Outro dia alguém pinçou uma de minhas afirmações para dizer que eu não acredito em milagres. A afirmação que fiz foi que Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. De fato, representa muito do meu pensamento: a principal obra de Deus no humano é a conformação do humano à imagem de seu Filho Jesus, que Paulo, apóstolo, chama de “primogênito entre muitos irmãos”. Mais do que fazer coisas boas para o ser humano, Deus está comprometido em transformar o ser humano, ainda que isso custe deixar ou permitir que coisas ruins aconteçam a este ser humano em processo de transformação. Deus não atua no ramo de “conforto para os fiéis”. Deus atua no ramo de transformação do humano à imagem de Jesus Cristo.
Daí a extrapolar que eu não acredito em milagres é um pulinho. Confundir a ênfase da minha teologia – “Deus faz em nós, e não necessariamente por nós”, com “Deus nunca faz nada por nós”, é até compreensível.
Na verdade, o que pretendo dizer é melhor compreendido quando se dá atenção ao “não necessariamente”: Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. Sublinhe o “não necessariamente”. Isso significa que Deus pode fazer e pode não fazer, e que o fazer ou deixar de fazer é imponderável, afetado por muitas variáveis que extrapolam o nosso controle e nosso entendimento. O que acredito, portanto, é que Deus sempre deseja fazer algo em nós, mesmo quando não faz algo por nós. Deus está sempre agindo para nossa transformação, mesmo quando não atua em nossas circunstâncias.
Por esta razão, minha conclusão é óbvia e simples: não devemos pautar nosso relacionamento com Deus na expectativa de que Ele faça algo por nós, mas na certeza de que Ele deseja fazer algo em nós. Quando Ele faz algo por nós, amém, quando não faz, amém também. O que não podemos permitir é que a expectativa de que Ele faça algo por nós nos deixe cegos ou imobilizados para o que Ele quer fazer em nós.
A maioria dos cristãos baseia seu relacionamento com Deus na dimensão “por nós”: o Deus de milagres, o Deus de poder. Alguns poucos baseiam seu relacionamento com Deus no “em nós”: o Deus de amor que nos constrange a viver para Ele e não para nós mesmos, onde viver para Ele implica sempre morrer para si mesmo, tomar a cruz e meter o pé na estrada. O milagre é problema (ou solução) de Deus. A fidelidade é problema meu. Atuar em minhas circunstâncias é o imponderável do mistério de Deus. Atuar em mim é o essencial do propósito de Deus. Você escolhe a base de sua relação com Deus: aquilo que pode acontecer ou não – o milagre, ou aquilo que certamente acontece – a transformação.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A LÓGICA DO FORMIGUEIRO - POR PAULO CILAS
O filme é até legalzinho: Formiguinha Z conta a história de uma simples formiga dentro de um formigueiro passando por brigas, sofrendo enchentes, sendo atacado por inimigos vorazes. A parte final é uma epopéia, onde o “herói” acaba sendo fundamental para a salvação de todo formigueiro. Todos comemoram numa algazarra só. Mas aí a câmera vai se afastando e aquele universo se perde dentro de um único quintal. Tudo o que aconteceu ali era insignificante diante do mundo lá fora.
É assim que vejo o que nossas igrejas têm se tornado. Através dos programas de televisão assistimos que as nossas reuniões são verdadeiras catarses; em um programa o líder diz ter revelações do livro que João comeu na visão de Apocalipse; do que Paulo viu no terceiro céu... Pessoas caem; ali é declarada vitória sobre tudo - como se ficássemos isentos às tribulações da vida -. Reunimos-nos em congressos que determinam conquista de território, aquisição de poder e autoridade sobre tudo. Subimos morros com segurança policial e decretamos que a paz está instalada ali (mas não subimos para declarar vitória quando há tiroteio). Reunimos em alguns lugares sobre o manto da promessa da prosperidade. Também declaramos que estamos vencendo inimigos poderosos e levantamos a um só grito as nossas espadas espirituais, marchamos, gritamos, adesivamos nossos carros com palavras de ordem, mas quando a câmera se afasta, somos apenas um formigueiro em ebulição sem causar nenhuma diferença prática no mundo lá fora.
Um pastor atuante em uma grande capital brasileira, capital essa que reúne “grandes” igrejas, entre lágrimas afirmou que sua cidade está uma droga. Nada muda. Muito barulho por nada, diria Shakespeare. Quando somos notados, é tão somente para sermos expostos às contradições, guerras de ego e amor ao dinheiro, ou seja, somos notados nas práticas iguais as do mundo lá fora.
O curioso é que se fôssemos simples, vivendo na singeleza de coração descrita em Atos, na comunhão, aí sim afetaríamos o “quintal” a nossa volta, sendo realmente o sal dessa terra.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
JESUS ERA RUÍM DE MARKETING! POR CAIO FABIO
Alguém me escreveu dizendo que não entende por que Jesus agiu como agiu, ao invés de fazer como César ou Alexandre, o Grande.
A ele e a tantos quantos pensam a mesma coisa, digo o seguinte:
Jesus veio para salvar o mundo, e, contudo, não fez nada igual aos que se oferecem como salvadores dos homens.
Já se disse demais [embora valha a pena repetir] que Ele não escreveu sequer um livro, não erigiu um pilar, por mais fajuto que fosse; não mudou para Roma e nem para Atenas ou mesmo para Jerusalém; não aceitou a oferta dos gregos de ir viver entre eles; não buscou impressionar os filósofos gregos ou os senadores romanos; e nem tampouco sistematizou um ensino para ser decorado ou aprendido; e, para completar a serie de “insensatezes”, ainda escolheu andar com gente que não formava opinião, não era conhecida, não tinha berço, e não agia no meio político ou religioso. Ele fez como o Pai: Do que estava sem forma e vazio Ele iniciou o reino!
Além disso, Ele não gerou filhos e nem deixou herdeiros carnais de nada. Não criou amuletos com pedaços de suas roupas ou utensílios de uso pessoal [toda essa história de Graal e relíquias santas é paganismo comercial brabo feito em nome de Jesus], não “marcou lugares santos” e nem estabeleceu “peregrinações sagradas”, como ir à Jerusalém, à Cafarnaum, e muito menos a qualquer outro lugar santo ou “Meca”.
Também não inventou “uma parte profunda” de Seu ensino apenas reservado aos Entendidos e Autoridades. Não venerou nada. Não se vinculou à coisa alguma, nem mesmo ao Templo de Jerusalém, ao qual derrubou com palavras proféticas.
Chocante também é o fato Dele não se poupar em nada. Cansado, então cansado. Com sede, então com sede. Ameaçado, então cauteloso. Descrido, então muda de lugar. Amado, mostra amor, mas não fica seqüestrado pelo amor de ninguém. Desperdiça oportunidades de ouro. Joga fora o que ninguém jogava. Insurge-se contra aquilo que ninguém se levantava em oposição. Provoca a morte com vida até ressuscitar.
Ressuscitar. Sim! Mas para quê? Se as testemunhas não eram criveis. Até óvnis têm testemunhos mais criveis do ponto de vista do que se julga um testemunho respeitável. E além de tudo Ele só aparece para quem crê, e não faz nenhuma aparição ante seus inimigos, no Sinédrio de Jerusalém, por exemplo. Até para ressuscitar Ele trabalha contra Ele mesmo, do ponto de vista de “estratégia de ressurreição”.
Sim! Jesus não fez nada concreto. Tudo Nele era abstrato, até quando era concreto. Tudo tinha que ser apreendido com o coração, e não apenas aprendido com a mente. Um dia depois do milagre da multiplicação de pães e peixes, todo o resultado do milagre já havia sido digerido e evacuado. Ninguém foi por Ele instruído a guardar amostra dos pães e peixes, nem tampouco pediu Ele que se guardasse um tonel de vinho de Cana.
Jesus era do tipo que jamais chegaria à Betânia e diria: “Foi aqui que ressuscitei Lázaro!”
Sim! Ele não tem histórias de Si mesmo para contar. O presente é a História para Jesus. Suas histórias não são passadas, são todas presentes. Suas histórias são as Suas palavras de vida e poder enquanto...
Ora, eu poderia ficar escrevendo aqui para sempre sobre o assunto [aliás, tenho três livros que lidam com essas questões de modo amplo e extenso]; no entanto, o que me interessa é apenas afirmar que assim como Jesus tratou a vida e a História, do mesmo modo Ele espera que nós o façamos, até quando estivermos exaltando o Seu nome ou pregando a Sua Palavra; e, sobretudo, no vivendo da vida.
Ou quem nos fez pensar que Jesus era assim apenas porque Ele tinha que ser assim? — Mas que nós, que não somos Ele [e que temos a tarefa de propagandeá-LO na terra], temos permissão para tratarmos Jesus em relação ao mundo de um modo diferente do que Ele tratou a Si mesmo? Sim! Quem nos convenceu de tal loucura?
O modo de vivermos e pregarmos o nome de Jesus no mundo é exatamente o mesmo com o qual Ele tratou a Si mesmo na experiência humana de Seu existir entre nós.
“Meu reino não é deste mundo!”
Afinal, quem é César? Quem é Alexandre?
Você deve a vida a qualquer um dos dois? Em que César ou Alexandre ajudam a sua vida hoje?
Assim, pergunto:
Você aceita desistir do que erro no qual foi criado na religião e passar a viver com os modos e motivações de Jesus?
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