sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A POBREZA DE JESUS CRISTO - OSMAR LUDOVICO


A pobreza de Jesus Cristo

Osmar Ludovico

Ele nasceu numa estrebaria de uma aldeia obscura, na periferia do império romano. Era filho de gente muito humilde e seu berço foi um caixote que se usava para dar de comer aos animais. Quando seus pais o apresentaram a Deus no Templo de Jerusalém, sua oferta se reduziu a duas pombinhas, oferta estipulada pela lei mosaica em tais ocasiões para pessoas sem recursos. Com seus pais, deixou seu lar e viveu como refugiado em terra estrangeira por causa de um decreto imperial que mandava matar todas as crianças com menos de três anos.

Ele foi criado em outra aldeia na casa de um carpinteiro e, quando adulto, chegou a afirmar que não tinha onde recostar a cabeça. Quando completou trinta anos tornou-se um pregador itinerante viajando pelo país com seus doze discípulos. Foi, então, falsamente acusado e inocentemente condenado. Seus amigos o abandonaram. Depois de torturado, foi crucificado entre dois ladrões. Quando morreu, aos trinta e três anos, foi sepultado em um túmulo que um amigo bondoso emprestou.

Jesus Cristo foi pobre, mas sua pobreza foi algo que ele assumiu voluntariamente, movido pelo seu amor. Ele era rico, mas fez-se pobre, numa expressão concreta de sua identificação com a humanidade.

É tempo dos cristãos dos grandes centros urbanos se arrependerem de usar Deus para satisfazerem sua ambição material. E aprenderem a viver com simplicidade e generosidade, ajudando aqueles que não têm para a subsistência diária.

Ouvimos muita gente dando testemunho que tinham um carro velho e agora tem dois novos, tinham uma casa pequena e agora tem duas grandes, que ganhavam um tanto, mas agora ganham três vezes mais. Aceitaram a Cristo, aderiram a tal igreja e prosperaram materialmente. Nunca ouvi alguém dando testemunho que se converteu e decidiu dar uma parte de seus bens para os pobres e para missões.

Cristãos urbanos de classe média estão imersos numa estrutura consumista, alienados da realidade do sofrimento de milhares de brasileiros. Pensam em si e no que é seu e confundem Deus o Pai de Jesus Cristo com Mamon, o deus dinheiro, o pai de todos os males (I Tm 6.10). Mamon não é uma potestade, promete paz, tranqüilidade, vida feliz e alegria e, portanto, compete com Deus. Muitos acham que estão confiando em Deus, mas, no entanto, confiam em Mamon (Mt 6.24).

A sociedade de consumo nos condiciona e nos leva a desejar possuir cada vez mais coisas, convencendo-nos que tendo mais seremos mais. Um mundo que pensa e age somente em termos materiais acabou contaminando o povo de Deus. E igrejas anunciam conforto material ilimitado para aqueles que aderirem e trouxerem sua contribuição.

Acabamos todos preocupados com a vida material, amarrados em contas, crediários, consumo de supérfluos, símbolos de status, dominados pela ambição de ter mais, sempre insatisfeitos.

Jesus Cristo na sua pobreza voluntária nos liberta dos condicionamentos da sociedade de consumo, e nos torna dispostos a confiar a ele toda a nossa vida, dons, talentos, recursos e tempo para servir com alegria o nosso próximo.

O verdadeiro conhecimento de Deus gera santidade e serviço, e o verdadeiro conhecimento de si gera quebrantamento e humildade.

Estas são as virtudes que a Igreja mais carece nestes dias: santidade, serviço, quebrantamento e humildade. Portanto, tenhamos discernimento, pois há uma outra teologia por ai que ao invés de santidade gera negócios escusos, ao invés de serviço gera egoísmo, ao invés de quebrantamento gera farisaísmo, ao invés de humildade gera busca pelo poder.

Olhemos por um momento para a vida de Jesus de Nazaré em quem cremos. Ele abriu mão de seus direitos e privilégios, esvaziou-se de sua divindade, por amor a nós fez-se homem, veio para servir e não para ser servido.

Não há nada de errado em buscar as bênçãos de Deus e uma vida material digna. Errado é acumular sem repartir. Sodoma e Gomorra, contrariamente ao que muita gente pensa, não foram destruídas pela sua promiscuidade sexual, mas sim por que acumularam riquezas e não repartiram: “Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas, mas nunca amparou o pobre e necessitado”. Ez 16.49

Que o Senhor tenha misericórdia de nós, que o Senhor tenha misericórdia de sua Igreja, que o Senhor tenha misericórdia do Brasil.



Publicado em consciencia.net




sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

SOBRE PASTORES E LOBOS - OSMAR LUDOVICO






Pastores e lobos têm algo em comum: ambos se interessam e gostam de ovelhas, e vivem perto delas. Assim, muitas vezes, pastores e lobos nos deixam confusos para saber quem é quem. Isso porque lobos desenvolveram uma astuta técnica de se disfarçar em ovelhas interessadas no cuidado de outras ovelhas. Parecem ovelhas, mas são lobos.

No entanto, não é difícil distinguir entre pastores e lobos. Urge a cada um de nós exercitar o discernimento para descobrir quem é quem.

Pastores buscam o bem das ovelhas, lobos buscam os bens das ovelhas.
Pastores gostam de convívio, lobos gostam de reuniões.
Pastores vivem à sombra da cruz, lobos vivem à sombra de holofotes.
Pastores choram pelas suas ovelhas, lobos fazem suas ovelhas chorar.
Pastores têm autoridade espiritual, lobos são autoritários e dominadores.
Pastores têm esposas, lobos têm coadjuvantes.
Pastores têm fraquezas, lobos são poderosos.
Pastores olham nos olhos, lobos contam cabeças.
Pastores apaziguam as ovelhas, lobos intrigam as ovelhas.
Pastores têm senso de humor, lobos se levam a sério.
Pastores são ensináveis, lobos são donos da verdade.
Pastores têm amigos, lobos têm admiradores.
Pastores se extasiam com o mistério, lobos aplicam técnicas religiosas.
Pastores vivem o que pregam, lobos pregam o que não vivem.
Pastores vivem de salários, lobos enriquecem.
Pastores ensinam com a vida, lobos pretendem ensinar com discursos.
Pastores sabem orar no secreto, lobos só oram em público.
Pastores vivem para suas ovelhas, lobos se abastecem das ovelhas.
Pastores são pessoas humanas reais, lobos são personagens religiosos caricatos.
Pastores vão para o púlpito, lobos vão para o palco.
Pastores são apascentadores, lobos são marqueteiros.
Pastores são servos humildes, lobos são chefes orgulhosos.
Pastores se interessam pelo crescimento das ovelhas, lobos se interessam pelo crescimento das ofertas.
Pastores apontam para Cristo, lobos apontam para si mesmos e para a instituição.
Pastores são usados por Deus, lobos usam as ovelhas em nome de Deus.
Pastores falam da vida cotidiana, lobos discutem o sexo dos anjos.
Pastores se deixam conhecer, lobos se distanciam e ninguém chega perto.
Pastores sujam os pés nas estradas, lobos vivem em palácios e templos.
Pastores alimentam as ovelhas, lobos se alimentam das ovelhas.
Pastores buscam a discrição, lobos se autopromovem.
Pastores conhecem, vivem e pregam a graça, lobos vivem sem a lei e pregam a lei.
Pastores usam as Escrituras como texto, lobos usam as Escrituras como pretexto.
Pastores se comprometem com o projeto do Reino, lobos têm projetos pessoais.
Pastores vivem uma fé encarnada, lobos vivem uma fé espiritualizada.
Pastores ajudam as ovelhas a se tornarem adultas, lobos perpetuam a infantilização das ovelhas.
Pastores lidam com a complexidade da vida sem respostas prontas, lobos lidam com técnicas pragmáticas com jargão religioso.
Pastores confessam seus pecados, lobos expõem o pecado dos outros.
Pastores pregam o Evangelho, lobos fazem propaganda do Evangelho.
Pastores são simples e comuns, lobos são vaidosos e especiais.
Pastores tem dons e talentos, lobos tem cargos e títulos.
Pastores são transparentes, lobos têm agendas secretas.
Pastores dirigem igrejas-comunidades, lobos dirigem igrejas-empresas.
Pastores pastoreiam as ovelhas, lobos seduzem as ovelhas.
Pastores trabalham em equipe, lobos são prima-donas.
Pastores ajudam as ovelhas a seguir livremente a Cristo, lobos geram ovelhas dependentes e seguidoras deles.
Pastores constroem vínculos de interdependência, lobos aprisionam em vínculos de co-dependência.

Os lobos estão entre nós e é oportuno lembrar-nos do aviso de Jesus Cristo: 
“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são devoradores (Mateus 7:15).





Originalmente na Revista Enfoque

VERGONHA ALHEIA - PABLO MASSOLAR





Já faz algum tempo que tenho vontade de escrever sobre esse assunto, mas não me sentia suficientemente motivado para depositar aqui estas poucas palavras sobre algo tão incompreendido.

Nasci e cresci num ambiente onde a experiência da fé sempre foi muito importante, porém contundente. Dos dois lados da minha família a religiosidade sempre esteve no meu cotidiano e eu me via entre dois polos constantemente. A família do meu pai sempre foi muito católica. Minha avó paterna era bem engajada nas questões da paróquia católica na pequena cidade onde morava. Quando eu passava minhas férias na casa dela, sempre a via lendo a Bíblia com o terço ao lado, antes de dormir. Meu avô, por parte de mãe, era pastor evangélico. Converteu-se ainda jovem e aceitou o chamado pastoral já depois de casado. Ele visitava as igrejas que pastoreava a cavalo ou de bicicleta porque não tinha dinheiro para comprar um carro. Tempos difíceis aqueles!

O casamento dos meus pais levou um tempo para ser aceito pelas duas famílias. Havia meio que um ar de Montecchio e Capuleto na história deles. A cerimônia foi realizada por um padre e um pastor (meu avô) ao mesmo tempo. Desde muito novinho sempre passeei nos dois ambientes: católico e evangélico sem qualquer problema. Às vezes ouvia tanto um lado como o outro apontarem os motivos da fé que os movia.

Aprendi a respeitar e ouvir pacientemente os pontos de vista que eram diferentes do meu e responder com sinceridade às perguntas que me faziam e fazem sobre a fé que professo. De lá pra cá, sou a terceira geração nesta família protestante (e de pastores)...

Meu avô foi pastor em Anta, uma cidade bem pequena que fica na divisa entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde a briga entre protestantes e católicos era sempre muito acirrada. Em 1960, quando ele chegou nessa cidade, foi até o padre e se apresentou como o novo pastor designado para a cidade. O nível de amizade entre os dois cresceu e chegou a um ponto surpreendente quando o alto-falante da igreja católica queimou e meu avô, contrariando o clima de embate entre as igrejas, emprestou o alto-falante da igreja onde era pastor para o padre anunciar as programações da igreja católica.

Naquela época os alto-falantes eram grandes cornetas, ficavam presos nas torres dos templos e não tinham como ser removidos facilmente. Emprestar o alto-falante significava anunciar a programação da igreja católica com o alto-falante da igreja evangélica, na própria igreja evangélica.

Não preciso dizer que, se naquela época isso já foi muito ousado, imagino que ainda hoje muita gente, dos dois lados, vai mandar alguma pedrada. Mas eu aguento.

Na faculdade de teologia vi esse tipo de pensamento convergente, declarado e explicado de um outro jeito: "quando a gente entra para a igreja evangélica, nos ensinam que os católicos não vão para o céu. É verdade! Muitos católicos não vão para o céu. Mas, por outro lado, é verdade que muitos evangélicos também não vão para o céu." Eu vou além... Na palavrinha "católicos", sem ofensa, e sem comparação entre as palavras em si, mas só para ampliar o pensamento, eu vou acrescentar: ateus, espíritas, desviados, pagãos, prostitutas, gays e todo tipo de gente que nós (evangélicos) consideramos "pecadores"...

Bem, fiz esse preâmbulo todo para dizer que: dar voz a quem pensa diferente de mim não demonstra que estou em cima do muro ou que mudei de opinião, muito menos que minha fé não esteja firmada na Rocha. Demonstra respeito, vontade de aprender e dar atenção ao outro. Simplesmente ouço todas as coisas, opiniões e maneiras de enxergar a vida, tento me colocar no lugar do outro e absorvo somente aquilo que realmente é bom. O que não é bom deixo pra lá e se, de alguma forma, eu puder contribuir para a outra pessoa crescer e aperfeiçoar sua visão, farei com todo amor e respeito até que ela mesma perceba o equívoco. Desse jeito vou ganhando muitos irmãos de caminhada na fé.

Mas às vezes chega o momento de virar a mesa, como fez Jesus no templo ao expulsar os vendedores e ladrões que se utilizavam da fé do povo para enganar, explorar e enriquecer do ouro do templo. Nem Jesus nem Paulo pegavam leve com os que se diziam religiosos e ofendiam a Deus com sua prepotência, arrogância e autossuficiência ainda que fossem grandes e respeitados líderes religiosos.

Paulo e Jesus davam nomes, sim! Nomes! O que para muitos evangélicos atualmente seria uma afronta pelo que se diz "não toque no ungido" ou "não julgue para não ser julgado". Denunciavam, expunham as feridas da religião, não pela vontade de ganhar exposição, mas por amor ao Evangelho. O verdadeiro Evangelho. Havia grandes líderes que o povo cultuava como representantes e arautos da mensagem de Deus, mas eram apenas lobos em pele de ovelha, raça de víboras e sepulcros caiados. Jesus dizia: "façam o que eles dizem, mas não imitem os seus atos!".

O grande problema hoje é que a maioria do povo está cego, seduzido, entorpecido pela mensagem dos falsos profetas e não consegue discernir este tempo. O evangélico é conhecido hoje muito mais pelo show, pelo mercado, pelo colégio eleitoral, pela força da mídia e da pressão, sem amor e sem reflexão profunda, do que a mudança de vida exigida pelo Evangelho.

Sinto verdadeira vergonha alheia quando vejo um auto proclamado representante evangélico ganhar mídia e projeção muito mais pela polêmica que consegue gerar do que pelo anúncio: "vinde a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados...".

Arrepia-me o fato do povo evangélico e muitos outros simpatizantes defendê-lo e acharem que está se pregando o Evangelho, que o pecado está sendo desmascarado. Pois eu digo que o pecado está sendo desmascarado, sim, muito mais pela "trave" que está no olho do povo evangélico do que pelo cisco no olho de quem está apenas batendo no peito da própria existência, se dizendo um pecador e sem coragem de olhar para o deus (com letra minúscula mesmo) vingativo, negociador e charlatão anunciado nas telas das nossas TVs.

O Jesus da Bíblia não se parece nem um pouco com o Jesus da televisão e dos grandes templos. Só quem está cego e enfadado da religião que se "auto salva" não consegue perceber. Para nossa tristeza e vergonha...

Não se faça de sábio aos seus próprios olhos! No Reino por vir, os últimos, os esquecidos, abandonados, pequeninos e menos proeminentes é que serão os primeiros.


O Deus que se revela aos simples e pequeninos o abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!




Em Ovelha Magra


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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Desabafo é o ralo por onde se escoam as lágrimas



Baruque era contemporâneo do profeta Jeremias. Era seu escriba, porta-voz e amigo. Foi ele quem escreveu a primeira e a segunda edição do livro que registra tudo o que Deus disse a Jeremias a respeito de Israel e de outras nações, na época anterior à destruição de Jerusalém pela Babilônia, nos anos 600 antes de Cristo. Jeremias ditava e Baruque escrevia. Foi também Baruque quem leu o livro em voz alta, duas vezes, primeiro para o povo reunido no templo e, depois, para um seleto grupo de líderes em lugar mais reservado. Depois da privilegiada oportunidade de escrever e tornar conhecido o conteúdo do livro, Baruque teve uma crise depressiva muito forte e desabafou: “Ai de mim! O Senhor acrescentou tristeza ao meu sofrimento. Estou exausto de tanto gemer, e não encontro descanso” (Jr 45.3).

Não é difícil entender o problema emocional de Baruque. Ele teve experiências muito chocantes em seu ministério ao lado de Jeremias. Ambos esperavam, como consequência da leitura do livro, que o rei e o povo se convertessem de sua má conduta e, então, recebessem o perdão do Senhor. Aconteceu o contrário: quando o livro era lido pela terceira vez, agora na presença do rei Jeoaquim, em seu palácio de inverno, “cada vez que Jeudi terminava a leitura de três ou quatro colunas, o rei cortava com uma faquinha aquele pedaço do rolo e jogava no fogo [...] até que o rolo inteirinho virou cinzas” (Jr 36.23-24, NTLH).

Além do mais, Baruque chorava porque corria risco de vida, porque estava por dentro das iniquidades praticadas pelo povo, porque tinha conhecimento do juízo de Deus prestes a se abater sobre o povo e porque ele próprio estava ao alcance das desgraças que se sucederiam, mesmo não participando da corrupção generalizada.

Baruque não era o único a se queixar de exaustão. Alguns de seus contemporâneos faziam o mesmo: “Estamos exaustos e não temos como descansar” (Lm 5.5). A exaustão emocional dói mais que a exaustão física, e a exaustão espiritual dói ainda mais. Baruque agiu como os outros agiram: derramou a sua alma perante o Senhor. O desabafo sincero é o ralo por onde se escoam as lágrimas.

O consolo de Deus é estranho, mas funciona. A cura que ele opera não é superficial. Deus não apenas oferece o lenço para o sofredor enxugar as lágrimas, como também ensina a pessoa a lidar com os problemas da vida. Baruque queria ser uma exceção. Como muitos crentes de hoje, sob a alegação de que são “filhos do Rei”, o escriba queria ir para uma sala VIP, queria uma espécie de salvo-conduto, esconder-se dentro de uma redoma onde pudesse se proteger da famosa tríade (guerra, fome e peste) que estava assolando a nação e encontrar água e comida à vontade e por muito tempo. Todavia, Deus lhe perguntou: “Será que você está querendo ser tratado de modo diferente?” (Jr 45.5, NTLH).

A mágica de Deus nem sempre é retirar o espinho na carne no momento em que nós o desejamos, mas tornar mais abundante e mais suficiente a sua graça (2 Co 12.7-10). Naquele momento histórico, era necessário “arrancar, despedaçar, arruinar e destruir” a nação pecadora (Jr 1.10). Posteriormente, porém, depois da humilhação e da quebra da cerviz dura, Deus estaria disposto a reverter o quadro, reedificar o que havia derrubado e replantar o que havia sido arrancado (Jr 31.4, 28, 40). Baruque não teria uma redoma para se proteger, mas Deus o deixaria escapar com vida onde quer que ele fosse, em meio às ameaças e às desgraças da guerra, da fome e da peste (Jr 45.5).


Artigo publicado originalmente na seção “Pastorais” da revista Ultimato 315, de novembro de 2008.

APOC. 5 EM OUTRAS PALAVRAS - ARIOVALDO RAMOS




E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos. E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos? E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele. E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele. E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, que venceu para abrir o livro e desatar os seus sete selos.
E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra. E veio e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono. E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. E olhei e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. E ouvi a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre. E os quatro animais diziam: Amém! E os vinte e quatro anciãos prostraram-se e adoraram ao que vive para todo o sempre.

Em Outras Palavras...

Vi, na mão direita do que estava assentado no trono, o livro da redenção do Universo, escrito por dentro e por fora, e de todo selado com sete selos.

Vi, também, um anjo forte, fazendo a pergunta crucial para a libertação de todo universo, porque, graças à rebelião humana, a existência de tudo e de todos, inclusive a dos anjos, estava comprometida; caso o livro não fosse aberto; e ele proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?

A resposta que ele obteve é de que não havia ninguém, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, que pudesse abrir o livro, nem olhar para ele.

E eu chorava muito, porque: nem no céu, nem na terra e nem debaixo da terra (e que outro lugar há além destes?) ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele. E eu sabia que nós tínhamos feito isso!

Então, em meio ao meu choro, apontando para uma direção, disse-me um dos anciãos, dos que velam pela justiça do Deus: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Falava de alguém, que pelo visto, saíra, e eu saberia de onde, com o objetivo claro de participar de uma luta, que, vencida, lhe daria o direito de desatar os selos e abrir o livro. Que, portanto, saíra da posição que ocupava para, exclusivamente, conquistar o direito de redimir a toda a criação, e que o conseguira. Saiu para vencer e venceu!sabia

E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos um Cordeiro, com as marcas de um cordeiro que tinha sido sacrificado, era perfeitamente poderoso e perfeitamente sabedor de tudo o que acontece em toda a terra, mas, era um cordeiro, e o ancião me tinha falado de um leão, que, embora, da tribo de Judá e raiz de Davi, não podia ser do céu, nem da terra, nem de debaixo da terra; e além disso, só há o Deus, que é em quem todo lugar está, inclusive o céu; restava saber se o Cordeiro era o mesmo ser de que me falara o ancião. E eu só o saberia se ele pudesse tomar o livro e abrir-lhe os selos.

E veio, e sem maiores apresentações, tomou o livro da destra do que estava assentado no trono, que fica em lugar de luz inacessível, onde só o Deus pode e resiste entrar. Ele só podia ser alguém que fizesse parte do Deus! E eu fiquei a esperar pela reação dos demais.

E, havendo tomado o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas cheias de incenso, que são as orações dos santos, as orações por nossa libertação espiritual, e na história, que, esperávamos, fossem ouvidas, pois, estávamos sob severa perseguição.

E começaram um culto, cantando um novo cântico para ele, que dizia: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação.

E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.

Então, percebi que se tratava da mesma pessoa, que o leão do ancião era o cordeiro dos humanos, de modo que me dei conta de que eles viam o ancião, mas nós, da terra, só víamos o cordeiro, que foi sacrificado, e que ele é quem deveria ser o nosso padrão de identidade e de forma de viver. Vi, também, que mesmo para os do céu, a figura do cordeiro se impunha, pois o seu sacrifício é que lhe dava a autoridade de libertar espiritual e historicamente a toda a criação. E que nossas orações estavam liberadas, nós íamos mudar a história, e, por meio de nossas orações reinaríamos sobre a terra, e a história humana, então, passaria a ser contada a partir de nós, se tão somente orássemos como sacerdotes de toda a criação, pela libertação desta.

E olhei, e ouvi a voz de bilhões de anjos, e dos seres viventes ao redor do trono, que, também, vieram prestar culto e, com grande voz, diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e poder para todo o sempre.

Lembrei-me de que, quando o Cordeiro esteve entre nós, ele teve se deparar com um anjo caído que disse que tudo era dele, e o era, porque nós, seres humanos, havíamos entregue a ele o que era nosso, mas, agora, aquele que pôde tomar o livro, ouvia dos anjos, que tinham expulsado o anjo caído, que ele era digno de ter tudo o que o anjo caído havia tido como seu, o que indicava que, no Cordeiro, vencemos, e que a guerra entre os anjos estava retomada, os anjos fiéis lutariam ao nosso lado, pela retomada do que voltou a ser nosso, graças à vitória do Cordeiro, nosso libertador, verdadeiramente Deus, mas, também, verdadeiramente, homem.

E, finalmente, ouvi toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre.

Todas as vozes, no céu, e na terra, e debaixo da terra estavam unidas, e estavam capitaneadas por nós, no louvor ao Deus do Universo; porque só nós falamos àquele que está assentado sobre o trono, porque só a nossa voz é ouvida no Santo dos Santos. O silêncio no lugar santíssimo, fora quebrado, nós estávamos de volta, voltamos a prestar e a ter o nosso culto aceito pelo Deus do Universo. Nós estávamos de volta ao estado de adoração!

E os quatro seres viventes, que velam pela honra do Deus do Universo, diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre.

Que assim seja, que nos mantenhamos sempre em estado de adoração, capitaneando, pela graça, administrada pelo Espírito Santo, a todas as criaturas no louvor que é devido ao que está assentado no trono e ao cordeiro!

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Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

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