quarta-feira, 13 de maio de 2015

A simplicidade do evangelho e a sofisticação da Igreja - Ricardo Barbosa



O evangelho de Jesus Cristo é simples. Simples na forma e simples no conteúdo. A vida e o ministério de Jesus acontecem num cenário simples. Ele anunciou as boas novas do reino de Deus, demonstrou a presença do reino através de palavras, exemplos e ações. Convidou pessoas para estarem e aprenderem com ele. Sofreu as incompreensões do sistema religioso e político do seu tempo. Morreu e ressuscitou. Após a ressurreição, encontrou-se com seus discípulos e comunicou-lhes que recebera toda autoridade no céu e na terra, e que, como Rei e Senhor, enviou seus discípulos para anunciarem as boas novas, levando homens e mulheres a guardarem tudo o que ele ensinou, integrando-os numa comunidade trinitária por meio do batismo, e prometeu estar com eles todos os dias, até o fim.

Alguns dias depois, no meio da festa de Pentecostes, 120 discípulos estavam reunidos em Jerusalém, e a promessa de Jesus se cumpriu. Todos foram cheios do Espírito Santo, começaram a viver a nova realidade anunciada por Jesus, saíram alegremente, por todo canto, pregando a boa notícia de que Deus visitou seu povo e trouxe salvação, justiça e liberdade.

A história seguiu e os cristãos foram se multiplicando, organizando igrejas, criando instituições, formas e ritos. Porém, as instituições cresceram e suas estruturas se tornaram mais complexas e sofisticadas. Transformaram-se num fim em si mesma. A simplicidade do evangelho foi substituída pela complexidade institucional.

C. S. Lewis, na carta 17 do livro “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”, aborda o tema da glutonaria e afirma que uma das grandes realizações do maligno no último século foi retirar da consciência dos homens qualquer preocupação sobre o assunto, e isso aconteceu quando ele transformou a “gula do excesso na gula da delicadeza”. Para C. S. Lewis, o problema da gula, muitas vezes, não está no excesso de comida, mas na sofisticação, na exigência de detalhes em relação ao vinho, ao ponto do filé ou ao cozimento da massa. Fica impossível atender a um paladar tão sofisticado. A simplicidade do ato de comer dá lugar à sofisticação gastronômica. Pessoas assim, segundo o autor inglês, demitem cozinheiras, destratam garçons, abandonam restaurantes, cultivam relacionamentos falsos e terminam a vida numa solidão amarga.

Como igreja, corremos o mesmo risco. A simplicidade e pureza do evangelho já não provocam prazer na maioria dos cristãos ocidentais. A sofisticação da igreja, sim. É o vaso tornando-se mais valioso que o tesouro contido nele. Se a música não estiver no volume perfeito, o ar condicionado no ponto exato, a pregação no tempo apropriado, com conteúdo que agrade a todos os paladares e com o bom uso dos aparatos tecnológicos, talvez eu não me agrade desta igreja.

Justificamos a sofisticação com expressões como “busca por excelência”, “relevância”, “qualidade”. Parece justo. O problema é que a excelência ou a relevância do evangelho está exatamente na sua simplicidade. É cada vez mais fácil encontrar cristãos que acharam a “igreja certa” do que os que simplesmente encontraram o evangelho. A sofisticação da igreja mantém o cristão num estado de espiritualidade falsa e superficial. A maior deficiência do cristianismo não está na forma, mas no conteúdo.

A verdadeira experiência espiritual requer um coração aquecido e não sentidos aguçados. Precisamos elevar nossos afetos por Cristo, seu reino, sua Palavra e seu povo, e não os níveis de sofisticação e exigências institucionais. O vaso deve ser de barro, sempre. O tesouro que ele  guarda, o evangelho simples de Jesus Cristo, é que tem grande valor. A sofisticação produz queixas, impaciência, falta de caridade e egoísmo. A simplicidade sempre nos conduz a compaixão, sinceridade, devoção e auto-doação.

• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O que esquecemos sobre o perdão - Leslie Leyland Fields


Como um pai distante e hostil me ensinou o mais profundo significado da misericórdia.


O que esquecemos sobre o perdão
Fazia dez anos que eu não via meu pai. Eu não tinha fotos dele comigo; apenas uma vaga lembrança do seu rosto, fruto de nosso último encontro. Quando eu e meu marido paramos o carro em frente ao prédio em que morava, numa cidadezinha da Flórida, vi um homem de pele escura, quase careca. Era ele. Estava exatamente como eu me lembrava, embora uns 20 quilos mais gordo que da última vez em que o vi. “Como vou encenar isso?”, pensei. “Filha amorosa cumprimentando o pai sumido? Boa filha trazendo seus filhos para conhecerem o avô? Ou apenas uma filha ferida pela distância de seu pai?”
Saí devagar, prendendo a respiração. Meus filhos me seguiram, um atrás do outro. Meu pai continuou parado, como se não os estivesse vendo. Aqueles meninos eram irrelevantes para ele: nada sabia sobre eles e nunca os tinha visto, nem em fotos. Abracei de leve aquele homem estranho. “Como vai?”, ele perguntou, exibindo os dentes remanescentes. “Bem”, respondi. Nós tínhamos levado dois dias para chegar lá, desde Kodiak, no Alasca. Eram as férias de 2006 e queríamos vê-lo, quem sabe pela última vez. Aquela poderia ser a única oportunidade de meus filhos conhecerem o avô, já com 84 anos. Sugeri que saíssemos para tomar sorvete, pois sabia que ele gostava. Na sorveteria, ficamos sem assunto para conversar, observando o tráfego. Pouco antes de sairmos, pedi a meu marido que tirasse uma foto. Meu pai sentou-se e fiquei atrás, com os lábios tensos, contendo todo o vazio e a raiva que eu podia suportar. “Como posso perdoá-lo por todos os anos passados e até mesmo por este momento?”, eu me perguntava. Decidi que não voltaria para vê-lo de novo, não importava o que acontecesse.
Cinco anos depois, recebi um telefonema da minha irmã. Meu pai sofrera o que parecia ser um derrame e estava internado. Fiquei surpresa com a notícia, e mais surpresa ainda por saber que ela falava com ele, ultimamente, toda semana. Era o quarto dela que ele visitava à noite, quando estava em casa, enquanto nós, os cinco outros filhos, dormíamos. Só soubemos disso décadas depois. E esse não era o único mal que meu pai fazia a nós. Ele não conseguia ou não queria manter um emprego, o que nos levou a uma infância de muita pobreza. Quando eu tinha treze anos e minha mãe estava estudando para conseguir algum trabalho, meu pai pegou o pouco dinheiro que ainda tínhamos e foi-se embora em seu carro, pretendendo nunca mais voltar. Infelizmente, semanas depois, voltou. Anos mais tarde, quando finalmente juntou algum dinheiro, ele se mudou definitivamente para a Flórida, indo viver em um veleiro antigo.
“Por que você está fazendo isso?”, perguntei à minha irmã. “Eu o perdoei, Leslie”. Então, desliguei o telefone, sentindo todo o quarto rodar. Perdão sempre foi uma palavra por demais conhecida pelos cristãos, presente até na oração que Jesus nos ensinou. E o que dizer do mandamento que prescreve: “Honra teu pai e tua mãe”? Eu havia construído grande parte da minha vida com base nessa premissa. Só que não precisei procurar muito para encontrar outras pessoas lutando para perdoar um pai ou uma mãe, um padrasto, uma mãe adotiva, um avô – o tipo de pessoas que deveriam nos amar e cuidar de nós mas que, por muitas razões, não fizeram isso. É uma história antiga, que remonta aos tempos de Adão, Eva, Caim e Abel: pecadores criando pecadores. A iniquidade dos pais alcança os filhos até a terceira e quarta gerações, conforme as Escrituras.
As famílias estão desmoronando. Quase a metade dos filhos primogênitos que nascem nos Estados Unidos são, atualmente, de mães solteiras, e cerca de uma entre cinco crianças são criadas abaixo da linha de pobreza – e isso no Primeiro Mundo, que dirá da maior parte do planeta. Quarenta por cento dos primeiros casamentos não dão certo, fazendo as crianças passarem por crises e enfrentarem perdas em idades que não conseguem entendê-las. Jill Hubbard, psicóloga clínica do New Life Ministries (Ministérios Nova Vida) em Santa Monica, Califórnia, vê as consequências dos problemas familiares de maneira próxima e pessoal. “Pelo menos metade das pessoas que recebo toda semana está lutando, em algum nível, com a falta de perdão, especialmente em relação aos pais”, diz.
Libertação
Depois de seguir a difícil jornada para perdoar o meu pai, estou convencida de que todos devemos andar nesse mesmo caminho, se quisermos ser boas testemunhas do Senhor e fazer com que a igreja seja um refúgio em meio a uma sociedade ferida. E não só isso – variados estudos nos campos da medicina, da saúde mental e das ciências sociais afirmam o extraordinário poder do perdão na redução da pressão arterial, do estresse e da depressão. Perdoar também aumenta sentimentos como a compaixão e o otimismo, mesmo para os indivíduos mais traumatizados.
A mensagem do perdão tem se tornado cada vez mais difundida. Autores às centenas têm dito que perdoar é uma escolha, essencial para o nosso bem. O modelo de “perdão terapêutico” entrou no linguajar público como uma espécie de cura milagrosa e auto-administrada. “Eu perdoo por mim mesmo” é a máxima que tipifica a compreensão dominante acerca do perdão. O autor afirma: “Não se trata de perdoar pelo bem da outra pessoa. Trata-se de perdoar pelo seu próprio bem, para que você se liberte e siga em frente”. Mas os teólogos cristãos desempenham um papel importante na elaboração da mensagem terapêutica do perdão. Lewis B.Smedes, especialista em ética já falecido, foi um dos primeiros a lançar o perdão como um presente para nós mesmos: “Perdoar é libertar um prisioneiro e descobrir que esse prisioneiro era você”. Essa citação é tão usada que assumiu uma força de verdade do Evangelho.
Todas essas declarações, tanto de dentro quanto de fora da igreja, demonstram que não perdemos o conceito de perdão como bem moral. Mas temos limitado o bem para apenas nós mesmos, e é preocupante que o abandono de fundamento bíblico mais profundo do ato de perdoar tenha destruído o seu poder total e objetivo. Precisamos retornar aos mandamentos do Novo Testamento para perdoarmos como fomos perdoados. Isso resgata todo o projeto de perdão de suas piores formas de superioridade e egoísmo. Jesus usa a parábola do servo impiedoso para ilustrar a nossa verdadeira condição e necessidade. O perdão é para proporcionar liberdade e restauração a todos, especialmente àqueles que falharam conosco. Ele deve trazer a misericórdia de Deus entre nós, frágeis seres humanos, à espera da redenção em um mundo perdido.
Essa resposta correta ao perdão de Deus é tão séria e essencial para a vida cristã que Jesus adverte os discípulos, depois de ensinar a oração do Pai Nosso:
“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós;
Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6.14-15). O perdão de Deus não depende do nosso perdão a outras pessoas, e sua salvação não está vinculada a nenhuma ação de nossa parte. Ainda assim, é claro que ele requer que pessoas perdoadas também liberem perdão.
Bálsamo da misericórdia
Acreditar em tudo isso não fez com que perdoar meu pai fosse tarefa fácil ou imediata, é claro. Depois daquele telefonema de minha irmã, fiz várias viagens à Flórida durante um ano e meio. Na primeira, fui com as palavras do profeta Miquéias na cabeça: “Que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?”. Eu fui desejando amar a misericórdia, mas meu pai e eu entramos em confronto. Ele proclamou seu ateísmo, e eu fiquei na defensiva. Lembrei-me de todos os motivos pelos quais nunca gostei dele – e, em cada gesto de bondade que eu demonstrava a ele, mais me lamentava por nunca ter recebido dele nada do gênero. Porém, comecei a ver aquele homem velho e alquebrado de modo mais completo. Eu percebi a sua ansiedade quando eu aparecia toda manhã para visitá-lo – e ele até me ligou no meu aniversário. Certa vez, pus a mão em seu ombro. Ao sentir-se tocado com compaixão, ele chorou e eu o acompanhei; choramos juntos por sua longa e triste vida, lamentando tudo que nos separara.
Lentamente, pude reconhecer a sua doença mental, que estava na raiz de sua incapacidade de amar os outros. E percebi que eu não era a única ferida; ele se sentia da mesma maneira. Com todas essas conclusões, o meu coração, apesar de magoado, foi também curado. Entre as visitas, eu ligava e mandava cartas, presentes e livros. Finalmente, estava amando o meu pai. Eu estava amando a misericórdia, esquecendo o seu egoísmo e os seus crimes e deixando tudo nas mãos de Deus. As coisas, no entanto, não terminaram como eu esperava. Meu pai nunca manifestou interesse ou amor por mim. Ele não reconheceu seus erros, tampouco enxergou em meus gestos uma oportunidade para abrir seu coração para Deus. Quando entrou em coma, minha irmã segurou o telefone em sua orelha e eu lhe falei palavras de amor e perdão, mas, àquela altura, ele já não podia responder. Quando meu pai morreu, apenas dois anos depois do meu retorno à sua vida, chorei por dias seguidos.
Mas esse acontecimento final não é o verdadeiro fim da história. O fim veio antes, quando eu e meus quatro irmãos nos reunimos no pequeno quarto do meu pai. Ele estava vestindo uma camisa bege com listras verdes e um short cáqui que minha irmã e eu havíamos comprado. Eu olhei, maravilhada, ao redor do quarto. Fazia 16 anos que todos nós não nos reuníamos. Naquele momento, nossa família estava reconstituída ao redor daquele que havia nos separado, tantos anos atrás. Eu lembrei da história de José, do Antigo Testamento, na sala de jantar com todos os seus irmãos, presenciando a reconstituição da sua própria família. Era o mesmo conosco. Nosso pai havia magoado cada um de nós, mas decidimos a mesma coisa: não iríamos pagar na mesma moeda. Nós estávamos ali para abençoar, para honrar. Nossa presença não pretendia silenciar o passado, mas recuperá-lo. Encontramo-nos novamente para nos transformar em pessoas que perdoam. Meu pai parecia confuso, mas eu o vi lacrimejar de emoção. Em outra ocasião, ele reconheceu, com palavras gaguejantes, que não era digno de nossa atenção. Quando a hora chegou, ele não morreu sozinho: dois de seus filhos estavam ao seu lado.
Podemos começar a jornada do perdão para aliviar nossos próprios fardos. Mas, ao longo do caminho, descobrimos uma oportunidade de viver a plenitude do Evangelho, amando a quem não merece e perdoando setenta vezes sete vezes. Ao fazer isso, refletimos o Reino de Deus entre nós. Eu poderia, facilmente, ter perdido essa oportunidade. Poderia não ter ouvido aquele que, morrendo numa cruz horrenda, em meio a dores lancinantes, orou por seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Somos chamados a fazer o mesmo. Não seremos capazes de consertar toda a família humana, e nem de perdoar de modo tão perfeito e completo quanto Jesus – mas somos chamados a tentar, por obediência e amor ao Pai que nos perdoou.  Comecemos pelas nossas próprias famílias, trazendo para nossos lares destruídos o bálsamo da misericórdia infinita de Cristo. A partir daí, quem sabe aonde o perdão nos levará?

Sexualidade e redenção - Ricardo Barbosa de Sousa

Em relação aos papéis do homem e da mulher, é fundamental retomar o propósito de Deus.


Sexualidade e redenção
O amor pode ser pecaminoso? O ensino bíblico e a tradição cristã afirmam que sim. O apóstolo Paulo diz, por exemplo, que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (I Timóteo 6.10). Outro apóstolo, João, em sua primeira carta, também aconselha: “Não ameis o mundo, nem as coisas que há no mundo”. Segundo a Palavra de Deus, portanto, existem, sim, formas de inverter ou perverter o amor. E esse amor pecaminoso não se dirige, apenas, a coisas materiais. A certa altura de seu ministério terreno, Jesus afirma: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim” (Mateus 10.37). É claro que devemos amar nossos pais. O quarto mandamento do decálogo nos manda honrar pai e mãe. No entanto, quando esse amor tem precedência sobre o amor a Deus, ele coloca em risco a ordem dos nossos afetos – e o objeto do nosso amor, facilmente, se transforma em ídolo.
Fomos criados por Deus para amar e ser amados. Essa é a condição básica do ser humano. Deus é amor, e não poderia nos criar de outra forma. No entanto, este propósito do Criador é corrompido sempre que nos afastamos dele e viramos as costas à sua vontade. Sempre que amamos alguma coisa ou mesmo alguém mais do que a Deus, o amor corre o risco de tornar-se pecaminoso.
O propósito do Criador para o ser humano, particularmente em relação à sua sexualidade, foi desenhado na criação. É nisso que os cristãos creem. A Bíblia começa com a afirmação de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Esta é, aliás, a declaração mais surpreendente de toda a narrativa da criação: o Deus Criador cria o ser humano à sua imagem. No mundo antigo, as imagens representavam a presença daquele que estava ausente, fosse ele um rei cujo trono e palácio encontravam-se distantes, ou um deus cujo templo e altar ficavam longe. Porém, o Deus revelado na Bíblia escolhe o ser humano como representação de sua presença no mundo. Na revelação bíblica da criação, existe um vínculo entre o humano e o divino. Todavia, a imagem de Deus no ser humano não se expressa no indivíduo solitário, encapsulado em si mesmo, mas é representada no homem e na mulher. A criatura divina é o ser humano sempre em relacionamento. O propósito da criação é, portanto, a comunhão entre o homem e a mulher; e, nesse relacionamento, a identidade humana é afirmada. O casamento – a aliança de amor entre um homem e uma mulher –, determina o fundamento da comunidade humana, e define a sentença básica da sexualidade estabelecida pelo Criador.
Em uma cultura confusa em relação aos papéis do homem e da mulher, é fundamental retomar o propósito da criação para construir uma compreensão da sexualidade humana como forma de expressar, primariamente, a natureza divina – e não o desejo humano por prazer ou satisfação pessoal. A forma como honramos e dignificamos nossa identidade sexual requer a aceitação plena e incondicional de quem somos diante do Criador, como homens e mulheres, construindo relacionamentos expressivos dessa condição.
Existe, hoje, muita crítica ao Cristianismo nesse aspecto. Movimentos, instituições ou, simplesmente, indivíduos criticam e, algumas vezes, atacam a fé cristã por considerá-la uma religião restritiva da prática sexual. É preciso deixar claro que o Cristianismo restringe, sim, a prática sexual; porém, em nenhum momento a nega. Muito pelo contrário: ele a afirma. Em seu livro Cristianismo puro e simples, o escritor irlandês C.S. Lewis diz o seguinte: “O Cristianismo é praticamente a única entre as grandes religiões que aprova por completo o corpo – que acredita que a matéria é uma coisa boa, que o próprio Deus tomou a forma humana e que um novo tipo de corpo nos será dado no Paraíso e será parte essencial da nossa felicidade, beleza e energia. O Cristianismo exaltou o casamento mais que qualquer outra religião; e quase todos os grandes poemas de amor foram compostos por cristãos. Se alguém disser que o sexo, em si, é algo mau, o Cristianismo refuta essa afirmativa instantaneamente.”
Por outro lado, o Cristianismo também reconhece que o ser humano não pode se entregar cegamente aos seus instintos e desejos, e por essa razão ele estabelece limites e fronteiras para a prática sexual. Esses limites são necessários para ordenar os afetos humanos e disciplinar os desejos. A revista Ultimato, em sua edição número 352, traz como matéria de capa o seguinte tema: “A descoberta da compulsão”. Num dos artigos, a publicação faz referência a alguns escritores e psicanalistas que reconhecem os riscos dos desejos descontrolados. Uma das citadas é a psicanalista Maria Rita Kehl, que aconselha: “É melhor admitirmos, humildemente, o mal que nos habita. É a chance de aprendermos a lidar com ele. Pois parece que, quanto mais ignoramos a violência do desejo, mais somos vitimas de suas manifestações”. Ela cita também o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, que afirma: “Somos seres do desejo e não da razão. Com isso, não quero dizer que não sejamos racionais, mas sim que o desejo se impõe à razão […]. Devoramos tudo à nossa volta por conta dessa força irracional chamada desejo.”
Na sociedade humana, todos reconhecem que limites são necessários, em qualquer atividade ou comportamento. A questão é: quem os define e quais seriam eles?  Qualquer grupo social ou indivíduo, independentemente de credo ou formação, define seus limites a partir de algum pressuposto. Os cristãos creem na Bíblia como palavra inspirada por Deus e sua regra de fé e prática. Ao apresentar os limites, o Cristianismo cria um espaço seguro, não só para a pessoa, mas também para toda a sociedade humana, a fim de que o ser humano possa desenvolver seus afetos e amadurecer seus relacionamentos.
O argumento do amor busca sustentar e legitimar toda e qualquer forma de relacionamento, inclusive as relações sexuais que acontecem fora dos propósitos da criação, bastando para isso dizer que aquelas pessoas se amam. Por exemplo, muitos perguntam: pessoas do mesmo sexo não podem se amar? O Cristianismo responderia dizendo que sim; que não só podem, como devem. O problema é que usam a expressão “amar” como sinônimo de sexo. Amor e sexo não são a mesma coisa. Deus jamais proibiu alguém, quem quer que seja, de amar. Muito pelo contrário. No entanto, o ato sexual tem limites impostos pelo próprio Senhor. Desde o início, o testemunho bíblico se opôs deliberadamente às pretensões de seu ambiente cultural, afirmando que, na criação, Deus designou o homem e a mulher para uma identidade específica nos termos de uma aliança.
FRONTEIRAS MORAIS
Essas fronteiras são, hoje, fortemente criticadas e refutadas, muitas vezes, de maneira hostil, tanto pela cultura quanto pela mídia, que buscam criar uma sociedade sem princípios morais. O salmista levanta uma pergunta crucial para nós, hoje: “Destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” Sem fundamentos, a justiça se perde, rapidamente. Uma sociedade sem fundamentos morais caminha, inexoravelmente, para o caos – um cenário de violência cada vez mais comum – ou para algum regime totalitário, que pratica a rejeição ou que rejeita qualquer opinião que não seja aquela defendida por alguns movimentos e grupos organizados.
Somos, hoje, uma sociedade sem fronteiras morais. Somos uma sociedade que sabe fazer sexo, mas que encontra dificuldade para amar. Buscamos satisfazer nossos desejos e impulsos, mas resistimos a construir relações fiéis e duradouras. Nenhuma sociedade, seja ela cristã ou não, consegue sobreviver sem limites ou fronteiras morais. Para o Cristianismo, não podemos falar da sexualidade humana sem levar em conta a realidade do pecado. Deus nos criou para nos relacionarmos com outros, para amar e sermos amados; existimos para cuidar, nutrir e expressar afetos na amizade e comunhão. Deus também nos criou como seres sexuados, diferentes, o que nos torna capazes para o ato sexual como expressão única, entre o homem e a mulher, numa relação estável e fiel, como símbolo da aliança que Deus estabelece com sua criação. Neste relacionamento único, participamos da criação procriando e construindo a comunidade humana. É neste modelo que encontramos a possibilidade do mistério do amor, da segurança humana, de confiança e o espaço para receber os filhos que virão, oferecendo-lhes o ambiente necessário para seu desenvolvimento integral.
Acontece que o pecado corrompeu esse projeto divino. Antes de prosseguir, vale uma pequena explicação sobre o significado do pecado. Não se trata de um conceito psicológico ou sociológico, mas teológico. Ele diz respeito a Deus e seus propósitos revelados nas Escrituras Sagradas. É comum ouvir pessoas que não creem em Deus nem na sua Palavra protestando contra o fato de os cristãos reconhecerem que um determinado comportamento é pecaminoso. Isso é um tanto estranho. Não faz sentido que alguém que não professa a fé cristã, cujos princípios e valores não são determinados por sua fé em Cristo e na sua Palavra, proteste contra os que assim acreditam. Pecado é uma realidade humana; ele envolve todos os seres humanos. No entanto, para aqueles que não creem e não reconhecem o Criador, muito menos a condição que a queda impôs ao ser humano, não faz sentido protestar contra aquilo em que não acreditam.
Os cristãos consideram que o pecado trouxe a alienação do ser humano para com o seu Criador. Ao virar-lhe as costas, o ser humano perde o princípio da ordem estabelecida por Deus, e se entrega aos seus instintos e paixões desordenados; e é aqui que o amor pode tornar-se pecaminoso. Quando a Bíblia reconhece como pecado toda prática sexual que acontece fora dos termos da aliança entre um homem e uma mulher, conforme designado por Deus na criação, é porque todas estas relações ferem o propósito do Criador para o ser humano, ao estabelecer a família como base da sociedade humana.
A vontade de Deus deve ser o guia de nossa identidade. A comunhão do casamento é o projeto divino para o ser humano como ser sexual. Este princípio não está limitado ao tempo nem à cultura, mas é fundamento essencial e critério fundamental para a compreensão da sexualidade. Este é o padrão que define a doutrina cristã a respeito do comportamento sexual.
PROPÓSITO DIVINO
Muitas pessoas argumentam que uma limitação sexual pode implicar em algum tipo de privação. Num certo sentido, isso é verdade. Aliás, ninguém vive sem limites ou algum tipo de privação. Jesus usa esse argumento no célebre Sermão do Monte. Ali, o Mestre afirma: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno”. Ele usa esta imagem forte para falar do adultério. No entanto, a mesma ilustração pode ser usada para qualquer outra forma de expressão sexual fora da vontade divina. O propósito de Deus não é que o indivíduo fique entregue aos seus instintos e paixões, mas que seja submisso ao seu Criador, e assim experimente a plenitude dos seus afetos e a liberdade em Cristo.
Lewis afirma: “A regra cristã é clara: ‘Ou o casamento, com fidelidade completa ao cônjuge, ou a abstinência total.’ Isso é tão difícil de aceitar, e tão contrário a nossos instintos, que das duas, uma: ou o Cristianismo está errado ou o nosso instinto sexual, tal como é hoje em dia, se encontra deturpado. E claro que, sendo cristão, penso que foi o instinto que se deturpou”. A desordem sexual sempre contribuiu para uma desordem afetiva. O domínio próprio – a disciplina espiritual mais rejeitada na cultura moderna – é fundamental para reorientar nossos afetos e balizar nossa sexualidade. Existe um vazio e um anseio na alma humana que só pode ser satisfeito em Cristo, e isso só será plenamente realizado na redenção final. Não existe plenitude absoluta sem redenção absoluta. Para enfrentar o pecado, precisamos reconhecer a necessidade de renunciar a ele, resistir à tentação e optar pelo Reino de Deus. Precisamos, também, reconhecer que fazemos parte de uma sociedade caída e integramos uma Igreja que também traz as marcas do pecado. Logo, não adianta esconder a realidade do pecado: ela precisa ser enfrentada, desmascarada e restaurada em Cristo com a mesma misericórdia com que o Filho de Deus nos assiste em nosso pecado.
Os cristãos creem num Deus Criador, que nos criou como seres sexuais e encontrou prazer em sua criação. Cremos em um Deus pessoal, numa ordem que ele estabeleceu. Cremos nos seus absolutos; cremos num Reino de vida e paz no qual reside o sentido da existência humana. Cremos que, se seguirmos o propósito de Deus para nossa sexualidade, encontraremos mais plenitude de vida e maior prazer.
Como cristãos, experimentamos a liberdade conquistada pelo perdão dos nossos pecados na reconciliação com Deus, conosco e com o próximo. A reconciliação abre a possibilidade para um novo começo, que a graça divina nos proporciona pelo poder do Espírito Santo. Somente por meio da graça de Deus e do poder do Espírito podemos ser fiéis em nossos relacionamentos, bem como enfrentar e resistir ao modelo imposto pela sociedade moderna, que nos oferece um tipo de prazer que nega a alegria que nasce de uma vida comprometida com o propósito do Criador.
A Igreja cristã tem um importante papel no chamado de Deus para a reconciliação de todas as coisas em Cristo, incluindo a sexualidade humana. Paulo afirma que, “se alguém está em Cristo, é nova criação” (II Coríntios 5.17). Ser cristão não torna ninguém melhor ou superior que os seus semelhantes; ser cristão significa que fomos libertos de um modelo cultural, com seus valores – ou antivalores, que aprisionam e oprimem –, e fomos atraídos por Cristo para uma nova vida e uma nova criação. Não temos, em nós mesmos, nenhuma alternativa melhor, mas cremos que Deus tem. Por isso, somos chamados à tarefa de promover a reconciliação. E semelhante tarefa não acontece numa arena hostil de rupturas e maniqueísmos, do tipo “nós versus eles”. Como disse Paulo, somos o que somos pela graça de Deus. Não existe mérito algum em nós. Não somos melhores que ninguém. Tudo que temos, e tudo o que podemos oferecer, é a graça redentora de Jesus Cristo.
A fé em Cristo nos oferece as bases para uma nova ética e moral focada no tipo de homem e mulher que Deus deseja que sejamos, e não em regras moralistas. O ser humano pretendido por Deus nos foi revelado em Jesus Cristo. Somente pela misericórdia de Deus é que podemos viver esta nova realidade e oferecermos nossos corpos “como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus,” que nos possibilita a experimentar a boa, perfeita e agradável vontade do Senhor.

Porque eu deveria querer ser um Cristão?






Qual a razão que eu deveria ter para que eu queira ser um Cristão?

Poderia dizer: Eu não quero dor. Não quero desconforto, agonia, pavor, solidão ...

Cristandade é Cristo Jesus, o Filho de Deus, eterno, que veio ao mundo para salvar pecadores merecedores de punição. Porque neglicenciaram Deus, se rebelaram contra Deus, ignoraram Deus, desprezaram Deus, recusaram Deus, se afastaram de Deus, minimizaram Deus.

Todo mundo fez isso. "Cristãos" ainda fazem isso e não-crentes também. Ninguém reconhece o valor que Deus realmente tem.

E Deus é infinitamente valoroso e infinitamente digno de nossa confiança e amor.

Portanto estamos todos sob justo julgamento e nós iremos ser sentenciados algum dia ao lago de fogo chamado como segunda morte.

Então a primeira razão para sermos Cristãos é a negativa: todas as coisas horríveis que estão por vir sobre nós se nós continuarmos a rebelião contra Deus. 
E essas coisas não virão sobre nós se nós confiarmos em Cristo que se ofereceu como uma saída.
 
Mas a maior razão para ser um Cristão é que eu quero Cristo não só para escapar do inferno e ter meus pecados perdoados. A razão mais importante é que eu quero ter satisfação infinita com Deus para todo o sempre."

Um consciência limpa? Sim.

Pecados perdoados? Sim.

Escapar do inferno? Sim.

Estar no céu? Sim.

Novo céu e nova terra? Sim.

Mas isso não é a última satisfação. A última satisfação é  estar com Jesus. Ver a glória infinita de Jesus.

Então, Porque você quer ser um Cristão?

É Porque você não quer a dor eterna. Você quer o prazer eterno.

Inferno é dor eterna  e estamos todos indo para lá se não crermos em Jesus.

E Deus é prazer eterno:

"Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente." (Salmos 16:11).

Então se você quer prazer pleno torne-se para Cristo ou permaneça em Cristo.

E isto é a renúncia da autoconfiança e o abraçar Jesus Cristo como Salvador e Senhor do Tesouro da sua vida.

E você terá infinito prazer na presença dEle eternamente.

Eu acho que essa é uma ótima razão para querer ser um Cristão.


Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...