Os eleitos são esses infelizes abençoados com o tormento de ter a mão de Deus sempre suspensa sobre suas cabeças.
Diz o filósofo judeu Abraham Joshua Heschel que mesmo os profetas temiam a intimidade com Deus. Jeremias lamentava que Ele não o tivesse matado no útero de sua mãe. Jonas fugiu como pôde do olhar divino, escondendo-se na barriga de uma baleia. Jesus tentou fugir. Jó, o servo sofredor, é um grande exemplo da agonia que é ter sido eleito por Ele. Todos os heróis bíblicos – eleitos dentro do povo eleito, na maioria das vezes – sabiam do peso causado por essa proximidade com Deus.
Quem é o eleito, para a sabedoria hebraica? É aquela ou aquele escolhido para mostrar ao mundo o que pode Deus e o que Ele quer da Sua criação (…) Um homem é eleito para sofrer, e ele tem menos livre arbítrio do que os indivíduos comuns. O povo eleito é um povo de sacerdotes que carrega o sagrado em si – um encargo pesado, muito mais do que pode aguentar grande parte das pessoas. A ideia vulgar de que o eleito é aquele que Deus escolheu para “ser mais amado por Ele” pode levar a um equívoco crasso: achar que, por isso, o escolhido está acima dos padecimentos da vida. O eleito talvez seja mais amado porque, ao elegê-lo, Deus fez dele um condenado.