terça-feira, 31 de agosto de 2010
A SALVAÇÃO: DA ARCA E A DE JESUS - POR PAULO CILAS
E lá estavam Noé e sua família sendo salvos da tragédia do dilúvio. Era uma boa salvação. Entretanto, por ser provisória, era uma salvação, diria, um tanto quanto desconfortável. Mesmo sendo a arca razoavelmente grande, ela estava lotada dos pares de animais – sete pares de puros e dois de impuros, todos cheirando mal. Já ficou perto de cachorro molhado? E de galinha? Para mim, naquele momento, todos estavam rebaixados à categoria de impuros, sujos.
E o que eles produziam ao longo da estadia de praticamente um ano na arca? É certo que a dieta era de acordo com a circunstância, entretanto, a produção de “adubo” da bicharada estava a todo vapor. E a arca não podia ser muito aberta e arejada por motivos óbvios. Ela era uma ilha cercada de água por todos os lados e, pelo menos durante quarenta dias, por cima também.
A situação não era fácil! Mas, ou aguentava o casal de bode suando ou caía fora morrendo afogado. A mesa das refeições devia ser uma festa. Os cheiros se confundiam. E como disse acima, a coisa demorou quase um ano, o que em lugar fechado, sem ter para onde ir e apenas fazendo as tarefas de manutenção, deve ter parecido uma década.
Um dia percebi que muitos, eu também, viviam a salvação como que dentro da arca. Uma salvação apertada, mal-humorada e que só valia à pena porque ou era ela ou a danação eterna. Havia ainda uma mórbida satisfação, algo como um prêmio, que era o fato do pessoal que vivia rindo, desfrutando do mundo, ir todo “pro inferno”! Sim, tal salvação parecia só fazer sentido se houvesse a certeza de que essa turma que não “tava” no mesmo aperto que eu fosse queimar no mármore do inferno.
Um dia abri os olhos! Li em Jo. 10:9 que Jesus é A PORTA! E ELE se apresenta como uma PORTA DE ENTRADA e, também, de SAÍDA. “Quem entra por esta PORTA, entra, sai e encontra pastagem, isto é, espaço, liberdade, VIDA ABUNDANTE!
Saindo da perdição, do império das trevas, eu entro para O REINO DO FILHO DO SEU AMOR e ali pela mesma porta eu saio para uma dimensão muito maior desse REINO. Eu descubro que estar em DEUS é muito mais do que escapar do mal. Que a vida é algo muito maior, superior, independente da morte. Sou livre, não troquei uma prisão por outra melhor. Não tenho uma salvação provisória e apertada. Muito menos preciso de arcas modernas maquiadas da embarcação de luxo - tudo tem sido feito para que as pessoas fiquem na “igreja”, trancadas nelas-. Eu entrei não para um lugar sem saída. “EU ENTREI PARA FORA”!!!
terça-feira, 24 de agosto de 2010
CAÍDO - POR PAULO CILAS
Certa vez, levantei-me publicamente contra um ensinamento de "conquista do Brasil", que declarava ter sido um ato profético de D. João VI o envio de Pedro Álvares Cabral e a escolha do nome de Santa Cruz e Vera Cruz para a terra recém-descoberta. Não quero me deter nessa sandice, até porque o seu idealizador continua a inventar mil e uma outras. E até hoje, apesar de divisões e rachas e mais loucuras megalomaníacas, são muitos que por ingenuidade ou interesses escusos ainda lhe dão ouvidos.
O quero dizer mesmo é que, diante da minha posição contrária, alguém disse a um membro de onde me reúno que eu deveria tomar cuidado com as críticas porque poderia "cair"um dia! Era um pastor dizendo isto. Traduzindo, mesmo não concordando deveria eu ficar calado porque sou pecador iminente.
De fato, quando entramos em algum "turbilhão", devemos saber se temos escopo -não ter telhado de vidro - para não sermos flagrados em hipocrisias e incoerências. Dai em diante aprendi algumas coisas importantes:
NÃO QUERO SER INCOERENTE E NEM HIPÓCRITA COM A PALAVRA DE DEUS. Por decisão, não por mérito, decido não usar A BÍBLIA em benefício próprio. Decido não ficar aquém e também não ir além do que ela realmente diz. Decido não querer conhecer somente o que está escrito, mas , também, o espírito do que está escrito. Decido não dizer que tenho uma revelação, ministério, visão, nova unção ou qualquer coisa que se diga especial ou mais espiritual pois: "Havendo Deus falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais , pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo..." Pois bem, agora não existe mais nada a ser dito, sacrificado, revelado. Resta-nos dar ouvidos às PALAVRAS DO SENHOR que nos são “lembradas” pelo ESPÍRITO SANTO. Há AS BOAS NOVAS (EVANGELHO) a serem anunciadas.
As conquistas serão de vidas rendidas a CRISTO, e não à minha igreja ou visão. A conquista será O REINO DE DEUS dentro do homem como JESUS afirma e não a conquista dos bens terrenos que só engrandecem aos homens e que despertam o que de pior existe:
soberba, vaidades, orgulhos e tantos outros sinônimos possíveis e imagináveis.
DECIDO QUE SOU PECADOR CAÍDO! E só não digo que sou o principal porque o outro Paulo chegou na frente. Tenho um verme dentro de mim, pegando emprestado a afirmação de Larry Crabb no livro "Chega de Regras". E só eu e DEUS sabemos o tamanho desse verme.
E, assim, sabendo quem sou e do que sou capaz de fazer em minha maldade e fraquezas, não posso me dar ao luxo de distorcer a única mensagem que conseguiu e consegue me redimir.
Portanto, já não posso cair. Já sou caído desde o ventre de minha mãe como Davi. Acreditem! Até o bem que quero fazer não faço. E o mal,então? Este, só chorando ao PÉ DA CRUZ. Só pela CRUZ eu tive chance de ser perdoado e nela continuo a derramar minha alma até o dia em que o corruptível(eu) der lugar ao incorruptível.
Não!! Não sou advogado de JESUS e de seu EVANGELHO. Sou testemunha DELES e nenhuma mensagem enganosa, nenhum devaneio de homens vaidosos e ardilosos, nem mesmo a insensatez ainda que ingênua ou simplista de qualquer pregador imprudente e muito, muito menos meu estado de total dependência DA GRAÇA E MISERICÓRDIA DO SENHOR por ser quem eu sou me calarão.
"SEJA DEUS SEMPRE DEUS VERDADEIRO, E TODO O HOMEM MENTIROSO..." Como disse o apóstolo Paulo. Aquele vendido pelo pecado, o miserável homem. Aquele mesmo que se gloriava na sua fraqueza pois era assim que se via forte. E dizia não ter alcançado coisa alguma mas que prosseguia para o alvo. E, em recebendo algum louvor jamais se gloriava a não ser na CRUZ DE CRISTO e até repreendia espírito de adivinhação que dizia ser ele, Paulo, servo do DEUS altíssimo. Ou seja, O APÓSTOLO PAULO que jamais seria como os "apóstolos" atuais. Primeiro porque esses não o receberiam por estar fora da visão. Segundo, porque ele não comungaria com gente que tem como deus o próprio ventre!
VOTO BOM É VOTO LAICO - POR CARLOS CARRENHO
Quem determina se Deus é o Senhor é o povo, não seus governantes
Os melhores candidatos não são necessariamente aqueles que professam a mesma fé ou pertencem a determinada denominação
Lembro-me de que, quando eu era criança na igreja, algumas profissões eram consideradas quase do diabo. Entre elas, a de baterista, advogado e político.
Com o tempo, a bateria ganhou seu espaço nos altares das igrejas e os advogados viraram até presbíteros. Mas foi na área política que a coisa mudou radicalmente. Se, antes, a atuação política era desestimulada no rebanho e um crente ser vereador ou deputado era visto como um sacrilégio, agora já temos até bancada evangélica. A cada eleição, pastores candidatos pululam Brasil afora. Até aí, nada demais; cada um usa a plataforma que possui. Quem é radialista, por exemplo, apela aos votos dos ouvintes; sindicalistas recorrem ao pleito dos operários; produtores rurais buscam apoio de colegas agricultores. Portanto, quem vem da Igreja tem mais é que conseguir votos na Igreja e defender seus interesses.
Isso quer dizer então que cristão deve votar em cristão, crente em crente, evangélico em evangélico? Aí minha resposta é um esplendoroso não. Explico. Quando precisamos de um cardiologista, recorremos ao melhor especialista que podemos pagar ou vamos a um médico cristão? Quando o carro quebra, procuramos um bom mecânico ou simplesmente um profissional que se apresente como crente? E se formos comprar um bolo, nossa preferência será pelo mais saboroso ou optaremos por aquele feito por uma irmãzinha na fé, ainda que não agrade tanto ao paladar? E as obras? Confiamos nossos prédios a um engenheiro competente ou damos preferência ao evangélico, simplesmente porque é evangélico?
Ainda que muitos de nós favoreçamos membros de nossa comunidade eclesiástica, só o fazemos porque acreditamos e confiamos nos profissionais em questão. Em primeiro lugar deve vir a capacidade do indivíduo para realizar a tarefa a que se propõe, e depois sua opção religiosa. Por isso, ao votar, todo cristão (e cidadão) tem a obrigação perante a sociedade de tomar a mesma atitude e escolher quem acredita ser o melhor o candidato – o que não necessariamente inclui aqueles que professam a mesma fé ou pertencem a determinada denominação.
Há cristãos na política que dão um grande testemunho e atuam visando ao bem estar da sociedade. Da mesma forma, há pessoas de outros credos extremamente honestas e fazendo um ótimo trabalho parlamentar ou governamental. E há políticos pilantras de todas as crenças, ou de crença nenhuma, que agem só visando aos próprios interesses. Ou seja, religião nenhuma é garantia de caráter ou idoneidade.
Como cristãos, devemos amar nosso próximo como a nós mesmos – o que também significa votar pelo outro, votar pela sociedade. Devemos, portanto, escolher o melhor candidato não apenas para nós mesmos, mas para todo o grupo social ao qual pertencemos. Esta mentalidade de voto, que é absolutamente cristã, é muito mais importante que a religião do candidato. Mas e o versículo que diz “Feliz é nação cujo Deus é o Senhor”, em Salmos 33.12? Para começar, Deus ser Senhor é diferente de bispo ser presidente, pastor ser senador e evangélico ser deputado. A religião professada pelos políticos não garante a senhoria divina. Quem garante que Deus é Senhor é toda a nação, toda a sociedade. Um país com um presidente cristão e uma população descrente não terá Deus como Senhor. E um estado com uma população cristã poderá proclamar Deus como Senhor, ainda que seus governantes não professem tal fé. Quem determina se Deus é o Senhor é o povo, não seus governantes. Trata-se da mais pura democracia divina.
Quer dizer então que não voto em cristão? Nada poderia ser mais falso. Nesta próxima eleição presidencial, por exemplo, estou propenso a votar em uma candidata cristã – até porque os outros dois concorrentes me desagradam, um pelo partido e outro, pelo caráter. Mas vou votar nela porque é cristã? Jamais. É porque acredito que ela é a melhor candidata para o país, para mim e, mais importante, para meu próximo. E ainda votaria mesmo se ela declarasse que não acredita em Deus…
Carlo Carrenho - DO SITE CRISTIANISMO HOJE
Os melhores candidatos não são necessariamente aqueles que professam a mesma fé ou pertencem a determinada denominação
Lembro-me de que, quando eu era criança na igreja, algumas profissões eram consideradas quase do diabo. Entre elas, a de baterista, advogado e político.
Com o tempo, a bateria ganhou seu espaço nos altares das igrejas e os advogados viraram até presbíteros. Mas foi na área política que a coisa mudou radicalmente. Se, antes, a atuação política era desestimulada no rebanho e um crente ser vereador ou deputado era visto como um sacrilégio, agora já temos até bancada evangélica. A cada eleição, pastores candidatos pululam Brasil afora. Até aí, nada demais; cada um usa a plataforma que possui. Quem é radialista, por exemplo, apela aos votos dos ouvintes; sindicalistas recorrem ao pleito dos operários; produtores rurais buscam apoio de colegas agricultores. Portanto, quem vem da Igreja tem mais é que conseguir votos na Igreja e defender seus interesses.
Isso quer dizer então que cristão deve votar em cristão, crente em crente, evangélico em evangélico? Aí minha resposta é um esplendoroso não. Explico. Quando precisamos de um cardiologista, recorremos ao melhor especialista que podemos pagar ou vamos a um médico cristão? Quando o carro quebra, procuramos um bom mecânico ou simplesmente um profissional que se apresente como crente? E se formos comprar um bolo, nossa preferência será pelo mais saboroso ou optaremos por aquele feito por uma irmãzinha na fé, ainda que não agrade tanto ao paladar? E as obras? Confiamos nossos prédios a um engenheiro competente ou damos preferência ao evangélico, simplesmente porque é evangélico?
Ainda que muitos de nós favoreçamos membros de nossa comunidade eclesiástica, só o fazemos porque acreditamos e confiamos nos profissionais em questão. Em primeiro lugar deve vir a capacidade do indivíduo para realizar a tarefa a que se propõe, e depois sua opção religiosa. Por isso, ao votar, todo cristão (e cidadão) tem a obrigação perante a sociedade de tomar a mesma atitude e escolher quem acredita ser o melhor o candidato – o que não necessariamente inclui aqueles que professam a mesma fé ou pertencem a determinada denominação.
Há cristãos na política que dão um grande testemunho e atuam visando ao bem estar da sociedade. Da mesma forma, há pessoas de outros credos extremamente honestas e fazendo um ótimo trabalho parlamentar ou governamental. E há políticos pilantras de todas as crenças, ou de crença nenhuma, que agem só visando aos próprios interesses. Ou seja, religião nenhuma é garantia de caráter ou idoneidade.
Como cristãos, devemos amar nosso próximo como a nós mesmos – o que também significa votar pelo outro, votar pela sociedade. Devemos, portanto, escolher o melhor candidato não apenas para nós mesmos, mas para todo o grupo social ao qual pertencemos. Esta mentalidade de voto, que é absolutamente cristã, é muito mais importante que a religião do candidato. Mas e o versículo que diz “Feliz é nação cujo Deus é o Senhor”, em Salmos 33.12? Para começar, Deus ser Senhor é diferente de bispo ser presidente, pastor ser senador e evangélico ser deputado. A religião professada pelos políticos não garante a senhoria divina. Quem garante que Deus é Senhor é toda a nação, toda a sociedade. Um país com um presidente cristão e uma população descrente não terá Deus como Senhor. E um estado com uma população cristã poderá proclamar Deus como Senhor, ainda que seus governantes não professem tal fé. Quem determina se Deus é o Senhor é o povo, não seus governantes. Trata-se da mais pura democracia divina.
Quer dizer então que não voto em cristão? Nada poderia ser mais falso. Nesta próxima eleição presidencial, por exemplo, estou propenso a votar em uma candidata cristã – até porque os outros dois concorrentes me desagradam, um pelo partido e outro, pelo caráter. Mas vou votar nela porque é cristã? Jamais. É porque acredito que ela é a melhor candidata para o país, para mim e, mais importante, para meu próximo. E ainda votaria mesmo se ela declarasse que não acredita em Deus…
Carlo Carrenho - DO SITE CRISTIANISMO HOJE
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
O COLAPSO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO - POR RICARDO GONDIM
Dois pastores paulistas se fantasiam de Fred e Barney. Isso mesmo, fantasiados de Flintstone, entre gracejos ridículos, acreditam que estão sendo "usados por Deus para salvar almas". Na rádio, um apóstolo ordena que tragam todos os defuntos daquele dia, pois ele sente que Deus o "ungiu para ressuscitar mortos".
Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína .
Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pelo segmento conhecido como neopentecostal. Como um trator de esteiras, o neopentecostalismo cresce passa por cima da história, descarta tradições e liturgias e se reinventa dentro das lógicas do mercado. É um novo fenômeno religioso.
É possível, sim, separá-lo como uma nova tendência. Sobram razões para afirmar-se que o neopentecostalismo deixou de ser protestante ou até mesmo evangélico.É uma nova religião. Uma religião simplória na resposta aos problemas nacionais, supersticiosa na prática espiritual, obscurantista na concepção de mundo, imediatista nas promessas irreais e guetoizada em seu diálogo cultural.
Mas a influência do neopentecostalismo já transbordou para o "mainstream" prostestante. O neopentecostalismo fermentou as igrejas consideradas históricas. Elas também se vêem obrigadas a explicar quase dominicalmente se aderiram ou não aos conceito mágicos das preces. Recentemente, uma igreja batista tradicional promoveu uma "Maratona de Oração pela Salvação de Filhos Desviados".
Pentecostais clássicos, como a Assembléia de Deus, estão tão saturados pela teologia neopentecostal que pastores, inadvertidamente, repetem jargões e prometem que a vida de um verdadeiro crente fica protegida dentro de engrenagens de causa-e-efeito. Os "ungidos" afirmam que sabem fazer "fluir as bênçãos de Deus". É comum ouvir de pregadores pentecostais que vão ensinar a "oração que move o braço de Deus”.
O Movimento Evangélico implode. Sua implosão é visceral. Distanciou-se de dois alicerces cristãos básicos, graça e fé. Ao afastar-se destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, permitiu que se abrisse essa fenda histórica com a tradição apostólica.
1. A teologia da Graça
Desde a Reforma, protestantes e católicos passaram a trabalhar a Graça como pedra de arranque de um novo cristianismo. O texto bíblico, “o justo viverá da fé”, acendeu o rastilho de pólvora que alterou a cosmovisão herdada da Idade Média. A Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “ garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.
Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido, à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.
Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. (É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos).
Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portras do céu”; “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.
2. A compreensão da Fé
“A Piedade Pervertida” (Grapho Editores) de Ricardo Quadros Gouvêa é um trabalho primoroso que explica a influência do fundamentalismo entre evangélicos.
“O louvorzão, assim como as vigílias e as reuniões de oração, e até mesmo o mais simples culto de domingo, muitas vezes não passam de um tipo de superstição que beira a feitiçaria, uma vez que ele é realizado com o intuito de ‘forçar’ uma ação benévola da parte de Deus, como se o culto e o louvor fossem um ‘sacrifício’, como os antigos sacrifícios pagãos. Neste caso, não temos mais liturgias, mas sim teurgias, nas quais procura-se manipular o poder de Deus” (p.28).
Ora, enquanto fé permanecer como uma “alavanca que move os céus”, as liturgias continuarão centradas na capacidade de tornar a oração mais eficaz. Antes dos neopentecostais, o Movimento Evangélico já se distanciara dos Místicos históricos que praticavam a oração com um exercício de contemplação e não como ferramenta de como tornar Deus mais útil.
Fé não é uma força que se projeta na direção do Eterno. Fé não desata os nós que impedem bênçãos. Fé é coragem de enfrentar a vida sem qualquer favor especial. Fé é confiança de que os valores de Cristo são suficientes no enfrentamento das contingências existenciais. Fé aposta no seguimento de Cristo; seguir a Cristo é um projeto de vida fascinante.
O neopentecostalismo ganhou visibilidade midiática, alastrou-se nas camadas populares e se tornou um movimento de massa. Por mais que os evangélicos conservadores não admitam, o neopentecostalismo passou a ser matriz de uma nova maneira de conceber as relações com o Divino.
A alternativa para o rolo compressor do neopentecostalismo só acontecerá quando houver coragem de romper com dogmatismos e com os anseios de resolver os problemas da vida pela magia.
O caminho parece longo, mas uma tênue luz já desponta no horizonte, e isso é animador.
Soli Deo Gloria
Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína .
Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pelo segmento conhecido como neopentecostal. Como um trator de esteiras, o neopentecostalismo cresce passa por cima da história, descarta tradições e liturgias e se reinventa dentro das lógicas do mercado. É um novo fenômeno religioso.
É possível, sim, separá-lo como uma nova tendência. Sobram razões para afirmar-se que o neopentecostalismo deixou de ser protestante ou até mesmo evangélico.É uma nova religião. Uma religião simplória na resposta aos problemas nacionais, supersticiosa na prática espiritual, obscurantista na concepção de mundo, imediatista nas promessas irreais e guetoizada em seu diálogo cultural.
Mas a influência do neopentecostalismo já transbordou para o "mainstream" prostestante. O neopentecostalismo fermentou as igrejas consideradas históricas. Elas também se vêem obrigadas a explicar quase dominicalmente se aderiram ou não aos conceito mágicos das preces. Recentemente, uma igreja batista tradicional promoveu uma "Maratona de Oração pela Salvação de Filhos Desviados".
Pentecostais clássicos, como a Assembléia de Deus, estão tão saturados pela teologia neopentecostal que pastores, inadvertidamente, repetem jargões e prometem que a vida de um verdadeiro crente fica protegida dentro de engrenagens de causa-e-efeito. Os "ungidos" afirmam que sabem fazer "fluir as bênçãos de Deus". É comum ouvir de pregadores pentecostais que vão ensinar a "oração que move o braço de Deus”.
O Movimento Evangélico implode. Sua implosão é visceral. Distanciou-se de dois alicerces cristãos básicos, graça e fé. Ao afastar-se destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, permitiu que se abrisse essa fenda histórica com a tradição apostólica.
1. A teologia da Graça
Desde a Reforma, protestantes e católicos passaram a trabalhar a Graça como pedra de arranque de um novo cristianismo. O texto bíblico, “o justo viverá da fé”, acendeu o rastilho de pólvora que alterou a cosmovisão herdada da Idade Média. A Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “ garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.
Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido, à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.
Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. (É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos).
Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portras do céu”; “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.
2. A compreensão da Fé
“A Piedade Pervertida” (Grapho Editores) de Ricardo Quadros Gouvêa é um trabalho primoroso que explica a influência do fundamentalismo entre evangélicos.
“O louvorzão, assim como as vigílias e as reuniões de oração, e até mesmo o mais simples culto de domingo, muitas vezes não passam de um tipo de superstição que beira a feitiçaria, uma vez que ele é realizado com o intuito de ‘forçar’ uma ação benévola da parte de Deus, como se o culto e o louvor fossem um ‘sacrifício’, como os antigos sacrifícios pagãos. Neste caso, não temos mais liturgias, mas sim teurgias, nas quais procura-se manipular o poder de Deus” (p.28).
Ora, enquanto fé permanecer como uma “alavanca que move os céus”, as liturgias continuarão centradas na capacidade de tornar a oração mais eficaz. Antes dos neopentecostais, o Movimento Evangélico já se distanciara dos Místicos históricos que praticavam a oração com um exercício de contemplação e não como ferramenta de como tornar Deus mais útil.
Fé não é uma força que se projeta na direção do Eterno. Fé não desata os nós que impedem bênçãos. Fé é coragem de enfrentar a vida sem qualquer favor especial. Fé é confiança de que os valores de Cristo são suficientes no enfrentamento das contingências existenciais. Fé aposta no seguimento de Cristo; seguir a Cristo é um projeto de vida fascinante.
O neopentecostalismo ganhou visibilidade midiática, alastrou-se nas camadas populares e se tornou um movimento de massa. Por mais que os evangélicos conservadores não admitam, o neopentecostalismo passou a ser matriz de uma nova maneira de conceber as relações com o Divino.
A alternativa para o rolo compressor do neopentecostalismo só acontecerá quando houver coragem de romper com dogmatismos e com os anseios de resolver os problemas da vida pela magia.
O caminho parece longo, mas uma tênue luz já desponta no horizonte, e isso é animador.
Soli Deo Gloria
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
JESUS NÃO ERA CRISTÃO - POR AUGUSTUS NICODEMUS LOPES
Muita gente pensa que sim. Todavia, a religião de Jesus não era cristianismo. Explico. Jesus não tinha pecado, nunca confessou pecados, nunca pediu perdão a Deus (ou a ninguém), não foi justificado pela fé, não nasceu de novo, não precisava de um mediador para chegar ao Pai, não tinha consciência nem convicção de pecado e nunca se arrependeu. A religião de Jesus era aquela do Éden, antes do pecado entrar. Era a religião da humanidade perfeita, inocente, pura, imaculada, da perfeita obediência (cf. Lc 23:41; Jo 8:46; At 3:14; 13:28; 2Co 5:21; Hb 4:15; 7:26; 1Pe 2:22).
Já o cristão – bem, o cristão é um pecador que foi perdoado, justificado, que nasceu de novo, que ainda experimenta a presença e a influência de sua natureza pecaminosa. Ele só pode chegar a Deus através de um mediador. Ele tem consciência de pecado, lamenta e se quebranta por eles, arrepende-se e roga o perdão de Deus. Isto é cristianismo, a religião da graça, a única religião realmente apropriada e eficaz para os filhos de Adão e Eva.
Assim, se por um lado devemos obedecer aos mandamentos de Jesus e seguir seu exemplo, há um sentido em que nossa religião é diferente da dele.
Quando as pessoas não entendem isto, podem cometer vários enganos. Por exemplo, elas podem pensar que as pessoas são cristãs simplesmente porque elas são boas, abnegadas, honestas, sinceras e cumpridoras do dever, como Jesus foi. Sem dúvida, Jesus foi tudo isto e nos ensinou a ser assim, mas não é isso que nos torna cristãos. As pessoas podem ser tudo isto sem ter consciência de pecado, arrependimento e fé no sacrifício completo e suficiente de Cristo na cruz do Calvário e em sua ressurreição – que é a condição imposta no Novo Testamento para que sejamos de fato cristãos.
Este foi, num certo sentido, o erro dos liberais. Ao removerem o sobrenatural da Bíblia, reduziram o Jesus da história a um mestre judeu, ou um reformador do judaísmo, ou um profeta itinerante, ou ainda um exorcista ambulante ou um contador de parábolas e ditos obscuros que nunca realmente morreu pelos pecados de ninguém (os liberais ainda não chegaram a uma conclusão sobre quem de fato foi o Jesus da história, mas continuam pesquisando...). Para os liberais, todas estas doutrinas sobre o sacrifício de Cristo, sua morte e ressurreição, o novo nascimento, justificação pela fé, adoção, fé e arrependimento, foram uma invenção do Cristianismo gentílico. Eles culpam especialmente a Paulo por ter inventando coisas que Jesus jamais havia dito ou ensinado, especialmente a doutrina da justificação pela fé.
Como resultado, os liberais conceberam o Cristianismo como uma religião de regras morais, sendo a mais importante aquela do amor ao próximo. Ser cristão era imitar Cristo, era amar ao próximo e fazer o bem. E sendo assim, perceberam que não há diferença essencial entre o Cristianismo e as demais religiões, já que todas ensinam que devemos amar o próximo e fazer o bem. Falaram do Cristo oculto em todas as religiões e dos cristãos anônimos, aqueles que são cristãos por imitarem a Cristo sem nunca terem ouvido falar dele.
Se ser cristão é imitar a Cristo, vamos terminar logicamente no ecumenismo com todas as religiões. Vamos ter que aceitar que Gandhi era cristão por ter lutado toda sua vida em prol dos interesses de seu povo. A mesma coisa o Dalai Lama e o chefe do Resbolah.
Não existe dúvida que imitar Jesus faz parte da vida cristã. Há diversas passagens bíblicas que nos exortam a fazer isto. No Novo Testamento encontramos por várias vezes o Senhor como exemplo a ser imitado. Todavia, é bom prestar atenção naquilo em que o Senhor Jesus deve ser imitado: em procurarmos agradar aos outros e não a nós mesmos (1Co 10:33 – 11:1), na perseverança em meio ao sofrimento (1Ts 1:6), no acolher-nos uns aos outros (Rm 15:7), no andarmos em amor (Ef 5:23), no esvaziarmos a nós mesmos e nos submeter à vontade de Deus (Fp 2:5) e no sofrermos injustamente sem queixas e murmurações (1Pe 2:21). Outras passagens poderiam ser citadas. Todas elas, contudo, colocam o Senhor como modelo para o cristão no seu agir, no seu pensar, para quem já era cristão.
Não me entendam mal. O que eu estou tentando dizer é que para que alguém seja cristão é necessário que ele se arrependa genuinamente de seus pecados e receba Jesus Cristo pela fé, como seu único Senhor e Salvador. Como resultado, esta pessoa passará a imitar a Cristo no amor, na renúncia, na humildade, na perseverança, no sofrimento. A imitação vem depois, não antes. A porta de entrada do Reino não é ser como Cristo, mas converter-se a Ele.
Já o cristão – bem, o cristão é um pecador que foi perdoado, justificado, que nasceu de novo, que ainda experimenta a presença e a influência de sua natureza pecaminosa. Ele só pode chegar a Deus através de um mediador. Ele tem consciência de pecado, lamenta e se quebranta por eles, arrepende-se e roga o perdão de Deus. Isto é cristianismo, a religião da graça, a única religião realmente apropriada e eficaz para os filhos de Adão e Eva.
Assim, se por um lado devemos obedecer aos mandamentos de Jesus e seguir seu exemplo, há um sentido em que nossa religião é diferente da dele.
Quando as pessoas não entendem isto, podem cometer vários enganos. Por exemplo, elas podem pensar que as pessoas são cristãs simplesmente porque elas são boas, abnegadas, honestas, sinceras e cumpridoras do dever, como Jesus foi. Sem dúvida, Jesus foi tudo isto e nos ensinou a ser assim, mas não é isso que nos torna cristãos. As pessoas podem ser tudo isto sem ter consciência de pecado, arrependimento e fé no sacrifício completo e suficiente de Cristo na cruz do Calvário e em sua ressurreição – que é a condição imposta no Novo Testamento para que sejamos de fato cristãos.
Este foi, num certo sentido, o erro dos liberais. Ao removerem o sobrenatural da Bíblia, reduziram o Jesus da história a um mestre judeu, ou um reformador do judaísmo, ou um profeta itinerante, ou ainda um exorcista ambulante ou um contador de parábolas e ditos obscuros que nunca realmente morreu pelos pecados de ninguém (os liberais ainda não chegaram a uma conclusão sobre quem de fato foi o Jesus da história, mas continuam pesquisando...). Para os liberais, todas estas doutrinas sobre o sacrifício de Cristo, sua morte e ressurreição, o novo nascimento, justificação pela fé, adoção, fé e arrependimento, foram uma invenção do Cristianismo gentílico. Eles culpam especialmente a Paulo por ter inventando coisas que Jesus jamais havia dito ou ensinado, especialmente a doutrina da justificação pela fé.
Como resultado, os liberais conceberam o Cristianismo como uma religião de regras morais, sendo a mais importante aquela do amor ao próximo. Ser cristão era imitar Cristo, era amar ao próximo e fazer o bem. E sendo assim, perceberam que não há diferença essencial entre o Cristianismo e as demais religiões, já que todas ensinam que devemos amar o próximo e fazer o bem. Falaram do Cristo oculto em todas as religiões e dos cristãos anônimos, aqueles que são cristãos por imitarem a Cristo sem nunca terem ouvido falar dele.
Se ser cristão é imitar a Cristo, vamos terminar logicamente no ecumenismo com todas as religiões. Vamos ter que aceitar que Gandhi era cristão por ter lutado toda sua vida em prol dos interesses de seu povo. A mesma coisa o Dalai Lama e o chefe do Resbolah.
Não existe dúvida que imitar Jesus faz parte da vida cristã. Há diversas passagens bíblicas que nos exortam a fazer isto. No Novo Testamento encontramos por várias vezes o Senhor como exemplo a ser imitado. Todavia, é bom prestar atenção naquilo em que o Senhor Jesus deve ser imitado: em procurarmos agradar aos outros e não a nós mesmos (1Co 10:33 – 11:1), na perseverança em meio ao sofrimento (1Ts 1:6), no acolher-nos uns aos outros (Rm 15:7), no andarmos em amor (Ef 5:23), no esvaziarmos a nós mesmos e nos submeter à vontade de Deus (Fp 2:5) e no sofrermos injustamente sem queixas e murmurações (1Pe 2:21). Outras passagens poderiam ser citadas. Todas elas, contudo, colocam o Senhor como modelo para o cristão no seu agir, no seu pensar, para quem já era cristão.
Não me entendam mal. O que eu estou tentando dizer é que para que alguém seja cristão é necessário que ele se arrependa genuinamente de seus pecados e receba Jesus Cristo pela fé, como seu único Senhor e Salvador. Como resultado, esta pessoa passará a imitar a Cristo no amor, na renúncia, na humildade, na perseverança, no sofrimento. A imitação vem depois, não antes. A porta de entrada do Reino não é ser como Cristo, mas converter-se a Ele.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
SOU JOSÉ! - POR PAULO CILAS
Excetuando a grande declaração “EU SOU” ou “EU SOU O QUE SOU” do próprio Deus, vejo nas palavras de José sobre si mesmo a mais profunda e contundente afirmação que pode nos inspirar a sermos nós mesmos e não o que as ocorrências da vida querem nos transformar.
Começamos pelo sonho aparentemente frustrado de José. Aliás, deveríamos nos preocupar mais quando falarmos para muitos – “não desistam de seus sonhos”, como se tais fossem sempre se realizar logo ali na esquina, ou sempre se realizar movidos por palavras quem determinem assim. Pois bem, o que se seguiu ao sonho de José foi um pesadelo sem fim. Despertada a ira de seus irmãos quanto ao seu conteúdo, o sonho de José foi a senha para fatos dignos da violência dos dias de hoje. Longe da vista de seu pai, a tramoia tinha como primeira opção a morte de José. Depois, José tinha que se dar como felizardo em “apenas” ser vendido como escravo para, a seguir, ser exposto como mercadoria em terra estranha.
Depois, o que poderia ser visto como melhoria de vida tornou-se mais enfadonho e desanimador – se é que existia algum ânimo em ser escravo- quando se recusou aos apelos sexuais da esposa de seu chefe e essa o acusou exatamente do contrário. Estar preso com motivos já é ruim, inocentemente com certeza é muito pior. E, se antes o jovem sonhador já tivera sua liberdade cerceada como escravo, agora, na prisão dos prisioneiros do rei, a coisa se agravava de vez.
Mas, as afirmações “O Senhor era com José” se repetem em sua triste jornada. Isto quer dizer que a traição de seus irmãos não mudou quem ele era para Deus e muito menos quem era e continuava sendo Deus para José. A acusação injusta e maliciosa da mulher de Potifar não encheu seu coração de ódio. Parecia que nada e nem ninguém mudaria quem ele era.
SUCESSO!!! Essa coisa que enche de orgulho e os mais diversos tipos de vaidades os corações humanos, deformando-os a cada dia, também não invadiu a alma de José. Agora, grande no Egito, ele recebe seus irmãos sem que esses sequer desconfiassem que estivessem diante do irmão que lhes causou inveja e revolta. Prostrados! Eis como muitas vezes queremos ver “nossos adversários”. “-Que meus inimigos tenham vida longa para aplaudirem minha vitória,” diz certo ditado. Entretanto, não foi o que fez José, pois, fazendo sair a todos, ele abraça e dar-se a conhecer aos seus irmãos. Chorava tão copiosamente que era ouvido lá na casa de faraó.
E aí vem a declaração maior: EU SOU JOSÉ!! As marcas profundas da vida não o mudaram. Ele não se rendeu aos apelos da mágoa, do ódio, da desilusão em transformar ou transtornar quem ele era de fato.
José era “gente” como a gente. Quando um companheiro de prisão, a quem também interpretou um sonho no qual o mesmo seria libertado, logo foi pedindo para que não se esquecesse dele e intercedesse, pois era inocente. Fez o que qualquer um de nós faria, demonstrando ansiedade em ser livre. Contudo, muitos não fazem o que ele fez. Sua identidade estava íntegra. Ele não criou uma nova personagem, não ficou recalcado, não se tornou hipócrita seja no sentido usual ou no sentido original: não interpretava um papel. ELE ERA JOSÉ!!!
A ARTE PERDIDA DO COMPROMISSO - POR CHARLES COLSON E CATHERINE LARSON
Sem compromisso, nossa vida individualista será árida e estéril. Sem compromisso, nossas vidas ficarão sem sentido ou propósito. Certas características são tão inerentes ao cristianismo que negligenciá-las significa tornar-se um crente disforme. Uma delas é o compromisso. Um cristão sem compromisso é como um paradoxo. O descompromisso tem sido uma tendência na sociedade moderna. As pessoas estão cada vez menos comprometidas com suas responsabilidades, com seus empregadores e até com sua família. Carreira, casamento, amizade e até mesmo a fé – ou seja, valores enraizados na cultura ocidental – têm sido abalados ela falta de compromisso, sobretudo entre as pessoas mais jovens. E a percepção não é apenas pela mera observação dos fatos e do comportamento das pessoas. Uma pesquisa feita em 2008 mostrou que mais da metade das pessoas com idades entre 20 e 24 anos estavam com seu empregador atual havia menos de um ano. O matrimônio, em especial, tem sofrido muito com esse quadro. De acordo com dados do último censo norte-americano, os adultos jovens estão se casando mais tarde do que nunca. Um documentário produzido pela PBS em 2006, intitulado A próxima geração, deu algumas dicas sobre o porquê dessa situação atual: desejo de aventura, interesse em progredir na carreira e permanência mais prolongada na adolescência.A falta de compromisso também está atingindo duramente a religião. Estudos sugerem que a geração iPod chega ao cúmulo de escolher quais aspectos da fé deseja adotar para criar as suas próprias listas espirituais. A religião passa a ser o mesmo, então, que uma lista de meros interesses pessoais. Entre os jovens adultos de hoje, a falta de vontade de se comprometer é alarmante. Eles são filhos de uma geração que viveu o apogeu da contracultura, entre as décadas de 1960 e 70, e expressam tal sentimento em seu apogeu. Em 1979, o sociólogo Robert Bellah realizou extensas entrevistas e pesquisas para compreender os chamados “hábitos dos corações” dos americanos médios. Muitos deles não tinham nenhum senso de comunidade ou obrigação social e viam o mundo como um lugar fragmentado de escolha e de liberdade, sempre no objetivo de obter o máximo em realização e conforto pessoal. Instados a expressar alguma forma de compromisso com algo ou alguém além de si mesmos, a maioria quedou-se silente. Bellah chamou este comportamento de “individualismo ontológico”, uma crença não codificada segundo a qual o indivíduo é a única fonte de significado. O estudioso previu então como essa atitude iria, com o passar do tempo, afetar a sociedade em geral e até a Igreja. Como se vê, acertou em cheio. Desde então, temos visto uma quase ininterrupta marcha em direção ao autofoco, afetando todas as nossas instituições, mas sobretudo o trabalho, o casamento e a família.Os blocos básicos da construção de uma sociedade pode se corroer se não existir compromisso daqueles que a compõem. No caso da Igreja, é cada vez mais urgente ensinar isso. Afinal, como é possível pensar em ser cristão sem um compromisso voluntário e total com a pessoa de Jesus? Por outro lado, além das ramificações para a sociedade como um todo, quando tal compromisso é recusado o mesmo negligenciado, perde-se uma das grandes alegrias da vida. Quando focamos tudo sobre nós mesmos, perdemos o grande sentido da existência, que outro não é senão conhecer e servir a Deus e amar e servir a nosso próximo. Isso ficou claro quando 33 cientistas pesquisadores investigaram a relação entre o desenvolvimento humano e da comunidade em um importante relatório chamado Hardwired to connect. A pesquisa revelou que o ser humano é biologicamente preparado para encontrar sentido através de relacionamentos. Depois de quase oito décadas de vida, posso testemunhar sobre isso. Minha alegria maior é dar-me aos outros e vê-los crescer como conseqüência disso. É impossível descobrir isso sem que tenha compromisso com alguém. A primeira vez que aprendi isso foi presenciando meus pais cuidarem de meus avós, de maneira amorosa e espontânea, até o fim de suas vidas.Vi isso também quando estava no Corpo de Fuzileiros Navais. Lá, ensinava-se aos recrutas como eu que compromisso com o companheiro de farda é tudo. Aprendi que, uma vez em combate, eu certamente morreria se o homem mais próximo a mim não me cobrisse, e vice-versa.Esse tipo de compromisso total, feito de amor um pelo outro, é o que precisa acontecer nas igrejas. Ao abandonar o compromisso, a nossa cultura narcisista perdeu a única coisa que procura desesperadamente: a felicidade. Semcompromisso, nossa vida individualista será árida e estéril. Sem compromisso, nossas vidas ficarão sem sentido ou propósito. Afinal, se não se vale a pena morrer por nada, também não vale a pena viver. Mas, com o compromisso, vem o florescimento da sociedade – de vocação, do casamento, da Igreja – e dos nossos corações. Esse é o paradoxo de Jesus, tantas vezes compartilhado quando o Senhor nos oferece para vir e morrer, a fim de que possamos verdadeiramente viver.
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