terça-feira, 13 de novembro de 2012
DEUS NÃO É SOBRENATURAL - ZÉ BRUNO
Olhai as aves do céu…
Eu não gosto do uso da palavra sobrenatural em relação a Deus. Não é que eu não goste por mero capricho, mas por três motivos: Deus não é sobrenatural; o mau uso desta palavra acaba criando frustrados ou cínicos; e seu uso cega-nos para a “naturalidade” de Deus e de seu modus operandi.
Um ser ou um evento é sobrenatural quando não provém da natureza, logo sua explicação não se submete as leis naturais. Se a criação fosse entendida apenas como uma criação natural, o adjetivo seria correto, todavia Paulo, apóstolo, nos diz que a criação é composta tanto de elementos naturais quanto de sobrenaturais:
Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele.
E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele.[1]
A criação não é formada apenas por aquilo que podemos ver ou conhecer, mas também por um mundo invisível, com seres e lugares invisíveis, criados antes dos humanos e do mundo, que podem ser bons ou maus e assim como os seres humanos, são criações de Deus.
Dizer que Deus é sobrenatural é desconsiderar no uso desta palavra que o Criador está também acima do sobrenatural. Sendo assim, melhor seria fazermos coro com a teologia cristã que cunhou a palavra transcendência como atributo divino, mas não inventou a roda, apenas codificou neste termo parte daquilo que as Escrituras já diziam acerca da divindade em relação a sua criação.
Transcendência é um atributo divino que diz que a divindade está acima da sua criação, quer natural quer sobrenatural, e assim não se confunde com ela. Em seu livro Vivendo com Propósitos, Ed René Kivitz nos oferece uma explicação mais refinada:
A transcendência trata do Deus Totalmente Outro, como se referem os teólogos, aquele que “habita em luz inacessível”… Deus está no mundo, mas não é o mundo. Deus abrange o todo, mas é mais do que o todo. Deus está aqui e além. Por uma razão simples, Deus é, e não pode ser contido pelo que está.[2]
Outro motivo que me faz não gostar do uso da palavra sobrenatural em relação a Deus é que os discursos popularizados nos jargões, canções e preleções fomentam uma expectativa que só poderá ser satisfeita com o “sobrenatural” e assim tem gerado uma geração de crente frustrados ou cínicos. Frustrados porque suas expectativas não são atendidas e cínicos porque quando frustrados, ignoram isto e continuam na mesma.
A última razão é derivada da segunda, pois por falarmos como pensamos, expressões do tipo “receba o sobrenatural de Deus”, “vivendo no sobrenatural de Deus” e outras correlatas criam uma imagem limitada da divindade, dando a percepção de que o Altíssimo só age de maneira sobrenatural, logo a cura do câncer de forma sobrenatural é facilmente atribuída a Deus, todavia a cura do mesmo câncer através da ciência médica não é vista como uma ‘cura divina’.
Esta visão parcial do modus operandi divino nos rouba a graça da vida, pois deixamos de ver Deus na natureza e é ela quem nos revela o seu poder:
Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis[3]
A presença de Deus na criação é o atributo da imanência, o qual nos permite vê-Lo nela. Se a transcendência torna Deus distante e inacessível, é a imanência que O faz permear o mundo e torna-O perceptível. Conforme se expressou Paulo:
Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de tudo (transcendência), por tudo e em tudo (imanência)[4]
No demais, que possamos ser mais reflexivos e que avaliemos sempre nossos discursos e linguagens pelo crivo do evangelho, afinal os discursos de qualquer natureza têm muito a nos revelar acerca daqueles que os proferem e com relação aquilo que alguns evangélicos brasileiros andam cantando, pregando e escrevendo, percebe-se um distanciamento entre o discurso e as Escrituras que não deixa de ser tão grave quanto o distanciamento entre a vida e a fé!
Naquele que transcende e imana toda a criação,
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