Eu gostaria de poder dizer que a maior parte do meu tempo cuidando de pastores é gasto ensinando-os o que fazer e para onde levar a igreja, mas não é. É triste, mas a maioria do meu tempo é gasto tentando manter os pastores em suas igrejas por mais de dois anos, tentando ajudar pastores a lidar com pessoas difíceis, com críticas e com expectativas irreais que levam ao desapontamento, até ao desespero. A maior parte do meu esforço é para tentar impedir que as famílias dos pastores sejam abaladas pelo caos da vida da igreja. Existe uma dura realidade neste mundo caído que faz com que muitas tarefas pastorais sejam incrivelmente difíceis, dolorosas e desesperadoras. Esta é uma razão pela qual Charles Spurgeon instruía seus alunos que se preparavam para o ministério a fazerem outra coisa se pudessem ser felizes fazendo-as. Pastores precisam saber como sobreviver, mas antes de eu explicar como pastores se preparam para sobreviver no trabalho ministerial, permita-me mostrar uma abordagem não útil e não bíblica para sobreviver no ministério pastoral.
Alguns buscam sobreviver tentando encontrar a igreja que parece ser a mais fácil e mais saudável para pastorear. Alguns até usam este “caminho mais fácil” como razão para plantar uma igreja, pensando: “se eu conseguir organizar a igreja da maneira como eu gosto desde o começo, eu não vou enfrentar as lutas do pastorado normal”. Esse não é um entendimento realista do ministério pastoral por vários motivos. Primeiro, é muito improvável que um jovem recém-saído do seminário conseguirá esta igreja saudável, mesmo que ela esteja disponível. Segundo, a maioria dos pastores descobre que aquela “igreja mais fácil” ainda está cheia de pecadores quebrados e nenhum cargo no ministério pastoral é fácil. Um pastorado em uma igreja mais fácil não é uma estratégia boa, nem bíblica para sobreviver no ministério pastoral. A chave para sobreviver no ministério pastoral é o cuidado diligente que o pastor deve ter por sua própria alma.
Muito dos desencorajamentos que são enfrentados no ministério de um pastor estão relacionados a ele, não a sua igreja.
Deus chama pastores não para serem super-homens, mas para serem fiéis. À medida que pastores buscam serem fiéis todos os dias em seus ministérios, a vontade soberana de Deus está sendo cumprida. Por que isso não é o suficiente? Porque um pastor traz com ele e para sua igreja seus próprios desajustes, suas lutas pessoais e feridas abertas em sua alma onde a graça de Deus ainda não operou. Pastores lutam para encontrar sua verdadeira e completa identidade em Cristo, e quando pastores falham em encontrar segurança em Cristo, eles tentam demonstrar segurança de maneiras falsas, sendo:
- Inseguro
- Defensivo
- Controlador
- Performático
- Legalista
- Temeroso de homens
- Manipulador
- Passivo
- Estoico
- Não-gracioso
Estas maneiras falsas de viver expõem o fato de que o pastor está buscando preenchimento que somente Cristo pode dar, mas buscando-o no reconhecimento de outros, no sucesso de seu ministério ou expectativas auto-impostas. Uma poderosa e libertadora verdade do evangelho para pastores que servem em igrejas difíceis é que muito do desencorajamento não vem da situação de nossa igreja, mas de expectativas esmagadoras que colocamos sobre nós, de pessoas que tememos e pensamos que somos responsáveis por mudar, e de ansiedade sobre como outros “pastores mais bem-sucedidos” podem avaliar nossos ministérios. Tudo isso tem a ver com o pastor e sua própria alma — não com a igreja. Este turbilhão que existe em certo grau na alma de todo pastor é ativado quando as lutas no ministério começam. Estar ciente da necessidade deste trabalho na alma de todo pastor é a solução para a sobrevivência no cenário de uma igreja mais difícil.
O evangelho nos diz que nossa identidade está em Cristo. O Supremo Pastor nos lembra que nossa tarefa é pastorear seu povo até que ele volte para nos buscar (1 Pedro 5:4). Quando nós, pastores, percebemos que nosso valor e nossa identidade se encontram em Jesus, somos libertos e estamos seguros para ser quem somos, para viver de forma autêntica, para aceitar nossas fraquezas, para nos conectar emocionalmente, para ser graciosos, para amar aqueles que nos rejeitam, para pregar àqueles que odeiam nossa pregação e para liderar com força piedosa aqueles que têm dificuldade de ser liderados, sabendo que o Supremo Pastor está conosco. Pastores têm a aprovação, o favor e a presença de Jesus. O que mais precisamos para sobreviver? Esta é a chave para sobreviver em qualquer igreja, mas especialmente em uma difícil. O cuidado diligente de um pastor com sua própria alma e a consciência da necessidade deste trabalho interno será a chave não somente para sobreviver, mas para crescer sob a mão soberana do Supremo Pastor, independente da igreja onde ele serve.