Enfrentamos um frenesi de desejos
do homem do século xxi onde tudo deve convergir para o seu próprio bem. No
aspecto espiritual e cultual, atualmente muitos não adoram a Deus por quem Ele
é, mas pelo o que Ele faz ou pode oferecer-lhes. Tal comportamento deturpado
tem subtraído o sentido bíblico de ser igreja, confundido e misturado louvor
com adoração e, sobretudo tornado nossos “cultos” em reuniões antropocêntricas
– onde tudo gira em torno do homem com suas vontades e necessidades. Motivos
nada ligados a cultuar conforme a bíblia tem arrastado multidões de crentes a
reuniões que apresentam um “deus de trocas” que pulveriza bênçãos através de
uma relação descaradamente mercantilista. O deus deste século, especialista em
barganhas, ofereceu a Jesus mundos e fundos para que o Salvador por um instante
deixasse de reconhecer que o culto e a adoração fossem exclusividade de Deus.
Jesus respondeu: “Está escrito:
Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto” (Lc 4:8).
As artimanhas ideológicas do
maligno influenciaram na diluição espiritual da essência da adoração e na
desconstrução bíblica do culto, provocando o destronamento de Deus do mesmo.
Por isso, com o passar do tempo a nossa concepção e forma de “cultuar” a Deus
tornou-se quase absolutamente institucional, compondo-se de ingredientes
litúrgicos e práticas ritualistas com símbolos sagrados e roteiros elaborados –
nada contra a “ordem dos cultos” de nossas igrejas; mas culto não é isso,
essencialmente. O “momento de adoração” circunscreveu-se aos horários das
reuniões públicas de nossos templos e o motivo principal para a maioria de nós
os “frequentarmos” é que cultuamos para receber bênçãos como cura de
enfermidades, prosperidade financeira, solução de problemas conjugais,
judiciais, sair do desemprego, receber aprovação em concursos, intercâmbios
educacionais, obter bolsas de estudos e tantas outras coisas que confirmam o
quão distantes estamos do verdadeiro propósito e sentido do culto a Deus.
… Sejamos agradecidos e, assim,
adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor (Hb 12:28).
O homem não apenas tem deturpado
o sentido de culto com sua necessidade, mas têm desvirtuado a identidade da
igreja com sua personalidade narcisista. Líderes personalistas é que o mais se
vê no meio evangélico: ministério do pastor fulano, comunidade do bispo
beltrano, igreja do apóstolo sicrano, de modo que a “igreja” é mais
identificada com figuras humanas do que com o próprio Cristo na sua maneira de
viver e se manifestar. Percebe-se ainda o poder da influência dessas personalidades,
pois conseguem congregar multidões nas reuniões que se apresentam como
cantores, pregadores e conferencistas internacionais. É comum ouvirmos: “vou ao
culto hoje porque é o pastor x que vai pregar; o cantor y que vai se louvar”.
Infelizmente a “adoração gospel” entronizou outros deuses e rendeu-se a outros
senhores – que mesmo não sendo os “reis da glória”, se firmaram como astros e
estrelas de uma geração desviada do culto que agrada o verdadeiro Deus!
Pois quando alguém diz: “Eu sou
de Paulo”, e outro: “Eu sou de Apolo”, não estão sendo mundanos? (1 Co 3:4)
A prioridade da igreja no culto
não é ser abençoada, mas ser adoradora de Deus. Dentro do ajuntamento coletivo,
cultuar é mais que cantar orar e ouvir a Palavra é individualmente se oferecer
a Deus de corpo e alma em espírito e em verdade. Além dos atos, adorar ao
Senhor é a expressão da razão de ser da igreja. O culto não é para nós, é para
Deus. As pessoas avaliam o culto pelo que sentiram ou receberam – esse é o
culto antropocêntrico, do homem para o homem. Agradar a Deus é o alvo do culto,
logo este deve ser teocêntrico, do homem para Deus. O culto tem uma finalidade
em si e não um meio para alguma coisa; ou seja, quando tentamos cultuar por
motivo de benefícios que receberemos, o ato deixa de ser culto, porque se
começa a usar Deus como meio para alcançar alguma coisa – esse culto o Senhor
não aceitará.
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas
misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus; este é o culto racional de vocês (Rm 12:1).
No culto, a pessoa canta, ora,
chora se alegra, mas, tudo isso não tem significado e propósito completo, se
ela não for confrontada e impactada pela Palavra de Deus com relação à sua prática
de vida. Culto é revelação e resposta, pois Deus oferece ao homem um
relacionamento pessoal-espiritual, e o homem responde através de um sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus. Essa resposta do homem ao amor de Deus recebe o
nome de culto racional. Culto é o oferecimento do nosso ser totalmente a Deus,
como nosso intelecto, sentimento e atitudes – por isso, culto não é em suma
apenas o que celebramos no templo (este é uma amostra coletiva); mas é baseado
no que oferecemos fora do templo sendo de fato igreja de Deus em casa, no
trabalho, nas viagens e em todas as nossas relações com o próximo; a adoração
fluirá em nossos ajuntamentos se agradarmos a Deus por todo o tempo como
templos do Espírito. Não obstante, o culto coletivo é a oportunidade de
expressar nossa paixão sadia, de tal forma que os que nos conhecem saibam que
Deus é prioridade em nosso viver, e o primeiro a receber o nosso amor e
adoração.
Venham! Adoremos prostrados e
ajoelhemos diante do Senhor, o nosso Criador (Sl 95:6)