sexta-feira, 29 de junho de 2012

ESPIRITUALIDADE EGOLÁTRICA - CARLOS QUEIROZ

Na espiritualidade ególatra, o sacerdote se confunde com a divindade. A egolatria não é o simples cuidado do indivíduo consigo mesmo. Cuidar de si mesmo, afinal, é uma virtude. Quando praticamos o cuidado conosco mesmos, aprendemos a amar mais as pessoas. A egolatria não é também um sentimento de egoísmo. O indivíduo egoísta tem a expectativa de que todas as coisas e pessoas estejam em torno de seus interesses. Sem dúvida, isso é pecado; mas não é, ainda, um culto ao ego. Isso porque, enquanto o egoísta deseja que todas as coisas existam para atender seus interesses, o ególatra acredita que tem o poder para mover todas as coisas e pessoas em torno de si. A principal marca do ególatra é a cobiça, às vezes demonstrada por atitudes extremas. Tal sentimento foi muito bem exemplificado na proposta do diabo a Cristo: “Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares.” A egolatria é mais danosa do que a idolatria. E existe, lamentavelmente, uma espiritualidade ególatra, aquela que é caracterizada pela prática religiosa cujas celebrações e liturgias favorecem a promoção de personalidades. Na idolatria, a divindade é inanimada; o ídolo não controla a situação. Já na egolatria, o ego-deus tem boca e fala; tem nariz e cheira; tem pés e anda. Ele tem uma inteligência cheia de artimanhas; em geral, possui carisma e cativa as massas. O ego-deus consegue passar a ideia de que foi o único dotado para uma missão especial – assim, possuiria poderes especiais, como uma capacidade mística de desvendar os mistérios escondidos no além e trazer revelações sobrenaturais. Nas instituições caracterizadas pela egolatria, há a necessidade de intermediários entre os devotos e o divino. Por essa razão, os cargos e papéis espirituais são uma espécie de concessão do ego-deus a esses intermediários, sob a condição de trocas simbólicas e materiais. Diante de um ego-deus, todos os seguidores obedecem, sem o mínimo de discernimento. Qualquer atitude crítica é denunciada como rebeldia intolerável. A egolatria é marcada pela necessidade de promoção pessoal, vanglória e arrogância. Os ególatras necessitam de títulos que os façam diferentes. Em se tratando da vocação pessoal, os dons e ministérios não representam habilidades para servir às pessoas; eles são, isso sim, títulos particulares, espécie de insígnias ostentadas como demonstração de poder e domínio. Nos ambientes marcados pela egolatria, títulos que, em si mesmos, em nada credenciam seus detentores como sobre-humanos – como pastor, padre, bispo, apóstolo –, assumem um significado de divinização de indivíduos em seus feudos religiosos e redes de submissão ao seu controle. Na espiritualidade ególatra, o sacerdote se confunde com a divindade. O agente mágico e a divindade fundem-se numa só personalidade. Mas o ego-deus é materialista, possessivo, vingativo; seu discurso não glorifica ao único Deus, Senhor dos céus e da terra, mas favorece a própria dominação, estimula a vassalagem dos seguidores e legitima a dinâmica do poder. A legítima pregação bíblica é substituída por um discurso caracterizado por frases-feitas e palavras de ordem supostamente capazes de mover a mão divina, decretar a bênção e promover bem estar físico e material aos adeptos – normalmente, em troca dos chamados sacrifícios, quase sempre realizados através do dinheiro. Se, numa determinada comunidade, as pessoas estão dando mais ênfase à experiência espiritual que isola, discrimina os de fora e põe os supostamente espiritualizados em pedestais, é bem provável que estejamos diante da espiritualidade egolátrica, e não do modelo proposto por Jesus Cristo. No Evangelho de Cristo, o que é aparentemente oculto é revelado aos pequeninos do seu Reino. As boas novas “escondidas” em Deus, de fato, estavam sempre presentes; todavia, os seres humanos sofisticados não compreenderam a singeleza dessa mensagem: a de que aos pobres e aos pequeninos é que foram reveladas as boas novas a respeito do Reino de Deus (Lucas 10.18-19). As “revelações” recebidas pelos poderosos dos empreendimentos religiosos não dizem respeito à mesma revelação anunciada pelo Filho de Deus aos pobres e pequeninos. É muito importante que saibamos discernir entre a espiritualidade revelada por Jesus de Nazaré e aquela praticada nas ambiências egolátricas da cristandade brasileira.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

CENAS DE VIAGEM - PAULO CILAS

Aprende-se com tudo. E uma viagem longa então nem se fala; e da última, relato quatro acontecimentos interessantes. (1) Como que com tão pouco fazemos algo grande. Mantemos um trabalho social com crianças em agrovila em Alcântara - Maranhão. O dinheiro mandado é pouco e não nos exige muito esforço, contudo, é recebido com alegria e gratidão. Mas, mais que a alegria pela manutenção do projeto -que inclui alimentação e reforço escolar- é a alegria com que somos recebidos. Eu e Izaias - diácono e amigo- sentimos isso de perto. Um pouquinho de tempo mais uma dose de atenção são capazes de suscitar sorrisos e amizades. Meu Deus! Como temos perdido o hábito dos gestos simples, da doação pura. No final somos nós mesmos os ajudados. É paradoxal: esvaziamos-nos e ficamos cheios! (2) Fazendo diferença. Quando voltamos à São Luis começando o regresso fomos devolver o carro que alugamos - quando viajamos em dois podemos rachar despesas e ai até alugar carro é possível- e as atendentes não conseguiam encerrar a conta por causa de "sistema lento". “Enquanto isso conversávamos entre nós assuntos variados mantendo o bom humor e sempre com citações “da verdade” fugindo dos chavões crentes”. O que quero dizer é que é possível, e recomendado, falar da verdade sem parecermos gente estranha, superior e que põe nas palavras e frases viciadas sua perspectiva de vida cristã. Bom, mas eis que de repente a moça mais velha naturalmente disse: "Quem dera se todos fossem assim como vocês! Ora, eu sei que tenho os meus dias difíceis, mas, sei também que mesmo neles posso demonstrar a razão da minha fé. Ainda que vacile momentaneamente. 3)Classe D. Antes de tudo um aviso aos viajantes: se estiverem em viagem com conexão em Brasília orem para que não aconteça na quinta-feira. Olha, vou contar uma coisa absurda. Tinha comprado minha passagem com mais de mês de antecedência e eis que na hora do embarque um aviso se fez ouvir: "faremos a chamada por ordem de letras. Se não foi isso foi algo parecido. Só sei que desconfiado olhei o canhoto do bilhete recém tirado no "chequin"; não deu outra: classe D. Os Deputados federais e Senadores de fato não trabalham na sexta e todos tinham tomado de assalto o meu vôo que faria escala em São Paulo. Os representantes do povo estão acima do povo com privilégios já por demais conhecidos. O mais triste é perceber que este mesmo mal assola a igreja. As palavras de Pedro 1 Pe. 5 são ignoradas e os líderes religiosos também arrogaram para si privilé- gios e ganhos dominando sobre todos. Corremos sérios riscos de sermos D em "Brasília" e na igreja. (4) Tolos contraditórios. Os sinais do egoísmo, do hedonismo estão por toda parte, mas, o que chama mais a atenção é que cada vez mais fechados dentro de nós, com graves dificuldades para a confissão de pecados, aceitação de deficiências e limitações, nos expomos desbragadamente nas redes sociais e aos celulares. Ainda no aeroporto, esperando por longas horas na sala de embarque uma figura me chamou a atenção. Minto, chamou a atenção de muita gente. Baixinho e com alguma diferença no tamanho das pernas que o fazia dar uma pequena ... é, como vou dizer? Sim, ele rebolava enquanto andava. Entretanto, não era isso que o destacava. Tal fato só OTIMIZAVA sua conversa ao celular em tom altíssimo sobre assuntos de trabalho, domésticos e tudo com direito a palavras cavernosas. E, pior ainda. Ele dava voltas e mais voltas em torno das cadeiras lotadas do salão. O chato é que ele passava por mim falando um assunto e na próxima volta já "tava" em outra parte ou assunto diferente.Quase que passei a segui-lo para saber como terminava tudo. Percebi que somos pródigos em expor nossa tolice e banalidade, embora, escondamos cada vez mais quem somos de fato. É, aprende-se muito a qualquer momento. Em viagem então!!

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...