terça-feira, 26 de agosto de 2014

DETURPAÇÃO DA ADORAÇÃO NA IGREJA; O HOMEM OCUPANDO O CENTRO DO CULTO - SILVIO COSTA

Enfrentamos um frenesi de desejos do homem do século xxi onde tudo deve convergir para o seu próprio bem. No aspecto espiritual e cultual, atualmente muitos não adoram a Deus por quem Ele é, mas pelo o que Ele faz ou pode oferecer-lhes. Tal comportamento deturpado tem subtraído o sentido bíblico de ser igreja, confundido e misturado louvor com adoração e, sobretudo tornado nossos “cultos” em reuniões antropocêntricas – onde tudo gira em torno do homem com suas vontades e necessidades. Motivos nada ligados a cultuar conforme a bíblia tem arrastado multidões de crentes a reuniões que apresentam um “deus de trocas” que pulveriza bênçãos através de uma relação descaradamente mercantilista. O deus deste século, especialista em barganhas, ofereceu a Jesus mundos e fundos para que o Salvador por um instante deixasse de reconhecer que o culto e a adoração fossem exclusividade de Deus.

Jesus respondeu: “Está escrito: Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto” (Lc 4:8).
As artimanhas ideológicas do maligno influenciaram na diluição espiritual da essência da adoração e na desconstrução bíblica do culto, provocando o destronamento de Deus do mesmo. Por isso, com o passar do tempo a nossa concepção e forma de “cultuar” a Deus tornou-se quase absolutamente institucional, compondo-se de ingredientes litúrgicos e práticas ritualistas com símbolos sagrados e roteiros elaborados – nada contra a “ordem dos cultos” de nossas igrejas; mas culto não é isso, essencialmente. O “momento de adoração” circunscreveu-se aos horários das reuniões públicas de nossos templos e o motivo principal para a maioria de nós os “frequentarmos” é que cultuamos para receber bênçãos como cura de enfermidades, prosperidade financeira, solução de problemas conjugais, judiciais, sair do desemprego, receber aprovação em concursos, intercâmbios educacionais, obter bolsas de estudos e tantas outras coisas que confirmam o quão distantes estamos do verdadeiro propósito e sentido do culto a Deus.
… Sejamos agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor (Hb 12:28).
O homem não apenas tem deturpado o sentido de culto com sua necessidade, mas têm desvirtuado a identidade da igreja com sua personalidade narcisista. Líderes personalistas é que o mais se vê no meio evangélico: ministério do pastor fulano, comunidade do bispo beltrano, igreja do apóstolo sicrano, de modo que a “igreja” é mais identificada com figuras humanas do que com o próprio Cristo na sua maneira de viver e se manifestar. Percebe-se ainda o poder da influência dessas personalidades, pois conseguem congregar multidões nas reuniões que se apresentam como cantores, pregadores e conferencistas internacionais. É comum ouvirmos: “vou ao culto hoje porque é o pastor x que vai pregar; o cantor y que vai se louvar”. Infelizmente a “adoração gospel” entronizou outros deuses e rendeu-se a outros senhores – que mesmo não sendo os “reis da glória”, se firmaram como astros e estrelas de uma geração desviada do culto que agrada o verdadeiro Deus!
Pois quando alguém diz: “Eu sou de Paulo”, e outro: “Eu sou de Apolo”, não estão sendo mundanos? (1 Co 3:4)
A prioridade da igreja no culto não é ser abençoada, mas ser adoradora de Deus. Dentro do ajuntamento coletivo, cultuar é mais que cantar orar e ouvir a Palavra é individualmente se oferecer a Deus de corpo e alma em espírito e em verdade. Além dos atos, adorar ao Senhor é a expressão da razão de ser da igreja. O culto não é para nós, é para Deus. As pessoas avaliam o culto pelo que sentiram ou receberam – esse é o culto antropocêntrico, do homem para o homem. Agradar a Deus é o alvo do culto, logo este deve ser teocêntrico, do homem para Deus. O culto tem uma finalidade em si e não um meio para alguma coisa; ou seja, quando tentamos cultuar por motivo de benefícios que receberemos, o ato deixa de ser culto, porque se começa a usar Deus como meio para alcançar alguma coisa – esse culto o Senhor não aceitará.
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês (Rm 12:1).

No culto, a pessoa canta, ora, chora se alegra, mas, tudo isso não tem significado e propósito completo, se ela não for confrontada e impactada pela Palavra de Deus com relação à sua prática de vida. Culto é revelação e resposta, pois Deus oferece ao homem um relacionamento pessoal-espiritual, e o homem responde através de um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Essa resposta do homem ao amor de Deus recebe o nome de culto racional. Culto é o oferecimento do nosso ser totalmente a Deus, como nosso intelecto, sentimento e atitudes – por isso, culto não é em suma apenas o que celebramos no templo (este é uma amostra coletiva); mas é baseado no que oferecemos fora do templo sendo de fato igreja de Deus em casa, no trabalho, nas viagens e em todas as nossas relações com o próximo; a adoração fluirá em nossos ajuntamentos se agradarmos a Deus por todo o tempo como templos do Espírito. Não obstante, o culto coletivo é a oportunidade de expressar nossa paixão sadia, de tal forma que os que nos conhecem saibam que Deus é prioridade em nosso viver, e o primeiro a receber o nosso amor e adoração.

Venham! Adoremos prostrados e ajoelhemos diante do Senhor, o nosso Criador (Sl 95:6)

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