quarta-feira, 29 de julho de 2015
O para-choque como testemunha - Paulo Cilas
A imagem da câmera de segurança era clara. E eu assistia incrédulo o desenrolar da cena que culminaria com o meu carro avariado. Mas vou contar a história do início.
Sou chamado pela portaria que avisa que alguém bateu no meu carro. Desço incrivelmente tranquilo para alguém que já foi muito pavio curto e intempestivo - hoje... continuo o mesmo, mas sob controle, pelo menos na maior parte do tempo - e encontro na narrativa do porteiro um enredo bem intrincado para o ocorrido que pouco a pouco deu para perceber que era fruto de sua simplicidade aliada a um instinto de defesa para não ser cobrado por não ter tomado nenhuma atitude como anotar a placa, por exemplo.
Enfim, alguém conseguiu acessar a gravação e o que se viu foi uma tremenda barbeiragem. E não um, mas mais de um culpado. Explico: O barbeiro vem pela rua. O meu carro está estacionado no lado correto da rua. Entretanto, há carros estacionados no outro lado da rua, o que é proibido. A rua estreitada faz com que ele, o barbeiro, se depare com outro carro em direção contrária. Ele dá uma ré - muito mal dada- e nisso se enrosca no para-choque do meu carro. Ao invés de descer para ver o problema e a possível solução ele insiste na ré e arrebenta tudo. Outros três carros passam, mas o problema não é deles. Vão embora. O barbeiro também se manda me deixando todo o prejuízo. Talvez ele seja um crítico dos políticos e empresários corruptos.
A nossa inclinação é sempre defender nosso lado em detrimento do que é certo. É proteger nossas fraquezas ao invés de confessá-las ou assumí-las.Ou ainda egoístas: O problema não é meu!
Pode ser que o barbeiro estivesse com documentos vencidos, sem dinheiro nenhum, tenha perdido o emprego por causa da crise, o carro era emprestado, sei lá! Entretanto, ele sequer quis saber de mim e do meu dano.
E se eu fosse reclamar com os vizinhos estacionados do lado errado que contribuíram definitivamente com o evento? E se pedisse ressarcimento? Hum! Faria inimizades e seria contumazmente "elogiado"pelos séculos dos séculos.
Pois é! Nós, humanos, somos "desesperadamente inclinados, de uma forma ou de outra, para o mau. Meu para para-choque é testemunha.
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