Sem saber como aguardar as instruções de Deus para o prosseguimento de sua vida, o povo agora tem de eleger uma referência, algo que lhe sirva para animar a vida ali, dar sentido aquele ajuntamento. Então o povo vai a Arão, o sacerdote, e simplesmente diz: “Faça-nos deuses que vão adiante de nós” (Ex. 32.1).
Repare que para pedirem uma referencia nova, precisam dizer que Moisés morreu, já que demora. Assim também é verdade que muitos começam a dizer que a igreja está morta, está fria – situação que muitas vezes foi verdadeira na igreja, mas quem providenciou um avivamento foi Deus, e não o homem. O mover de Deus desperta – e com esse argumento de “morta e fria” precisam aquecer sempre de um jeito. Jeito, normalmente, artificial, megalomaníaco, fundamentado em artifícios.
Arão, em seu primeiro vacilo diante desse quadro, sentindo-se pressionado, diz: “Tirem as argolas de ouro [...] e tragam a mim” (Ex. 32.2). Isso é fantástico! Salomão iria dizer que não há nada de novo debaixo do sol, o que foi, é o que é, e o que volta a ser. O ouro está sempre envolvido nesse chamado, despertamento, novo sentido!
Cegadas pela impaciência as pessoas entregam o ouro, literalmente. E muitas fazem com uma devoção surpreendente, uma convicção que parece ser legitima. É quase sempre certo que a entrega do “ouro” é representada mesmo em valores, dinheiro etc. Pense que muitos novos programas de televisão, principalmente de uma igreja com visão “de ampliação”, “de conquista”, “de abençoar todo povo” começam com o seguinte discurso: Esse é um programa para abençoar a tua vida, a tua casa, a tua família. Vai abrir portas... diversas portas” . Logo depois, o discurso muda: “Ajude a manter esse programa! Seja uma coluna! Deus irá te abençoar se você o fizer”.
Enfim, tudo termina na entrega do “ouro”. “Textos, fora de contexto, usados como pretexto”! Essa frase que sempre ouvi, explica bem a maneira de como isso se opera. Textos bíblicos isolados, muito mais do que fora do contexto, estão fora do Espírito da Bíblia, são palavras de ordem ditas com muito autoritarismo humano, e nenhuma autoridade espiritual. Alias, a palavra “espiritual” é muito usada também.
E assim, não entendendo a importância de um crescimento natural e contínuo, desejando até mesmo ações de Deus contudo desprezando o que de Deus já se tem e com um Arão sincero porém claudicante, o bezerro vai sendo erguido. Mas, o mais triste é que, além do ouro, as pessoas entregam suas próprias almas, tornando-se sem identidade. E, em alguns casos o que vemos é uma unidade de manada em desenfreada carreira, repetindo chavões requentados com pompa de coisa nova e dominada por um culto que não é a Deus. Massa de manobra. O culto racional aconselhado pelo apóstolo Paulo passa ao largo. E esse é o valor maior que se perde. Porque não há nada mais triste do que ver alguém seguindo e repetindo mecanicamente seus Bezerros, sem ter senso crítico, pois não julgam tudo, como é recomendado pelos profetas, pelos apóstolos e principalmente por Jesus, à luz da Bíblia.
Ouro e alma confiscados.
O culto só pode ser a bezerros.
Obs. Na terceira parte: Como Arão, sendo sacerdote do Senhor, tenta conciliar os cultos.
Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime
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