. E a chuvarada entrou pela noite.
Sete e meia, o pregador ressabiado olha e ver apenas um homem, bem estilo de trabalhador do campo, sentado no último banco do salão. Espera... Oito da noite e só aquele mesmo homem. Sentado e impassível.
Percebendo que ninguém mais viria o frustrado pregador se aproxima e diz:
"Bem, meu irmão! A chuva atrapalhou os outros. Eu vou fazer uma oração pelo senhor e marco outro dia para pregar. O que o irmão acha?" De maneira peculiar o único ouvinte respondeu:
“Óia, seu pregadô. Dessas coisa de falação eu não inteno nada não sinhô. Meu negócio é os animar. Lá, no meu pedacim de chão, quando da a hora de alimentar a criação eu vô pro cocho. Quando vem a bichada toda eu dô de comer a todos. Quando vem um só, ponho ração pra um só e ele fica todo feliz! Mas, desse troço de pregação, de falação eu não inteno nada não sinhô!”

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Outra vez, um famoso ator teatral foi visitar sua terra natal. Lugarejo simples que, como muitos, parece ter parado tempo. A gente simples do local logo se reuniu na praça da matriz para receber e ouvir, tomada de orgulho, o seu importante conterrâneo.
Palco armado, a ilustre visita põe-se a falar de sua trajetória intercalando com declamações de autores famosos que, obviamente, a maioria absoluta nunca ouviu falar.
Contudo, tomada pela arte e técnica do ator a multidão irrompia em aplausos que pareciam não ter fim. Ele, tomado por orgulho, mais e mais interpretava e mais e mais se exaltava ante a aclamação popular.
Não satisfeito com tudo que acontecia resolveu fazer um desafio:
“Eu vou declamar um salmo muito conhecido e, depois chamarei um de vocês para também declamar o mesmo salmo. E começou com impostação de voz impecável:
O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará... Ao fim, a platéia não se agüentava em si entre gritos e palmas. Ele, então, perguntou quem gostaria de recitar o mesmo salmo 23. Um senhor de meia idade se prontificou e com voz insegura, dadas as circunstâncias, conseguiu ir até o fim, até as últimas palavras: ... “E habitarei na casa do Senhor por longos dias!” Silêncio, choros sentidos e muitas, muitas cabeças baixas.
Acostumado aos grandes públicos e suas reações o ator pergunta ao homem o porquê daquela reação. Ouviu a seguinte resposta:
"Eles o aplaudiram porque o senhor é muito bom em sua arte e conhece bem o salmo do bom pastor. Já eu (pausa longa e reflexiva)... Eu não tenho o seu talento, mas, tenho conhecido O BOM PASTOR DO SALMO!"

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A ORIGEM DAS ESPÉCIES SEGUNDO AGOSTINHO - POR ALISTER McGRATH


Para o bispo de Hipona, o relato bíblico da Criação expressa a potencialidade dinâmica da obra divina.
No ano que marca o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de seu célebre livro A origem das espécies, muitos debates acerca da obra do naturalista britânico têm ganhado corpo. Para inúmeros estudiosos, o darwinismo, baseado na concepção da aleatoriedade do surgimento da vida e em sua capacidade de evoluir, eleva-se da categoria de simples teoria científica para uma verdadeira visão de mundo, forma de ver a realidade que exclui Deus permanentemente. Já outros reagem fortemente contra os apologistas do secularismo. O ateísmo, eles argumentam, tem usado teorias científicas como armas em sua guerra contra a religião. Eles também temem que as interpretações bíblicas estejam se adaptando às teorias científicas modernas. Certamente, dizem, a Criação narrada em Gênesis deve ser interpretada literalmente, como um relato histórico do que realmente aconteceu. Por outro lado, muitos evangélicos de hoje temem que os modernistas abandonem a longa tradição de uma exegese bíblica fiel. Eles dizem que a Igreja sempre tratou o relato da Criação como uma história clara do surgimento das coisas. Entre os dois extremos, a autoridade das Escrituras parece estar em jogo.

O aniversário de Darwin é um convite a olhar o assunto em perspectiva. Afinal de contas, desde que ele formulou suas teses após a épica viagem a bordo do navio Beagle, muita coisa mudou – no entanto, o evolucionismo continua sendo a tese mais universalmente aceita para explicar o surgimento da vida no planeta. E o relato bíblico da Criação, que durante séculos a fio embasou qualquer estudo acerca do tema, tem sido constantemente posto em xeque não apenas pela modernidade, mas por muitos estudiosos cristãos, que enxergam ali muito mais um compêndio religioso do que uma narrativa confiável. Na história da Igreja, o assunto sempre suscitou controvérsia, e a mera aceitação da literalidade bíblica em relação às origens sempre foi questionada. O teólogo, professor e bispo Agostinho de Hipona (354-430), embora tenha interpretado a Escritura mil anos antes da Revolução Científica, não tinha problemas em relação às controvérsias sobre as origens. O mais marcante em sua trajetória é que ele não comprometeu a interpretação bíblica para acomodá-la às teorias vigentes em seu tempo. Para Agostinho, o mais importante era deixar a Bíblia falar por si mesma.

Há pelo menos quatro pontos nos seus escritos em que tenta desenvolver um relato sistemático de como aquela passagem deve ser entendida – e cada um é sutilmente diferente um do outro. Em O significado literal de Gênesis, comentário escrito durante quatorze anos no início do século 5, Agostinho deixa clara sua crença de que Deus trouxe todas as coisas à existência em um só momento, ainda que a ordem criada não seja estática. Ou seja, o Criador teria dotado as criaturas com capacidade de desenvolvimento, como uma semente, cuja vida está contida em si, mas só se desenvolve e cresce no momento certo. Usando uma linguagem mais técnica, Agostinho incita seus leitores a pensar sobre a ordem criada como algo que contém casualidades divinas ocultas que só emergirão futuramente. É que até aquele momento o bispo não tinha noção de acaso ou de mudanças arbitrárias na obra divina. O desenvolvimento da Criação está sempre sujeito à soberana providência de Deus, que não apenas cria a semente, como direciona o tempo e o lugar do seu crescimento.

Agostinho argumenta que o primeiro relato sobre a Criação não pode ser interpretado isoladamente, mas deve ser entendido ao longo da segunda parte, descrita em Gênesis 2.4-25, e também por qualquer outra narração sobre o tema nas Escrituras. Por exemplo, ele sugere que o Salmo 33.6-9 – cujo resumo é “Pois ele falou, e tudo se fez” – menciona a origem instantânea do mundo através da palavra criadora de Deus, enquanto o texto de João 5.17 (onde Jesus diz “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”) aponta que o Senhor ainda está agindo na Criação. Além disso, ele enfatiza que uma leitura detalhada dos primeiros textos bíblicos aponta que os seis dias da Criação não são períodos cronológicos delimitados, e sim, uma forma de categorizar o trabalho criador de Deus. Em síntese, Agostinho cria que o Senhor criou o mundo em um instante a partir de sua vontade, mas continua a moldá-lo, mesmo hoje em dia.

O bispo de Hipona estava preocupado de que os intérpretes estivessem fechados às novidades cientificas quando liam a Bíblia, fato que gerou conflitos mais de dez séculos depois, quando Copérnico desafiou a crença tradicional de que o Sol é que girava em torno da Terra, e não o contrário. O detalhe é que, em pleno século 16, a Igreja interpretou a teoria heliocêntrica como um desafio para a autoridade da Bíblia. Não era, com certeza, e constituiu-se em mais um desafio para que se interpretasse a Palavra de Deus de maneira mais ampla – uma interpretação com urgente e constante necessidade de revisão. Já no seu tempo, Agostinho preconizava que algumas passagens bíblicas estão abertas para diversas interpretações e não devem se casar com as predominantes teorias científicas. Por outro lado, a Bíblia se torna prisioneira do que um dia foi considerado uma verdade cientifica: em assuntos tão obscuros e distantes da nossa visão, nós encontramos nas Sagradas Escrituras passagens que podem ter várias interpretações sem que a fé que um dia recebemos seja prejudicada.

Essa aproximação de Agostinho fez com que teólogos não caíssem numa visão pré-científica do mundo, e o ajudou a não se comprometer em face das pressões culturais, que eram enormes. Por exemplo, muitos pensadores contemporâneos consideraram incoerente a visão cristã sobre a criação ex nihilo (do nada). Cláudio Galeno, médico do então imperador romano Marco Aurélio, por exemplo, rejeitou isso como uma lógica e metafísica absurda. Agostinho argumenta também que o tempo faz parte da ordem criada. Ou seja, no seu entender Deus criou espaço e tempo juntos, e este último só existe dentro do universo criado. Para alguns, porém, a ideia de que o tempo tenha sido criado parece ridícula.

Novamente aqui, Agostinho se opõe à ideia de que a narrativa bíblica não pode ter interpretações alternativas. Assim, o tempo deve ser visto como uma das criaturas e servos de Deus; por outro lado, a infinidade é uma característica essencial da eternidade. Mas a esta altura surge uma dúvida essencial: então, o que Deus estava fazendo antes da criação do universo? Para o teólogo, o Senhor não trouxe a criação à existência num momento especifico, pois o tempo não existia antes da Criação. Interessante, pois é exatamente esse o estado da existência, o chamado Caos, que muitos cientistas defendem ter havido antes do hipotético Big Bang, a gigantesca explosão que, há mais de 13 bilhões de anos, teria dado origem ao universo.

Agostinho poderia até estar errado ao afirmar quer a Escritura ensina claramente que a Criação foi instantânea. Os evangélicos creem, apesar de tudo, na infalibilidade da Escritura, não na infalibilidade das interpretações. Como alguns nos lembram, o próprio Agostinho não era constante nas suas convicções acerca das origens. Outras posições certamente existem – por exemplo, a ideia de que os seis dias de Criação, mencionados no Gênesis, foram seis períodos de 24 horas, ou a tese de que eles representam, na verdade, seis extensos períodos, cada um deles com seus milhões de anos. Todavia, a posição de Agostinho nos obriga a refletir sobre essas questões, mesmo que achemos que ele estava errado – e aí está um dos motivos da relevância de seu legado.

Afinal de contas, quais são as implicações dessa antiga interpretação bíblica sobre as afirmações de Darwin? Primeiro, Agostinho não limita os atos de criação à Criação inicial. Deus ainda está, ele insiste, trabalhando com o mundo, direcionando seu continuo desenvolvimento e expandindo seu potencial. Para ele, há dois “momentos” na Criação: aquele primordial e um contínuo processo de direcionamento. Logo, a Criação não é um instante circunscrito ao passado remoto. O Senhor continua trabalhando no presente, ele escreve, sustentando e direcionando o sucessivo desabrochar das gerações. Esse duplo foco sobre a Criação permite ler Gênesis de uma forma que afirma que Deus criou todas as coisas do nada. Porém, isso também nos permite afirmar que o universo foi criado com a capacidade de evoluir, sob a soberana direção de Deus – dessa forma, o primeiro estágio da Criação não corresponde ao que vemos agora.

Para Agostinho, o Senhor criou um universo deliberadamente designado para se desenvolver e evoluir. E o plano para essa evolução não é arbitrário, mas programado na estrutura de tudo quanto foi criado. Os primeiros escritores cristãos tomaram nota de como o primeiro relato do Gênesis falava sobre a terra e a água dando origem à vida. Eles diziam que isso mostra como Deus dotou a ordem natural com a capacidade de gerar criaturas. Agostinho foi ainda mais longe: ele sustentava que Deus criou o mundo com uma série de poderes adormecidos, que são consumados em um certo momento, de acordo com a divina providência. Uma das evidências disso seria o texto de Gênesis 1.12, que sugere que a terra recebeu o poder de produzir vida por si mesma. A imagem da semente, ali mencionada, sugere que a Criação original contém em si mesma o potencial de fazer emergir todos os subsequentes tipos de vida. Isso não significa que Deus criou o mundo incompleto e imperfeito, como pretendia Darwin ao enfatizar a necessidade da evolução; esse processo de desenvolvimento, Agostinho declara, é governado por leis fundamentais, que revelam a vontade do Criador: “Deus estabeleceu leis fixas que governam a produção das espécies de seres, e os tira do esconderijo para serem vistos completamente”, diz em seu comentário.

Por outro lado, enquanto alguns podem entender a Criação como Deus inserindo novos tipos de plantas e animais num mundo já existente, Agostinho considera isso uma incoerência com o resto das Escrituras. Antes, o Senhor deve ser visto como o criador, naquele primeiro momento, da potencialidade de todas as coisas vivas que iriam surgir depois, incluindo a humanidade. Isso significa que o primeiro relato das Sagradas Escrituras descreve o instantâneo surgimento da matéria primitiva, incluindo os recursos para o desenvolvimento futuro. O segundo relato explora como essas possibilidades casuais surgiram e se desenvolveram na terra. Na visão agostiniana, esses dois relatos sobre a Criação revelam que Deus criou o mundo instantaneamente, enquanto imaginava que as outras espécies de vida iriam aparecer gradualmente durante os tempos.

Em posição diametralmente oposta à de Charles Darwin, Agostinho rejeitaria qualquer idéia do desenvolvimento do Universo como um processo aleatório e desprovido de leis. Por isso, ele teria se oposto à visão darwinista de variação casual, insistindo que a providência de Deus está profundamente envolvida no desenvolvimento da vida. O processo pode ser imprevisível; casual, nunca. Previsivelmente, Agostinho aproxima o texto da pressuposição cultural prevalente da fixação das espécies, e não viu nisso algo que desafiasse seu pensamento sobre esse assunto – apesar de a maneira com a qual ele critica as autoridades contemporâneas e de sua própria experiência sugerir que, pelo menos nesse assunto, ele estaria aberto a correções mediante a luz de descobertas cientificas.

O significado literal de Gênesis realmente nos ajuda a lidar com as questões levantadas por Darwin? Vamos deixar claro que a obra de Agostinho não responde esses questionamentos; todavia, nos ajuda a ver que o real problema não é a autoridade bíblica, mas sua interpretação. Além disso, ele oferece uma maneira clássica de pensamento que ilumina muitos debates ainda hoje, quase 1,6 mil anos após sua morte. Nesse assunto, Agostinho nem é liberal nem acomodado; mas totalmente bíblico, tanto no sentido quanto na intenção. Nós precisamos de paciência, generosidade e graça para refletir sobre essas grandes questões. E Agostinho pode nos ajudar a começar.



O ex-ateu Alister McGrath é professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e pesquisador sênior do Harris Manchester College, no Reino Unido. Possui doutorados em biofísica molecular e em teologia pela Universidade de Oxford.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A QUEM INTERESSAR POSSA - EXTRAÍDO DE "GENIZAH"

UMA SOBREVIVENTE DA VISÃO CELULAR DE RENE TERRA NOVA CONTA TUDO

Roselaine Perez


Eu tive que digerir depressa demais o amontoado de quesitos que a Visão Celular possuía, parecia que tinha mudado de planeta e precisava aprender o novo dialeto local, e urgente, para conseguir me adaptar.


Ganhar / consolidar / discipular / enviar, almas / células/ famílias, Peniel, Iaweh Shamá, honra, conquista, ser modelo, unção apostólica, atos proféticos, mãe de multidões, pai de multidões, conquista da nação, mover celular, riquezas, nobreza, encontro, reencontro, encontros de níveis, resgatão, Israel, festas bíblicas, atos proféticos, congressos, redes, evento de colheita, prosperidade, recompensa, multidão, confronto, primeira geração dos 12, segunda geração dos 12, toque do shofar, cobertura espiritual, resultado, resultado, resultado, etc...


Era início do ano de 2002 quando fomos a Manaus, eu e meu marido, para recebermos legitimidade, enquanto segunda geração dos 12 do Apóstolo Renê Terra Nova no estado de São Paulo.As exigências eram muitas e muito caras:


•Compra do boton sacerdotal num valor absurdo.


•Hospedagem obrigatória no Tropical Manaus, luxuoso resort ecológico, às margens do Rio Negro, não um dos mais caros, mas “O” mais caro de Manaus (conheci Pastores que venderam as calças para pagar 2 diárias no tal resort e outros que deixaram a família sem alimentos para entrar na fila dos zumbis apostólicos, num Thriller nada profético).
• Trajes de gala Hollywoodianos.
• Participação obrigatória num jantar caro da preula após a cerimônia, tendo como ilustre batedor de bóia nada menos que o Apóstolo Renê e seus cupinchas.
•Tudo isso para ter a suprema dádiva de receber a imposição de mãos do homem, com direito a empurradinha na oração de legitimação e tudo ( uhuu!).


Nem mesmo em festa de socialite se vê exageros tão grandes em termos de exibição de jóias, carros, roupas de grife e todo tipo de ostentação escandalosa.


Hoje, sem a cachaça da massificação na cabeça, sinto vergonha e fico imaginando como Jesus seria tratado no meio daquela pastorada.


Ele chegaria com sandálias de couro, roupa comum, jeito simples, não lhe chamariam para ser honrado, nem tampouco perguntariam quem é o dono da cobertura dele , pois deduziriam que certamente dali ele não era.


Estive envolvida até a cabeça – porém não até a alma – na Visão Celular durante quase 5 anos, em todas as menores exigências fui a melhor e na inspiração do que disse Paulo "...segundo a justiça que há na lei dos Terra Nova, irrepreensível."




Entreguei submissão cega às sempre inquestionáveis colocações e desafios do líder, sob pena de ser rebelde e fui emburrecendo espiritualmente.


Me pergunto sempre por que entrei nisso tudo e depois que este artigo terminar talvez você me pergunte o mesmo, mas minha resposta tem sempre as mesmas certezas:


--> Todos nós precisamos amadurecer e, enquanto isso não acontece, muitas propostas vêm de encontro às fraquezas que possuímos e que ainda não foram resolvidas dentro de nós.


A partir da minha experiência pude enxergar as três principais molas propulsoras que fazem funcionar toda essa engrenagem:


1) A lavagem cerebral


A definição mais simples para lavagem cerebral é “conjunto de técnicas que levam ao controle da mente; doutrinação em massa”.


Em todas as etapas da Visão Celular se pode ver nitidamente vários mecanismos de indução, meios de trabalhar fortemente as emoções onde o resultado progressivo desta condição mental é prejudicar o julgamento e aumentar a sugestibilidade.


Os métodos coercivos de convencimento, os treinamentos intensos e cansativos que minam a autonomia do indivíduo, os discursos inflamados, as músicas repetitivas e a oratória cuidadosamente persuasiva são recursos que hoje reconheço como técnicas de lavagem cerebral, onde há mudanças comportamentais gradativas e por vezes irreversíveis.


2) Grandezas diretamente proporcionais


O Silvio Santos manauara é uma incógnita.Se em por um lado ele é duro e autoritário, noutro ele é engraçado, carismático e charmoso. Num dos Congressos em Manaus, me levantei da cadeira para tirar uma foto dele, que imediatamente parou a ministração e me chamou lá na frente. Atravessei o enorme salão com o rosto queimando, certa de que iria passar a maior vergonha de toda a minha vida, que o “ralo” seria na presença de milhares de pessoas e até televisionado.Quando me aproximei não sabia se o chamava de Pastor, Apóstolo, Doutor, Sua Santidade ou Alteza, mas para minha surpresa ele abriu um sorriso de orelha a orelha e fez pose, dizendo que a foto sairia bem melhor de perto. A reunião veio abaixo, claro, todos riam e aplaudiam aquele ser tão acessível e encantador.


Acontecimentos assim, somados à esperta e poderosa estratégia de marketing que Terra Nova usa para transmitir suas idéias, atraem para ele quatro tipos de pessoas:


•As carentes de uma figura forte (o povo simples que chora ao chamá-lo de pai).
• As que desejam aprender o modelo para utiliza-los em seus próprios ministérios falidos.
•Aquelas que desejam viver uma espécie de comensalismo espiritual, que vivem de abrir e fechar notebooks para ele pregar, ganhando transporte e restos alimentares em troca, as rêmoras da Visão.

•As sadomasoquistas espirituais. É tanta punição, tanto sacrifício, tanta submissão, que fica óbvio que muita gente se adapta a esse modelo porque gosta de sofrer. As interpretações enfermas do tipo “hoje eu levei um peniel do meu discipulador, então me agüentem que lá vou eu ensinar o que aprendi.”, eram a tônica das ministrações.
Pode acreditar que essas quatro classes de pessoas representam a grande maioria.


3) A concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida


O conceito da Visão Celular mexe demais com o ego, é sedutor, encantador, promissor, põe a imaginação lá no topo, puro glamour. A ganância que existe dentro do ser humano é o tapete vermelho por onde a desgraça caminha. Essa tem sido uma das causas pela queda de tantos e tantos pastores, por causa das promessas de sucesso rápido e infalível.


Renê não sabe com quem está lidando, mas é com gente!


Ele talvez ignore (não que ele seja ignorante) que cada ser humano é um universo e que as informações vão reproduzir respostas completamente inesperadas em cada um.


EU ASSISTI, na terra do Terra Nova, o “tristemunho” de uma discipuladora que, para confrontar e educar uma discípula, havia chegado à loucura de bater nela, para que a mesma parasse de falar em morrer. Esse é o argumento dos incapazes, dos que não conseguem levar cada triste, cada suicida ou deprimido às garras da graça de Cristo, mas que querem se fazer os solucionadores das misérias do povo.


Eu tenho até hoje péssimas colheitas dessa péssima semeadura, assumo meus erros e me arrependo profundamente de cada um deles:


• Quase perdi Jesus de vista
•Minha família ficou relegada ao que sobrava de mim.
•Minha filha mais velha, hoje com 23 anos, demorou um bom tempo para me perdoar por eu ter repartido a maternidade com tantas sanguessugas que me usavam para satisfazer sua sede de poder.
•Minha mãe teve dificuldade para se abrir comigo durante muito tempo porque, segundo ela, só conseguia me ver como a Pastora dura e ditadora. Tenho lutado diariamente para que ela me veja somente como filha.
•Fui responsável por manter minha Igreja em regime escravo (mesmo que isso estivesse numa embalagem maravilhosa), por ajudar a alimentar a ganância de muitos, por não guardá-los dessa loucura.
•Colaborei com a neurotização da fé de muitos, por causa da perseguição desenfreada pela perfeição e por uma santidade inalcançável.
•Fiquei neurótica eu mesma, precisando lançar mão de ajuda psicológica devido a crises interiores inenarráveis, ao passo que desenvolvia uma doença psíquica de esgotamento chamada Síndrome de Burnout*, hoje sob controle.
•Vendi a idéia da aliança incondicional do discípulo com o discipulador, afastando sutilmente as pessoas da dependência de Deus.
•Invadi a vida de muitos a título de discipulado, cuidando até de quantas relações sexuais as discípulas tinham por semana, sem que isso causasse ofensa ou espanto.
•Opinei sobre o que o discípulo deveria comprar ou não, tendo “direito” de vetar o que não achasse conveniente. A menor sombra de discordância por parte do discípulo era imediatamente reprimida, sem qualquer respeito. Quando isso acontecia os demais tomavam como exemplo e evitavam contrariar o líder.
•Aceitei que fosse tirada do povo a única diretriz eficaz contra as ciladas do diabo: a Bíblia. Não que ela não fosse utilizada, mas isso era feito de forma direcionada, para fortalecer os conceitos da Visão. Paramos de estudar assuntos que traziam crescimento para nos tornarmos robôs de uma linha de montagem, manipuláveis, dogmatizados.
•Fomentei a disputa de poder entre os irmãos ignorando os sentimentos dos que iam ficando para trás.
•Perdi amigos amados e sofri demais com estas perdas. Alguns criaram um abismo de medo, que é o de quem nunca sabe se vai ganhar um carinho ou um tapa, um elogio ou um peniel, mas sei que esse estigma está indo embora cada vez mais rápido. Outros me abandonaram porque não aceitaram uma Pastora normal, falível e frágil. Eles queriam a outra, a deusa, aquela que alimentava neles a fome por ídolos particulares.
Dentro da Visão, nossa Igreja esteve entre as que mais cresceram e deram certo na região, mas desistimos porque, acima de todo homem e todo método, somos escravos de Cristo.


Talvez o mais difícil tenha sido a transição do meu eu, a briga daquilo que eu era com o que sou hoje até que se estabelecesse Cristo em mim, esperança da glória.


Prossigo, perdoada pelo meu Senhor, tomando minhas doses diárias de Graçamicina, recriando meu jeito de me relacionar e compreender mais as falhas alheias e as minhas próprias.


Prossigo, reaprendendo a orar e adorar em silêncio, livre dos condicionamentos, admitindo meus cansaços, me permitindo não ser infalível, sendo apenas gente...Pastoragente!




* SÍNDROME DE BURNOUT:Distúrbio psíquico, de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso.Se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional). Resultado de um esforço extremo, um desgaste onde o paciente se consome física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e intolerante, com predileção para aqueles que mantêm uma relação constante e direta com atividades de ajuda. Ocorre geralmente em pessoas altamente motivadas, que sentem uma discrepância entre aquilo que investem e aquilo que recebem.




Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...