quinta-feira, 25 de junho de 2009

PEGANDO CARONA - POR PAULO CILAS

Quantas vezes a vontade de escrever vem e encontra grande resistência das circunstâncias adversas que afetam tempo, saúde e até o raciocínio lógico, imprescindível para colocar pensamentos e palavras faladas em textos claros. Isto sem contar a ausência de um dom natural "pra coisa". Aí, lembro-me que tem gente falando e escrevendo coisas boas, com conteúdo. Gente que até quando dá voz às lamurias, medos e dúvidas consegue inspirar-me por sua transparência e humildade. Quantas reflexões ricas brotam.
Então não tenho dúvida. Vou pegando carona com esta gente boa de Deus, como diz Caio Fábio. Às vezes fico até enciumado. "Como essa gente pode expressar tão bem "? Para me elevar um pouquinho afirmo que penso igual. Tolices de menino! Mas no íntimo fica a satisfação de quem "tá indo junto" e em boa compainha. São mestres sensatos como Eugene Peterson - recomendo tudo que ele escreve-, Brennan Manning - humildade e poesia de um maltrapilho - os Ricardo: Gondim, Agreste e Barbosa - pastores brasileiros de carne , osso e almas derramadas. Há ainda Ed Rene Kivitz - não sei como tanta cultura geral, bíblica e social cabe dentro de alguém tão simples. Outros nomes estão aqui no blog. Igualmente valorosos.
Pegar carona! Pegue carona na oração dos outros quando parecer que você não consegue orar sozinho. Pegue carona na letra e melodia daquela música que parece que foi composta com Deus ao piano. Ou tome coragem ao ouvir outra como eu ouvir: estava na hora do culto e eu arrasado por um desânimo. Coloquei Vitorino Silva para cantar para mim - "todo poder foi dado a Ele, Jesus. E eu posso ver Jesus pisando o mais profundo do inferno e as paredes serem sacudidas com seu poder. E Ele face a face com o enganador resplandeceu a Luz de Deus e a cabeça da serpente Ele esmagou"!! Fui de carona com Vitorino Silva para o culto.
Sei que não devo acomodar-me. Tenho minha própria viagem,uma estrada. Mas, quando meu carro enguiça ...

AS OPÇÕES DA MINHA ALMA - POR RICARDO GONDIM

Não pretendo fazer teologia com verdades “puras”, abstraídas da Bíblia a partir do pressuposto de que uma correta dissecação do texto garante a verdade. Preocupo-me com problemas éticos e práticos da pastoral. Lido com pessoas reais, que vivem problemas reais, que fazem perguntas reais.
Não pretendo fazer teologia a partir de afirmações teóricas descoladas das questões “duras” que intrigam a minha alma. Quero ser realista. Entendo por realismo, o esforço de aproximar coração e mente da existência. Acredito que o Logos, o Verbo, se fez carne e habitou entre nós; vimos, tocamos e cheiramos a verdade. O conhecimento do Logos não se restringe à racionalidade, mas transborda para o compromisso, para a comunhão, para a solidariedade e para a busca da justiça. A obediência da fé tem mais possibilidade de compreender os mistérios de Deus que o estéril exercício da racionalidade.
Não pretendo fazer teologia a partir da letra do texto, que mata. Entendo que certas verdades só são captadas pelo espírito. É preciso nascer, nadar, voar, absorver-se, divagar no Espírito para fragilmente intuir o Mistério. As cataratas espirituais caem dos olhos; as vestes puídas são despidas; os vícios categoriais, abandonados, mas só molhamos o calcanhar no rio eterno.
Não pretendo fazer teologia a partir do sucesso. Entendo que o carreirismo eclesiástico deságua em perversidade. Sacerdotes mataram o Nazareno. Teólogos acenderam fogueiras na Idade Média. Presbíteros sustentaram o aparthaid sul-africano. A verdade não se reduz à mecânica, ao ato de funcionar. Prefiro ostracismo ao aplauso dos pelegos da fé; exílio, aos holofotes do espetáculo religioso; abandono, ao adesismo interesseiro.
Não pretendo fazer teologia a partir das lógicas ensimesmadas. Reconheço que apesar de pequenos percalços, levo uma vida bem confortável. Procuro não permitir que vantagens, amparos, privilégios, me roubem da compaixão. Admito que é muito fácil abstrair sobre o sofrimento universal de dentro de zonas de segurança. Entendo o grande projeto de Deus para a humanidade: trocar corações de pedra por corações de carne. Assim, preciso molhar meus textos com lágrimas, impregnar meus discursos com misericórdia, calcar minha história com ternura.
Caminho ao sabor do vento. Navego, impreciso. Trabalho constrangido pelo amor. Vivo pela graça. Espero joeirar da fragilidade a bem-aventurança da mansidão. E com ela herdar a terra.
Soli Deo Gloria.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

TALVEZ: PALAVRA FORA DE MODA - POR ELBEM CESAR

Os neopentecostais aposentaram o advérbio “talvez”. E muitos tradicionais estão fazendo o mesmo. É claro que as promessas de Deus são para valer. A questão é que as promessas de Deus são condicionais e nunca se sabe com certeza absoluta se a pessoa que deseja se apropriar de algum favor divino satisfez plenamente a condição imposta. Deus promete perdão e purificação “se confessarmos os nossos pecados” (1 Jo 1.9). Mesmo que o penitente diga que fez a confissão exigida, alguma coisa ainda fica no ar. E se a confissão dele for de boca para fora? Certamente não será perdoado nem purificado. Resta ainda a questão da soberania de Deus, que precisa ser respeitada. Não posso prometer cura a todo doente que, em nome de Jesus, pede para ser curado, porque “havia muitos leprosos em Israel no tempo de Eliseu, o profeta; todavia, nenhum deles foi purificado -- somente Naamã, o sírio” (Lc 4.27).Promessas não cumpridas são uma desmoralização para o evangelho. Promessas irresponsáveis, mirabolantes, sensacionalistas e vulgares são a escola que forma céticos e ateus, e são muitos os que foram diplomados por ela. Quais são os culpados?É muito prudente recolocar a palavra “talvez” em nosso vocabulário. Isso não significa falta de fé. Ao contrário, significa humildade e submissão.A frequência do vocábulo em questão nas Escrituras Sagradas é impressionante.Daniel disse a Nabucodonosor, rei de Babilônia: “Renuncia a teus pecados [...] e à tua maldade e tem compaixão dos necessitados. Talvez, então, continues a viver em paz” (Dn 4.27).O capitão do navio prestes a naufragar entrou na cabine de Jonas e lhe disse: “Levante-se e clame ao seu deus! Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos” (Jn 1.6).Amós apelou a Israel: “Odeiem o mal, amem o bem; estabeleçam a justiça nos tribunais. Talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos, tenha misericórdia do remanescente de José” (Am 5.15).Sofonias fez a mesma exortação de Amós: “Busquem a justiça, busquem a humildade; talvez vocês tenham abrigo no dia da ira do Senhor” (Sf 2.3).Pedro advertiu a Simão, o Mago, aquele que pretendeu comprar com dinheiro o poder de impor as mãos sobre os outros para receberem o Espírito Santo: “Arrependa-se dessa maldade e ore ao Senhor. Talvez ele lhe perdoe tal pensamento do seu coração” (At 8.22).Vamos ter mais respeito com o santo nome de Deus e usar mais o formidável “talvez” em nossas conversas, em nossos atendimentos e em nossas pregações!Nota1. Textos retirados da Nova Versão Internacional.•

quarta-feira, 17 de junho de 2009

SOBRE O INIMIGO- POR RICARDO GONDIM

Caramba, como se fala no diabo! Fico impressionado como ele se tornou necessário. O diabo suga a fé, derruba crente, se infiltra em poderosas redes de televisão, envia pragas, fura pneu de carro, provoca terremotos, conhece os limites dos municípios e domina territórios. Compete e ganha de Deus. É diabo para cá e para lá o tempo todo. Se alguém está triste, advinha quem mandou a tristeza. Se alguém duvida, advinha quem mandou a dúvida. Se alguém adoece, advinha quem mandou a enfermidade. Arre! Chega! Será que ninguém vai assumir o que faz? Fica fácil culpá-lo já que o mundo inteiro está controlado, guiado, dominado, manipulado e organizado por Satã. Mas o Bicho merece o estatus de espantalho, Judas, bode expiatório? Até quando os humanos vão projetar nele suas mazelas?Dá para compreender tanta importância. Como se levantaria dinheiro nas igrejas se o Capeta não fosse a estrela do show da fé? Como televangelistas inculcariam pavor nas pessoas se o Coisa-Ruim não fosse tão medonho? Como as poderosas multinacionais da fé subsidiariam seus projetos se o Demo não adquirisse tanta força? Confesso. Tenho medo de uma religião em que o mal se torna o pivô da espiritualidade. Fico apreensivo com uma fé que não pode prescindir de ameaças e arredio com uma ética constrangida pela possibilidade de Satanás ter direitos legais para arrasar as pessoas que erram.
Não discuto a sua existência. Fico apenas suspeitoso com tanta badalação. Eu já não gostava dele, agora não aguento mais ouvir falar na Peste. Por mim, Belzebu não receberia nenhum jabá. Eu não permito que ele dê o tom do meu culto a Deus; não aceito que seja a minha motivação para agir. Enfim, não deixo que ele tome o lugar de Jesus.
Soli Deo Gloria

terça-feira, 2 de junho de 2009

A PROVIDÊNCIA DE DEUS E A ORAÇÃO DE SEUS SERVOS - POR REV. HERMISTEN MAIA

Jesus nos ensinou a orar: “… Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10). A oração não é uma tentativa de mudar a vontade de Deus, mas sim a manifestação sincera do nosso desejo de submeter-Lhe os nossos projetos, aspirações, sonhos e necessidades. A oração sincera se caracterizará pelo intenso desejo de submeter nossos desejos à vontade de Deus. Esta submissão não é algo simplesmente aprendido pela razão, embora mesmo racionalmente temos argumentos para assim proceder, pelo fato de sabermos que Deus é sábio, bondoso e onisciente. “Somente o Espírito pode capacitar-nos a subordinar todos os nossos desejos à glória divina”. A submissão a Deus é um aprendizado da fé, através de nossa comunhão com Ele.
Quando pedimos que Deus faça a Sua vontade, o fazemos não resignadamente, como se não tivesse jeito mesmo, ou como se Deus fosse o nosso inimigo que nos venceu e que agora só resta nos submeter humilhantemente… Não! A nossa oração é feita com amor e confiança, certos de que a vontade de Deus é sempre a melhor, de que ela sempre é boa, agradável e perfeita (Rm 12.2); por isso, temos prazer em cumpri-la, conforme bem expressaram Davi e Paulo, respectivamente: “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a tua lei” (Sl 40.8). “Não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (Ef 6.6). Somente um coração que tem dentro de si a Palavra, pode sentir prazer na vontade de Deus e, se alegrar na manifestação do Seu poder.
Ao orarmos sinceramente, conforme nos ensinam as Escrituras, estamos submetendo a nossa vontade a Deus; isto significa que não pretendemos ensinar a Deus, nem mudar a Sua vontade; antes, nos colocamos diante dEle dizendo: Eu creio que a Tua vontade é a melhor para a minha vida, cumpre em mim todo o Teu propósito. Orar é entregar confiantemente o nosso futuro a Deus a fim de que Ele concretize Sua eterna e santa vontade em nós. A oração revela o nosso desejo de que a vontade de Deus se realize.
João Calvino (1509-1564), comentando esta petição, diz:
“Com esta prece somos induzidos à negação de nós mesmos, para que Deus nos reja conforme o Seu arbítrio. Nem somente isto, mas também que, a nada reduzidos a mente e o coração nossos, crie Deus em nós mente nova e novo coração, para que em nós não sintamos qualquer frêmito de desejo que a pura anuência para com a Sua vontade. Em suma, que não queiramos nós próprios algo de nós mesmos; pelo contrário, que Seu Espírito nos governe o coração, para que, ensinando-nos Ele interiormente, aprendamos a amar as cousas que lhe aprazem, a, porém, odiar as que Lhe desagradam. De onde também isto se segue: que todos e quantos sentimos à vontade se Lhe opõem, a esses renda-os e vãos e írritos.”

A Oração do Senhor nos ensina a pedir a Deus que realize a Sua vontade aqui na terra como é feita no céu. Oramos para que a vida na terra se aproxime o máximo possível a do céu, onde os anjos cumprem perfeitamente a vontade de Deus (Sl 103.21).
A vinda do reino (Mt 6.10) é o resultado lógico do cumprimento da vontade de Deus. Quando assim oramos, estamos seguros de que Deus age sempre em a) Sabedoria; por isso confiamos nos Seus propósitos; b) Poder; sabemos que Ele é poderoso para cumprir perfeita e totalmente os Seus propósitos; c) Fidelidade; Deus é fiel a Si mesmo e por isso, Se revela fiel a nós através de Suas promessas; d) Amor; a Sua vontade é sempre amorosa; o amor de Deus é aquele que se sacrifica pelo Seu povo.
Finalizando a análise deste princípio, devemos mencionar um outro: A submissão. A submissão deve reger as nossas orações. Esta atitude vemos plenamente exemplificada em Cristo, em Sua oração proferida próxima ao Seu martírio: “Meu Pai: Se possível, passa de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e, sim, como tu queres” (Mt 26.39). O ministério terreno de Cristo foi uma manifestação constante da Sua obediência desde a Sua encarnação, passando por todos os desafios inerentes à Sua missão, até a Sua auto-entrega na cruz em favor do Seu povo (Vd. Fp 2.5-8; Hb 5.8).
A oração está relacionada com a Providência de Deus. Se por um lado, nós não podemos delimitar a ação de Deus às nossas orações, por outro, devemos estar atentos ao fato de que Deus nos abriu a porta da oração a fim de exercitarmos a nossa fé em paciente submissão. Entendemos que as nossas orações quando feitas por um motivo justo, através de Cristo e, partindo de um coração sincero, fazem parte da execução do plano de Deus. “Quando Deus nos dá aquilo que pedimos, é como se essas coisas tivessem nelas a estampa de nossas orações!”
Portanto, não devemos nem podemos pedir qualquer coisa a Deus contrária à vontade de Jesus Cristo, visto que as nossas orações são feitas em Seu nome. “Solicitar algo a Deus, em nome de Cristo, quer dizer solicitar-lhe algo em harmonia com a natureza de Cristo! Pedir algo em nome de Cristo, a Deus Pai, é como se o próprio Cristo estivesse formulando a petição. Só podemos pedir a Deus aquilo que Cristo pediria. Pedir em nome de Cristo, pois, significa deixar de lado nossa vontade própria, aceitando a vontade do Senhor!
Quando oramos, estamos exercitando o privilégio que Deus nos concedeu, amparados na Sua Palavra que nos mostra as Suas promessas. A nossa oração é dirigida ao Pai, sabendo que Ele é um Pai onisciente e providente: por isso, não pretendemos e, de fato não podemos mudar a vontade de Deus. E, francamente, ainda que pudéssemos, ousaríamos fazê-lo? Será que faríamos algo melhor? Se você por um instante sequer titubear diante desta, permita-me, ridícula questão, é porque você ainda não conhece o Deus da Palavra!
Nesta mesma linha de raciocínio, escreveu Packer:
“O reconhecimento do fato da soberania de Deus é a base de [nossas] orações. Na oração, o cristão solicita coisas e agradece por elas. Por quê? Porque reconhece que Deus é a origem de todo bem que já possui e de todo bem que espera no futuro. Essa é a filosofia fundamental da oração cristã. A oração não é uma tentativa para forçar a mão de Deus, mas um humilde reconhecimento de incapacidade e dependência. Quando nos pomos de joelhos, sabemos que não somos nós que controlamos o mundo; não estando em nosso poder, portanto, atender nossas necessidades pelos nossos próprios esforços independentes; todas as coisas boas que desejamos para nós mesmos e para os outros devem ser procuradas em Deus; e se elas vierem, virão como dádivas de Suas mãos. (…) Por conseguinte, o que na realidade fazemos, cada vez que oramos, é confessar nossa própria impotência e a soberania de Deus. Dessa maneira, o próprio fato de um crente orar é uma prova positiva de que crê na soberania do seu Deus.”
Curiosamente, Platão (427-347 a.C.), um filósofo pagão, com discernimento correto, entendia que um dos males de sua época era a corrosão da religião praticada por supostos sacerdotes e profetas - que ele chama de mendigos e adivinhos -, os quais exploravam a credulidade das pessoas, especialmente das ricas. Dentro do quadro descrito, uma das fórmulas usadas por esses líderes religiosos, era fazer as pessoas crerem que poderiam mudar a vontade dos deuses mediante a oferta de sacrifícios ou, através de determinados encantamentos; os deuses seriam portanto limitados e aéticos, sem padrão de moral, sendo guiados pelas seduções humanas:

“Mendigos e adivinhos vão às portas dos ricos tentar persuadi-los de que têm o poder, outorgado pelos deuses devido a sacrifícios e encantamentos, de curar por meio de prazeres e festas, com sacrifícios, qualquer crime cometido pelo próprio ou pelos seus antepassados, e, por outro lado, se se quiser fazer mal a um inimigo, mediante pequena despesa, prejudicarão com igual facilidade justo e injusto, persuadindo os deuses a serem seus servidores - dizem eles - graças a tais ou quais inovações e feitiçarias. Para todas estas pretensões, invocam os deuses como testemunhas, uns sobre o vício, garantindo facilidades (…). Outros, para mostrar como os deuses são influenciados pelos homens, invocam o testemunho de Homero, pois também ele disse: ‘Flexíveis até os deuses o são. Com as suas preces, por meio de sacrifícios, votos aprazíveis, libações, gordura de vítimas, os homens tornam-nos propícios, quando algum saiu do seu caminho e errou’ (Ilíada IX.497-501).

Meus irmãos, este quadro pode parecer estranho, mas na realidade, muitas pessoas ainda crêem assim ou, pelo menos se comportam como se Deus fosse movido de um lado para o outro conforme as nossas “seduções espirituais”: longas orações, peregrinações, sacrifícios, abstinências, louvores exaltados, entre outros recursos. Este não é o Deus das Escrituras. O nosso Deus dirige todas as coisas com sabedoria, justiça e amor; é a Ele a Quem oramos: “seja feita a Tua Vontade!”
A oração é um testemunho solene de nossa confiança no cuidado paternal de Deus. A Palavra nos estimula a lançar sobre Deus e a Sua promessa toda a nossa confiança. Jesus Cristo nos instrui: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6.33-34). “Não se vendem dois pardais por um asse? e nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. Não temais pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (Mt 10.29-31).
O nosso Pai conhece os nossos corações; Ele sabe as nossas motivações e intenções. As pessoas podem nos julgar mal como também nós cometemos este mesmo equívoco; isto ocorre amiúde ou porque não fomos claros como gostaríamos, ou porque de fato houve má vontade; ou seja, houve algum ruído na comunicação. No entanto, o nosso Pai, nos conhece perfeitamente; Ele vê em secreto os segredos dos nossos corações (Mt 6.6). João testifica a respeito de Jesus Cristo: “E não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2.25).
Quando oramos, nós buscamos o Pai, não o homem (Mt 6.5,6). Este é o sentido genuíno da oração. Não estamos, através da oração, em busca de recompensa humanas, tais como: o aplauso, um alto conceito a respeito de nossa devoção e piedade; não. Apesar desta “recompensa” ser geralmente mais imediata, nós não a buscamos… Pelo contrário, oramos ao Pai para de fato, falar com Ele, colocando diante de Seu trono de graça as nossas necessidades… E neste procedimento, jamais devemos nos esquecer de que Ele sabe todas as coisas.
Mesmo sem conseguir entender perfeitamente a extensão deste maravilhoso mistério, não podemos deixar de utilizar a oração, um privilégio que Deus graciosamente nos concedeu, de podermos falar com Ele e, de exercitar a nossa fé na Sua soberana providência. (1Sm 1.9-20; Sl 6.9; Pv 15.29; Mt 26.41; Lc 1.13; 1Ts 5.17; Tg 4.2,3; 1Jo 5.13-15). “É pela fé que tomamos posse de Sua providência invisível”, conclui Calvino. Deus sabe das nossas necessidades. O saber de Deus não é apenas intelectual: Deus sabe e por isso cuida (Mt 6.8). Ele não dorme, antes, sabe do que necessitamos antes mesmo que tenhamos consciência da nossas necessidades: A Bíblia também nos ensina que Deus nem sempre nos dá aquilo que pedimos; entretanto, sempre nos dá aquilo de que necessitamos de fato e de verdade, mesmo que nem ainda tenha penetrado em nosso coração a realidade da carência… A nossa demorada consciência de nossas próprias carências não escapa à Providência de Deus, nem à Sua graciosa provisão.
A Palavra de Deus declara isto. Os salmistas, inspirados por Deus, testificam: “Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor” (Sl 34.15). “Ele não permitirá que os teus pés vacilem: não dormitará aquele que te guarda. É certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel” (Sl 121.3-4). “Aí habitou a tua grei: em tua bondade, fizeste provisão para os necessitados” (Sl 68.10). E Deus mesmo promete: “E será que antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Is 65.24).
A ação de Deus na História não é de forma imediatista ou apenas para resolver problemas isolados. Deus age de forma sábia, conforme o Seu Santo Conselho, objetivando a Sua Glória na execução do Seu plano. O Plano de Deus e o Seu governo são eternos e eficazes. Davi e Paulo declaram esta compreensão, respectivamente: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.16). “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça…” (Gl 1.15).
O próprio Deus, reivindica o Seu governo quando vocaciona o profeta Jeremias: “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e te constituí profeta às nações” (Jr 1.5).
Deus, o nosso Pai, cuida de cada um de nós como se fôssemos o único que Ele teria para cuidar; Ele cuida “pessoalmente” de nós. As nossas orações são o testemunho desta certeza. O Deus que preservou a Elias, enviando os corvos para lhe levarem alimento (1Rs 17.1-6), é o mesmo que é o nosso Pai onisciente e providente. Portanto, podemos fazer eco ao testemunho de fé e vida de Davi e de Paulo: “O Senhor, tenho-o sempre à minha presença; estando Ele à minha direita não serei abalado” (Sl 16.8). “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6).
O melhor antídoto contra a ansiedade é a oração sincera e confiante, através da qual expomos a Deus as nossas dúvidas, temores e confiança. Portanto, orar é exercitar a nossa confiança no Deus da Providência, sabendo que nada nos faltará, porque Ele é o nosso Pai.
Calvino, relacionando as nossas orações ao cuidado providente de Deus, escreve:
“Para incitar os verdadeiros crentes a uma mais profunda solicitude à oração, Ele promete que, o que propusera fazer movido por Seu próprio beneplácito, Ele concederia em resposta a seus pedidos. Tampouco existe alguma inconsistência ente estas duas verdades, a saber: que Deus preserva a Igreja no exercício de sua soberana mercê, e que Ele a preserva em resposta às orações de Seu povo. Pois, visto que suas orações se acham conectadas às promessas graciosas, o efeito daquelas depende inteiramente destas.”[

Uma esquerda religiosa e sem esperança - Filipe Samuel Nunes em Gospelprime

As pilhagens e o gosto pela violência que atravessa os Estados Unidos têm surpreendido o mundo. Alguns argumentarão que o problema racial é...