sexta-feira, 31 de julho de 2015

POBRES PELO ESPÍRITO - Julio Zamparetti Fernandes





(Leitura não recomendável a pobres de mente, correm o risco de não entender, risos)




“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" Mateus 5:3

A melhor versão que encontrei para este versículo, dentre as Bíblias mais usadas nos dias de hoje, é a versão Ave Maria, que assim diz: “Bem-aventurados os que tem coração de pobre”. Assim, essa versão se aproxima mais do texto da vulgata latina e do texto grego do primeiro século que trazem a expressão “pobres pelo espírito”. No grego, a expressão tô pneumati é dativa, não genitiva. Configura um adjetivo, não substantivo. O mesmo ocorre ao latin spiritu. Portanto, não se trata de uma espiritualidade pobre, mas de uma pobreza segundo o espírito.

A expressão “pobres de espírito” caracteriza uma adulteração das escrituras ocorrida nas traduções que se deram ao longo do tempo. A mesma gera uma contradição, já que o próprio Espírito das Escrituras nos conduz a um enriquecimento, e não empobrecimento, espiritual.

Quanto mais se cresce espiritualmente, mais o coração se desapega das coisas materiais. Doutra forma, é exatamente a pobreza espiritual que leva o homem a tentar preencher seu vazio existencial na ilusão do materialismo. A despeito de toda riqueza que possa ter, aquele que cresce no espírito, também pelo espírito obtém um coração humilde, capaz de refugar sua riqueza e identificar-se com os mais miseráveis, tal qual Cristo, mesmo sendo Deus, identificara-se com os pecadores ao ponto de morrer por eles.

Veja o que disse São Paulo, a esse respeito: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:8,9).

Considerar todas as coisas como refugo denota um coração de pobre, desapegado, empobrecido pelo espírito. Não implica, necessariamente, que o cristão tenha que perder todas as coisas, mas sim que todas as coisas percam o domínio sobre o cristão. Quando isso acontece, todas as coisas se tornam secundárias e o reino de Deus toma o primeiro lugar na vida do homem. “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33).

Em casos extremos, é necessário o rompimento radical com os bens materiais. O empobrecimento literal, a fim de que, pelo espírito, haja o desapego material. Foi num desses casos em que Cristo disse a um jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me” (Mateus 10:21).

A mesma necessidade de erradicação ocorre em relação ao status social. Ou seja, o neo-converso, em certos casos, necessitará exilar-se de todo envolvimento com o mundo até que esteja devidamente fortalecido para voltar a integrar-se ao mundo com novo viver.

Ser pobre pelo espírito, ou ter um coração de pobre significa encontrar a felicidade independentemente dos bens materiais ou status sociais.

O rico não é pobre pelo espírito quando seu coração é apegado ao que tem.

Até mesmo o pobre não é pobre pelo espírito quando seu coração é apegado ao que não tem.

Quem não é pobre pelo espírito não conhece a Cristo, nem pode ter seu reino. São Paulo teve que considerar tudo perda e refugo para poder conhecer e ganhar a Cristo: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo” (Filipenses 3:8).

Quem não é pobre pelo espírito não pode servir a Deus. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24).

O mais impressionante nisso tudo é ver tantos crentes servindo-se de Deus para servir às riquezas! Esses são ricos pelo espírito (de Mamom).

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O para-choque como testemunha - Paulo Cilas


A imagem da câmera de segurança era clara. E eu assistia incrédulo o desenrolar da cena que culminaria com o meu carro avariado. Mas vou contar a história do início.
Sou chamado pela portaria que avisa que alguém bateu no meu carro. Desço incrivelmente tranquilo para alguém que já foi muito pavio curto e intempestivo - hoje... continuo o mesmo, mas sob controle, pelo menos na maior parte do tempo - e encontro na narrativa do porteiro um enredo   bem intrincado para o ocorrido que pouco a pouco deu para perceber que era fruto de sua simplicidade aliada a um instinto de defesa para não ser cobrado por não ter tomado nenhuma atitude como anotar a placa, por exemplo.
 Enfim, alguém conseguiu acessar a gravação e o que se viu foi uma tremenda barbeiragem. E não um, mas mais de um culpado. Explico: O barbeiro vem pela rua. O meu carro está estacionado no lado correto da rua. Entretanto, há carros estacionados no outro lado da rua, o que é proibido. A rua estreitada faz com que ele, o barbeiro, se depare com outro carro em direção contrária. Ele dá uma ré - muito mal dada- e nisso  se enrosca no para-choque do meu carro. Ao invés de descer para ver o problema e a possível solução ele insiste na ré e arrebenta tudo. Outros três carros passam, mas o problema não é deles. Vão embora. O barbeiro também se manda me deixando todo o prejuízo. Talvez ele seja um crítico dos políticos e empresários corruptos.
 A nossa inclinação é sempre defender nosso lado em detrimento do que é certo. É proteger nossas fraquezas ao invés  de confessá-las ou assumí-las.Ou ainda egoístas: O problema não é meu!
Pode ser que o barbeiro estivesse com documentos vencidos, sem dinheiro nenhum, tenha perdido o emprego por causa da crise, o carro era emprestado, sei lá! Entretanto, ele sequer quis saber de mim e do meu dano.
E se eu fosse reclamar com os vizinhos estacionados do lado errado que contribuíram definitivamente com o evento? E se pedisse ressarcimento? Hum! Faria inimizades e seria contumazmente "elogiado"pelos séculos dos séculos.
Pois é! Nós, humanos, somos "desesperadamente inclinados, de uma forma ou de outra, para o mau. Meu para para-choque é testemunha.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

O CRISTIANISMO NÃO É MORAL, MAS ONTOLÓGICO! - Fabio Campos



Texto base: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. – João 3.3 ARA


Alguém já disse que “a diferença entre Deus e o homem não é moral, mas ontológica, pois pecado não é o que faço, mas o que eu sou”. Quando estudamos a história da igreja percebemos o quanto, aos poucos, a eclésia foi dando mais ênfase na “tradição elaborada por homens”, através de um rigor ascético, do que propriamente no ensino dos Profetas e Apóstolo, os quais trataram a conversão com base no “novo nascimento” e do “novo coração”.

Impor compulsoriamente as regras morais foi um artifício muito usado no decorrer dos séculos. Longas listas do que “pode” ou “não pode”; purificação através de ritos; purgação de pecados através da negação dos prazeres legítimos; tudo era utilizado para avaliar quem de fato era salvo ou não. A teologia cristã foi rarefeita por diversas vezes por conta disso. Alguns ensinos tinham por objetivo coagir as pessoas a não pecarem. Esta era a forma utilizada pela liderança eclesiástica para refrear os impulsos pecaminosos. Com isso muitos foram se distanciando do ensino escriturístico do “novo nascimento”, enveredando-se para os “preceitos e doutrinas de homens”. Como bem disse o Apóstolo: “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor nenhum contra a sensualidade” (Cl 2.23 ARA). Infelizmente muitas denominações têm afastado as pessoas por conta dos “usos e costumes” a qual erradamente se referem por “doutrina”.

Quando analisamos o Ensino bíblico [a verdadeira e única Doutrina] a respeito do pecado e da salvação pela graça em Jesus Cristo, não é difícil de entender que Deus se compraz “em um coração contrito e quebrantando” ao invés de “sacrifícios feitos pelas mãos dos homens” (Sl 51.16-17). Muito mais importante do que sacrificar é obedecer, pois não é o exterior quem contamina o homem. É do coração que procede todo tipo de pecado. Somente um novo coração pode obedecer, pois a carne não está sujeita a lei de Deus, nem mesmo pode estar (Rm 8.7). O cristianismo não se trata de um sistema moral, mas de um novo nascimento. Não é aquilo que é ou deixa de ser lícito; mas do que convém. Não é algo tangível a ensinar: “não toque nisso”; “não proves aquilo”; “não toques aquiloutro”. Transcende isto tudo! O Reino é Paz e Alegria no Espírito Santo.

Mesmo correndo grandes riscos prefiro não usar da persuasão humana na pregação para coagir pessoas no que devem ou não fazer. Apenas exponho a Palavra e deixo a tarefa de convencer para o Espírito Santo. A pregação não é a exposição moral do que pode ou não pode. A pregação é luz nas trevas, simples e exclusivamente para conduzir o homem a examinar-se a si mesmo, e descobrir pelo crivo da Verdade, as intenções reais do seu coração enganoso e perverso. Não vai adiantar abrigar “vinho novo” em “odres velhos”. Ambos se perderão. O vinho novo precisa ser posto em odres novos. O Cristianismo é a mudança daquilo em que você se alegra. Posso me alegrar no meu moralismo e estar na condição de hipócrita - horando a Deus apenas com os lábios - mas com um coração longe dEle.

Nossa ministração será mais eficaz no dia que ousarmos abrir mão de ensinos morais tentando guiar as pessoas através de cabrestos. A verdadeira conversão passa pelo teste da liberdade. Tenho a oportunidade de fazer algo, mas conheci algo muito melhor e que traz mais satisfação ao meu coração: a saber, “a comunhão com Deus”. A confissão de todo Cristão genuíno: “Para onde iremos nós se só Tu tens palavras de vida eterna”. O contrário também é verdade com o sujeito que ainda não nasceu de novo. Ele se reprime e não peca a princípio por temor aos homens e para cumprir o check-list de “santarrão”. Certamente, hora menos horas, a carne vai ceder!, e a demanda reprimida de pecados que havia naquele coração tornará seu estado muito pior do que o primeiro.

Ser bom moralmente para o cristão não é algo que exige esforço. É como os ramos de uma árvore; produz os frutos sem perceber. Todavia, é a raiz que sustenta os ramos. A figueira não pode produzir azeitonas e a videira produzir figos. Um “cristão” mau-caráter não é um cristão. Somos salvos pela graça, mediante a fé. A fé se evidencia pelas obras. Logo pelos frutos seremos conhecidos.

Não escaparemos do que disse Jesus: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Os “usos e costumes” e a santidade que teve o crivo elaborado pela tradição humana é válida para o julgamento dos homens, mas diante de Deus, é “trapo de imundícia”. Pois o Senhor não vê como o homem vê. O homem analisa o exterior; o Senhor prova o coração. O reino de Deus não abriga gente de boa conduta, mas apenas aqueles que nasceram da água e do Espírito através de Jesus Cristo. Como bem disse John Wesley:

“Uma pessoa pode ir à igreja duas vezes por dia, participar da ceia do Senhor, orar em particular o máximo que puder, assistir a todos os cultos e ouvir muitos sermões, ler todos os livros que existem sobre Cristo. Mas ainda assim tem que nascer de novo”.



terça-feira, 21 de julho de 2015

O Vergonhoso Evangelho Social - T. A. McMahon



Por várias razões, cristãos de diferentes tendências têm feito modificações no “Evangelho de Cristo”, como se este precisasse de ajustes. A maioria deles vai dizer que não se trata de alterações significativas, mas apenas de ínfimas pinceladas aqui e ali. Essas mudanças normalmente começam com alguém declarando que não existe modificação alguma envolvida e que está ocorrendo simplesmente um ajuste na ênfase. Contudo, não importa qual seja a argumentação, o que acontece realmente é que eles “se envergonham do Evangelho de Cristo”.
Envergonhar-se do Evangelho expressa-se por meio de uma série de atitudes diferentes, desde ficar embaraçado com ele até supor que alguém possa melhorá-lo um pouco para torná-lo mais aceitável. Um exemplo desse embaraço foi a recente declaração de um autor ligado à Igreja Emergente, que afirmou: o ensino de que Cristo pagou a pena total pelos pecados da humanidade através de Sua morte na cruz do Calvário em nosso lugar é irrelevante e “uma forma cósmica de abuso infantil”.
Exemplos mais sutis incluem tentativas de fazer o Evangelho parecer menos exclusivista, “abrandando” as conseqüências do pecado, como a ira de Deus e o lago de fogo, das quais o Evangelho de Jesus nos livra.
Prevalece entre muitos líderes religiosos, que professam ser cristãos evangélicos (ou seja, cristãos crentes na Bíblia), a promoção de um evangelho mais aceitável, que possa até mesmo ser admirado pelas pessoas do mundo inteiro. Hoje em dia, a forma mais popular desse tipo de evangelho é conhecida como “evangelho social”.
Embora esse evangelho social seja comum entre os muitos novos movimentos evangélicos, ele não é novidade para a cristandade. Seu princípio moderno deu-se nos idos de 1800, quando pretendeu-se tratar das várias condições da sociedade que seriam causadoras do sofrimento da população. A crença era de que o Cristianismo atrairia seguidores quando demonstrasse o seu amor pela humanidade. Isso poderia ser mais bem realizado aliviando os sofrimentos causados pela pobreza, pelas enfermidades, pelas condições opressoras de trabalho, pelas injustiças sociais, pelos abusos dos direitos civis, etc.
George W. Bush instituiu um departamento do governo que destina fundos às igrejas, sinagogas, mesquitas e outros ministérios religiosos que estiverem oferecendo serviços sociais junto às suas comunidades.
Os que apoiavam esse movimento também acreditavam que o alívio das condições miseráveis em que as pessoas viviam poderia melhorar a natureza moral dos que sofriam essas carências.
Outra força motivadora por trás doevangelho social foi a visão sobre os tempos finais (Escatologia) dos envolvidos nessa corrente de pensamento. Quase todos eles eram amilenistas e pós-milenistas. Os primeiros acreditavam estar vivendo em um Milênio simbólico, período em que Cristo estaria governando a partir do céu, Satanás estaria preso e eles seriam os obreiros escolhidos por Deus para estabelecer o reino milenar na terra. Os pós-milenistas também acreditavam já estar no Milênio, e seu objetivo era restaurar a Terra a um estado semelhante ao Éden, para que Cristo pudesse voltar do céu a fim de implantar aqui o Seu reino terreno.
evangelho social, em todas as suas variadas aplicações, ajudou a produzir algumas realizações (leis contra o trabalho infantil e a favor do sufrágio feminino), que contribuíram para o bem-estar social. Ele tornou-se a mensagem central dos teólogos católicos adeptos da Teologia da Libertação e das principais denominações protestantes durante o século 20. Embora sua popularidade tenha crescido e diminuído alternadamente, muitas vezes foi energizada pela combinação entre religião e políticas libertárias, por exemplo, de Martin Luther King Jr. e do movimento dos direitos civis. A médio prazo, através do século passado, o evangelho social influenciou movimentos como a Teologia da Libertação católica e o socialismo da ala esquerdista dos cristãos evangélicos. Contudo, foi no século atual que o evangelho social conseguiu sua promoção mais acentuada. Dois homens, ambos professando ser evangélicos, têm liderado esse caminho.
George W. Bush começou sua presidência instituindo o White House Office of Faith-Based & Company Initiatives (departamento da Casa Branca encarregado de lidar com iniciativas sociais religiosas e empresariais). Seu objetivo foi prover fundos governamentais às igrejas, sinagogas, mesquitas e outros ministérios religiosos que estivessem oferecendo serviços sociais junto às suas comunidades. Bush acreditava que os programas desenvolvidos pelo “povo de fé” poderiam ser pelo menos tão efetivos no auxílio aos necessitados como os das organizações seculares, e talvez até mais do que elas, por seu compromisso moral de “amar e ajudar o próximo”. Quando se preparava para deixar o cargo, ele declarou que considera o seu programa “Faith-Based” como uma das mais relevantes realizações do seu tempo como presidente. Barack Obama, o novo presidente eleito, declarou que pretende dar prosseguimento ao programa “Faith-Based” com suas iniciativas comunitárias.
Rick Warren, autor dos livros recordistas em vendas “Uma Igreja Com Propósito” e “Uma Vida Com Propósito” alçou o evangelho social a um patamar jamais alcançado: ele não apenas está tendo alcance mundial, mas fazendo parte do pensamento e do planejamento dos líderes mundiais. Warren credita a Peter Drucker, o gênio em gerenciamento de negócios, o conceito básico do que ele está executando. Drucker acreditava que os problemas sociais como a pobreza, a doença, a fome e a ignorância estariam além da capacidade de resolução dos governos e das corporações multinacionais. Para Drucker, a solução mais viável seria encontrada no setor sem fins lucrativos da sociedade, especialmente nas igrejas, com as suas hostes de voluntários dedicados ao alívio dos males sociais dos carentes de suas comunidades.
Warren, ao reconhecer por vinte anos o falecido Drucker como seu mentor, certamente aprendeu suas lições. Seus dois livros “Com Propósito”, traduzidos em 57 idiomas e com mais de 30 milhões de cópias vendidas, revelam as regras do jogo que Drucker havia visualizado. Warren fez com que as igrejas locais colocassem em prática a visão dos seus livros através dos programas comunitários enormemente popularizados como “40 Dias com Propósito”. Até o presente, 500 mil igrejas em 162 nações tornaram-se parte dessa rede mundial. Elas formam a base do seu plano global chamado P.E.A.C.E. (“Paz”, em inglês).
Mas o que é o Plano P.E.A.C.E? Warren apresenta seu plano à igreja no site www.thepeaceplan.com. No vídeo ele identifica os “gigantes” que assolam a humanidade, como sendo vazio espiritual, liderança autocentrada, pobreza, doença e analfabetismo, que ele pretende erradicar pelo P.E.A.C.E: “P”: plantação de igrejas; “E”: equipamento de líderes; “A”: assistência aos pobres; “C”: cuidado dos enfermos; “E”: educando a próxima geração.
Warren usa a ilustração de um tripé para descrever a melhor maneira de liquidar esses gigantes. Duas das pernas seriam governo e negócios, até hoje ineficazes, do mesmo modo como um tripé de dois pés não pode se manter de pé. A terceira perna, muito necessária, é a igreja:
Existem milhares de vilas no mundo sem escolas, sem clínicas, sem comércio e sem governo – mas sempre têm uma igreja. O que aconteceria se mobilizássemos as igrejas para atacar esses cinco gigantes globais?
Já que existem 2,3 bilhões de cristãos no mundo inteiro, Warren chega à conclusão de que eles poderiam formar o que Bush chamou de enorme “exército da compaixão” do“povo de fé”, como até hoje nunca se viu no mundo.
Warren expandiu sua “visão cristã” para uma visão inclusivista do Plano P.E.A.C.E., que tem atraído o apoio e o louvor dos líderes políticos e religiosos e das celebridades do mundo todo. No Fórum Econômico Mundial de 2008 [em Davos, na Suíça], Warren declarou: “O futuro do mundo não é o secularismo, mas o pluralismo religioso...”Referindo-se aos males que atacam o mundo, ele afirmou:
Não podemos resolver esses problemas sem envolver as pessoas de fé e suas instituições religiosas. De outra forma não será possível. Neste planeta existem aproximadamente 20 milhões de judeus, 600 milhões de budistas, 800 milhões de hindus, mais de um bilhão de muçulmanos e 2,3 bilhões de cristãos. Se excluirmos o povo de fé da equação, estaremos excluindo 5/6 da população mundial. E se deixarmos apenas nas mãos dos seculares a solução desses problemas, ela não será realizada”.
Warren expandiu sua “visão cristã” para uma visão inclusivista do Plano P.E.A.C.E., que tem atraído o apoio e o louvor dos líderes políticos e religiosos e das celebridades do mundo todo.
A fim de acomodar a cooperação com pessoas de todas as crenças, Warren substituiu o “P” do seu P.E.A.C.E. (plantar igrejas evangélicas) para o “P” de “promover reconciliação”. O “E” de “equipamento de líderes” (de igrejas) para “equipamento de líderes éticos”. Warren reconhece sua virada para o pluralismo:
Quem é o homem de paz em qualquer vila... ou, quem sabe, a mulher de paz... que goza do maior prestígio entre os seus?... Não precisam ser cristãos. Na prática, poderiam até ser muçulmanos, mas que estejam abertos e tenham influência, para se trabalhar com eles para atacar os cinco gigantes (aos quais ele adicionou o aquecimento global).
Ele cita um líder secular que aprova o que ele está fazendo.: “Eu entendo, Rick. Locais de culto são os centros de distribuição de tudo o que temos a fazer”.
Warren agora é membro do Conselho da Faith Foundation [Fundação de Fé], criada pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, recentemente convertido ao catolicismo romano. O alvo dessa instituição é fomentar a cooperação e o entendimento entre as seis maiores religiões: cristã, muçulmana, hindu, budista, sikh e judaica. Mas onde fica a cruz nesse ajuntamento ecumênico? Ora, ela não fica! Decisiva para a realização desse alvo ecumênico é a eliminação do problema das religiões exclusivistas, uma preocupação articulada com muita clareza por um dos painelistas no Fórum Econômico Mundial:
Existem alguns líderes religiosos de diferentes crenças que, para reforçar sua própria fé e legitimá-la... negam legitimidade e autenticidade às outras pessoas e suas crenças. Não creio que possamos continuar agindo assim sem... trazer à tona o tipo de ódio para o qual todos nós estamos tentando encontrar uma solução. Acho que a nós cabe pressionar os líderes espirituais, seja qual for sua fé. Insistimos em fortalecer aquilo que é belo em nossas tradições, enquanto nos negamos a denegrir outras tradições de fé sugerindo que elas sejam erradas ou predestinadas a ter um fim infeliz”.
A Bíblia explica que todas as religiões do mundo são “ilegítimas” e não simplesmente “predestinadas” a ter um “fim infeliz” – elas terão um fim “justo”.
A Bíblia explica que todas as religiões do mundo são “ilegítimas” [“falsas”] e não simplesmente “predestinadas” a ter um “fim infeliz” – elas terão um fim “justo”. Somente a fé no Evangelho bíblico salva a humanidade. Lemos em Atos 4.12 e João 3.16: “E não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”... “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
A história do evangelho social é, em quase cada caso, uma tentativa sincera de cristãos buscando fazer o que eles supõem que honrará a Deus e beneficiará a humanidade. Em cada caso, porém, a prática de “benefícios à humanidade” tem comprometido a fé bíblica e desonrado a Deus. Por que isso é assim? Porque Deus não deu à Igreja a tarefa de resolver os problemas do mundo. Os que tentam fazê-lo começam pela premissa falsa, como já diz Provérbios 14.12: “Há caminho que ao homem parece direito”, mas não é o caminho de Deus. Para onde leva esse caminho? “...mas ao cabo dá em caminhos de morte”, ou seja, à destruição. Além do mais, os problemas do mundo são apenas sintomas. A causa real é o pecado.
Qual a porcentagem do “povo de fé” (que engloba todas as religiões, que seriam 5/6 da população mundial) que entende e aceita o Evangelho – a única solução para o mal chamado pecado? Ou quantos dos 2,3 bilhões de “cristãos”, no mundo inteiro, crêem realmente no Evangelho bíblico? Os números caem exponencialmente. “Sim, mas... eles formam uma força maciça de voluntários e centros de distribuição muito além dos nossos recursos, aptos a liquidar os gigantes do mundo sofredor!” Mas, que aproveita se esses bilhões de “pessoas de fé” puderem aliviar alguns dos sofrimentos do mundo mas perderem justamente suas almas?
evangelho social é uma doença mortal para o “povo de fé”. Ele reforça a idéia de que a salvação pode ser obtida pela prática de boas obras, colocando de lado as diferenças em favor de um bem comum, tratando os outros como gostaríamos de ser tratados, agindo de forma moral, ética e sacrificial – e que, agindo assim, as pessoas vão se tornar agradáveis a Deus. Não! Esses são esforços auto-enganosos, que desprezam a salvação de Deus, negando o Seu padrão perfeito e rejeitando Sua perfeita justiça. A salvação não acontece por meio de obras, para que ninguém se glorie. Na realidade, ela se processa assim: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Jesus anunciava que Ele era a única esperança, para a humanidade condenada, reconciliando-a com Deus. Ele declarou: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Não existe outro caminho, porque a perfeita justiça de Deus exige que a pena do pecado seja paga individualmente, pois “todos pecaram” (Rm 3.23).Somente o Homem-Deus perfeito e sem mácula tinha condições de pagar totalmente essa penalidade infinita, e o fez morrendo na cruz. Somente a fé em Jesus reconcilia o homem com Deus.
O vergonhoso evangelho social de hoje não apenas promove “outro evangelho” como ajuda a preparar um reino completamente contrário às Escrituras. Pois “...a nossa cidade está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Ele voltará do céu (Jo 14.3) para arrebatar os que nEle crêem (Sua Noiva), ou seja, para elevá-los às nuvens e levá-los para o céu (1 Ts 4.17). O reino que ficar na Terra será o reino do Anticristo.
O que realmente importa ao coração de Deus é que “todos se arrependam” e creiam no Evangelho.
Em concordância com seus princípios amilenistas/pós-milenistas, os esforços doevangelho social são tentativas terrenas de restaurar aqui o reino de Deus. Eugene Peterson infiltrou essa heresia em sua Bíblia “The Message”:
Deus não teve todo esse trabalho de enviar o Seu Filho simplesmente para apontar o seu dedo acusador, dizendo como o mundo era mau. Ele veio ajudar a colocar o mundo novamente em ordem (uma perversão de João 3.17).
Rod Bell, em seu livro “Velvet Elvis”, reflete a escatologia da “terra restaurada” de quase todos os líderes da Igreja Emergente:
Salvação é quando todo o universo é trazido à harmonia com o seu Criador. Isso tem conseqüências enormes na forma com que as pessoas apresentam a mensagem de Jesus. Sim, Jesus pode vir a nossos corações. Mas podemos nos juntar a um movimento que é tão amplo como o próprio universo. Rochas, árvores, pássaros, pântanos e ecossistemas. O desejo de Deus é restaurar tudo isso... O objetivo não é fugir deste mundo, mas transformá-lo no tipo do lugar para onde Deus possa vir. E Deus está nos transformando na espécie de gente que pode realizar esse tipo de obra.
Para Brian McLaren, líder da Igreja Emergente, essa é a futura maneira de ser dos cristãos. Numa entrevista ao ChristianPost.com de 28/7/2008 ele declarou:
Acho que no futuro também teremos de nos unir de forma humilde e tolerante a pessoas de outras crenças – muçulmanos, hindus, budistas, judeus, secularistas e outros – na busca pela paz, na preservação do meio-ambiente e na justiça para todos, as coisas que são importantes ao coração de Deus.
Não! O que realmente importa ao coração de Deus é que “todos se arrependam” e creiam no Evangelho.
Qualquer pessoa que deposita sua esperança nesse evangelho social, que usa “pessoas de fé” para “fazer deste mundo um lugar para onde Deus possa vir”, deve dar atenção às palavras de Jesus em Lucas 18.8b: “Contudo, quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?” Certamente Ele vai encontrar pessoas de todas as crenças, mas não a fé verdadeira, aquela fé pela qual Judas nos exorta a batalhar diligentemente (Jd 3). Que o Senhor nos ajude a todos para que jamais nos envergonhemos do Seu Evangelho! The Berean Call

FALSO EVANGELHO - Henandes Dias Lopes








https://www.youtube.com/watch?v=YLhS8ipVrKY

sábado, 18 de julho de 2015

Os Evangélicos progressistas e o caso da cruz de Espinal - Guilherme de Carvalho





O que se segue é a minha reflexão sobre o caso da “Cruz de Espinal” e, particularmente, da tremenda confusão hermenêutica e teológica que ela se mostrou para muitos cristãos brasileiros. É também uma advertência ao progressismo evangélico, tendo em vista suas condições de sobrevivência para o futuro.

O EVANGELHO DA CRUZ E O EVANGELHO DA VÍTIMA


Quem adoramos quando contemplamos a cruz? Para os Cristãos, o Deus-Homem, ali crucificado, ali vitorioso sobre o mal e salvador do mundo, ali reconciliador do homem com Deus. Não adoramos “a cruz”; a cruz é instrumento de tortura, o símbolo do poder Imperial, o símbolo da potência criada por Cristo, mas dele desviada por Satanás. Não adoramos meramente “o crucificado”, como se sua história houvesse se encerrado ali, no gólgota, mas aquele que foi crucificado e hoje é ressurreto, e vive para sempre, e nós, Nele. Mas podemos sim, dizer que adoramos o nosso Deus, o Deus que, no homem-cordeiro, foi crucificado, o logos que se humilhou, e que anunciamos a Cristo, e a este crucificado.

Adoramos a vítima? Sim… e não. Sim, porque Jesus foi vítima do poder imperial; não, porque ser vítima não é, em si, mérito. Poderia o homem ser justificado pela vitimização? Não; jamais. A vítima deve ser pura, reta; deve ser sem mácula. É a justiça da vítima que justifica, não a vitimização. A vitimização é o crime, é a violência contra Deus e o seu universo. Que justiça pode vir da pura vitimização?

Ainda mais porque a vítima não é vítima, em última instância, se é culpada, se tem mácula. Pois nesse caso, ela não é vítima mas algoz, ainda que travestida de vítima; algoz do outro, algoz de si mesma (quando se tem a persistente oportunidade de transformar a vitimização em mera tragédia romântica, ou até de transferir a culpa) mas sempre algoz do Filho de Deus.


Todos somos algozes de nós mesmos, e uns dos outros, e todos, de Deus. Todos somos também vítimas uns dos outros, mas não de Deus, pois ele não é um criminoso; ele é o justo juiz de toda a terra, e nunca vitimizará o seu mundo, embora certamente seja um juiz terrível.

Por isso, sem jamais ser o ofensor, ele pode ser a vítima e o juiz; só Deus pode ser a vítima; só o homem-Deus pode apresentar-se como vítima. Pois ele não tem mácula; ele é o justo, no sentido absoluto – embora existam justos na terra, os quais no entanto só são justos porquê e quando lhes é concedido participar da justiça do Justo, o Cristo; e toda a sua justiça terrena nunca é mais do que um sinal e uma expressão da justiça do Justo.


Jesus Cristo é a vítima do mundo? Sim; sim de um ponto de vista puramente imanente. É mais uma das vítimas que fazemos todos os dias. Nesse sentido Jesus “é” o judeu marrano, e o judeu em Auschwitz; Jesus “é” o pobre, o cego, o nu, o encarcerado; Jesus “é” o travesti injustiçado; Jesus “é” a criança abandonada; jesus “é” o adolescente infrator que se tornou infrator porque foi esmagado por um sistema injusto; Jesus “é” a mãe solteira e pobre que afogou as mágoas em uma noite de sexo. Jesus “é” a vítima por excelência.

Mas não, sabemos que Jesus não é nenhum deles, em um sentido teológico. Pois “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23) – a criança, o velho, o jovem, a prostituta, o travesti, o ladrão pobre que é linchado no poste, o ladrão rico e amado pelas esquerdas Brasileiras, o cristão-contemporâneo que faz sexo fora do casamento porque seu pastor moderninho liberou, o publicano, o papa, Obama e Osama, Francis Schaeffer e Paul Tillich… somos todos algozes, meus irmãos. E aqueles de nós que foram vitimados na infância, só não saíram da potência ao ato porque não tiveram tempo e oportunidade para tanto.

Mas não se apresenta o Cristo no fraco, no pobre, no encarcerado? Não é o que ensina a parábola das ovelhas e dos bodes, em Mateus 25? Nossa resposta ao Cristo não se manifesta em nossa resposta às vítimas ao nosso redor?

Sem dúvida; mas notemos o fundamental: não é porque essas vítimas são vítimas, que sinalizam o Cristo, como se a vitimidade fosse, em si mesma, Crística. Essa é a falácia do ressentimento, que perversamente se alia, no espírito, ao sofrimento do outro, não por compaixão pela humanidade que nos é comum, mas pela partilha ímpia da mágoa e do ódio reprimido, que tragicamente também nos é comum.

Ademais, o que diz o texto sobre as vítimas? Na verdade, nada se diz sobre serem vítimas inocentes. O sujeito pode ter fome e sede porque foi explorado; mas pode ter fome porque houve uma grande seca, ou porque foi preguiçoso; ainda assim, devemos alimentá-lo. Ele pode estar nu porque despiu-se, porque vendeu o apartamento, e depois o carro, e depois os móveis e depois as roupas, para drogar-se; mas devemos vesti-lo. Ele pode estar doente porque carrega uma doença genética; ele pode estar na prisão porque é criminoso; ele pode ser estrangeiro porque é… bem, estrangeiro.

Não ignoro a tradição profética que associa esses indivíduos em situação de risco à opressão política e econômica; mas a tradição Bíblica nunca tornou a pobreza e o sofrimento em virtudes per se; nunca vinculou o dever do amor ao próximo a uma suavização da culpabilidade e da alienação humana.

E por isso mesmo, as Escrituras nunca trataram a Cruz de Jesus Cristo como salvadora meramente por ser uma cruz. Ela é salvadora porque é a Cruz do Cristo, a única vítima verdadeira, mas também a única capaz de transmutar sua vitimização na Reconciliação de todas as coisas. É a redenção de Cristo que torna especial a Cruz de Cristo. É o sangue do Cordeiro o que torna aceitável o sacrifício e o transfigura, de feio crime, em belíssimo ato Redentivo de Deus.

O que dizer das vítimas que fazemos diariamente? Podem apenas sinalizar, lembrar a vítima que é Cristo; mas acima de tudo, lembremos que tais sacrifícios são sempre impotentes. Eles só nos lembram de que somos culpados; nos lembram que somos os ofensores de nós mesmos; não são atos de Deus, mas nos fazem lembrar de que estamos eternamente perdidos sem um ato de Deus. Nas mãos de Deus, a vitimização do Cristo é a salvação do mundo; mas as “vitimizações” secundárias que realizamos diariamente não são sinais salvadores! São sinais, irmãos, do JUÍZO do mundo!
E Deus prosseguiu: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão está clamando a mim desde a terra. Agora, maldito és tu (Gn 4.10-11)
É isso, e apenas isso, o que o estrangeiro oprimido, o pobre humilhado, o órfão abandonado, o travesti assassinado, o jesuíta martirizado pela ditadura, podem dizer: que agora, somos malditos; todos nós. Mas não é assim com a cruz de Cristo. Pois “Cristo nos resgatou da maldição da lei, tornando-se maldição por nós” (Gl 3.13).

A cruz de Cristo, e só a Cruz de Cristo, transcende a má notícia da maldição! Somente o Cristo na cruz pode transmutar a cruz, de maldição, em salvação! Só Cristo pode transformar o sentido de um símbolo tão terrível em algo tão glorioso, a ponto de o apóstolo dos gentios descrever seu evangelho como “a palavra da Cruz”. Cristo reconciliou consigo todas as coisas, todas… até mesmo a cruz, o aguilhão do império!

Mas isso não transmuta todas as cruzes do mundo, automaticamente. Não; pois não é um “princípio abstrato” de cruz o que nos salva, mas a cruz do Cristo Histórico. Aquela cruz específica, singular, historicamente localizada, erguida de uma vez por todas. Mas essa cruz pode ser presentificada pelo Espírito de Deus, quando o discípulo de Jesus toma a sua cruz, cheio da Esperança da Ressurreição, e com isso transmuta o sentido da sua própria cruz em sinal de vitória sobre o mal. Mas tal luminosidade não procede de sua vitimidade, nem do seu mérito individual; procede da presentificação do único Salvador, Cristo. Assim as nossas cruzes deixam de ser maldições, e se tornam cristãs.

Mas como aparece o Cristo no fraco? Não em sua fraqueza nua, como se o fraco fosse por isso um salvador (e como Nietzsche deseja ver o Cristianismo), mas porque sua fraqueza me confronta com a criaturidade humana e com a maldição humana. Não há evangelho no sofrimento que causamos uns aos outros, e nas ofensas que cometemos contra nós todos os dias. Não há evangelho na injustiça social, nem na doença, nem na ladroagem, nem no preconceito. A criança não é messiânica; o travesti não é messiânico; o Lula não é messiânico; o negro não é messiânico; o pobre não é messiânico. Também não há evangelho na luta humana contra a injustiça e o sofrimento, assim como não havia evangelho na luta farisaica contra o pecado. Mas todas essas situações são oportunidades de nos lembrarmos de que precisamos do messias, porque sem ele, somos todos malditos.

O Evangelho verdadeiro não é mediado pelo “messianismo” do pobre, o “messianismo” da vítima do sistema. O sistema é satânico, os ofensores são malditos, e suas vítimas, miseráveis. O Evangelho verdadeiro não é mediado pela luta humana contra a injustiça humana, pois as nossas justiças não passam de trapos de imundícia. O Evangelho verdadeiro não é o evangelho da vítima, inventado por homens amargos e maquiado intelectualmente pela New Left. O Evangelho verdadeiro não diz respeito ao que os homens fazem, ou pensam que fazem, ou pensam que deveriam fazer, ou sentem que deveriam fazer, mas ao que DEUS faz pelos homens, na SUA cruz.


É A “CRUZ DE ESPINAL”, “EVANGÉLICA”?

“Alexamenos Adora a Deus”, é o que reza a “legenda” no grafite do Palatino, em Roma, datado do século III A.D. E ali está… um asno crucificado. Um asno! Foi, assim, chamado de “O Grafite Blasfemo”.

Quis o pagão ridicularizar o fiel, transmutando o caráter o crucificado, e não tanto o sentido da cruz. Não é um Deus; é um asno. Esse que está sobre cruz não é isso tudo que pensa e crê entre os fiéis.

Mas, como disse um amigo, o Diabo é ambidestro. Não há uma única forma de enfraquecer a igreja de Jesus. Podemos atacar a mensagem da Cruz diretamente, desavergonhadamente, profanando a imagem do Cristo: “um asno!”. Mas o departamento de contrainformação do inferno é mais sutil do que isso. Porque não… enfraquecer a mensagem da Cruz “por dentro”, correndo o seu sentido por meio das línguas, das bocas, das canetas (e, agora, das timelines) dos próprios seguidores do Cristo?

Consideremos a cruz de Evo Morales; a cruz, na verdade, do padre Jesuíta espanhol Luis Espinal Camps, covardemente assassinado por um esquadrão da morte em 21 de Maio de 1980, sob ordens do ditador de direita Garcia Meza. Segundo o papa Francisco, ele foi morto por “dizer verdades”. Pois o evangelho incomoda.

Seria a morte de Espinal uma morte evangélica? Inclino-me a acreditar que sim. Pois se morreu em defesa dos oprimidos, e sofreu imitando a Cristo, e se entregou por saber-se reconciliado por Deus pela única vítima, Jesus Cristo, morreu evangelicamente. Morreu na cruz preparada por um governo ditatorial de direita; lembrou, então, não apenas que somos todos amaldiçoados, mas também que podemos ser, todos, perdoados e abençoados. Se assim foi, bendito seja o padre Espinal. Peço a Deus que me faça digno de desatar a correia de suas sandálias na Nova Criação.

Seria a “cruz de Espinal” uma cruz evangélica? Não a crucificação do próprio Espinal, mas a sua peça artística, o assim-chamado “crucifixo comunista”?




Segundo o presidente Evo Morales, que presenteou o papa Francisco com a escultura, ela seria uma reprodução de uma cruz atribuída a Espinal, que mostra o Jesus Cristo crucificado sobre a combinação da Foice com o Martelo – o símbolo da união entre as forças dos trabalhadores campesinos e do operariado, para constituir a força proletária em luta por justiça e pelo socialismo. Esse símbolo foi apropriado pelo socialismo marxiano e tornou-se, enfim, o símbolo máximo do comunismo internacional.


A situação causou espécie; embaraço, risos, denúncias. Foi descrita por um líder católico boliviano como uma… “travessura”. E que travessura!

A pergunta que se coloca é muito clara: é a cruz de Espinal uma cruz evangélica?

Para ser evangélica, deve anunciar a mensagem da cruz; isso é muito simples. Sejamos empáticos, então: aparentemente, Espinal quis associar o sofrimento do Cristo, na cruz, com o sofrimento e a luta dos trabalhadores por justiça social. De algum modo, então, a morte de Cristo na cruz estaria associada à vitimização e ao sacrifício do trabalhador oprimido pelo capitalismo.

Mas como exatamente seria essa associação? Não sabemos o que passou pela cabeça do sacerdote, como mais de um simpatizante já confessou. Mas podemos fazer hipóteses. Tenho três:

(1) Poderia ser uma denúncia do poder imperial do comunismo internacional, responsável pelo derramamento do sangue de milhões de cristãos; nesse caso, seria uma peça artística de significação martiriológica. Mas esse não parece ser o caso, já que o padre não era, exatamente, um crítico do comunismo; e sua luta histórica era contra uma ditadura de direita. É improvável, portanto, a tese martiriológica, que seria interessantemente evangélica, embora desagradável para os simpatizantes do neopopulismo latinoamericano.

(2) Poderia ser uma denúncia do poder imperial da direita, que oprime e “crucifica” o proletariado, assim como crucificou a Cristo. Nesse caso, o Cristo do crucifixo não seria o próprio Cristo, mas um representante do trabalhador vitimizado pelo sistema. Nos termos que explanei acima, esse seria um uso não-evangélico e vitimista da cruz.

(3) Poderia ser uma denúncia do uso ideológico da crítica produzida pelo poder imperial, como forma de justificar a “crucificação” do trabalhador. Em outros termos: o poder imperial de direita emprega o rótulo “comunista!” como forma de achincalhar e desempoderar o discurso e ação libertadora do proletariado oprimido.

São minhas três hipóteses. Pessoalmente, gosto muito da terceira; ela tornaria a cruz de Espinal um poderoso símbolo contra o uso ideológico do símbolo ideológico – no caso, o que se tornou o símbolo do comunismo – como forma de desqualificar toda e qualquer ação em nome da justiça social ou econômica, ou em defesa do campesinato ou do operariado, ou de recuperação da dimensão social e política do profetismo Bíblico, e posicionamentos semelhantes. Se Espinal pensou nisso, ele foi genial!

Não há evidências disso, no entanto; ninguém se apresentou com essa interpretação, além de mim, menos ainda traçando-a ao discurso próprio Espinal. Mas esse não é o único nem o maior problema da minha hipótese preferida: o maior é, enfim, que nesse caso o símbolo não é evangélico. É apenas um jogo simbólico político. O Cristo seria puramente acidental, como quando dizemos que “Neymar foi crucificado” após alguma declaração inoportuna. Tratar-se-ia de uma metáfora, num sentido Ricoeuriano, em que os sentidos anteriores foram quebrados e esmagados, e de sua síntese emergiu outro sentido. OUTRO sentido: uma denúncia da máquina de propaganda da ditadura de direita.

Ora, ficamos, então, com o sentido mais imediatamente reconhecido pelo populacho, e discutido nas redes sociais: Cristo, o representante do oprimido social, crucificado pela mesma razão que o oprimido é crucificado: por lutar por sua liberdade e dignidade, interpretada pela causa socialista.

Se assim for, a peça não é evangélica, não é realmente cristã. Não seria preciso crer em Cristo como o Cristo de Deus para compor essa metáfora concreta que é o foicefixo. Bastaria admirar a Cristo como exemplo de luta por justiça. O Cristo no foicefixo é qualquer um que sofre injustiça; qualquer um. Na verdade, sem o Cristo verdadeiro, o foicefixo poderia ser empregado para afirmar a inocência da vítima do capital, a classe trabalhadora. Jesus seria mais uma vítima desse sistema; e só. A peça prestar-se-ia, então, ao messianismo do pobre, que não é o verdadeiro Evangelho. Ainda serviria, no entanto, como instrumento de crítica política.

MAS NÃO É SIMPLES ASSIM

Infelizmente, não é tão simples assim. Talvez isso fosse viável, se a foice com o martelo já não tivessem uma história muitíssimo conhecida em todo o mundo ocidental. O símbolo foi inocente, na primeira ou na segunda era da Terra Média; mas a terceira Era alterou permanentemente o seu significado. Todos sabemos porque o símbolo do comunismo é proibido, em países um dia comunistas, como a Polônia, juntamente com a Suástica Nazista: é porque esses símbolos foram cooptados, profanados, indelevelmente marcados e incorporados em programas políticos anti-humanistas, genocidas e satânicos, para usar palavras suaves.

O sentimentalismo procurou lembrar a todos de que num passado distante esses símbolos significaram outra coisa. É verdade; mas a história andou. Eles não significam mais o que significavam, porque o mundo não é mais aquele. O mundo depois de Lenin, de Stálin, de Pol Pot, de Mao, de Fidel, do MR8, não acomoda mais a forma pura e inocente (se um dia o foi) da foice e do martelo.

Mas e quanto à cruz? Não pode ela também ter seu sentido ultrapassado? Ora, essa pergunta só é aceitável na boca de um pagão. Que nenhum Cristão ouse fazê-la; pois “o Cordeiro de Deus foi morto antes da fundação do mundo”. A cruz de Cristo (sempre entendida como “Cristo, e este crucificado”, e nunca apenas dois paus cruzados) é um fato histórico singular, ancorado na eternidade; é um ato de Deus, não um projeto dos homens. Ela está na história, mas é TRANSISTÓRICA. Por isso, não passa, como aquele que faz a vontade de Deus, e permanece para sempre.

Por outro lado, a finitude e determinação histórica do símbolo do comunismo é, ainda, incontornável. A aberração simbólica, ainda que “bem intencionada” de Espinal não tem a potência de quebrar esse condicionamento histórico e nos fazer esquecer do grotesco que foi e que brotou dessa religião secular. Irritam-se os simpatizantes de Morales que os milhões mortos pelo comunismo sejam sempre lembrados, mas não é assim que se trata uma memória dolorida com esta – com a negação. O fundo histórico que acompanha este símbolo é pesado demais para que Espinal efetive com sucesso uma síntese plástica com a mensagem Cristã. A verdade é que a cruz de Espinal se aproxima, demais, de um símbolo ambíguo, útil para confundir o Cristão sobre a relação entre a fé e o Comunismo. Mas essa confusão não pode ser feita. Aqui Franklin Ferreira trouxe à memória a encíclica DIVINIS REDEMPTORIS de Pio XI (1938):
“A doutrina comunista que em nossos dias se apregoa, de modo muito mais acentuado que outros sistemas semelhantes do passado, apresenta-se sob a máscara de redenção dos humildes. E um pseudo-ideal de justiça, de igualdade e de fraternidade universal no trabalho de tal modo impregna toda a sua doutrina e toda a sua atividade dum misticismo hipócrita, que as multidões seduzidas por promessas falazes e como que estimuladas por um contágio violentíssimo lhes comunica um ardor e entusiasmo irreprimível, o que é muito mais fácil em nossos dias, em que a pouco eqüitativa repartição dos bens deste mundo dá como conseqüência a miséria anormal de muitos. Proclamam com orgulho e exaltam até esse pseudo-ideal, como se dele se tivesse originado o progresso econômico, o qual, quando em alguma parte é real, tem explicação em causas muito diversas, como, por exemplo, a intensificação da produção industrial, introduzida em regiões que antes nada disso possuíam, a valorização de enormes riquezas naturais, exploradas com imensos lucros, sem o menor respeito dos direitos humanos, o emprego enfim da coação brutal que dura e cruelmente força os operários a pesadíssimos trabalhos com um salário de miséria.”
Chega muito perto do cinismo, se for mais do que ingenuidade ou sentimentalismo ideológico, a tentativa de ignorar esse fato incontornável da história moderna para recuperar o substrato válido do símbolo comunista, enterrado sob camadas e camadas de injustiça, corrupção e morticínio, para torna-lo – justamente ele – uma releitura da cruz do Cristo. Quem compreenderia essa sutileza artística? Os trabalhadores? Bem, eles não entenderam nada. De minha limitada perspectiva, com a exceção daqueles já ideologicamente doutrinados, o povo fez para o crucifixo a mesma cara que fez o Papa Francisco.

O CRISTO SUPERESTRUTURAL

Mas era isso diferente bem antes da travessura de Evo Morales, quando o querido mártir supostamente compôs a peça? Precisamos reconhecer: não. A essa altura o gulag já era um fato público, que nem o contexto violento e opressor das ditaduras latino-americanas poderia eliminar. Deveria Espinal ter usado esse símbolo manchado do sangue cristão? Não; e não queremos dizer, com isso, que ele deveria ter empregado um símbolo “do capital”. Na verdade, ele não deveria ter invertido de forma alguma a relação entre o Cristo e a cruz, a Vítima divinamente estabelecida e as vítimas/ofensores humanos, pois não se combate os Assírios colocando a confiança nos Egípcios. É idolatria aderir ao socialismo para livrar-se do ídolo capitalista, pois o socialismo e o capitalismo são, ambos, filhos bastardos do Cristianismo, quando este se deitou com a ideologia prometeica do progresso humano, a imanentização da Esperança Cristã. Os devotos religiosos e morais desses “ismos”, o capitalismo e o socialismo – o ídolo e o contra-ídolo – cridos como meios necessários e divinos para a redenção histórica do homem estão, ambos, jantando com o Diabo. Mesmo que sejam membros de igrejas.

A gênese do erro não está, portanto, em Evo Morales; ela vai até o padre Espinal, que independentemente de suas intenções (e reitero meus respeitos ao homem), construiu um artefato simbólico intrinsecamente problemático, intrinsecamente ambíguo, em todos sentidos: tanto do ponto de vista imanente, já que falha miseravelmente em vencer e ressignificar o símbolo do comunismo, quanto do ponto de vista transcendente, pois anuncia o evangelho da vitimização, e não o evangelho do Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. A cruz de Espinal não é uma cruz evangélica. É uma cruz ideológica, uma aberração simbólica; é um artefato problemático, que deseja unir Cristo e a luta social, mas o faz ao custo de sobrepor o crucificado à uma base herética e viciada. O crucificado, ali, não é o mesmo Cristo da Bíblia e da fé; é um Cristo marxiano clássico, o Cristo da superestrutura, o Cristo superposto a uma estrutura que o sustenta e o interpreta, que é… a ideologia.

A dificuldade foi definitivamente expressa pelo colega Rodolfo Amorim, de modo que reproduzo aqui seu comentário, na íntegra (feito no dia 10/07):
Se Espinal fez relações entre libertação de pobres e comunismo, deveríamos como cristãos tê-lo auxiliado a ler a realidade, não? Ou àqueles que conhecem a aberração simbólica por ele produzida. Não foi este comunismo que dizimou dezenas de milhões? Não foi ele que roubou das pessoas até sua consciência privada, algo custosamente sacralizado pelos cristãos? Não foi ele que tirou de seus súditos qualquer direito, a ponto de ser denunciado como o regime mais opressor da história? Portanto, não vejo coerência alguma, seja no símbolo criado por Espinal (não julgo sua vida, mas esta sua obra, ou fruto, específico) ou na atitude do Evo Morales por presentear um Chefe de Estado de, talvez, a representação com mais membros perseguidos pelo próprio sistema comunista (é só ler os relatos dos países do leste europeu com maioria católica e as perseguições e assassinatos sistemáticos feitos por aqueles a estes). Por isso, mesmo exagerando, comparo o ocorrido à imagem de um possível judeu confuso que talhou uma suástica de metal com o símbolo da estrela do Rei Davi, talvez o judeu fosse confuso em unir estes dois símbolos irreconciliáveis. Talvez fosse um ex-judeu. Talvez tivesse perdido a razão. Mas o fato é, se um líder de Estado presenteasse um chefe de estado de Israel com este símbolo, não haveria um, e digo com toda certeza, um judeu, que tentasse “explicar” aos incautos o motivo de tal aberração simbólica do confuso judeu-nazista. Mas com os cristãos, não. Eles ainda vêem a foice e o martelo e evocam imagens de libertação, de luta pelo pobre. É isso que me preocupa. Falta de coerência doutrinária interna e ausência de consciência histórica de muitos cristãos.

QUEM ENGOLIU UM CAMELO?

A princípio, diverti-me bastante com a situação. Pareceu-me cômica, principalmente pela expressão incrédula do Papa Francisco. Mas meu sorriso rapidamente se desvaneceu, quando vi irmãos conhecidos, ligados à ABU, à Rede Fale, à Renas, à Visão Mundial, à FTL, a diversas igrejas, e a outros movimentos evangélicos, defendendo calmamente a cruz de Espinal e o ato político de Evo Morales.

A naturalidade com que estes amigos aderiram festivamente à travessura de Morales revelou, de novo, o que a ala ainda sóbria da teologia evangélica Brasileira já notou há muito tempo: o Cristo de parte do progressismo evangélico nada mais é, hoje, do que um Cristo superestrutural.

Não penso que estou coando mosquitos, aqui. Estou, francamente, tentando arrancar esse enorme camelo que a esquerda evangélica engoliu, e que está parado em sua garganta. Esse camelo vai mata-los. Já está os matando. Mas eles não querem se arrepender. Não querem. É bem possível que morram espiritualmente, entalados com o ídolo ideológico, do qual o evento da cruz de Espinal é apenas a manifestação mais inocentemente pública.
Não sou alarmista, nem julgo injustamente os irmãos. Lembro aos leitores que a mesma ala que defendeu a crucificação Trans, na última parada LGBT, e não viu nenhuma profanação simbólica, é a que não viu agora nenhuma profanação simbólica, numa surpreendente demonstração de falta de escrúpulos religiosos.

Ora, é muito clara, aqui, a operação simbólica: a cruz, para esses irmãos, já não é o mistério do evangelho, já não está ancorada no eterno, já não anuncia o evento singular que foi a morte do Cordeiro de Deus; ela é um símbolo abstrato da vitimização por sistemas injustos, que pode ser amplamente empregada em qualquer situação de vitimização e, num passe de mágica, aquela situação se torna Cristã, se torna uma revelação do evangelho, e a luta social é instantaneamente convertida, batizada, e crismada. Quando eu era criança, via isso acontecer todas as manhãs pela tevê: a teóloga era a boneca Emília, e a magia vinha do seu pó-de-Pirlimpimpim.

Infelizmente, esses irmãos não são mais amigos da verdadeira cruz de Cristo, mas de uma mistificação ideológica; fazendo a igreja deitar-se no “leito” da cruz para dormir com outro Cristo – a ideologia de gênero, ou o marxismo – e louvando desavergonhadamente o adultério. Me digam amigos: não é a situação similar à do bezerro de ouro de Aarão, um símbolo sincrético para representar Iahweh de forma “contextualizada” (ou seja, com a forma de Baal) na AUSÊNCIA de Moisés (a profecia)? Não temos aqui uma blasfêmia, muito mais sutil do que o grafite blasfemo contra Alexamenos, mas ainda assim, mortal?

O NOVO BEZERRO DE OURO

E é assim que a cruz do Cristianismo (não a cruz de Cristo, a verdadeira) tornou-se, nas mãos do progressismo evangélico e católico, um bezerro de ouro. Há uma distante referência histórica, ao Deus que tirou o povo do Egito… e só. No mais, é uma divindade progressista; ela nos prepara para enfrentar o que há diante, Canaã; é um deus com o rosto das divindades locais, com o rosto de Baal-Peor.

Sobre esse perigo da ideologização idólatra da fé Cristã, não foi ninguém senão o próprio Papa Francisco quem nos presenteou com uma advertência muito contemporânea e pertinente, tratando esse erro como a PRIMEIRA tentação do discipulado missionário. Cito o trecho de Jonas Madureira:
Talvez seja interessante lembrarmos também das palavras do próprio Papa Francisco, quando veio ao Brasil por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, no auditório do Centro de Estudos do Sumaré, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013:
“ALGUMAS TENTAÇÕES CONTRA O DISCIPULADO MISSIONÁRIO (…) 1. A ideologização da mensagem evangélica. É uma tentação que se verificou na Igreja desde o início: procurar uma hermenêutica de interpretação evangélica fora da própria mensagem do Evangelho e fora da Igreja. Um exemplo: a dado momento, Aparecida sofreu essa tentação sob a forma de “assepsia” . Foi usado, e está bem, o método de “ver, julgar, agir” (cf. n.º 19). A tentação se encontraria em optar por um “ver” totalmente asséptico, um “ver” neutro, o que não é viável. O ver é sempre influenciado pelo olhar. Não há uma hermenêutica asséptica. Então a pergunta era: Com que olhar vamos ver a realidade? Aparecida respondeu: Com o olhar de discípulo. Assim se entendem os números 20 a 32. Existem outras maneiras de ideologização da mensagem e, atualmente, aparecem na América Latina e no Caribe propostas desta índole. Menciono apenas algumas: a) O reducionismo socializante. É a ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até às categorizações marxistas. (…)”
Mas alguns de nossos teólogos, pastores, e militantes sociais evangélicos, tal qual Aarão, querem escapar a essa responsabilidade: “lancei o ouro no fogo, e saiu este bezerro!” Mas não foi o “fogo” o que plasmou o messianismo do pobre e o evangelho do ressentimento. Foi o trabalho teológico de teólogos latino-americanos, que plausibilizaram o Cristo superestrutural com o emprego acrítico de “mediações socioanalíticas”, e de teólogos evangélicos Brasileiros que, quando não promoveram essa releitura abertamente, deram sua anuência tácita, evadindo-se de condenar o que precisa ser condenado.

É verdade que o “rosto” desse novo ídolo não é o de um Bezerro, literalmente; ou de um Asno. Ainda assim, não é o rosto do próprio Deus. É uma forma mais sutil, mas possível, de idolatria: o culto da imagem do homem corruptível – no caso, o culto da vítima do sistema:
porque, mesmo tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; pelo contrário, tornaram-se fúteis nas suas especulações, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e substituíram a glória do Deus incorruptível por imagens semelhantes ao homem corruptível, às aves, aos quadrúpedes e aos répteis. (Romanos 1.21-23)
Há tempos discutimos se há, ou não, idolatria no meio do progressismo evangélico. O fato, no entanto, é que as evidências disso se multiplicam. A última, muito clara, é esse Cristo superestrutural, a vítima abstrata que se torna um símbolo messiânico autônomo em relação ao Cristo histórico; que não é como o Asno de Alexamenos, mas é outro Cristo, ainda assim. E qualquer “outro” Cristo, é um anticristo: parece-se, realmente, com o Cristo; seu culto evoca piedade, sua imagem comove e inspira; mas é um demônio.

Esse é, então, o problema revelado no caso da cruz de Espinal: é que o Diabo imiscuiu-se no progressismo evangélico, convencendo-o de imanentizar e temporalizar a fé Cristã por meio de mediações socioanalíticas apóstatas e, sem seguida, adorar um outro Cristo, crucificado numa outra cruz, como se fosse o Cristo de Deus.

O QUE O PROGRESSISMO EVANGÉLICO PRECISA FAZER

O que pensei ao iniciar este parágrafo foi o mesmo que a maior parte dos leitores: quem sou eu para dizer o que o progressismo evangélico precisa fazer? Não sou ninguém. Mas vou dizer assim mesmo. Se vocês se consideram como Davi, e não me acham nem um pouco parecido com Natã, tomem-me como um Simei, e me ouçam, por favor:

Não proponho que os irmãos abandonem teses de economia política, por exemplo; se tornem de direita, que abracem as teses de Hayek e de Von Mises, ou que se tornem ouvintes de Olavo de Carvalho. Não proponho que abracem a tese do estado mínimo, ou que votem no PSDB. Alguns poderiam pensar que essa é a minha agenda oculta: pois saibam que não é nada disso. Para escândalo de todos, como já confessei antes, tenho, por exemplo, simpatias por Keynes. Não é disso que estou falando: trocar um ídolo por outro. O que proponho é que se obedeça à voz apostólica:

O vosso orgulho não é bom. Não sabeis que um pouco de fermento faz com que toda a massa fique fermentada? Removei o fermento velho, para que sejais massa nova sem fermento, assim como, de fato, sois. Porque Cristo, nosso cordeiro da Páscoa, já foi sacrificado. Portanto, celebremos a festa, não com fermento velho, nem com fermento da maldade e da corrupção, mas com os pães sem fermento da sinceridade e da verdade.

Já vos escrevi por carta que não vos associásseis com os imorais. Não me referia aos imorais deste mundo, nem aos avarentos, ladrões ou idólatras. Nesse caso, seria necessário que saísseis do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for imoral ou ganancioso, idólatra ou caluniador, bêbado ou ladrão. Com esse homem não deveis nem sequer comer.

Pois, que me importa julgar os que são de fora? Não julgais vós os que são de dentro? Mas Deus julga os que são de fora. Expulsai esse imoral do vosso meio. (1Coríntios 5.6-13)
Esta é, portanto, a minha advertência aos irmãos da “velha guarda” da Missão Integral, que me perguntam “de que lado você está, Guilherme?”, e que se confessam, ao mesmo tempo, horrorizados com os descaminhos da teologia evangélica latino-americana e de movimentos Cristãos ambíguos do ponto de vista da identidade católica e evangélica. Esta é a minha advertência: disciplinem suas fileiras. Disciplinem espiritualmente e confessionalmente o seu movimento. Cortem na sua própria carne. Provem que vocês amam mais a verdade do que a sobrevivência política e do que os abraços de sua juventude colonizada pela USP, pela UFRJ ou pela UNICAMP. Parem de desviar atenção de seus pecados para os pecados da direita evangélica – a hora dela também chegará, mas não cabe a vocês ocupar-se disso – ou o seu movimento estará morto e enterrado espiritualmente em menos de uma geração.

E, por sua culpa, a massa do movimento evangélico será alienada da Missão Integral – por sua culpa! – e engolida por homens como Silas Malafaia. Por sua culpa! Porque vocês foram pusilânimes teologicamente; porque acobertaram a idolatria ideológica de seus jovens, como Davi acobertou os pecados de Absalão, e como Eli acobertou os pecados de seus filhos ímpios. E vocês não serão conhecidos como a igreja que se tornou integral, mas como a igreja que morreu entalada com o camelo da ideologia de esquerda.

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...